Uma década em uma noite [COM...

By LauraaMachado

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A última coisa da qual Bridget se lembra é do colegial. Minutos contados para que pudesse voltar para casa co... More

Projeto 1989
Prólogo
Capítulo 1 - Uma Década em uma Noite
Capítulo 2 - Coisinha Brilhante
Capítulo 3 - Voltando para Casa
Capítulo 4 - De Dezesseis a Vinte e Seis
Capítulo 5 - Ossos do Ofício
Capítulo 6 - Entre Tropeços
Capítulo 7 - Por Trás de Portas e Secretárias Eletrônicas
Capítulo 8 - Um Café e um Sorriso
Capítulo 10 - No Topo do Mundo
Capítulo 11 - Costa Oeste
Capítulo 12 - Segredos Acidentais
Capítulo 13 - Vestido de Noiva
Capítulo 14 - Um Novo Caminho
Capítulo 15 - Fora de Risco
Epílogo
Personagens
Playlist da Bridget e do Thomas
Agradecimentos

Capítulo 9 - Trilha Sonora

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By LauraaMachado

When we decided
To move the furniture so we could dance

Capítulo 9
Trilha Sonora

Assim que o condutor avisou que a próxima estação era Rosedale, senti meu estômago embrulhar.

Não sabia quantas vezes nessa última década eu tinha feito esse caminho, mas no resto da minha vida, o resto do qual conseguia me lembrar, só tínhamos pegado o trem umas três vezes. E, mesmo assim, conforme via a paisagem passar pela janela, a sensação de que eu voltava no tempo ficava cada vez mais forte.

Eu voltava para casa. Só por uma noite, talvez nem isso. Mas, ainda assim, voltava para casa. E talvez tivesse bem mais naquele retorno para me deixar nervosa do que eu queria admitir.

Olhei por cima do ombro outra vez, buscando nos rostos dos passageiros os olhos azuis de Thomas. Quando ele tinha dito na terça que viria para Rosedale no final da sexta-feira para pegar outros CDs para me emprestar, prontamente me voluntariei para encontrá-lo lá. Nem sabia direito o que tinha me dado, mas só a ideia de estar longe de Nova York, longe da minha vida em noventa e nove, nem que fosse só por uma noite, parecia terrivelmente atrativo. Era como meu pai tinha dito, eu precisava voltar para casa, precisava de um tempo de folga. E tinha me convencido de que era por isso que estava tão nervosa. Não sabia o que esperar, se me sentiria finalmente melhor, como se pudesse, depois de três semanas, me sentir livre do peso de minha amnésia e voltar a respirar normalmente, ou se só descobriria que estava mesmo perdida.

Respirei fundo ao sentir o trem desacelerar. Não podia criar expectativas, precisava me deixar levar. Era o único momento que tinha para isso. Precisava deixar minhas dúvidas para trás, como tinha deixado minha aliança de noivado.

Ao pensar nisso, senti com os dedos o lugar onde ela costumava ficar. Max estava cada dia mais satisfeito de como, em sua cabeça, nós estávamos mais próximos. Apesar de eu ainda praticamente me esconder no escritório, com ou sem relatórios extras para fazer, o pouco que nos vimos essa semana, depois de sábado, era o suficiente para ele ter certeza de que tudo estava indo muito bem. Eu tinha adiado para a semana que vem todos os últimos preparativos para o casamento e não demonstrava absolutamente nenhum interesse naquele assunto, mas ele não parecia se importar.

E isso era o que mais me incomodava, como ele nunca parecia ver em meu rosto o quão indiferente eu continuava sendo em relação a ele.

Não sabia o que pensaria quando encontrasse a aliança, mas sabia que tinha tomado a decisão certa. Nunca devia ter voltado a usá-la, nem para evitar que meus colegas de trabalho especulassem demais sobre nosso relacionamento, nem por sentir que era minha obrigação ao dividir um apartamento pelo qual não tinha pagado. Era pressão demais em cima de nós, principalmente em cima de mim, pressão para acompanhar um noivado do qual nem me lembrava, e eu estava feliz de a ter tirado de meus ombros.

O trem finalmente chegou à plataforma de minha cidade natal, brecando tão forte que tive a sensação de que nunca conseguiríamos parar. Mas, então, parou. E eu tive que respirar fundo antes de me levantar.

Eu só voltava para casa. Não precisava ficar tão nervosa. Era só Thomas que eu encontraria, o irmão da minha melhor amiga, que sempre tinha sido apaixonado por mim.

Não. Era outro Thomas que eu encontraria. O irmão da garota que já nem me respondia, nem depois de eu desabafar em sua secretária eletrônica; o médico que parecia ser o único a conseguir me fazer sorrir de verdade, me fazer esquecer de toda a confusão de ter perdido uma década da minha vida, transformando toda essa experiência em uma aventura única; e, seu último título, mas nem um pouco menos importante, o responsável pela minha trilha sonora.



Eu já estava sentada na frente do rádio do meu quarto há uns quarenta minutos, com os CDs que Thomas tinha me emprestado no meu aniversário empilhados no chão ao seu lado, quando a campainha tocou.

Saí correndo escada abaixo, minha pressa mascarando muito mal meu nervosismo. Já tinha arrumado meu quarto várias vezes, escolhido quais bichinhos de pelúcia eram aceitáveis em cima da minha cama e quais não eram e não poderiam ficar à mostra. Ainda que, é claro, aquele não fosse realmente meu quarto atual, só de ter entrado nele outra vez, já me sentia mais com dezesseis do que vinte e seis. O mundo tinha envelhecido, mas todas as minhas coisas ainda pareciam ser evidências de quem eu era, e não queria que ele me achasse tão infantil assim.

Não que eu me importasse. Era só Thomas.

Só Thomas, repeti na minha cabeça, logo antes de abrir a porta da frente.

Ele me esperava com as duas mãos nos bolsos da calça jeans e uma mochila nas costas. Abriu um sorriso assim que me viu, e eu tive que suprimir a vontade de abraçá-lo. Já estava começando a ficar esquisito.

"Olá," falei, percebendo que o sol se punha atrás dele. "Bem-vindo."

Bem-vindo? Como eu era estranha.

Dei um passado para trás, abrindo a porta e torcendo para ele não perceber que eu estava totalmente deslocada.

"Obrigado?" Seu agradecimento soou como uma pergunta, e ele sorriu outra vez, entrando na casa.

No momento em que pude lhe dar as costas para fechar a porta, revirei os olhos para mim mesma.

"Cadê sua mãe?" Ele perguntou, passando pela sala e olhando rapidamente na direção da cozinha.

"Ela não está aqui," expliquei, puxando minha camiseta para baixo. Era tão antiga, que me questionei se ele a reconheceria. Ou se ao menos a notaria. "Ela tem um encontro hoje."

Só a menção me fez entortar minha expressão em uma careta.

Ele riu. "Então estamos sozinhos?"

Demorei alguns segundos para responder. Estava tão longe dele, mas ainda me sentia perto o suficiente para ficar constrangida.

"Tem algum problema nisso?"

Ele deu de ombros. "Não, claro que não," mas seus olhos já fugiam dos meus.

Vamos lá, pensei. Não era tão estranho assim. Nós podíamos não ser melhores amigos, ele claramente tinha se afastado de mim como Lea nos últimos anos - ou vai saber quando, já que ela nem me respondia, - mas certamente poderíamos quebrar esse gelo e voltarmos a ser tão próximos quanto éramos.

"Eu estava ouvindo o CD que você me emprestou," comecei, indo na direção da cozinha e esperando que ele me acompanhasse.

"Qual deles?"

Parei na frente da geladeira, para olhar para ele, que tinha se apoiado no batente da porta. "Nimrod?"

Thomas riu. "É uma pergunta?"

Eu o imitei. "Não tenho certeza se é exatamente assim. Cerveja?"

Ele assentiu. "É exatamente assim. O que achou?"

Peguei duas garrafas. "Diferente de tudo que eu conhecia," admiti.

Ele abriu a sua e a minha, enquanto me respondia. "Pelo menos Good Riddance você tem que ter gostado."

Quando me devolveu minha cerveja, senti nossos dedos se entrelaçarem. Ele também percebeu que nós quase a derrubamos, sem saber quem segurava onde, quem passava os dedos por cima e quem passaria por baixo. Senti meu coração acelerar na hora, provavelmente de medo de que ele ficasse também constrangido demais e minha tentativa de quebrar o gelo só o fizesse ainda mais rígido.

Mas, quando finalmente me dei por vencida e peguei a garrafa por baixo com a outra mão, nós entramos em um acordo silencioso de não falar daquilo e encerrar o assunto com um sorriso.

Quando ele me deu as costas para voltar para a sala, aproveitei para soltar todo o ar que vinha segurando.

"Você nunca me falou da sua vida," comecei, o seguindo e depois começando a subir as escadas em direção ao meu quarto. "Onde você mora?"

"No hospital," ouvi responder atrás de mim. "Mas divido um apartamento com uns colegas, para onde eu vou de vez em quando, se tiver sorte."

Paro no último degrau para sorrir para ele. "Vida de médico é ocupada, né?" Perguntei retoricamente. Ele só levantou as sobrancelhas, como se dissesse que eu não tinha nem ideia. "Vi em uma série assim mesmo."

Thomas fez uma careta na hora. "ER?" Assim que perguntou, eu assenti, sorrindo. Mas ele balançou a cabeça. "É bem menos dramática e romântica que isso." Completou, entrando no meu quarto em seguida.

O CD do Green Day ainda tocava, repetindo a mesma música, logo aquela que ele tinha mencionado.

"Sabia que você tinha gostado," disse, sem parar para perceber os bichinhos de pelúcia e se sentando no chão.

Eu simplesmente ignorei seu comentário. Tinha outra coisa que queria saber e não perderia a oportunidade de entrar naquele assunto.

"Mas tem romance, não é? No hospital, quero dizer. Vocês passam tanto tempo juntos, deve ter algum tipo de romance."

Não queria me sentar ao lado dele, ainda que fosse na frente do rádio. Parecia perto demais, mas, mesmo assim, era o único lugar em que não o faria pensar que eu estava fugindo dele.

Para a minha pergunta, ele só deu de ombros, o que não chegava nem perto de matar minha curiosidade.

"Não tem?" Insisti, já sentindo que estava passando do limite, e que ele não chegava perto de se convencer a me responder.

Mas o que eu realmente queria perguntar era ainda mais difícil de fazer sair da minha garganta.

E era tão idiota. Por que mesmo eu queria saber aquilo? De que importava?

"Não é como nas séries, ninguém tem tempo para essas coisas," ele apoiou sua garrafa no chão e se ocupou de abrir a mochila para procurar dentro dela alguma coisa. "O tempo livre que temos, usamos para dormir."

"E vir visitar uma amiga de infância," completei por ele, que sorriu para si mesmo, sem parecer querer me encarar.

"É por uma boa causa," rebateu, se dando a liberdade de trocar o CD do rádio.

Eu resolvi só beber mais um gole da cerveja, engolindo junto com ela minha vontade de perguntar se ele tinha namorada.



Durante próxima hora, nós ouvimos várias músicas de um CD chamado Blood Sugar Sex Magik, depois algumas do Jagged Little Pill, que ele insistiu que não era dos favoritos dele, mas que sabia que eu adoraria, e outras do que ele considerava uma obra de arte, (What's the Story) Morning Glory?.

Nós estávamos só na terceira cerveja para cada um, as últimas que minha mãe tinha na geladeira, mas eu já sentia que era a minha hora de escolher o que ouviríamos.

"Minha vez!" Declarei, me levantando de uma vez da cama onde tinha estado deitada, assim que a música que tocava terminou.

"Não, você vai colocar Britney Spears," ele reclamou, colocando as mãos na frente do rádio para me impedir de trocar o CD. "E essa música é a melhor."

"Não vou colocar Britney," prometi, revirando meus olhos. Só porque tinha mencionado brevemente que gostava das músicas dela e tinha comprado o CD em um impulso aí? "Vai, deixa eu colocar. A gente ouve essa depois."

E então, como se fôssemos ainda adolescentes, nós entramos em uma batalha de braços na frente do rádio, eu tentando alcançar o botão que faria o compartimento do CD abrir, ele tentando defendê-lo.

Assim que eu o apertei e a música parou, Thomas se deu por vencido. Mas ainda segurava um braço meu, fingindo ou simplesmente não percebendo que ainda estava ali.

Eu, ao invés de simplesmente me desvencilhar dele, me levantei, puxando para que ele se levantasse também.

"Fica aqui," falei, o empurrando até a porta. Ele me olhava como se eu fosse louca, não entendendo, mas, ao mesmo tempo, se divertindo com isso. "A música é surpresa," expliquei.

Sabia que ele não gostaria. Não era Britney Spears, mas não era tão diferente assim. E não se encaixava em nenhum dos estilos que ele tinha me mostrado.

Mas era exatamente o que eu queria ouvir.

Tirei o CD de costas para ele, escondendo o máximo que podia e colocando o outro no rádio bem rápido.

"Se for Britney Spears..." falou, me fazendo virar para ele e colocar as mãos na cintura.

"Não entendo essa sua obsessão por ela," balancei a cabeça. "Parece até que está apaixonado." A palavra saiu antes que eu pudesse evitar, óbvia demais até para aquele assunto.

Mas ele só negou, prestando bem mais atenção na música que eu tinha colocado.

Começava bem devagar, com conversas no fundo, como se gravassem em uma festa. E então, do nada, o ritmo acelerado e maravilhosamente contagiante tocava com tudo. Os primeiros versos eram só feitos de la la la, mas já eram o suficiente para eu empurrar minha cama até ela encostar na parede, tirar a cadeira da escrivaninha do caminho e começar a dançar.

Thomas balançava a cabeça, ainda que sorrisse para meu jeito. Desde que tinha acordado no hospital, nunca tinha estado tão feliz. Sorria de orelha a orelha, sem qualquer inibição em relação ao quanto eu amava essa música e queria dançar sem me importar se era boa ou não.

"Spice Girls?" Ele perguntou. "Sério mesmo?"

Antes de mais nada, fiz questão de aumentar o volume até o máximo, só para ele não conseguir mais reclamar. E então fui até onde estava, pegando-o pela mão e deixando de lado todos meus questionamentos e quaisquer receios que tivesse em relação a ele e a liberdade que podia ter. Uma hora tinha sido o suficiente para me relaxar nessa questão.

Thomas não queria se dar por vencido, acompanhando com passos enquanto eu o girava pelo quarto, mas sem qualquer ritmo de dança.

"Vai," insisti, fazendo a pior dança que sabia, completamente livre. "Não tem mais ninguém aqui, só eu."

Ele balançou de novo a cabeça, sem tirar os olhos de mim.

"Colours of the world," cantei, já sentindo certa falta de fôlego, "spice up your life," e joguei os braços no ar.

Continuei dançando, com ele me observando e se fazendo de difícil até que, quando estava dando uma pirueta, o senti segurando minha mão. E então, como mágica, ele tinha deixado para lá seu orgulho e se juntava a mim, me girando, rindo comigo, dançando com bem menos ritmo, mas completamente entregue àquele momento.

Eu sentia como se flutuasse, torcendo para a música ser infinita, com a barriga doendo de rir e cantar junto, perdendo total noção de espaço quando ele me girava e passava a mão pela minha cintura, e meu braço, me trazendo para junto dele, depois me soltando.

Quando a música acabou, enquanto a próxima começava, eu estava logo à sua frente, suas duas mãos segurando minha cintura, e seus olhos me encarando como se buscassem nos meus uma prova de que aquilo tudo tinha acabado de acontecer. Eu tentava ao máximo recuperar meu fôlego. Nunca apostaria que uma única música era o suficiente para me deixar daquele jeito, tonta e exausta de tanta felicidade. Mas até cambaleei para trás, me deixando sentar na cama, de joelhos fracos.

"Pode colocar a outra música de volta," falei.

Ele, bem menos cansado do que eu, não hesitou. Foi até o rádio, abaixou primeiro o volume e trocou de CD. Enquanto isso, eu me deixava observá-lo, o rastro de seus toques durante a dança ainda em mim. Não conseguia entender direito o que se passava pela minha cabeça, mal sabia decifrar exatamente o que eu queria. Só sabia olhar para ele, sentir meu corpo inteiro fraco com a eletricidade daquela dança ainda correndo por mim.

"Today is gonna be the day that they're gonna throw it back to you," Thomas se virou para mim, assim que a música que ele queria começou a tocar. Ele se colocou de pé na minha frente, como se a interpretasse. "By now, you should've somehow realized what you gotta do."

Eu simplesmente não conseguia tirar meus olhos dele. Já não sabia, não como ele. Só observava cada detalhe dele, cada sarda, cada cacho, cada pequeno movimento que ele fazia ao cantar, os desvios rápidos dos olhos para longe de mim, o rastro da timidez de antigamente, misturada em na confiança que lhe tinha feito dançar comigo e estar ali agora, acompanhando o vocalista da banda e cantando para mim.

"I don't believe that anybody feels the way I do," seu sorriso estremeceu, e, ao falar a próxima parte, ele pareceu desistir do ritmo da música, "about you now."

Foi impossível não notar que ele respirava fundo, como se mal sentisse o ar dentro de seus pulmões. Era assim comigo. O frio que perfurava minha barriga me dava a impressão de que o mundo balançava embaixo de meus pés. Era como se eu soubesse exatamente o que estava para acontecer e, ao mesmo tempo que perceber isso me matava de medo, era inegável o quanto eu queria.

O quanto eu o queria.

Antes que a música chegasse ao refrão, eu tinha me levantado. Só tinha dois passos entre onde eu estava e ele, mas foram o suficiente para Thomas perder a fala e desistir de cantar. Ele me mirava de volta, nenhum dos dois capaz de desviar os olhos para nenhum outro lugar agora. Também estava apavorado como eu, mas eu tinha certeza de que tinha entendido exatamente o que eu sentia e, se me deixasse sonhar - e eu me deixava, - sentia o mesmo. Também segurava o ar devagar, como se respirar fosse arriscado demais para aquele momento, como se ele não se deixasse colocar o que estava prestes a acontecer em risco de modo algum.

Se ele me parasse, se me perguntasse o que eu estava fazendo, não saberia responder. Mas, se me perguntasse o que eu estava pensando, a única coisa que poderia dizer era que ele fazia ser bem difícil pensar quando eu estava perto dele. Levantar minha mão e segurar na dele não era lógico, não para alguém na posição que eu estava, com uma vida com a minha. Mas fazia sentido. Como me aproximar mais dele fazia sentido, como separar meus lábios e olhar para os dele fazia sentido.

O milésimo de segundo que demorou para ele segurar em meu rosto e me puxar para ele pareceu bem mais longo do que toda a década que eu tinha perdido, me dando a impressão de que tinha passado todo o tempo do qual tinha me esquecido esperando por aquele beijo. E então, quando finalmente senti seus lábios nos meus, o mundo inteiro balançando à nossa volta e as milhares de borboletas dentro de mim, eu entendi.

Entendi que eu não amava Max e, se já tinha amado, tinha me esquecido. Porque nada, absolutamente nada que eu tinha sentido até então, fosse em oitenta e nove ou desde que eu tinha acordado nesse ano, era tão maravilhoso, tão assustador e tão capaz de fazer todos os meus sentidos acordarem, mais sensíveis do que nunca.

E ele me queria, talvez ainda mais do que eu o queria. Me abraçava e me beijava como se tivesse também esperado por aquilo, me dando a esperança de que não tivesse me esquecido em toda essa década. Cada toque, uma prova do quanto eu era importante para ele, uma mistura de urgência ao saciar uma vontade antiga e profunda com a calma de quem queria aproveitar uma chance única.

As músicas foram tocando uma atrás da outra, e nenhum de nós se importou, nem quando o CD acabou. Nenhum de nós dois se atrevia a interromper o outro. Quando ele me deitou na cama, subindo em cima de mim, nós não precisamos falar nada. Ele só se afastou por um segundo, um segundo para me olhar como se me perguntasse se deveria continuar. Amnésia ou não, oitenta ou noventa e nove, não importava. Em qualquer momento da minha vida em que nós dois nos encontrássemos ali, sabia que aconteceria a mesma coisa. Era como se fôssemos dois ímãs, fadados a sempre nos atrairmos, e não tinha o que questionar. Não tinha por que hesitar.

Me estiquei para beijá-lo outra vez, já segurando com as duas mãos em sua camiseta e a subindo até que interrompesse nosso beijo outra vez para passar por sua cabeça. Era resposta o suficiente. E então senti seu toque em minha barriga, levantando também a minha blusa, com mais paciência, enquanto ele deixava beijos em minha pele e a acompanhava, me matando de ansiedade para quando finalmente a tiraria.

Era disso que eu era feita agora, de borboletas desenfreadas em meu estômago, de ansiedade para o próximo toque, o próximo beijo apaixonado; de vontade de abraçá-lo outra vez, beijá-lo outra vez e de ficar ali com ele para sempre, de abandonar o resto da minha vida para sempre poder olhar em seus olhos e senti-lo em cima de mim, em volta de mim, dentro de mim.

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