Meritíssimo [DEGUSTAÇÃO]

By wantsilva

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Isabella Araújo só queria arranjar um emprego para que pudesse sustentar seu filho Lucas e, esquecer seu pass... More

Introdução e notas.
BOOK TRAILER
Playlist.
Prólogo.
Capítulo Um.
Capítulo Dois.
Capítulo Três.
Capítulo Quatro.
Capítulo Cinco.
Capítulo Seis.
Capítulo Sete.
Capítulo Oito.
Capítulo Dez.
LIVRO FÍSICO PELA @EDITORASCARDINI

Capítulo Nove.

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By wantsilva

Isabella narrando:

Estou mais um dia na mansão Guimarães, as crianças estão pra escola e pelo meu relógio que marca quinze pras doze elas já estão chegando. Me prontifico na porta para recepciona-las, olho em meu relógio de pulso e quando dá exatamente meio dia e doze o carro blindado adentra os portões enormes da mansão.

Clarisse e Christian são os primeiros que disparam em minha direção quase me derrubando, e por último é Clara, a vejo dentro de suas roupas do balé e só então me recordo que hoje era sua apresentação de balé na escola, ela estava tão animada nos últimos dias e até feliz, se é que posso dizer isso, treinava e se empenhava todos os dias, eu queria poder vê-la dançar, tenho certeza que se saiu perfeitamente.

Mas diferente dos outros dias, ela não me dirigiu nenhuma palavra ao passar cabisbaixa por mim, encarava o chão arrastando sua mochila no chão, seu rosto estava avermelhado assim como seus olhos, ela estava chorando. 

Não a intervir, apenas peguei sua mochila e a observei subir os degraus desanimada, com toda certeza entristecida e eu mais ou menos sabia o motivo disso tudo. Não demorou muito para TJ surgir coçando sua cabeça e suspirando. O encaro, ele também está com um olhar entristecido, Clara é a única que nos trata com um brilho, mas hoje, esse brilho parecia ter se apagado.

─ O que houve? ─ pergunto preocupada, estranhava esse comportamento da parte dela.

─ Hoje foi a apresentação de balé dela, o senhor Guimarães não pôde comparecer... e parece que isso era tudo na qual ela queria, a presença do pai ─ ele diz baixinho e se retira.

Naquele instante sinto meu coração em pedaços. Clara sempre esteve querendo conquistar a atenção de seu pai, isso era notável, mas infelizmente ele não se importava com a filha, ela era apenas uma criança, tinha sentimentos, ela só queria ele ali, a assistindo, a encorajando. 

Que diabo de homem mais idiota! 

Bufo indignada e subo as escadas em direção ao quarto das meninas. Quando abro a porta sou surpreendida por Clarisse que saí quase me empurrando de dentro do quarto. 

Encaro a imagem de Clara, sentada em sua cama, encarando o chão. Em imediato me aproximo dela, puxo o puf e me sento de frente pra ela, tiro sua sapatilha e a coloco de lado. Abro meu melhor sorriso e toco suas mãos.

─ E então? Dançou bem? ─ pergunto animada, ela me olha, bufa triste e olha pro lado disfarçando as lágrimas que se formavam nos seus olhinhos azuis e brilhantes.

─ Dancei... mas... ninguém estava lá, nem você, Bella ─ diz deixando suas lágrimas escaparem. ─ Eu só queria o papai lá... mas ele não foi.

Ela me encara, seu olhar puro e inocente faz meus olhos se inundarem de forma crítica, sinto meu coração em pó. Me sento em seu lado na cama e abro meus braços a convidado pro famoso ''abaço de urso mamãe'' como diz Lucas. Ela hesita, mas logo me abraça forte chorando em meu peito, abraço seu corpo frágil também deixando uma lágrima escapar.

─ Me desculpe por não ir, Clarinha ─ peço baixinha. ─ Tenho certeza que dançou muito bem.

─ Eu dei o convite duas vezes pra ele... ─ ela sussurra contra meu peito, abafando o choro. ─ Esperei dois domingos pra entregar os dois convites e ele disse que ia.

─ Está tudo bem, meu amor... ─ acaricio seus cabelos lisos e loiros de forma materna.

Como ele pôde fazer isso? Logo com a filha dele? Que homem é esse? São apenas crianças desprovidas de amor tanto materno como paterno, ele trata as crianças como fantoches, como e fossem seus inimigos mortais. Mas eram apenas trigêmeos, eles precisavam de amor e atenção.

Minha maior vontade era de xingar o senhor Sebastian de todos os nomes feios possíveis, mas me segurei, precisava do emprego. Sei que era difícil conviver desta maneira, mas precisava aguentar, era pelo meu filho.

Só não admitia como era o tratamento daquelas crianças. Dinheiro não compra amor, atenção e muito menos felicidade, ou melhor, um pai presente.

Quase todas as noites eu via o senhor Sebastian com uma mulher diferente, chegando de carro, eu apenas o desprezava, o via como um lixo ambulante, mesmo sendo um exemplo de homem por seus méritos como juiz federal. Mas como pai... ele era um verdadeiro fracasso.

Sentia pena das crianças, principalmente de Clara, ela era uma criança tão boa e meiga, ao contrário dos irmãos, era a que mais me tratava bem ali, a única pessoa dali, talvez. Ela não merecia isso.

Ela me soltou após um tempo, fungou e limpou as lágrimas.

─ Obrigada, Bella ─ agradeceu deixando transparecer um sorrisinho nos lábios e fazendo com que suas covinhas surgissem. 

Beijei sua cabeça e me levantei.

─ Vamos tomar banho e almoçar?

─ Vamos sim, me ajuda aqui, por favor ─ pede educadamente se levantando para que eu abrisse seu colete cor de rosa com vários detalhes brilhantes. ─ Bella, hoje o papai vai jantar com a gente, você acha que devo conversar com ele?

Minha maior vontade é dizer não, ele não merece nenhuma palavra sequer dos filhos. Mas ela não entenderia o quão grande é o ego do seu pai, então apenas afirmo com a cabeça, mesmo achando a ideia péssima.

Espero-a tomar seu banho e em seguida escovo seus cabelos e lhe entrego uma roupa, só assim a levo pra almoçar e faço companhia mesmo distante já que os irmãos já tinha dado término ao almoço.

A tarde seguiu bem tranquila, como de costume. Os gêmeos realizaram seus afazeres, a tarde passou praticamente voando e no finalzinho de tarde eles foram pro reforço fazer suas respectivas atividades pendentes.

Fico os observando calada, Caio ensina as questões atento enquanto eles anotam as coisas rápidos e era bom ver Clara sorrindo com as brincadeiras que Caio fazia, ela era uma garota boa, não merecia receber essa rejeição da parte do pai. Ela parecia se importar muito, enquanto Clarisse e Christian pareciam esquecer, apenas pareciam, mas sei que no fundo eles sentiam assim como a irmã.

─ Pronto, continuem estudando essas contas que passei pra vocês e quanto a prova da próxima semana, tudo indica que irão se sair muito bem ─ diz sorrindo amigavelmente e levantando seu olhar para mim.

─ Obrigada, teacher Caio ─ agradece Clara recolhendo seus materiais.

─ Ele não é um professor, não como os nossos... se ele fosse estaria ensinando lá na escola, e não aqui, só pra nós três ─ Clarisse, como sempre, sempre coloca um comentário maldoso. Mas Caio parece não se importar, apenas ri.

─ See you later ─ ele se despede com um aceno e apenas quem responde é Clara.

─ Vamos, babá ─ chama Christian deixando a sala e me levanto suspirando.

─ É necessário paciência ─ Caio diz extrovertido se levantando e arrumando seus papéis.

─ Muita paciência.

─ Sabe bem que é difícil pra eles, não é? Não é culpa dos garotos, eles foram ensinados assim.

─ Eu sei, não os culpo. Mas se meu filho um dia ao menos tratar alguém assim tenho certeza que ele se arrependerá, ninguém merece ser tratado dessa forma.

─ Você tem filhos, Isabella? ─ me olha interessado.

─ Um, meu pequeno ─ um sorriso brinca em meus lábios. ─ Um amor.

─ Amo crianças... quem sabe um dia não conheço seu pequeno ─ engulo o seco.

─ Claro...

─ Olha, meu número ─ ele me entrega um cartão. ─ Me manda mensagem, a gente marca algo, pode ser?

─ Quem sabe.

─ See you later, Isabella ─ ele ri e se aproxima, mas me afasto, ele me olha confuso com tal atitude e apenas lhe lanço um sorriso e saio dali apressada.

Quem ele acha que é pra já chegar tentando abraço? Ele se livrou de me ver ter um ataque, definitivamente ele se livrou. Talvez a culpa não fosse dele, não era culpa dele na verdade, era culpa minha. Eu que tinha a cabeça desgraçada demais pra tentar algo, não podia nem abraçar um homem sem sentir medo ou vontade de chorar. Qual era meu problema?

Balanço a cabeça em forma negativa e guardo aquele cartão dentro do bolso, me dirijo até o quarto que era onde com certeza as crianças estariam.

Quando adentrei ao quarto delas, vi Christian jogado na cama com seu iPod, Clarisse olhando pro nada e Clara atrás do vestido perfeito no closet.

─ Bella, me ajuda ─ ela ri enrolando com seus inúmeros vestidos. Vou até a mesma e a sento em um puf. Observo Clarisse bufar. ─ Preciso de um vestido bem bonito, o papai chega às sete e meia e já são seis horas, preciso me ajeitar!

─ Nem sabemos se Sebastian vem, Clara ─ Clarisse bufa mais uma vez e me olha. ─ Para de iludir minha irmã, contos de fadas não existe, pessoas não mudam.

A olho, tão nova e desde já com essa visão. Realmente, contos de fadas não existem, mas pessoas mudam, mudam sim. Não digo nada, apenas suspiro e resolvo não a responder. Volto minha atenção para Clara, ela agora estava pensativa.

─ Crianças? ─ a porta é aberta, quem surge é Luisa. ─ O senhor Sebastian ligou, ele vem pro jantar, vocês já podem se arrumar que o jantar já está quase pronto. 

Ela me olha e desvia o olhar fechando a porta, encaro as crianças que trocam olhares cúmplices e medrosos e que logo vão se arrumar.

***

A mesa grande, no momento, está ocupada apenas pelos três. Já são oito horas, o senhor Guimarães está atrasado e é perceptível que as crianças já estão acostumadas com esse tipo de atitude do pai. Luisa está ao meu lado, em postura, ela observa as crianças de forma séria, e eles, em silêncio encaravam seus pratos.

Demorou até que se escutasse um estrondo na porta e dentro de segundos a figura alta e de postura séria surgisse na sala de jantar. 

Era incrível como as crianças, no instante que a presença do pai era notada, tomavam um medo enorme dentro de si, elas se encolhiam, fixavam seus olhares nos pratos e procuravam não encarar a figura com uma cara pouco amigável. E a mesma coisa acontecia com Luisa, que encarava o chão intimidada.

Eu, era o único ser naquela sala, que encarava Sebastian sem abaixar a cabeça. 

Ele não desejou boa noite, apenas tomou seu lugar na ponta da mesa e limpou a garganta. 

Como sempre, estava bem trajado, de terno negro, gravata cinza, os cabelos claros penteados para trás e a barba por fazer. Mas apesar de estar sempre arrumado, ele também parecia sempre exausto e preocupado, mas mesmo com todos esses aspectos, sua beleza continuava esplêndida. Não podia negar que meu chefe era bem bonito. 

Ele não dirigiu nenhuma palavra aos filhos e pude perceber os desconforto dos mesmos, até eu mesma fiquei desconfortável. 

As domésticas serviram o jantar na enorme mesa e as crianças atacaram, enquanto Sebastian, olhava pro nada sem ao menos tocar na comida. Ele encarava as crianças pensativo, de certo modo. 

Clara quase não comeu nada, ela ainda tinha seus ombros encolhidos, e hora ou outra trocávamos olhares cúmplices. Por fim, quando o jantar chegou ao fim e a sobremesa foi servida, Clara me olhou profundamente e eu a encorajei com o olhar.

Ela suspirou pesado, e encarou o pai que mexia no celular.

─ Papai? ─ sua voz calma, meiga e fina foi a chave da quebração do silêncio naquela sala.

Os olhos azuis duros e sérios de Sebastian a alcançaram e pude perceber o quão grande ele a intimidava, percebi Clara se encolher, com medo do pai e desviar o olhar.

─ É que... hoje foi minha apresentação de balé, e você não foi... 

─ Eu estive ocupado, Clara ─ desvia seus olhos da filha pro celular, como se aquilo pouco lhe importasse. ─ Sabe bem que preciso trabalhar, não é? Na próxima, prometo que vou.

─ Você disse isso da última vez... ─ sua voz soa embargada e muxoxa.

─ Sinto muito ─ apenas diz isso e se levanta. ─ Boa noite, já podem ir pra cama.

E então se retira, sem mais nem menos, mas antes, para e encara Luísa.

─ Quero eles na cama, agora ─ diz autoritário e me encara, dessa vez o encaro também, não abaixo meu olhar por mais que ele me assuste, não o deixo me intimidar. Ele me olha como se não fosse nada, em seguida passeia seu olhar pelo meu corpo e sai dali deixando seu perfume alastrado no ar.

Encaro as crianças, que não dizem absolutamente nada, e solto um suspiro profundo preso a horas no pulmão.

Como e por que ele era tão ruim com os filhos e consigo mesmo?


REV

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