As noites tem sido longas, muito longas. Quase todo dia é a mesma coisa: estou morrendo de sono, mas quando me deito na cama, ele some. Vai pra bem longe. Muito longe.
Eu rolo na cama, de um lado pro outro. Mudo de lado da cama. Troco a posição do travesseiro. Ligo o ar porque estou com calor. Sinto frio e desligo. Levanto e vou no banheiro. Molho minha nuca e pulsos. Será que é por conta do calor que o sono não vem?
Faço minha orações, várias vezes. Levanto e bebo água. Verifico as horas no celular. Respondo aquela mensagem que tive preguiça durante o dia. Quem se importa que estou respondendo ás 2 da manhã? Me deito de novo. E nada dele vim.
Minha barriga começa a roncar. E eu não consigo dormir com fome. Tento ignorar, até que não consigo mais. Hora da minha visitinha da madrugada para assaltar a geladeira. Lanchinho ás 3 da manhã? Não é algo tão anormal assim, né? Bebo suco de maracujá, dizem que acalma. Talvez funcione e ele resolva aparecer. Me deito novamente e ele ainda não vem. Mas a fome continua lá, talvez é melhor comer uns biscoitinhos pra acompanhar o suco. Bebo mais um pouco de suco de maracujá só por garantia. Ele ainda não veio.
Deito minha cabeça no travesseiro. Começo a sonhar acordada. Acordada, porque é como eu fico a madrugada inteira. Resolvo mudar de lado, a cortina está aberta. A luz que vem do lado de fora reflete direto nos meus olhos. Talvez seja por isso que ele ainda não veio. Do outro lado é só parede branca. Uma tela aberta para minha imaginação.
Fico imaginando como seria se eu conhecesse aquele carinha que faz novela. Aquele mesmo, o bonitinho que é protagonista. A gente tá em uma praia, o vento batendo no meu cabelo. Ele me abraça por trás e pede pra eu dar oi para a câmera. É só um Snap, ele diz. Esses artistas gostam de se exibir nas redes sociais. Eu já desisti delas faz tempo. Ninguém se importa. Sorrimos pra câmera e ele posta no Instagram com uma legenda fofinha. As ondas molham nossos pés. Ele me vira de frente para ele. O sol bate nos nossos rostos, e os olhos dele ficam de um tom quase dourado. Ele é tão lindo que nem parece real. Então é a fatídica hora do beijo do casal apaixonado. Mesmo assim o sono ainda não veio.
Começo a pensar como eu sou idiota. Um cara daquele nunca olharia pra mim. No dia seguinte vou criar um playlist com músicas calmas, quem sabe assim ele resolve vim. Tem chá de camomila no armário, dizem que ajuda a acalmar. Amanhã vou tomar antes de dormir. Dois saquinhos pra ser mais forte. Eu preciso voltar pra academia. A única coisa que vai pra frente na minha vida é minha barriga. Fico relembrando o que aconteceu no dia. E também aquilo que faz mais de um mês. Saudade de escutar aquela voz rouca. Saudade daquele sorriso. Assim como o sono ele também não vem. Eu penso demais, será que é por isso que o sono não vem?
Me viro novamente e já consigo perceber o dia clareando pela janela. O desespero começa a bater no peito. Eu preciso dormir. Odeio ser tão ansiosa. Respiro fundo. Tento prestar atenção na minha respiração, dizem que funciona. Pelo menos estou de férias e não preciso acordar daqui algumas horas. É difícil acordar ás 6 da manhã, quando você foi dormir já eram mais de 4. Eu não devia ter dormido a tarde, que droga. Os passarinhos começam a cantar lá fora, já consigo escutar.
Ele começa a vim, de leve.
Aos poucos.
Meus olhos pesam e eu finalmente me entrego.
- Acorda! - minha mãe grita da porta do quarto. - Já é quase 10 horas.
- Só mais cinco minutinhos, mãe!
- Você só sabe dormir. É isso que você quer pra sua vida? Passar a vida inteira dormindo. Porque é só isso que você saber fazer. Quando eu era da sua idade eu não era assim. - ela ainda está gritando, mas eu não presto mais atenção.
Quem me dera eu, só dormir!