LIFELINE¹ - BEFORE THE END |...

By DixBarchester

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Alguns acreditam que o destino é uma força misteriosa, que determina os acontecimentos da vida de cada pessoa... More

➸ INTRO
00. O DESTINO QUIS
01. DAWSONVILLE
02. PAPA COOPER
03. GAROTA DA CIDADE
04. APOSTA
05. ALÉM DA CASCA
06. PROBLEMAS FAMILIARES
07. INFIERNO
08. A LIBÉLULA E A LUZ
09. BORBOLETAS
10. CAMPEONATO DE PESCA
11. ELOGIOS
13. PALAVRAS DESTRUTIVAS
14. AÇÕES DESTRUITIVAS
15. COISAS REAIS
16. CARMA
17. VINTE E OITO DIAS
18. ADMITINDO COISAS
19. DESPEDIDAS
20. ANIVERSÁRIO
21. PRESENTES
22. CICATRIZES
23. LUGAR SEGURO
24. TREZE DE JULHO
25. ACERTO DE CONTAS
26. DADDY ISSUES
27. ROLETA RUSSA
28. QUEDA
29. ADEUS
30. MÃE OU VILÃ?
31. APENAS MAIS UMA NOITE
32. O FIM
33. A CARTA - Epílogo

12. ABRAÇO

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By DixBarchester

• DARYL DIXON •

É estranho pensar em como as coisas começam e acontecem.

Eu não fazia ideia, quando conheci Natalie Cooper, que evoluiríamos para aquele projeto de amizade. Eu não tinha amigos e nunca me imaginei amigo de uma garota como ela.

Porém quanto mais eu a conhecia, mais difícil ficava não me deixar levar por sua personalidade fácil. Tínhamos muito mais em comum do que eu esperava e, de alguma forma estranha e inexplicável ela parecia me entender...

Eu não sabia como ou porque, mas eu tinha falado mais com Natalie naquelas últimas semanas do que eu falara com qualquer outra pessoa na minha vida.

Não que eu falasse nada realmente íntimo, mas ela me impelia a conversar sobre qualquer bobagem, falava o tempo todo sobre tudo e fazia tantas perguntas que as poucas que eu respondia ainda eram muitas.

"O que você está pensando?" Provavelmente aquela era a pergunta preferida dela e de alguma forma eu sempre respondia, às vezes com uma evasiva, mas ainda assim era uma resposta.

Parei de tentar entender o motivo, parei de me perguntar porquê eu ainda deixava que ela se aproximasse. De qualquer maneira, mesmo que eu quisesse, eu não me livraria de Natalie Cooper. E honestamente, talvez eu não quisesse, mas obviamente eu nunca diria isso em voz alta.

Ri meio de canto assim que esse pensamento me ocorreu. Eu estava ficando muito mais maricas do que o de costume mesmo.

Percebi Natalie se mover discretamente do meu lado e me encarar com as sobrancelhas franzidas.

— O que você está pensando? — Claro que ela tinha que perguntar...

Estávamos na caminhonete, a moto estava na caçamba, finalmente ficara pronta e iriamos andar com ela. Tínhamos feito alguns exercícios com a moto do Merle, mas eu queria que Natalie soubesse que a moto era dela, isso seria diferente e talvez ajudasse com o lance do medo.

— Sei lá, eu acho que nem estava pensando em nada... — Menti, dando de ombros.

— Ninguém pensa em "nada", Baby Dix, eu já te expliquei isso uma porção de vezes, é literalmente impossível pensar em nada.

Neguei algumas vezes, contendo um sorriso que queria aparecer, como era possível eu gostar de uma menina tão chata? Quer dizer, não que eu gostasse dela, era só uma... Uma coisa que eu não conseguia, nem queria, entender. Às vezes era melhor não saber.

— Eu estava pensando em quando foi que fiquei tão mole e idiota pra deixar você ocupar metade dos meus dias com as suas ideias loucas e as suas chatices. — Dei de ombros como se não importasse.

Natalie focou os olhos negros em mim, virou um pouco o corpo e apoio o braço no encosto.

— Você estava pensando em mim? — Indagou, um tanto surpresa e então sorriu.

— Não seja estúpida! — Retruquei no mesmo instante. — Você realmente não presta atenção no que eu falo, não é?

— Eu presto mais do que você imagina... Mas eu faço mais que ouvir suas palavras, eu escuto o que você quer dizer realmente. — Respondeu com naturalidade, ainda me observando.

Não consegui tirar meus olhos dela, até que a caminhonete passou por um buraco e eu tive que voltar minha atenção para a rua.

— É ali, apontei com a cabeça.

Eu deixaria a caminhonete na minha casa e iriamos apenas com a moto. Estacionei e reparei no meu irmão sentado no quintal. Eu não fazia ideia de onde ele tinha tirado aquela cadeira de praia.

— Olha só quem o meu irmãozinho trouxe pra casa... Parece que a coisa está ficando séria mesmo. — Merle debochou, tragando um baseado, como se aquilo fosse uma coisa perfeitamente normal pra se fazer no quintal de casa à luz do dia. — E aí cunhadinha? Aceita um trago?

— 'Tô de boa. — Natalie respondeu, se aproximando e estendendo a mão para que meu irmão batesse. Quando é que eles tinham inventado aquele cumprimento de "mano"? — Mas eu aceito isso aí eu você está bebendo. — Apontou a garrafa que estava ao lado.

— Ah bom. Pensei que a Darlyna estava te deixando careta. — Merle riu, estendendo a garrava e eu me limitei a revirar os olhos.

— Não bebe demais, você ainda vai pilotar aquela merda! — Devolvi, de mau-humor e Natalie assentiu, fazendo uma continência e murmurando um "Sim, senhor" sem som. — Eu vou... — Apontei com o polegar em direção a minha casa, mas não soube bem como terminar.

— Vai lá, eu te espero aqui. — Ela sorriu naturalmente, não precisando que a frase tivesse um fim.

Quase respirei aliviado, eu tinha que pegar os capacetes dento de casa, porém seria estranho convidar a garota para entrar e, mais estranho ainda, não convidar.

Os dois ficaram lá fora conversando e eu entrei, subi rapidamente as escadas, achei os capacetes e desci novamente. Pela janela da frente eu podia vê-los, Natalie ria de alguma coisa que meu irmão dizia.

Era estranho que os dois se dessem bem, primeiro porque ninguém conseguia se dar bem com o Merle, segundo porque o próprio Merle não tinha capacidade de manter uma conversa de cinco minutos sem tirar alguém do sério, principalmente garotas.

Para o meu irmão, mulheres serviam para um único propósito, e era um propósito bem depravado, diga-se de passagem.

Mas Natalie tinha conquistado algo muito próximo de respeito, claro que ainda tinha as piadinhas e deboche, mas Merle gostava dela, eu podia ver isso.

Não tinha mesmo como resistir, constatei ao vê-la revirar os olhos e fazer uma careta de deboche.

Ouvi o som de passos ao meu lado e nem precisei me virar para saber quem era, meu pai passou como se eu sequer estivesse ali. Estava sóbrio. Dei dos passos em direção a saída e ele olhou pela janela.

— Não fica trazendo essas putas baratas para a minha casa, moleque, você e o Merle que paguem um moquifo pra comer essa vadia.

— Ela não é uma vadia e não estamos comendo ninguém! — Rebati, antes que pudesse me controlar.

Will Dixon olhou de mim para a garota lá fora e tombou a cabeça.

— Ah, não me diga que está gostando dela? — O deboche em sua voz me dava asco. Era como se ele pesasse exatamente quanto cada palavra iria me ferir. — Porque você sabe que só conseguiria uma garotinha como aquela se pagasse, de outra forma ela nunca se interessaria por um fodidinho como você... A menos que tivesse algum problema mental.

Ele soltou a cortina e se afastou, me olhando como se eu não passasse de um pedaço de lixo. O vi caminhar e desaparecer em direção aos quartos.

Senti um gosto amargo subir ao céu da minha boca, a minha falta de resposta apenas evidenciou que eu concordava mesmo com o que meu velho dissera.

Eu não passava de um fodidinho.

Saí batendo a porta e Natalie imediatamente voltou os olhos para mim, Merle pareceu não se importar.

— Estou falando sério, cunhadinha, o Papa Cooper, deve estar arranjando uma Mama Cooper pra você, por isso ele ainda sumindo uma vez por semana. Vai me dizer que não está curiosa? — Meu irmão riu.

Passei por eles sem me dar ao trabalho de falar nada e fui tirar a moto de cima da caminhonete.

— Sabe, Merle, essa sua mania de cuidar da vida dos outros é muito feia, você parece uma velha fofoqueira. Está preocupado que meu pai pegue mais mulher que você? — Ouvi Natalie retrucar.

A gargalhada de Merle cortou o ar, irônica e forçada.

— Ninguém pega mais mulher que eu, cunhadinha, eu sou um ganharão!

— E é por isso que você está sentado aqui sozinho, fumando maconha e se embebedando em pleno sábado?

Parei de prestar atenção na conversa dos dois. Talvez porque eu estivesse usando todo meu controle para conter meus próprios nervos antes que explodissem de raiva.

Meu pai realmente conseguia me tirar do sério, talvez fosse até pior com ele sóbrio, afinal daquele jeito não haviam desculpas. Ele dizia porque queria, não era apenas um efeito colateral da bebida.

Talvez ele dissesse porque era a verdade... Bati a porta da caminhonete apenas para descontar a raiva.

— Tudo bem? — Ouvi Natalie perguntar e sequer tinha percebido que ela havia se aproximado.

Apenas grunhi uma resposta qualquer e subi na moto.

— Vamos. — Ordenei seco. Natalie sequer se mexeu.

Me virei minimamente pra entender porque ela simplesmente não subia na merda de moto de uma vez por todas.

— Não sei se quero montar e sair com você nesse estado... — Comentou muito baixo, os olhos levemente assustados.

Foi como um soco na cara. Ela estava totalmente certa, eu sabia que ela tinha medo, gritar e me deixar levar pela raiva não ajudaria em nada. Natalie não tinha culpa.

— Foi mal, não é com você, Bochechas, vai passar quando eu der o fora daqui.

Vi ela assentir brevemente e subir na moto meio incerta.

— Pode ficar tranquila, eu não vou te deixar cair. — Afirmei, dando a partida.

Pilotei por um tempo, apenas usufruindo da estrada e deixando a mente livre. Os braços de Natalie me apertaram um pouco mais, enquanto suas mãos deslizaram para dentro dos bolsos da minha jaqueta. Por incrível que pareça eu não senti desconforto algum. Percebi que eu podia dirigir por horas com ela na minha garupa. E aquele pensamento foi estranho e ao mesmo tempo... Bom?

Parei em uma pequena estrada, afastada o suficiente pra que o movimento de veículos fosse quase nulo.

— Eu odeio capacetes, não dá pra respirar com eles. Aumenta ainda mais meu pânico. — Natalie comentou, assim que desceu da moto. — Você nunca usa capacete, não vou usar também.

— Ele é pra sua segurança.

— Na verdade ele só vai me proteger se eu cair da moto e você disse que eu não vou cair, portanto eu não preciso usar. — Revirei os olhos com a linha de raciocínio dela e estava pronto pra retrucar, mas não tive tempo. — Se você me mandar usar esse capacete, significa que você não tem certeza se eu vou cair ou não.

— Faz o que você quiser, Bochechas, nada do que eu dizer vai adiantar mesmo... — Me dei por vencido, cruzando os braços e encostando na moto. Totalmente esquecido do meu pai e de tudo que eu havia deixado em casa, era difícil manter qualquer outra coisa na mente quando Natalie estava por perto, a garota era espaçosa até nos meus pensamentos.

Ela sorriu, aquele tipo de sorriso vitorioso e irritante que ela dava às vezes e que tinha um efeito estranho em mim. Todos os sorrisos dela tinham um efeito estranho em mim...

Colocou o capacete na calçada e se aproximou, eu revirei os olhos e neguei. Teimosa.

— O princípio da moto é o mesmo de uma bicicleta, se mantenha em movimento que o equilíbrio é mais fácil. Aqui fica o...

— Eu acho que devíamos fazer um exercício antes. — Interrompeu, colocando uma mecha do cabelo atrás da orelha esquerda.

— Você está enrolando, não é?

— Talvez... Mas a gente podia fazer só um, eu vou acabar me distraindo e ficando mais calma. — Apontou, jogando um pouco a cabeça de lado e sorrindo.

Se teve uma coisa que eu aprendi com Natalie Cooper naquelas semanas, foi que era totalmente inútil e cansativo discutir com ela, ceder logo evitava muita dor de cabeça.

— Que seja, mas se for igual da última vez...

Me lembrei do dia anterior e de Natalie me perguntando se eu me masturbava, foi exatamente assim, sem filtro nem nada. Nem Merle conseguia ser tão direto. Me afoguei com a saliva e quase morri engasgado. Não sei qual a merda de "exercício" aquela louca iria sugerir, mas aquele era um limite bem claro pra mim, eu disse "não".

Quando aquilo tudo de exercício começou e ela disse que quando eu não quisesse algo bastava dizer "não", eu desacreditei totalmente, qual é? Era Natalie Cooper, um simples "não" seria insuficiente para pará-la, mas, pra minha surpresa não foi. Ela trocou de assunto no mesmo instante, como se ele nunca tivesse surgido e passou para a próxima conversa banal. Nenhum insinuação depois disso, nada.

Claro que foi um alívio, afinal aquilo era uma coisa só minha, íntimo demais pra compartilhar qualquer detalhe do ato, ou melhor, da falta dele, com qualquer pessoa, mas ao mesmo tempo, fiquei um tanto curioso pra saber o que ela teria dito. Contudo, não curioso o suficiente pra perguntar.

O episódio, embora constrangedor, me provou que eu podia realmente confiar que Natalie respeitaria meus limites. Aquela era uma novidade um tanto inusitada.

— Se eu falar ou fizer alguma coisa que você não goste ou não queira você só tem que dizer, ué... — Deu de ombros, era tudo muito simples com ela. Fácil. Eu não estava acostumado com coisas assim, apenas com pressão e expectativa.

— Tudo bem, vamos lá, qual sua ideia louca dessa vez? — Perguntei, sentido um frio inédito na boca do estômago.

Conforme os dias passavam eu vinha percebendo que cada vez pensava mais naqueles "exercícios" era quase como se esperasse por eles. Quase como se ansiasse por eles. Quase como se gostasse das pequenas doses de Natalie Cooper que eles me traziam. Quase...

— Um abraço. — Falou simplesmente e eu franzi as sobrancelhas. Não podia ser "só isso". Nunca era com aquela garota. — Vamos, Baby Dix, me abraça.

Me aproximei, passei apenas um dos braços por cima do ombro dela e dei duas batidinhas em suas costas, simples e rápido, nossos corpos mal se tocando naquele curto meio segundo. Dei de ombros quando acabou. Minha expressão deixando claro o meu: "Pronto".

Natalie ergueu as sobrancelhas, piscou duas vezes, comprimiu os lábios em uma linha fina e acabou rindo.

— Sério? Você vai ter que fazer melhor que isso, Baby Dix.

— Você disse um abraço, eu te dei um abraço, vai colocar defeito na merda do abraço agora, Bochechas? — Cruzei os braços irritado.

— Isso mal foi um abraço de mano. Não passou nem perto do abraço falso que eu dou na tia do meu padrasto no natal. Quando eu disse "abraço", eu me referia a um abraço de verdade. Assim...

Natalie se aproximou um passo e eu fiquei tenso. Ela parou, esperou eu falar alguma coisa, mas não pronunciei palavra alguma. Era só a porra de um abraço. Deu outro passo e eu descruzei os braços e os deixei cair naturalmente ao lado do corpo.

Mais um passo. Natalie jogou os braços em cima dos meus ombros, enquanto focava os olhos negros nos meus. Me puxou mais pra perto, me envolvendo totalmente, encaixando a cabeça entre o meu pescoço e ombro. Ela era quente e aconchegante, como Sol às dez horas.

— A dinâmica do abraço, pede que você abrace de volta... — Sussurrou, fazendo os pelos da minha nuca arrepiarem.

Foi quando me dei conta que meus braços continuavam parados ao lado do meu corpo. Movi minhas mãos, fazendo-as escorregar pelas costas de Natalie, nosso corpos ficando ainda mais colados. Os dedos dela subiram pelo meu pescoço se embrenhando no meu cabelo e me puxando pra mais perto.

Aspirei seu perfume como faria com uma droga. Ela tinha cheiro de baunilha e framboesa, uma combinação um tanto peculiar.

— Você é cheiroso, Baby Dix. — Comentou, como se tivesse tirado as palavras da minha boca. Eu podia ter dito "você também", mas não disse.

Eu a apertei um pouco mais, como se precisasse tê-la ainda mais perto, um tipo de necessidade que eu desconhecia totalmente até então. Apenas me deixei usufruir daquilo um momento.

Natalie levantou a cabeça, pra poder me olhar, mas eu não a soltei, como se fosse totalmente incapaz disso.

— Viu? Não é tão difícil. — Ela sorriu. Um de seus melhores sorrisos, um daqueles que deixavam as bochechas proeminentes.

Escorregou as mãos do meu pescoço para o meu peitoral e as deixou espalmadas ali. Mantive as minhas em suas costas.

— Também não foi tão ruim, foi? — Perguntou. Estávamos tão perto que eu podia sentir o hálito dela no meu, como um convite.

Neguei muito devagar. Não tinha sido nada ruim. Merda, menina, o que você está fazendo comigo?

Tirei minhas mãos dela, dando uma passo pra trás, coçando o nariz pra disfarçar e depois caminhando para a moto.

— Agora vamos, Bochechas, para de ficar se esquivando.

— Sim, senhor.

Se aproximou de mim e me deixou dar todas as instruções totalmente calada. Parecia realmente empenhada daquela vez.

— Ótimo. Agora é só você tentar. Eu vou atrás, então se der alguma coisa errada você pode ficar tranquila que eu vou segurar a moto.

Natalie assentiu duas vezes, estava tensa eu podia ver isso em cada movimento dela. Mesmo assim montou, deu a partida. Eu subi logo atrás, colocando minha mão por cima da dela, explicando o quanto acelerar. Assentiu freneticamente e colocou a moto pra andar. Bem devagar.

O primeiro quilometro passou, ela tinha dificuldades de manter uma linha reta, fazendo ziguezagues na pista. O segundo quilometro veio e ela acertou a reta. Segurava as manoplas com tanta força que os nós dos dedos estavam brancos.

Aproximei um pouco mais o corpo, para que com meu braço esticado eu pudesse tocar a mão dela.

— Tudo bem, você está indo bem, relaxa. — Toquei o dorso de sua mão com o polegar direito.

Aos poucos a cor de sua pele foi voltando, provando que ela tinha afrouxado o aperto da manopla.

Olhei seu rosto pelo retrovisor e ela estava totalmente séria, focada na estrada.

— Você pode acelerar um pouco mais. — Sugeri.

— Já estou no limite de velocidade.

— Ninguém anda no limite, ainda mais aqui, Bochechas.

Vi Natalie rir pelo retrovisor, nossos olhos se encontraram ali e ela acelerou um pouco mais. A moto ganhando a estrada e combatendo o vento.

Era estranho estar na garupa, era estranho ter uma garota pilotando, mas ainda assim era... bom. Muito bom.

Paramos na rotatória que saía da cidade quilômetros depois.

— Isso foi incrível. Você estava certo, eu não caí! — Comentou empolgada, saltando da moto.

— Você foi bem, comeu algumas faixas, pilotou em ziguezague, pulou umas marchas...

— Por que será que você nunca consegue me fazer um elogio completo, Baby Dix? — Ela riu me empurrando de leve, mas mantendo a mão no meu braço. — Obrigada, de verdade.

Natalie desceu a mão pelo meu braço e entrelaçou nossos dedos, seus olhos estavam nos meus e ela sorria, percebi que aquele sorriso que fazia suas bochechas subirem era o que eu gostava mais. Eu sabia que devia me afastar, por que aquela era simplesmente minha reação padrão pra tudo. Mas... eu não quis. O que tinha de errado comigo?

— Agora você já pode tentar sozinha. — Apontei, quebrando nosso contato.

— Nem fodendo! — Respondeu no mesmo minuto.

Deixei um riso escapar pelo meu nariz, enquanto negava algumas vezes.

— Vem, Bochechas, eu vou te levar pra casa, logo vai chover. — Chamei, vendo que o céu escurecia aos poucos.

— O que é aquilo? — Parou antes de subir na moto, mostrando uma construção ao longe.

Olhei a torre cilíndrica encardida, que se erguia por vários metros praticamente no meio da mata.

— É o mirante do velho Jenkins. — Respondi e Natalie me olhou como se a informação fosse insuficiente. — Quando a cidade foi fundada aquela era a caixa d'agua que abastecia as casas. Quando foi desativada, Gavin Jenkis comprou o lugar e reformou, ele dizia que podia ver os ovnis de lá, era só um velho biruta. Depois que ele morreu o filho Walt herdou o lugar, ás vezes ele aluga pra festas, mas na maior parte do tempo vive abandonado.

— Podemos ir até lá? — Perguntou animada.

— Se você quiser ser presa por invasão a domicilio, podemos sim...

— Mas você mesmo disse que está abandonada. — Acusou, cruzando os braços e fazendo uma expressão emburrada que era quase cômica.

— Eu disse que está abandonada, não que não tem um bom sistema de segurança. Walt instalou um para os noiados pararem de invadir.

— Não podemos ir até lá e apenas pedir?

Não respondi, apenas tombei a cabeça meio de lado e coloquei as mãos no bolso. Como eu explicaria aquilo?

— Você e o Merle já invadiram lá, não é? — Deduziu divertida e eu assenti um tanto culpado. — Diversão imprudente e irresponsável, que atire a primeira pedra quem nunca usufruiu disso.

Natalie nunca julgava, eu não sabia se aquilo era um ponto positivo, ou se era apenas mais uma prova de que a garota era totalmente louca, talvez fosse os dois.

— Okay, nada de conhecer a torre d'água então. — Deu de ombros, subindo na moto e passando os braços pela minha cintura.

A volta foi calma, Natalie estava mais relaxada e apenas apoiou a cabeça nas minhas costas. Fiz um caminho diferente, sem motivo algum, e não, não foi porque era um caminho mais longo. Ou foi?

Passei em casa rapidamente apenas para pegar a caminhonete e seguimos para a oficina, mas Natalie não desceu de imediato. Olhou pra mim por um tempo e tocou minha mão de leve.

— Obrigada, Daryl, foi muito importante pra mim...

Ouvir ela dizer meu nome daquele jeito tinha um efeito estanho em mim, eu não conseguia explicar o que era.

Apenas assenti sutilmente.

— Era esse o nosso acordo. — Dei de ombros.

— Mesmo assim...

Natalie focou em mim por um longo momento. Depois baixou um pouco a cabeça e riu de canto.

— O que? — Acabei perguntando antes de me dar conta.

Ela negou como se não fosse nada.

— É só que eu pensei em te dar um beijo pra agradecer, mas lembrei da minha promessa e mesmo na bochecha, um beijo é um beijo, promessa é promessa...

Tive que disfarçar o meu choque, Natalie tinha aquela mania de dizer tudo na lata, eu nunca estava preparado.

— Nada de beijo pra nós. — Terminou, abrindo a porta.

— Nada de beijo, melhor assim. — Assenti uma só vez, tentando parecer convicto.

Enquanto virava o carro e partia tentei me convencer que aquela promessa era uma coisa boa e não algum tipo de maldição. 

Não deu certo.

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