1. Corvo da Meia-Noite [DEGUS...

By BC_Siqueira

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Duas dentre as seis nações de Kether estão em guerra. Noite, Dia e Terra formavam uma grande potência denomin... More

!Recado da Autora!
Epígrafe
Prólogo
1 - A Guerra
3 - Jantares Incômodos
4 - Um novo dia
5 - Amizades
6 - Festa da Colheita
7 - Reencontros
8 - Hora de Agir
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2 - Jogo da Lua

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By BC_Siqueira

O castelo da Noite, também conhecido como Ninho dos Corvos, era uma construção imponente feita de mármore negro e vidro, numa arquitetura vertical pontiaguda. Encontrava-se no fim do reino e coordenava todas as cinco províncias. Alguns diriam que poderia parecer intimidante, mas para Midnight significava lar.

Ela sentiu-se acolhida assim que pisou em terras noturnas. O clima frio a envolveu, apagando da pele a sensação de calor opressivo diurno; e o vento fresco levou para longe o cheiro da fumaça ao qual foi obrigada a conviver em Sol Poente.

Nos dias que seguiram, passou a maior parte tempo treinando jovens noturnos e também alguns refugiados da Terra, porém, nessa noite trabalharia o grupo de Elite. A equipe era composta por poucos membros, cerca de dez pessoas, mas todos de confiança. Além de comporem o alto esquadrão, cada um liderava seu próprio regimento como capitães do exército.

Midnight partiu em direção ao local de treinamento, uma floresta atrás do castelo, mas algo a fez interromper o trajeto. Mallika conversava com um rapaz do Reino da Terra perto da entrada utilizada pelos criados; usavam um tom de voz baixo e mantinham-se praticamente escondidos. Caminhou até eles, não sendo capaz de conter o interesse na situação inusitada, afinal, poderiam ser espiões diurnos infiltrados no Ninho do Corvo.

— Quem é o senhor e o que deseja aqui?

— Ann, e-e-eu queria certificar-me de que a família da senhorita Mallika está bem. — Ele parecia abalado, já a moça não demonstrava nenhum nervosismo.

— Se era apenas isso, por que conversavam escondidos?

— Não estávamos, alteza. Perdoe-me se passei esta impressão — Mallika apressou-se em responder pelo rapaz.

— O Reino da Terra é distante daqui, ele deve estar muito preocupado.

— Sim, nossas famílias são próximas.
Midnight agarrou o colarinho do rapaz, pressionando-o contra a parede.

— Não importa o que estejam planejando, eu descobrirei e quando este dia chegar, esteja certo de que os envolvidos sentirão muita dor. Entendeu?

— Não tramávamos nada, eu juro, milady.

Ela não acreditou em nenhuma palavra, mas não tinha provas suficientes para prendê-los ou executá-los. Afrouxou a mão e o soltou, devagar.

— Permitirei que vá para que transmita o meu aviso a todos que estejam envolvidos.

— Obrigado. Adeus, senhorita Mallika. — Correu sem rumo, assustado demais para olhar para trás.

Os olhos prateados da general recaíram severos na garota.

— Está aqui graças à piedade do Rei Alioth, soberano da Noite, não se esqueça deste fato e sequer pense em traí-lo.

— Eu compreendo, devo eterna gratidão pela generosidade.

— Assim espero.

Decidiu deixar aquilo por ora, mas se manteria atenta à Mallika.
Com passadas apressadas pelas lajotas, viu-se diante de um grupo de soldados que circulavam ociosos, aguardando na entrada da Floresta do Corvo. Assim que a notaram, ergueram as cabeças, atentos.

— Como vai, general? — questionou Akbal.

— Muito bem, capitão. O que sugere para hoje?

O treinamento dos soldados de Elite mantinha uma dinâmica em que todos opinavam no processo, pois evoluíram significativamente suas habilidades, não existindo uma estrutura de mestre e aprendiz, em uma troca mútua de conhecimentos.

— Acredito que devíamos treinar com nossos animais — propôs.

— O que acham de deixarmos isso mais divertido? — sugeriu Luna.

— Concordo, senhorita Moonlight. Eu gosto de diversão — respondeu Daren, com uma piscadela.

— Podíamos realizar um jogo — Luna prosseguiu —, onde quem estiver usando meu colar com a pedra da lua terá que fugir dos outros que devem capturá-lo.

— Eu aprovo — Daren concordou.

— Espere, eu o considerei bastante infantil — objetou Donnovan.

— Podemos usar armas de energia? — disparou Kihar.

Todos puseram-se a falar ao mesmo tempo.

— Acalmem-se — Midnight pediu e aguardou que fizessem silêncio. —Realizaremos o jogo proposto, mas ninguém poderá usar armas de energia...

— Isso não é justo! — Daren ergueu a voz.

— Cale-se! O próximo que interromper-me terá que fazer dez flexões... — riram — ... sob a luz do sol.

Não houve mais protestos ou risadas.

— Apenas teremos a ajuda de nossos animais — pontuou Midnight. — Capitã Moonlight, por favor, escolha quem fugirá com a pedra da lua.

— Hum. — Correu os olhos pelos soldados. — Kihar.

— Está bem, passe esse colar para cá.
Luna removeu a joia do pescoço e a jogou para o outro que a pegou no ar.

— Capitão Siddarth, como ficará com o colar, terá a vantagem de sair na frente — a general instruiu.

— Estou começando a gostar desse jogo.

— Traga o seu animal.

Ele se concentrou, chamando o chacal prateado, e não demoraram a correr para a floresta. Os demais soldados também se puseram a convocar os animais. Eles eram um presente da Deusa Primordial Lua; um companheiro que nascia das constelações assim que um noturno dava o seu primeiro suspiro, e voltava para elas quando o seu senhor o fazia pela última vez.

— Creio que já é hora de irmos — declarou a general.

Mal as palavras deixaram seus lábios, os soldados se embrenharam pela mata. As copas das árvores eram cheias e isto impedia que a claridade da lua se infiltrasse, tornando-a completamente escura; sendo a ausência de luz uma vantagem para os noturnos.

Midnight não teve pressa, era adepta de planejamentos bem-feitos acima de ações impulsivas; e tentava criar uma estratégia para sair vitoriosa, quando Daren surgiu diante de si com a loba ao lado.

— Podemos formar uma dupla?

— Por que não a faz com Luna? — ironizou.

— Você é minha preferida. Além do mais, é melhor do que ela nesses jogos.

— Luna inventou o jogo.

— Mas não significa que se sairá bem.

Daren claramente tinha algum interesse por trás e Midnight possuía curiosidade em ver qual o resultado disso, portanto, aceitou a proposta.

— Certo, seremos uma dupla.

— Tenho certeza de que venceremos.

Deram a volta em algumas árvores, parando próximos a uma grande rocha, Midnight aproveitou o esconderijo para dar ordens ao corvo.

— Encontre Kihar.

Ônix grasnou e partiu para a missão. Enquanto ele sobrevoava o local, a general estudava o amigo e a loba branca.

— O que foi? — Ele fechou a feição.

— Posso ficar em desvantagem com vocês por perto.

— Por quê?

— Seu cabelo chama muita atenção e o pelo da sua loba também.

Daren ficou em silêncio por um momento, depois cobriu-se com o capuz.

— Preciso disfarçá-la, Pandora. — Abaixou a cabeça, pensativo. — Midnight, pode me emprestar seu manto?

— Para cobrir seu cão?

— Ela não é um cão, e não esqueça de que isso pode comprometer a nossa vitória. — Ostentou um sorriso triunfante, pois sabia que o argumento a dobraria, principalmente por conta da competitividade absurda de Midnight.

Ela resmungou e desprendeu a capa dos ombros, sua preferida; a que continha o brasão de corvo dos Ravengott e o lema “Sabedoria e Honra” bordados.

— Tenho apego a esta peça, por favor, a mantenha impecável ou serei obrigada a confeccionar uma feita de pele de lobo. — Esticou a mão e reteve o tecido, obrigando Daren a puxá-lo para que soltasse.

— Midnight e suas ameaças. Não acredita que já me habituei a elas, magricela? — Se pôs a vestir a loba.

— Creio que não, pois ainda insiste em desafiar-me.

— Eu jamais ousaria cometer tal ato, minha cara general.

— Você abusa de minha benevolência. É um grande cretino, isso sim.

— Não ultrapasso nenhuma liberdade ao qual já não me tenha sido concedida. — Aproximou-se e alcançou a trança dela. — Desfaça essa expressão emburrada, magricela. — Passou a ponta do penteado sob o nariz de Midnight.

— Alguém já lhe disse que é um ser insuportável? — Afastou a mão dele com um tapa.

— Você costuma prestar-me esse imenso favor.

Ela meneou a cabeça, desviando o olhar para o céu e notando que Ônix retornava.

— Graças aos Deuses, possuo um corvo ágil o suficiente para livrar-me de suas ladainhas.

— Algumas mulheres diriam que sou encantador.

— Quanto teria que pagar a elas? — questionou, distraidamente, ao acolher a ave no antebraço.

— Absolutamente nada, apenas lhes ofertaria meus serviços por uns instantes.

— Estou certa de que não possui algo relevante a oferecer.

— Minhas habilidades de amante.

— Pobres moças, hão de estar desesperadas para aceitarem isso. — Mordeu o lábio para não rir.

— Pelo contrário, elas costumam implorar. — Jogou os cabelos para o lado.

— Sua arrogância me enoja.

— Admita, sente-se fascinada por ela.

— Que seja, vamos vencer esse jogo ou não?

— Vamos.

Midnight voltou as atenções para o corvo. Cada animal possuía um elo profundo com o dono, permitindo que se comunicassem através da mente. Ônix mostrou imagens de Kihar escondido na copa de uma árvore, porém, o chacal não estava em lugar algum.

— Venha — Midnight chamou.

— O que ele viu?

— Apenas acompanhe-me em silêncio para variar.

Intencionando provocá-la, ele passou a cantarolar, mas teve que parar quando se aproximaram do objetivo, pois não desejava revelar a sua posição.

— Está vendo aquela árvore? — Midnight apontou. — Ele está ali.
Dito isso, Luna surgiu de trás de um arbusto, correndo na direção do esconderijo de Kihar.

— Maldição.

Midnight saiu em disparada, conseguindo alcançar a moça e segurá-la pelo braço. A capitã revidou com um soco, que foi desviado pela general; iniciando um confronto entre elas. Não utilizaram nenhuma arma de energia negra, poder que existia dentro dos noturnos, permitindo que o manipulassem e transformassem em qualquer instrumento.

Luna era a mais baixa dali, fazendo com se mantivesse mais próxima para acertar alguns golpes. Ela tinha as feições delicadas, preservava os cabelos prateados curtos e parecia frágil, mas não deveria ser subestimada.

Aproveitando-se de um descuido da oponente, Midnight a segurou pela perna com que ela tentou chutá-la e a derrubou com uma rasteira na que usava como apoio.

— Acabou! — declarou Daren, que vinha com Kihar. — Capitã Moonlight, a senhorita está bem?

— Estou ótima — afirmou, com um sorriso brilhante, nunca admitiria que Midnight a machucou.

A moça levantou, bateu nas calças e fez uma careta ao passar a mão atrás da cabeça; haveria um calombo ali mais tarde. Também esfolou o cotovelo nos cascalhos ao tentar amparar-se da queda; mas o que eram alguns leves arranhões para soldados de Elite?

— Eu venci. Obrigado, General Ravengott, mostrou-se uma isca perfeita.

Midnight sentiu uma veia pulsando na testa e teve que contar até dez para não esfregar a face convencida do amigo no chão.

— Senhorita Moonlight, é com grande alegria que devolvo o colar... — fez uma reverência exagerada — ... mas antes terá  que dar-me um beijo.

— Vá sonhando, devolva-me logo — respondeu, brincalhona.

— Tive que tentar.

Ignorando a cena ridícula, Midnight voltou-se a Kihar.

— Onde está o chacal? As regras diziam que o senhor deveria trabalhar com ele.

— Acabou sendo visto por causa da pelagem e foi capturado por Akbal, general.

— O senhor não pode abandoná-lo. Esse erro é digno de um iniciante e estou decepcionada. — Não gritava nas repreensões e, tampouco precisava, a frieza contida na voz já era o suficiente.

— Perdoe-me, não se repetirá.

Midnight assentiu.

— Vamos voltar.

Aos poucos, encontraram os outros, que não ficaram nada felizes em perderem para Daren.

***

— Está brava comigo? — Ela virou as costas. — Midnight...

— Usou-me para pegar o colar, isso é trapaça. — O encarou.

— No jogo e no amor tudo é permitido.

— Rato traidor.

— É uma dama muito delicada, general — Suspirou.
Daren deu uns passos pelo jardim e sentou-se no banco perto das gardênias.

— Venha aqui do meu lado. — Bateu no espaço vago.

Assim ela o fez, acomodando-se e buscando relaxar os músculos sempre tensos. Precisavam deixar as desavenças causadas pelo jogo de lado para discutirem assuntos mais urgentes.

— Estou reforçando a guarda nas entradas do reino e criando patrulhas nos pequenos vilarejos, durante à noite e também de dia.

— Durante o dia é quase um ato de crueldade. — O rosto dele se contorceu.

Os soldados usavam uma roupa que os cobria por inteiro, deixando apenas os olhos à mostra, mas ainda era insuficiente para impedir os efeitos solares.

— É quando estamos mais vulneráveis e não podemos nos permitir esse descuido.
Daren concordou com a cabeça, em seguida arrancou uma flor e a estendeu.

— Para você, magricela.

— Após toda a enganação para conseguir o colar, ainda possui coragem de me ofertar uma maldita flor?

— E para quem mais eu poderia?
Ela sorriu e aceitou, mesmo que por dentro estivesse prestes a fazê-lo comer o presente.

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Olá, corvinhos. Tudo bem com vocês?

Espero que tenhas gostado de conhalecer um pouco melhor a personalidade de alguns personagens.

Não se esqueçam das estrelinhas 🌟

Beijos ❤️

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