O Rochedo

By Nemo_Pines

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Charlotte de longos cabelos ruivos encaracolados vive numa ilha remota longe do resto do mundo. Após a tripul... More

Prólogo
Doze moedas, Um beijo de submissão
Um vestido
Água quente

O capitão

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By Nemo_Pines

Os seus lábios encostavam-se nos dela com subtileza e uma paixão crescente. Sentia um calor ardente dentro de si, algo de surreal.

Ela, por sua vez, sentia-se, de certa forma, impura, uma... uma traidora. Os seus olhos ainda molhados fixavam os azuis do capitão e lembrou-se das ondas que lavavam o sangue da praia. O sangue que a espada do capitão fizera derramar do seu noivo.

Tentou afastá-lo.

Victor apercebeu-se do desconforto da rapariga e recuou. Embora aquilo fosse o que pretendia, tinha de controlar os seus impulsos.

Puxou uma cadeira e sentou-se, de frente para Charlotte.

Charlotte sentiu-se desconsolada quando o capitão se afastou dos seus lábios mas sentiu-se ainda mais culpada por gostar do que acontecera.

"Quem és tu?..."

O rapaz surpreendeu-se com aquela pergunta e esboçou um sorriso e inclinou ligeiramente a cabeça para trás dando uma pequena risada.
Charlotte observava cada movimento que o seu corpo dava e a maneira como o riso do jovem era genuíno.

"Ora, chamo-me Victor. O capitão deste e de muitos mais navios, dono de vastos territórios e propriedades, guardião da maior fortuna alguma vez vista por minhas terras e filho sucessor do presente regente, teu Soberano, o Rei Nimbus IV."

"Rei Nimbus IV? Filho sucessor?... De que falais?"

Victor fascinava-se com a inocência e curiosidade da ruiva e foi nesse momento que soube o que tinha de fazer.

"Irás conhece-lo em breve, verás. Mas agora diz-me... Quem és tu?"

A simplicidade do vestido da rapariga, a sua forma de falar, o rosto belo com lábios delicados e os longos cabelos cor de fogo falavam por si, mas Victor precisava de mais, queria saber mais.

"Sou da Ilha. Moro com meu pai, um dos poucos pescadores que regressaram... Não há muito a dizer..."

Victor escutava cada palavra fascinado.

"Quem era o teu acompanhante? Um familiar? Um amigo? Um apaixonado, talvez?"

Ela baixou o olhar e a voz falhou-lhe.

"O Pablo... Ele era... O meu noivo."

O choque embateu no peito de Victor.

"Desculpai-me por tal infortúnio. Não era minha intenção ter feito o que fiz. E não se preocupai com seu pai, ele irá melhorar."

Com pequenas lágrimas a formarem-se nos cantos dos olhos, Charlotte tomou a coragem que precisava e falou.

"Porque me trouxe consigo? Quero dizer, o que pretendeis fazer? Porque... Porque que é que eu estou aqui?"

Bateram na porta de madeira e o capitão reconheceu que devia voltar ao seu dever.

"Lamento, Charlotte, mas não poderemos acabar esta conversa de momento. Peço-te que esperes aqui até ao meu retorno."

Charlotte assentiu desesperada e viu o capitão fechar a porta da cabine. Foi só aí que finalmente caiu na realidade. Ela estava num navio em alto mar, ia para um lugar desconhecido, não sabia o que é que se estava a passar e muito menos o que é que Victor quereria dela. A morte de Pablo, o pai moribundo e o seu medo das ondas... Estava tudo a acontecer tão depressa que ela nem conseguia raciocinar.

Ao olhar para a cabine, observou folhas gigantes com desenhos estranhos para ela. Neles, tracejados vermelhos uniam um rabisco com o outro. No topo do desenho encontrava-se o título Mapa do Novo Mundo.

Uma grande janela encontrava-se de frente para a porta e iluminava o espaço. Ao lado, longos e espessos armários estavam revestidos de livros, mapas, um globo gigante e várias caixas. No centro estava uma secretária de madeira muito escuro e forte. Charlotte não conseguia identificar qual seria a madeira de que aquela mesa era feita.

Sentou-se ao canto direito na parede da porta e encolheu-se de maneira a aquecer-se. A luz do sol chegava ao seu auge, mas a brisa do mar e o embater das ondas no barco, providenciavam um ambiente frio e enjoativo.

Ao fechar os olhos, Charlotte reveu o rosto do capitão. Cabelos negros como nunca antes vira, um rosto esculpido com as suas formas bem definidas, um sorriso enternecedor e uns olho azuis escuros bastante vivos. Uns olhos que imitavam a cor do mar escurecido. Os olhos que não a perderam de vista e que a perseguiam. Sem se aperceber, a sua mão roçava nos lábios avermelhados e recordava o toque subtil de Victor.

Adormeceu com o embalar das ondas e as emoções que cresciam dentro de si. Era tudo novo. Tudo era diferente.

-/-

Sentindo a presença de uns olhos presos nela, Charlotte acordou levemente. À sua frente, Victor, sentado à secretária no centro da sua cabine, olhava-a.

Ficaram assim por algum tempo. Olhos presos nos do outro e pensamentos baralhados.

"Porque olhais assim para mim?"

"Tens fome, donzela?"

A ruiva permaneceu concentrada em desvendar os segredos que Victor omitia dela.

"À bocado, não terminastes de responder-me."

"E vós fizesteis o mesmo agora. Tendes fome?"

"Tenho."

Victor puxou um barril que se encontrava encostado a um dos armários e encheu um copo. De seguida, levantou-se, dirigiu-se até uma arca no canto da cabine e tirou de lá parte do seu conteúdo. Pegou no copo e sentou-se de frente para Charlotte.

"Toma. É vinho e pão com carne seca."

A rapariga pegou no que lhe era dado e permaneceu quieta.

"Que se passa?"

"O que pretendeis com tudo isto?"

"Agora, pretendo que comas para que não te sintas mal."

O rapaz ainda segurava no copo de vinho e aproximou-o da ruiva.

"Bebe."

A rapariga obedeceu e deu um gole na bebida nunca antes provada. Fez uma cara de desaprovação ao engolir o vinho e olhou para o jovem que a fixava divertido.

"Mas... Estais... Isto só pode estar estragado, prove, tem de deitar isto fora antes que alguém adoeça."

O capitão desatou a rir-se da resposta da jovem.

"De que se ri?"

Controlando finalmente o riso, Victor olhou para a rapariga que olhava estupefacta para ele.

"Por favor, Charlotte, para com essas cortesias quando falas comigo, não suporto ouvir tanta impessoalidade nas palavras que me diriges."

A rapariga cada vez mais confusa nada lhe disse.

"A bebida não está estragada. É mesmo assim."

"Estais a dizer-me..."

Um olhar repreendedor de Victor fez com que Charlotte reformula-se a sua frase.

"Estás a dizer-me que esta bebida que me ofereceste, é mesmo assim? Como conseguis bebe-la?"

O capitão voltou a rir-se da incredulidade da rapariga. Ela apenas olhava para ele.

Quanto mais olhava, Charlotte absorvia a imagem dos músculos definidos do rapaz que se destacavam na roupa que este usava, da forma como apoivava os braços nos joelhos deixando as mãos a caírem sobre os mesmos e a imagem da maneira como este inclinava ligeiramente a cabeça para trás quando se ria. Os estímulos visuais deixavam-na fascinada.

Os olhos dele cruzaram-se com os dela. E ficaram assim, parados, a olharem um para o outro.

-/-

Passaram-se algumas horas até a noite tomar conta da embarcação e sem aviso prévio, dois homens entraram de rompante na cabine onde Charlotte se encontrava para acenderem as velas dispostas ao longo da divisão.

A rapariga assustada com a chegada imprevista dos dois homens chegou-se ainda mais contra a parede e evitou ser vista pelos dois brutamontes. Independentemente o quê, eles não lhe inspiravam confiança.

Quando eles saíram, a ruiva levantou-se receosa e foi até à janela que apontava para o mar.
Conseguia ver as estrelas a brilharem no céu bem como o seu reflexo nas ondas escuras.

Deixou-se cair encostada à janela e olhando para a lua, pensou no seu pai, em Pablo e na sua ilha. O que será que haveria de acontecer dali para a frente e quando é que ela voltaria à sua pequena ilha longe das confusões.

Era nestas alturas que Charlotte sentia falta do colo da mãe. Mãe esta, que morrera quando Charlotte era ainda uma criança. A avó confortava-a dizendo que a mãe da menina havia tranformado-se numa estrela nova no céu. A estrela mais brilhante. Na sua mente inocente e delicada a ideia bonita e reconfortante acentou. Sem conter a saudade que sentia, deixou pequenas lágrimas rolarem, mais uma vez, pela sua face.

Encostou a cabeça no vidro e deixou a sua mente vaguear pela escuridão. Lá fora, embora que abafada pelo som do mar, a voz de Victor deixou-se ouvir pelo navio inteiro.

"Amanhã logo pela madrugada devemos chegar a terra... Iniciar os turnos de manutenção da embarcação e seguir sempre para o oriente! Estamos entendidos?''

"CAPITÃO, SIM, MEU CAPITÃO!"

"Deixem-me orgulhoso do nosso ilustre navio!"

"SIM, MEU CAPITÃO!"

"Deixem que o poder do oceano tome conta das vossas forças e juntos vamos chegar gloriosos!"

"SIM, CAPITÃO, MEU CAPITÃO!"

Os festejos de alegria dos marinheiros a bordo era incomparável e, de certa forma, fenomenal.

Charlotte ouvia vontade, lealdade, esperança e respeito depositados no capitão de belos olhos azulados. Uns olhos deveras cativantes...

Surpresa pela abertura brusca da porta da cabine, os seus olhos abriram-se ainda mais ao ver Victor e apesar do esforço para tentar evitar, Charlotte não resistiu e sorriu.

"Os teus homens admiram-te!..."

"Eu sei. Mas isso não é o meu objetivo."

"Não é?"

"Não. Sabes, mi lady, a pessoa a quem mais quero admirar ainda não me conhece. Quero dizer, conhece-me, mas só pequenas coisas e aquilo que por agora apenas consegui mostrar."

"Pareceis empenhado nesse seu desejo... Porque quereis tanto admirar essa pessoa?"

Foi ao acabar de proferir a última palavra que Charlotte se apercebeu do quão próximas se encontravam as suas caras.

Victor elevou a sua mão e colocou-a gentilmente na face pálida de Charlotte. Desviou um pedaço de cabelo que escondia o seu olhar do dele. Acabou por segurar na mecha de cabelo avermelhado da rapariga e deixou-se cair sobre o seu peito, onde foi capaz de ouvir o coração acelerado da ruiva.

Charlotte colocou a sua mão sobre o cabelo sedoso e negro do capitão e foi massajando o cabelo. O ar que Victor deixava sair ao respirar embatia contra o leve vestido branco de Charlotte que se arrepiava com a inesperada brisa.

Adormeceram com o embalar do mar, aconchegados lado a lado.

-/-

O grande navio chegou ao porto e lá, vários homens com uma postura mais civilizada ajudaram a atracar a grande embarcação.


Charlotte percorria com os olhos a praça cheia de gente e no seu peito o coração batia descontroladamente. Foi a vez de Victor sair do seu barco e já em terra inalou o cheiro da maré até ter os pulmões cheios.

"Anda."

Avançando a passos grandes pelo meio da multidão, Victor não esperou pela rapariga. Ao aperceber-se de que se tinha de mexer, Charlotte pegou a bainha do vestido e descalça começou a correr em direção ao capitão. Ao alcança-lo respirava ofegante.

"Para onde vamos?"

Victor olhou para a companheira e sorriu-lhe com aquele sorriso divertido que de certo quebrava a linha de pensamento da rapariga.

"Mi lady, vamos passear para onde o destino nos levar."

Os músculos das pernas da ruiva contrairam-se perante tais palavras.

"Mas... Vai ser longa a caminhada?"

"Caminhada?!"

O jovem não se conteu e soltou a sua risada bem disposta. Como sempre, inclinou a cabeça ligeiramente para trás e se não tivesse de andar, Charlotte teria ficado a observá-lo.

"Não iremos precisar de caminhar por muito mais tempo, não se preocupe, madame. Vamos apanhar um coche ali ao virar da esquina."

"Um coche?!"

Victor parou no meio das pessoas que empurravam para passar. Olhou para a rapariga que ficou desconcentrada com o súbito olhar e atenção que lhe eram direcionadas.

"Charlotte, há muito no mundo para descobrir e aprender. Prometo que te vou ensinar."

O coração da jovem batucou forte dentro do seu peito e os seus olhos só viam Victor.

"Está bem..."

Victor pegou a mão pálida e destapada da ruiva e com a maior sinceridade os seus olhos azuis fintaram os da rapariga.

"Eu prometo-te, Charlotte. Só nós e o mundo...."

"Nós e o mundo, mas..."

"No barco que é a vida, eu sou o capitão."

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