Taehyung encarava o céu. Sim, até anjos encaravam o céu. Mas diferente as pessoas lá de baixo, ele encava para ver se não havia nenhuma atividade estranha que ele tivesse que tomar conta. Era até estranho que ele não andasse ocupado esses dias, seu trabalho era o que estava em alta devido a demanda do mundo de não ter paciência e partir para o pior lado das coisas. Ultimamente ele tem andado em paz, só resolvendo a vida das pessoas aqui e ali e ajudando seus amigos com o que fosse necessário. Enquanto olhava para cima não viu uma linda criancinha morena correr em sua direção toda animada por finalmente ter recebido uma tarefa, embora ela sendo simples.
- Ei, Tae! – a criança chamou ao chegar perto dele.
Taehyung olhou para o lado e deu um largo sorriso. Ele adorava crianças, e principalmente as que viravam anjos e ficavam ao seu redor. Ele achava que crianças não deveriam morrer de jeito nenhum, mas nem todos concordavam.
- O que foi Louis?
- Estão precisando de você, e parece ser urgente pois me mandaram vir correndo! – o menor respondeu com uma cara preocupada fazendo com que Taehyung risse e se levantasse.
- Então vamos, não podemos deixá-los esperando!
Taehyung seguiu a criança até o complexo onde ele ficava. Cada um de seus amigos tinha seu lugar, mas durante o dia eles trabalhavam juntos. Não que eles dormissem, era impossível dormir nos dias de hoje com tanta coisa ruim acontecendo no mundo, mas mesmo assim era reservado. Sem falar que as pessoas viviam por lá, sempre querendo uma lasquinha deles, afinal, eles eram as virtudes em si. Eles eram a paciência, caridade, castidade, bondade, humildade, temperança e diligencia. Eles eram tudo de bom que tinha no mundo e tudo o que Deus criou para manter as coisas equilibradas. Ao chegar lá ele foi direto para a sala onde os meninos estavam e foi recebido com um olhar bem bravo de um deles.
- O que foi? Eu estava observando lá de cima. – Taehyung começou antes mesmo que seu companheiro.
- E você não sentiu? – Namjoon falou levantando uma sobrancelha desafiando Taehyung.
O outro franziu a testa e fechou os olhos se concentrando. Era assim que ele descobria quem proclamava sua ajuda, quem precisava ser salvo. Era assim que ele sentia quem carregava a raiva e o pecado em seu espírito e ia ajudar. Geralmente essas coisas pulavam na sua frente e ele visitava milhões de pessoas por dia, já que ele só aparecia em sonho para elas e com um simples toque removia tudo aquilo e convertia na mais pura bondade e paciência.
Dessa vez havia uma mancha vermelha escura brilhando no fundo de sua mente, mas tão escondida que ele não seria capaz de perceber se não estivesse focado.
- Até nós sentimos e olha que não é nosso trabalho. – Jungkook comentou. Não para provocar o amigo como sempre fazia, mas sim para avisar como a situação era grave.
Taehyung continuou de olhos fechados tentando visualizar o rosto do ser que estava com tanto ódio no coração e em um flash ele apareceu, mas nada além disso, nem um motivo nem nada.
- Ok, estou indo resolver. A pessoa tem tanto ódio que não consigo identificar o motivo. – ele comentou e sem esperar a reação dos outros, foi para seu espaço.
Seu espaço era onde ele executava as coisas. Era azul e refletia calma como já era esperado. Ele se sentou de frente para o espelho e levou seu dedo até sua superfície, se concentrando de olhos fechados. Num instante sentiu um frio na barriga que indicava que ele estava mudando de plano astral e indo direto para seu plano de destino
Ao abrir os olhos ele se sentiu confuso. A cabeça da pessoa era confusa e agora ele se encontrava no subconsciente dela, onde poderia se comunicar e executar sua tarefa. No sonho atual, a menina estava sozinha num gramado e encarava o horizonte enquanto uma ventania soprava sem parar e deixava os cabelos dela voarem. Taehyung foi em sua direção e se sentou ao seu lado, fazendo com que a menina se assustasse e o olhasse com o os olhos arregalados.
- Olá! – ele falou e a olhou.
Sua feição era inofensiva, qualquer um diria que ela era calma, doce e feliz. Porém seus olhos mostravam totalmente o contrário por estarem vermelhos, inchados e úmidos. Suas bochechas estavam molhadas e sua boca demonstrava total tristeza. Taehyung não imaginava o que se passava na cabeça dela para tamanha situação. Um cenário de sonho daquele só podia mostrar que ela queria paz e liberdade.
- Olá! – Taehyung falou se sentando ao lado dela.
A menina virou para ele assustada, fazendo-o dar um sorriso.
- Como vai você? – ele perguntou calmamente.
A garota ainda o encarava intrigada, com certeza várias coisas passavam pela sua cabeça, pena que Taehyung não conseguia saber o que era.
- Quem é você? – ela perguntou.
- Pergunta justa... Meu nome é Taehyung. E o seu?
- Me desculpa, mas eu não te conheço. Não posso sair falando meu nome assim. – ela comentou, surpreendendo-o com seu tom desconfiado.
Geralmente as pessoas não se importavam com isso nos sonhos.
- Bom, eu vim te ajudar. E seria bom se você me dissesse o seu nome para que pudéssemos conversar tranquilamente. – ele respondeu calmante, tentando passar confiança para a menina.
- Me ajudar? Mas eu não preciso de ajuda. Eu não pedi ajuda. – ela respondeu rapidamente.
Taehyung balançou a cabeça e olhou para frente. Aparentemente eles estavam em uma colina isolada, onde o verde com o azul do céu prevalecia. O vento ainda era forte, fazendo com que o mato se movesse em uma direção, mas não tinha barulho. Era realmente um lugar pacifico.
- Sabe... Às vezes, nossos problemas fazem com que nos sintamos mal, com sentimentos ruins. E esses sentimentos nos levam a pensar coisas nada agradáveis. – ele falou baixinho, mas não a encarou. Ele queria que aquilo tivesse um efeito reflexivo nela.
- Por que está me dizendo essas coisas?
- Por que é o que você quer ouvir. Você precisa de ajuda. Você pediu a minha ajuda mesmo não sabendo e eu vim socorre-la. Porém eu preciso saber o que acontece com você para que eu possa te livrar disso.
- Como eu vou confiar em você?
- Aqui é seu sonho. Sua cabeça, seus sentimentos. Tudo isso é criando por você por algum motivo, por mais que você não saiba. Eu estou aqui e posso ser alguma coisa feita por você, e tudo o que você me falar vai desaparecer assim que acordar.
A garota o olhava com o cenho franzido, a desconfiança não deixava o fundo de seus olhos de jeito nenhum e ela parecia se negar a aquilo a todo custo. E Taehyung tinha o tempo todo que fosse preciso.
- Meu nome é Amy. – ela respondeu baixo depois de um tempo.
Ele balançou a cabeça concordando, finalmente estavam tendo progresso.
- Então? O que tem te perturbando ultimamente? Você pode me falar o que quiser.
- O que você quer saber?
- Isso quem decide é você. – ele deu de ombros. – Você pode me falar coisas que estejam acontecendo com você que possam estar te deixando com qualquer sentimento ruim.
Ela ficou em silêncio de novo, e um tempo depois ele pode perceber a atmosfera mudar. Olhou para Amy e seus olhos estavam cheios de lágrimas. Ela começou a chorar em silêncio e Taehyung não sabia o que fazer para lidar com a sua tristeza.
- Eu não aguento mais. – ela começou a falar. – Eu não aguento mais tudo que está acontecendo! Eu não aguento mais ele, nem o que ele me faz passar! Eu quero ficar longe, quero fugir, mas não posso!
- Sobre o que você está falando? – ele perguntou calmamente.
- Eu só quero que acabe! Eu só quero me livrar dele, de tudo o que eu sinto. Eu não sinto mais amor! Eu só sei sentir raiva e ódio. Eu estou completamente infeliz! – ela se debulhava em lagrimas cada vez mais e falava como se ele não estivesse ali.
Taehyung sentia-se atordoado e perdido pois não fazia ideia de como lidar com aquilo, ele não fazia ideia do que ela estava passando. Ela emana tristeza e raiva, era tão forte que ele se sentiu tonto.
- Olhe para mim Amy. – Taehyung pediu e ela o olhou, seus olhos estavam mais vermelhos que antes e seu rosto brilhava. – Eu posso tirar isso de você.
Ele lentamente levou uma mão na direção dela, mas antes de toca-la ela se desviou bruscamente e se moveu para trás. Ela o olhava assustada e ofegante como se tivesse visto algo terrível.
- Não toque em mim. – ela sussurrou.
Taehyung franziu o cenho e afastou a mão.
- Por que não? Isso vai te ajudar, vai te livrar do que você está sentindo.
- Não! – ela negou com a cabeça.
- Você não vai sentir meu toque. É um sonho, lembra? Tudo vai sumir depois.
- Não, por favor. – ela pediu, tão baixo que Taehyung quase não escutou.
- O que aconteceu para você ficar assim? Deixe-me ver! – ele pediu calmamente levantando a mão mais uma vez.
- Não! Não! Não! Eu quero acordar! – ela pediu e Taehyung se assustou. – Eu quero acordar, por favor!
- Não! – Taehyung respondeu. – Não, deixe-me te ajudar!
- Acorda! – ela gritou. – Acorda!
- Amy, não!
E então tudo ficou branco.