Meritíssimo [DEGUSTAÇÃO]

By wantsilva

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Isabella Araújo só queria arranjar um emprego para que pudesse sustentar seu filho Lucas e, esquecer seu pass... More

Introdução e notas.
BOOK TRAILER
Playlist.
Prólogo.
Capítulo Um.
Capítulo Dois.
Capítulo Três.
Capítulo Quatro.
Capítulo Cinco.
Capítulo Seis.
Capítulo Sete.
Capítulo Nove.
Capítulo Dez.
LIVRO FÍSICO PELA @EDITORASCARDINI

Capítulo Oito.

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By wantsilva

Isabella narrando:

Uma semana se passou, uma semana naquele emprego que estava me deixando de cabelos brancos. Eu nunca estive tão cansada ao fim do dia, nem mesmo após limpar a mansão dos meus antigos patrões da entrada até o sétimo quarto.

As crianças não facilitavam meu convívio ali, exceto Clara. Mas Clarisse e Christian eram dois capetas em forma de crianças, faziam birra, me tratavam mal, gritavam e me ameaçavam. Mas eu pensava no meu filho, pensava no quanto ele merecia o melhor, e então, a raiva de ensinar aquelas crianças a serem educadas de forma adequada me deixava.

É, como podem ver, eu fui oficialmente contratada pra ser babá dos trigêmeos, assinei o contrato mas graças à Deus não tive que enfrentar Sebastian e sim uma de suas secretárias que levou o contrato em uma manhã para mim.

Eu não o via, por um lado isso era bom, mas por outro a raiva das crianças em ter um pai ausente era totalmente descontada em mim.

Não tinha amizades ali, exceto por Caio que às vezes me lançava sorrisos amigáveis e trocava algumas palavras comigo, mas não passava disso. Eu não tinha tempo de conversar com ele, e uma vez ele tinha até pedido meu número mas Clarisse saiu correndo derrubando seus materiais e a babá aqui teve que ir arrumar tudo.

Hoje era domingo, minha folga. E nada melhor que um domingo na praia de Copacabana, o solzão queimando certo, a maioria do pessoal estava na praia hoje pra aproveitar o dia. É claro que não se via ninguém nobre por ali, em dia como esses os ricos jogavam golfe e nadavam em suas imensas piscinas enquanto minha classe e meu povo se jogava na água do mar, corria e pegava um sol.

Eu não era muito fã de água e areia, mas se por acaso não fosse até a praia com Jéssica e Lucas os dois armariam um plano contra mim. E acredite, a dupla infalível e maléfica Jéssica e Lucas tinham os planos vingativos mais loucos da face da terra.

Eric nos deixou bem no calçadão de Copacabana, beijou Jéssica nos lábios e bagunçou os cabelos de Lucas, eu apenas lhe dei um sorriso e saí do seu carro segurando meu filho nos braços. O sol realmente estava fortíssimo que chegava a doer a vista, ajustei o boné na cabeça de Lucas e o coloquei no chão, ele estava elétrico, animado e ansioso. Queria logo ir pra areia e fazer castelos com a tia Jéssica.

Esperei a donzela miss Brasil pegar as coisas e trocar uns mil beijos de despedida com Eric para enfim podermos ir atrás de uma mesa na areia.

Ela agarrou em uma mão de Lucas e eu na outra, e assim seguimos pelo calçadão. Os quiosques estavam abertos e lotados, havia muitos vendedores ambulantes... Pessoas andavam pra lá e pra cá, havia música alta e gente bebendo, muitas famílias curtindo o domingão e aquele era um cenário mais que lindo. Eu gostava.

─ Mamãe? ─ Lucas chamou minha atenção, lhe fitei amavelmente.

─ Oi, meu bem.

Você tem dinero pra compar uma bola ─ ele me olha com seus olhinhos brilhantes e assinto beijando sua testa.

Ele pedia e sempre que eu tinha eu comprava o que ele me pedia, e quando eu dizia que não ele me entendia perfeitamente e nem por isso tirava o sorriso do rosto.

Fui até um vendedor e comprei uma bola pro mesmo brincar. Ele agarrou a bola nova animado e sorridente, amava ver aquele sorriso no rosto dele.

Descemos pra areia e Jéssica já foi alcançando olhares dos homens por onde passava. Ao contrário de mim, ela esbanjava seu corpo negro em um biquíni rico em detalhes. Eric não tinha essa de dizer que roupa ela usaria, e Jéssica era louca, ou seja, ela andava do jeito que queria. Já eu, tinha vergonha de colocar um biquíni e os homens me secarem, me sentia como um pedaço de carne suculento e odiava aqueles olhares lascivos em minha direção.

Achamos uma mesa e deixei minhas coisas sobre a mesma, me sentei em uma cadeira e chamei Lucas, tirei seu short, sua camiseta e o deixei apenas de cueca de banho.

─ Mamãe ─ ele cerrou os olhos por conta do sol e sorriu, encarei seus dentes curtos e fofos e sua careta. ─ O poltetor soar.

─ Ah... ─ abri a bolsa e retirei o creme espalhando nele.

Ele se sentou na areia e já foi brincando de fazer castelos.

Mal esperava pra receber dinheiro e comprar o carrinho que ele havia me pedido. Eu sempre me lembrava quando tinha dinheiro em mãos, lembrava de tudo que ele me pedia. Quis pedir adiantamento pra Sebastian mas eu só estava ali fazia uma semana, não tinha o direito ainda. Enquanto isso gastava um dinheiro guardado que após receber colocaria de volta no lugar.

─ A cerveja tá caríssima ─ Jéssica protestou chegando com os cardápios e se sentou ao meu lado.

─ Você sabe que eu não bebo, então tanto faz.

─ Pedi um refrigerante pro Luquinhas, uma latinha de skol, e um suco de laranja pra você. Mais tarde pedimos algo pra comer, pode ser?

─ Claro, eu trouxe salgadinho pra ele, fiz aquela farofa e trouxe também.

Jéssica gargalhou e me analisou por um instante.

─ Não entendo porque coloca biquíni se nem tira essa camisa ─ ela bufa.

─ Sinto vergonha... ─ digo muxoxa.

─ Vergonha de quê? Você tem um corpo bonito, cá entre nós. Tem uma cintura que vou te dizer... nem parece que teve filho, os peitos continuam durinhos e pequenos e a bunda nem se fala, você malha, linda?

─ Malhava... esfregando o chão de casa de rico ─ a respondo olhando Lucas que já tinha feito um castelo enorme.

─ Vou fazer isso também pra ver se fico gata assim ─ fala como se fosse a horrorosa do mundo. Todo corpo de negra é lindo, e Jéssica não ficava atrás, ela era linda e ficava se fazendo de vítima.

O garçom chega com nossos pedidos e agradecemos, ele me lança um olhar lascivo e logo em seguida lança um olhar do mesmo jeito pra Jéssica que rola os olhos.

Odiava esse tipo de olhar, só me lembrava ele.

Na verdade, às vezes eu surtava, bastava um policial militar chegar próximo ou uma viatura passar do meu lado. Eu me tremia toda, gritava, ficava sem me mexer e uma vez até desmaiei. Uma vez passei um mico dos grandes, estava com Jéssica no shopping e um policial militar nos parou apenas pra pedir uma informação sobre ter visto um homem suspeito de não sei o que... bastou isso pra minha crise me atacar, eu me jogar no chão tremendo e chorando e só depois de Jéssica me acalmar falando várias coisas em meu ouvido que eu voltei ao normal, várias pessoas me olhavam como se eu fosse doente, como se tivesse saído de um hospício.

Mas elas não sabiam que aquilo tudo era apenas algo, uma coisa que sempre estaria marcada em mim. Um estupro.

Às pessoas acham que estupro é uma coisa que esquecemos, que passa, que o vento pode levar e às vezes acham que fazemos cenas pra chamar atenção.

Uma pessoa só sabe o que é um estupro de verdade quando vivencia, quando passa na pele o que é ser violentada. Não é algo simples, é sério, muito sério. Uma cicatriz eterna.

─ Não vai tomar o suco? ─ Jéssica tirou minha atenção, eu meio que tomei um susto. Me virei pra ela e assenti, peguei meu suco tomando e encarando o mar.

─ Mamãe quelo ir nas londas ─ Lucas chegou segurando em minha mão e eu abri um sorriso.

─ Depois que você tomar o refrigerante, nós todos vamos nas ondas. Ok, cebolinha? ─ Jéssica brincou sorrindo e entregando o refrigerante pra ele tomar.

O mesmo se sentou na areia tomando sei refrigerante com salgadinho enquanto Jéssica ficou secando os homens que passavam e comentando comigo. Só podia ter atirado pedra na cruz!

Quando Lucas terminou seu lanche nós resolvemos ir até as "ondas".

─ Ah não, tira essa blusa, por favor. Estamos numa praia, mostre esse seu corpinho ─ Jéssica reclamou.

─ Eu não quero, você sabe bem que não gosto de ficar de biquíni ─ digo emburrada enquanto ela me para.

─ Acha que algum homem vai te atacar? Não vai, eu prometo. Se atacar eu uso meus golpes de karatê infalíveis ─ ela golpeia o ar com um chute e me arranca uma gargalhada.

Eu assinto, ela sempre vence nessas coisas. Acredite, Jéssica é uma pessoa muito convincente, ela convence qualquer pessoa e não sei como faz isso. Talvez fosse sua cara de cachorra sem dono.

E mesmo com um pé atrás eu retirei minha blusa, imediatamente meu rosto corou e senti vontade de cobrir meus seios, por mais que a parte de cima do biquíni não fosse minúscula como o de Jéssica. Soltei meus cabelos os deixando cair sobre meus seios e suspirei.

─ E aí? Morreu? ─ beberica sua cerveja e me encara rolando os olhos.

─ De morrer não morri, mas me sinto incomodada, até demais pra ser sincera, sabe bem que não gosto de atrair olhares de homens pra mim, eles sempre olham com aquele olhar malicioso e eu sinto nojo de mim mesma.

─ Nojo? Por quê? ─ olha desentendida. ─ Tem que ter orgulho, você é linda, acredite, precisa esquecer o passado, encontrar alguém... o que vai dizer pro Luquinhas quando ele sentir falta de uma presença paterna? 

Meu coração se aperta, eu não sabia como conversar com Lucas sobre o pai dele, nunca fui alguém boa com mentiras, e mentir pro meu filho era difícil, ainda mais com aquele olhar questionador e brilhante. O pai dele não fazia parte de nossas vidas e nem queria que fizesse.

Olho pro meu filho que brincava entretido com a areia e por um momento me recordo de tudo, de como me esforcei todo esse tempo por ele, de como fugir pra o proteger, de como larguei tudo... ele não merecia jamais saber que havia sido fruto de um estupro.

─ Mãe? E as londas? ─ desperto de meus pensamentos com Lucas em minha frente com os olhinhos brilhantes.

─ Vamos até as ondas ─ abro um sorriso e me levanto esticando a mão pra ele.

Ando pela areia de mãos dadas com meu filho tranquilamente, levando em minha mente um mantra... ''ninguém vai te machucar, ninguém é capaz disso, não aqui, estamos em um local público...'' e tentei não olhar ao redor porque tinha quase certeza que alguns homens nojentos me olhavam.

Entrei na água com Lucas, ele gargalhou animado, pulamos ondinhas, rodei ele no ar e o enchi de beijos, ficamos catando conchinhas no raso da praia e depois levei ele pra tomar um banho. Ficamos cerca de vinte minutos ali, mas o sol estava forte demais e decidi o tirar da água.

Naquele instante pensei nos trigêmeos, vendo meu filho ali sorrindo e feliz, será que eles já tiveram momentos como aqueles? Com certeza não, com o pai que possuem é difícil ser felizes, se nem atenção eles recebiam, imagine a felicidade de sentir a brisa de um domingo ensolarado no rosto. Era a melhor sensação.

Regresso até onde Jéssica que já estava em sua quinta latinha e me sento pegando o protetor solar e enchendo Lucas do mesmo. Depois pego o lanche e dou pro mesmo que come rápido afim de continuar brincando com sua bola.

Por volta de umas três e meia da tarde resolvemos ir embora, depois de comer, brincar e Lucas cochilar no meu colo. Meus olhos ardiam e meus cabelos estavam só sal do mar.

Estava bem mais a vontade sem blusa do que antes, os olhares já não me incomodavam mais... Jéssica estava certa, era necessário encarar esse medo, ninguém me faria mal. 

─ Tia? Compra sovete pra eu? ─ Lucas pede pra Jéssica que o pega no colo e vai até a escadaria, eu subo indo de encontro com Eric que estava encostado no carro.

─ Cadê eles? ─ indaga.

─ Foram comprar ''sovete'' ─ digo e o mesmo ri. Me sento num quiosque esperando Jéssica e Lucas e Eric se senta ao meu lado pedindo uma água de coco. 

Foi quando eu senti um perfume no ar, um perfume forte, eu reconhecia aquele perfume. Foi quando o vi caminhando sob a escolta de dois guardas, ele andava lentamente mas parecia preocupado, seus ombros entregavam isso. Era meu chefe, Sebastian, e por um momento ele olhou para trás e pude ter seus olhos azuis frios e repletos de rancor sobre os meus, não pude os sustentar, encarei o chão intimidada.

O que será que ele fazia ali? Em pleno um domingo? De terno e bem trajado?

Ele me olhou, dos pés a cabeça e olhou pra Eric, antes de entrar em um carro executivo seguido de mais dois e me olhar com desprezo.

Me arrepiei por completo, aquele olhar dele era tão frio capaz de congelar minha alma, o que será que havia acontecido pra esse homem de poder ser tão frio até mesmo em seu olhar? Ele tinha um olhar malvado, um ódio.

Não importava, ele não era nada, apenas meu chefe, pai dos trigêmeos.

E se ele cultivava más energias, o problema era dele.

Fui tirada de meus pensamentos com a chegada de Jéssica e Lucas com seus ''sovetes'', fomos todos pro carro rumo nossa casa, estava exausta, e só de imaginar que amanhã teria os trigêmeos já era de me cansar ainda mais.


REV

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