2323 - Sobreviventes do Caos...

By BiancaGulim

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Em um mundo distópico, no ano 2323, após ser quase dizimada por um vírus mortal e pela guerra, a raça humana... More

Capítulo ZERO
Capítulo DOIS
Capítulo TRÊS
Capítulo QUATRO
Capítulo CINCO
Capítulo SEIS
Capítulo SETE
Capítulo NOVE
Capítulo DEZ
Capítulo ONZE
Capítulo DOZE

Capítulo UM

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By BiancaGulim

Ano 2323.

É tarde e ainda chove. Saio para a noite mesmo assim, deixando a chuva me molhar. Dizem que água de chuva purifica. Quem sabe? Não custa tentar. Estou sem blusa e sinto mais frio à medida que avanço na floresta. Mas isso não importa. O frio nem me faz cócegas. Dá apenas para notar, perceber que o sinto.  

Passo pelos guerreiros que estão de sentinelas esta noite, mas eles não ousam fazer perguntas. Minha feição não deve estar nada agradável. Ótimo, é como me sinto.  

Avanço um pouco mais na floresta e paro. Apenas olho para o nada e respiro fundo, sentindo os cheiros da mata, deixando que me invadam. 

Sinto sua presença antes de escutar seus passos sobre as folhas. Darion é um grande guerreiro e seus movimentos são silenciosos, mas posso escutar cada passo que ele dá. 

– O que foi? 

O safado me conhece tanto que nem perde tempo perguntando se eu estou bem. Só quer saber se foi alguma novidade que me fez abandonar o alojamento. Talvez ele tema que eu parta em uma missão sozinha. 

– Nada. Só não consigo dormir – respondo, tentando aliviar a preocupação que eu sabia que mostraria em minha voz.  

Nem sei por que perco tempo tentando disfarçar minha dor para Darion. Deve ser a força do hábito. 

– Ele vai aparecer. É forte, inteligente e conhece esta floresta mais do que nós dois juntos. 

Darion é um cara positivo, sempre pensa no melhor. Eu sempre penso no pior. É uma questão lógica pra mim: se é sempre o pior que acontece, pra que perder tempo esperando um milagre? 

– Já faz quatro dias. Algo está errado. Você sabe disso tanto quanto eu. Deveríamos estar fazendo alguma coisa. 

Passo as mãos no cabelo e depois no rosto, exasperada. 

– Celine – Darion coloca as mãos nos meus ombros e se concentra no meu rosto. Ele espera que eu olhe para ele antes de continuar e eu o faço – seu irmão sabe o que faz. Ele decidiu ir sozinho até a fortaleza. Ele deu ordens para que ninguém o seguisse. Não podemos arriscar perder essa aliança.  

Aliança? Eu não diria que não sermos atacados caracterize uma aliança, mas essa é uma discussão desgastada e não tenho tempo para ela. 

– Eu não posso simplesmente ficar esperando! 

Me livro de suas mãos e passo por ele, olhando para a floresta escura.

– Celine... – suspira, derrotado. Percebeu que bancar o otimista não vai me convencer. Ele vai apelar, como sempre faz – nós dois sabemos que nosso povo precisa de você. Todos estão assustados com a ausência do líder e a possibilidade de um ataque. Se você sair agora, o desespero reinará. Eles confiam em suas habilidades – Darion me puxa pelo braço e me faz olhar para ele novamente – eles confiam em você. Eu confio em você. 

Apenas olho para ele. Seu rosto moreno, seus traços fortes. Os cabelos compridos realçam ainda mais a aparência de índio.  

Sorrio de leve. Ele percebe que me convenceu e sorri de volta. Me puxa pela nuca, beija minha testa e me abraça. Retribuo.  

Neste momento, me sinto calma. Darion sempre sabe como me acalmar, mesmo que por pouco tempo.  

Fico triste ao perceber que este instante de calmaria existe apenas porque sei que, se meu irmão não voltar, não estarei sozinha. Não que Darion possa substituí-lo, é claro. Mas o medo de ficar sozinha é maior do que o medo de que meu irmão morra. Imagino que se sentir assim seja errado.  

Esses pensamentos me deixam enojada e eu saio delicadamente do abraço do meu melhor amigo. 

– Esperarei mais dois dias. Depois disso, você e eu iremos atrás dele, ok? 

Sei que estou pedindo muito. Sei que ele sabe que não é seguro que dois dos melhores guerreiros deixem o acampamento em busca do melhor guerreiro que foi em missão de paz e ainda não voltou. Mas foda-se. Só quero ir atrás do meu irmão. Quero saber se ele está bem. Também me preocupo com meu povo, mas meu irmão está acima de qualquer coisa.  

Escuto Darion suspirar. Sei que ele discorda de mim. Mas sei também que vai concordar mesmo assim, ele sempre acaba fazendo o que eu quero. 

– Ok, Celine. Dois dias. Agora volte para o alojamento, por favor. Vou percorrer o perímetro. 

Ele vira de costas e começa a caminhar. Eu o alcanço e o abraço, passando meus braços por baixo dos dele. Encosto meu rosto em suas costas.

– Você é sangue do meu sangue, e eu te amo – digo baixinho.  

Ele pousa sua mão em cima da minha, que repousa em seu peito. 

– Você é uma cretina. Volte logo para o alojamento. 

Sua voz tem um tom divertido e eu dou risada enquanto o solto e retorno ao alojamento. 

Já não chove mais quando passo pela entrada. Ainda não sinto sono. Todos estão dormindo e o silêncio reina.  

Estou quase chegando ao meu quarto quando escuto Max xingando. Reflito um pouco e vou até seu quarto. Entro sem bater. Ele está sentado na cama, limpando sua arma. A caixa de munição está aberta, e eu noto que está quase vazia. 

– Algum dia você vai colocar em prática a possível educação que te deram, princesa guerreira? Aliás, o que te ensinaram quando você era criança, além de encher os outros de porrada? Acho que você entra sem bater para um dia me ver pelado. Não precisa disso, princesa. Se quiser, é só pedir – me sento na cadeira em frente à cama e olho séria para ele. Ele percebe que não estou pra brincadeira e seu sorriso some – o que foi desta vez? 

Ele deixa a arma de lado e examina meu corpo com calma, provavelmente procurando algum ferimento. Deve achar que eu briguei com alguém. Desde que tivemos que nos juntar com os aligortes, isso acontece com certa frequência. 

– Se meu irmão não aparecer em dois dias, eu e Darion iremos atrás dele. Você fica pra proteger o alojamento.  

Ele joga a cabeça para trás e começa a dar risada. Uma risada de verdade, ele realmente está achando graça. Filho da puta!  

Espero em silêncio que seu ataque de riso acabe, apesar de minha vontade ser de socar sua cara.  

– Você está falando sério? – ele me pergunta ainda rindo. 

Apenas levanto a sobrancelha. Muito ousado esse Max. Eu sou a líder quando meu irmão não está e ele ousa rir de uma ordem minha. Aliás, eu nem sei por que perco meu tempo. Esse filho da puta não obedece ninguém. Desde que mudou de lado, há um ano, vive conosco sem respeitar qualquer hierarquia. O desgraçado faz o que tem vontade e ponto. Só está aqui porque meu irmão confia nele.  

Decido que não vale a pena discutir com Max e me levanto pra ir embora, mas ele se adianta e me segura pelo braço. 

– Você não vai a lugar nenhum! – ele vocifera.  

Agora sou eu quem dá risada. Ele continua me segurando e me olhando com raiva. 

– Me solta – peço com falsa gentileza. 

– Prometa que você não vai – ele ordena.  

Puta que pariu! É muita audácia. Eu vou matar esse filho da puta!  

Uma raiva começa a tomar conta de mim e eu me solto de seu braço, empurrando-o com força. Obviamente, ele nem cambaleia. O desgraçado é forte! Antes que eu termine de decidir socar sua cara, ele já segura meu punho e o torce nas minhas costas. Ele usa a outra mão para prender meu outro braço. Não sinto dor, mas não consigo me mexer. Tento atacar suas pernas com os pés, mas ele já as tirou de meu alcance. 

– Conheço seus movimentos, princesa guerreira. Você é boa, mas eu sou melhor – dou risada. Ele sabe que luto melhor que ele. Daqui a pouquinho ele vacila, e eu acerto esse rosto com traços perfeitos – se você soubesse o quanto eu adoro te ver irritadinha desse jeito, não me daria esse prazer – ele sussurra com a boca perto do meu ouvido. 

É agora. Seu foco se perdeu e, por um instante, ele esqueceu nossa pequena batalha. Com toda minha força, me lanço para trás e faço com que ele bata no pedaço de tronco que lhe serve de cômoda. Por sorte, ele bate as costas na quina e me solta, gemendo. Não perco tempo e empurro seu corpo com a minha perna. Ele bate na parede e lá fica. Fico esperando que uma rachadura apareça no barro pelo impacto do corpo de Max, mas as paredes foram bem feitas e nada acontece. Ou eu não o empurrei com toda a força que ele merecia. 

– Caralho, Celine! 

Ele se agacha e passa as mãos nas costas. Lembro-me que seu ferimento ainda não está totalmente cicatrizado. Corro e me agacho ao seu lado, levantando sua blusa e olhando o estrago que fiz. Os pontos abriram e o ferimento sangra.  

Max não emite nenhum som, mas sei o quanto está doendo. Já tive pontos abertos e isso dói à beça.  

– Desculpa – eu digo enquanto o ajudo a encostar-se à parede.  

Tento me levantar para chamar Mario para limpar o ferimento e refazer os pontos, mas Max me puxa pelo pulso. 

– Prometa que você não vai – dessa vez ele pede.  

Sinto pena dele, sei da necessidade que ele tem de me proteger. Talvez por sentir que deve isso ao meu irmão, que salvou a sua vida. Ou por que ele gosta de mim mais do que deveria. Abaixo a cabeça e reflito por alguns segundos. 

– Não posso – sussurro. 

Estou sendo sincera, sei que não conseguiria manter essa promessa. Não sei nem se vou aguentar esperar dois dias.  

Max levanta meu rosto pelo queixo e eu vejo desespero em seus olhos. Ele tem muito medo de que algo aconteça comigo. Sei disso. Posso ver em seu rosto, posso sentir em seu olhar.  

Odeio vê-lo desse jeito. Ele é tão metido a fodão, nunca demonstra se importar com nada. Está sempre acima de tudo. Mas agora, neste momento, ele deixa transparecer o quanto se importa. Talvez de propósito, para me convencer. Talvez sem querer, por não conseguir se controlar.
Ele sempre se controla. Acho que eu sou o único motivo de seu descontrole. Ele sabe que estou sendo sincera, que realmente não posso apenas esperar a notícia da morte do meu irmão. 

– Eu vou com você – ele diz com convicção, apesar de seus olhos demonstrarem súplica. 

– Está bem – não discuto.  

A verdade é que quero que ele vá comigo. Sinto-me segura com ele por perto. Ele me faz dar risada até nos piores momentos. E apesar de saber que o alojamento ficaria menos protegido sem ele, não vou lhe negar isso. Não com ele me olhando desse jeito, implorando em silêncio.  

– Prometa. 

– Prometo. 

Ele me estuda por um momento antes de se convencer e solta meu pulso. Corro até a enfermaria e peço a Mario que me acompanhe até o quarto de Max, com equipamento para a limpeza do ferimento e a feitura de novos pontos.  

Quando chegamos, Max já está sentado na cama e limpa seu ferimento sozinho, com pinga. Se ele soubesse o trabalho que dá para prepará-la, não a desperdiçaria dessa maneira. Mas ele não está nem aí, sua pose de machão sabe-tudo está de volta.  

– O que foi, princesa? Achou que podia me derrubar? – seu tom é de pura ironia e seu olhar, divertido. 

– Você é um babaca! 

Saio rindo e vou em direção ao quarto de Darion para ver se ele voltou de sua ronda, ainda ouvindo Max xingar Mario e dizer que não precisa de ajuda com um cortinho. Metido a fodão. Um filho da puta esse Max!  

Bato de leve na porta de Darion e entro devagar. Ele já está dormindo, provavelmente percorreu só o menor perímetro. Sua expressão é séria. Me aproximo devagar e beijo seu rosto.  

De volta ao meu quarto, me sinto sonolenta. Deito na cama sem me cobrir, apesar do frio. Vejo a imagem do rosto de meu irmão sorrindo antes de cair no sono.


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