Entrei na pista de dança da casa da piscina que fora montada improvisadamente. Alguns colegas de sala e outros do próprio colégio dançavam animados, sorrindo já alterados pela bebida alcoólica e pouca comida.
Doing It tocava nas enormes caixas negras e faziam a festa parecer perfeita. Todos já estavam pintados com cores neon e brilhavam na luz especial que substituíam as originais. Suas roupas brancas também davam o efeito neon desejado.
Aproximei-me da minha melhor amiga e comecei a dançar com ela, cada uma com seu copo, costas com costas e rebolando até o chão. Ela parecia mil vezes melhor do que no dia anterior e aquilo só me deixava mais leve.
Separamo-nos rindo e uma mão forte me puxou, enquanto a música aos poucos finalizava. Era Noah. Nós rimos um para o outro, nossos narizes se roçando e então nossos lábios selando.
Uma música mais sensual começava e eu me colei ao corpo de Noah, deixando uma de suas pernas entre as minhas enquanto eu rebolava, me apoiando com uma mão na sua nuca. Olhei para meu namorado por sob os cílios e vi o quanto ele me desejava naquele momento, o quão vidrado estava em cada movimento meu.
Sorri com malícia e lambi seus lábios, me virando de costas para ele. Agora sua mão segurava meu baixo ventre e eu conseguia rebolar livremente na ereção que se formava dentro da sua calça. Deitei a cabeça no seu ombro, sem nunca parar os movimentos e deixei que seus lábios colassem aos meus em um beijo intenso.
- Meu Deus. - Ele soprou nos meus lábios.
Afastei-me dele, mostrando o copo vazio antes que ele pudesse protestar com o meu afastar. Pisquei na sua direção e saí dali rindo da minha audácia. O que tinha acontecido com a Blue recatada?
Aproximei-me da mesa preenchida de bebidas e escolhi uma vodca para que eu pudesse misturar com groselha ou inventar qualquer outra bebida para que mais uma vez ela ganhasse meu nome. Os garotos fizeram diversas bebidas e o tempo todo algum deles me dizia que "aquela era a bebida Blue". No começo era um padrão, em sua maioria eram azuis para que pudesse ser bem representativo. Só tinha que rir e aceitar. Sentia-me ofendida por vezes quando a bebida era muito amarga, mas aceitava para poder agradá-los. Amanhã eles não se lembrariam das centenas de "bebidas Blue" que haviam criado.
- Parece que a menina que eu namorei não existe mais. - Me virei bruscamente com a garrafa de groselha em mãos ao ouvir a voz de Zack.
Arregalei os olhos para o garoto à minha frente. Com certeza ele estava diferente, com um corte de cabelo diferente, um estilo de roupa diferente. Os olhos estavam vermelhos e as pupilas dilatadas. Não era o mesmo Zack também. Ele tinha razão, eu não era a mesma Blue. Nunca mais seria. Agora eu havia sido tratada como mulher e eu finalmente descobrira o que era amor - mesmo que tivesse o perdido.
- Obrigada? - Ergui uma sobrancelha e dei de ombros, deixando a groselha de lado e tomando um gole da minha bebida.
O que aquele garoto estava fazendo ali?
Ao longe vi o olhar arregalado de Bianca encontrar o meu enquanto ela sumia por entre os adolescentes. Mas que bela amiga eu tinha! Contive a vontade de gritar com ela e apenas esperei que o garoto em minha frente parar de me observar.
- Nós poderíamos sair um dia desses? Tentar de novo. - Deu de ombros, colocando as mãos nos bolsos da calça jeans branca.
Franzi o cenho, totalmente indignada pela sua proposta.
- Eu não sei qual foi a parte do "eu sei que você me traiu" e "eu cansei de tentar" que você não entendeu. E muito menos do "eu mudei". Você é insano, Zachary! - Ergui as mãos, mais exaltada agora. Alguns colegas próximos se atreveram a olhar na direção do casal antes tão famoso no colégio.
Não percebi que uma mão envolveu minha cintura até Zack transferir o olhar confuso de mim até a pessoa ao meu lado. Foi então que sua expressão se tornou debochada e eu quis esganá-lo ali mesmo.
- Então eu estava certo? Vocês sempre estiveram juntos? - Assentiu algumas vezes, fitando o chão enquanto tinha as mãos na cintura. - Patético.
- Ao contrário de você, eu esperei que terminássemos para ter algo com Noah. - Me virei para Noah. - Você convidou esse retardado?
Noah arregalou os olhos, impressionado com a minha ira.
- Não, eu... Não fui eu. - Noah respondeu, a mão no peito como quem tenta sair da culpa por ter feito algo.
Bufei e revirei os olhos. Passei por Zack dando um empurrão em seu ombro e andei a passos largos para a casa principal. Ouvi passos atrás de mim se chocando contra a grama e gritei por cima do ombro:
- Nem se atrevam a me seguir!
Logo os únicos passos na casa principal eram os meus.
Àquela hora Marceline já dormia então eu poderia respirar por alguns segundos. Subi as escadas até o meu quarto, sem saber muito bem o que estava fazendo, a bebida não fazendo mais tanto efeito quanto antes.
Entrei no quarto e me sentei na cama, alcancei uma caixa embaixo da cama por impulso e revirei ali algumas fotos. Sorri à imagem de Noah e eu, Noah e Bianca, nós três juntos e lindas paisagens que pudemos apreciar. Aquelas fotos me acalmavam e me levavam à momentos que eu fora feliz.
Revirei minha caixa sabendo que ela ia revelar mais ao fundo aquilo que eu mais temia nos últimos dias. Deixei as fotos com meus melhores amigos de lado e toquei minhas fotos com Nicholas. Algumas na cama, com os cavalos, ambos cavalgando. Mal percebi que estava chorando quando um soluço escapou por entre meus lábios.
Beijei as fotos, as mãos tremendo e deixei-as próxima do meu coração. Fechei os olhos e me permiti chorar, porque eu não deveria ser feliz. Eu nunca seria feliz de qualquer forma. Como poderia se a felicidade dos outros estava sempre acima da minha própria?
Mas como eu não poderia querer a felicidade da minha própria mãe?
Nicholas nunca me amou de qualquer forma. Os olhares, as palavras, os gestos foram todos em vão. Ele tinha um objetivo e já o atingira. Assim não tinha problema, assim não tinham complicações, assim era melhor.
Deixei as fotos na cama e fui até o banheiro, ligando a torneira para que pudesse jogar [agua no rosto e na nuca. Agradeci pela maquiagem ser a prova d'água ou eu estaria arruinada.
Apoiei as mãos na pia e fechei os olhos com força. A dor no meu peito não me abandonava e a vontade de chorar mais uma vez se aproximava pouco a pouco. Mais um soluço, mais água no rosto. Desliguei a água e sequei o rosto com calma, respirando o perfume da toalha limpa.
Quando tirei a toalha do rosto foi que eu vi pelo reflexo. Era ele. Era Nicholas. Toquei o objeto da minha loucura no espelho. Era quase como se pudesse sentir seu calor bem ali, como se sentisse seu perfume mais uma vez. Apertei a toalha na mão livre, sentindo uma mão em meu cotovelo. O reflexo estava se mexendo, me tocando e fazendo meus pelos se arrepiarem.
Foi então que eu percebi que ele era real. Ele estava ali, Nicholas estava ali. Se eu não estava louca, então estava dormindo naquele exato momento. Era isso, eu nunca me levantara da cama, eu estava dormindo abraçada às suas fotos.
Deixei a toalha de lado e belisquei o braço que ele tocava, o reflexo de Nicholas riu da minha atitude. Franzi o cenho e me virei em sua direção.
Se eu não estava sonhando, se não estava alucinando, então o que Nicholas estava fazendo ali quando deveria estar bem longe com a minha mãe?
- O que tá fazendo aqui, Nicholas? - Minha voz saiu um tanto embolada pela bebida.
Sua mão me soltou e eu senti falta de seu toque, como se fosse o meu apoio, a minha salvação. Engoli em seco e me apoiei na pia do banheiro esperando por sua explicação.
Quando ele pigarreou foi que eu me preparei para ouvir sua voz reverberar pelo cubículo no qual nos encontrávamos.
- Eu não sei, Blue. - Confessou. - Eu não aguento mais ficar longe de você. Eu não aguento mais não poder te tocar. Eu menti pra sua mãe. Menti para a minha própria noiva. Disse que tinha que resolver problemas do clube e quando percebi estava aqui na porta, entrando com a chave dela e entrando no seu quarto. - Ele se postou na parede oposta, longe demais. Os braços cruzados e os olhos sem nunca desgrudar dos meus. Era aquilo que ainda me mantinha firme e de pé. - Eu não sei o que estou fazendo da minha vida, Blue.
Dei de ombros, rindo em deboche.
- Nicholas, eu estava transando com você um dia e no outro descobri que você fazia o mesmo com a minha mãe. Pior: descobri que você estava noivo dela! Eu te amei, Nicholas! Eu descobri o que era amor. - Nessa altura eu já sentia as lágrimas descendo pelo meu rosto, fazendo minha voz ficar embargada. - Você me deixou. Simplesmente abandonou o barco, abandonou todas as promessas, abandonou todo o nosso esforço. Não me disse nada. Eu fiquei aqui, chorando, e tive que descobrir a sua canalhice em um jantar! Droga Nicholas, você tem noção de como me destruiu?
Não notei que socava seu peito até que suas mãos segurassem meu pulso apenas para me afastar. Parei com os movimentos e deitei a cabeça onde antes dava socos. Os soluços agora eram audíveis e eu estava agarrada à sua camisa de malha, tentando me lembrar de como era bom estar no calor dos seus braços que agora me envolviam.
Não era a mesma coisa. Não agora que tudo havia mudado.
- Me perdoa. - Sua voz também estava embargada enquanto ele me apertava contra si e beijava minha cabeça. - Por favor, Blue. Eu só não queria te magoar. Pelo contrário, queria te poupar do sofrimento.
- Mas não poupou. Eu estou arrasada e a culpa é sua, Nicholas Hayes. - Levantei meu olhar apenas para encontrar o marejado dele. - Por que você fez isso conosco?
Ele apertou os olhos com força fazendo uma lágrima escorrer por sua bochecha e aquilo partiu o meu coração. Quando ele abriu os olhos, voltou a falar:
- Eu te amo, Blue Blanchett. Eu te amo tanto que a última vez que amei assim foi há mais de vinte anos atrás. Não podemos ficar juntos. Você ainda é menor de idade, eu seria o pedófilo que fez a sua cabeça... Porra, como a vida é injusta! - Agora mais lágrimas saltavam dos seus olhos. - Eu achei que assim ia poupar sofrimento, mas parece que só o adiantei. - Ele respirou fundo antes de continuar e eu só conseguia ficar agarrada à sua blusa. - Eu já me relacionava com a sua mãe antes de te conhecer. Mas eu juro, quando nós estávamos juntos, não estava com ela. Foi só quando eu parei de te responder que achei essa saída para você me esquecer. Principalmente porque Noah me revelou que estava apaixonado por você.
Prendi a respiração por um momento, arregalando os olhos. Segurei o rosto de Nicholas entre as mãos, olhando fundo em seus olhos.
- Então foi isso? Você colocou a felicidade do seu filho acima da sua?
- Eu não fazia ideia que era de você que ele gostava. Bianca estava sempre em casa, eles sempre se trancavam no quarto e eu achava que era dela que ele falava sempre. Mas não, ele me disse com todas as palavras que estava apaixonado por você. E sabe o que mais doeu? Eu o ajudei a te conquistar desde o princípio. Mas, Blue, ver vocês dois juntos me doeu demais. Eu não aguentava, não conseguia nem tocar a sua mãe. Era você, Blue. Sempre foi você e sempre vai ser.
Eu precisei me desfazer do seu abraço por um momento, a enxurrada de informações se chocando com meu lado bêbado e o transformando em totalmente sóbrio.
Bianca e Noah estavam juntos? Desde quando? Era por ele que ela havia chorado então? Meu Deus, o que eu fiz? O que Noah fez? Apoiei-me na pia, respirando fundo para que não desmaiasse ali mesmo.
- Blue, você está bem? - Nicholas perguntou, tocando minhas costas e se aproximando para me ajudar caso eu precisasse.
Foi em um ímpeto de coragem que eu me virei para ele e tomei seu rosto entre minhas mãos mais uma vez. Sem pensar duas vezes, tomei seus lábios para os meus.
xxx