Sword Art Online: Aincrad (Vo...

By ThamirisAraujo4

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Este volume é composto por quatro histórias curtas que ocorreram antes e durante os eventos de Volume 1 . More

Capítulo 1
Capítulo 4

Capítulo 2

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By ThamirisAraujo4

Calor do coração (48° andar de Aincrad, Junho de 2024)

A gigantesca roda d’água girava sem parar, enchendo toda a loja com um som tranquilizante.
Mesmo que essa fosse só uma pequena casa de apoio usada exclusivamente como
residência dos jogadores, seu preço subiu como a maré por causa da roda d’água. Quando a vi
pela primeira vez, no principal distrito do 48º andar, Rindaasu, pensei “Esta é perfeita!”, logo
antes de ficar assustada com o preço.
Depois disso, comecei a trabalhar como louca, peguei dinheiro emprestado de vários
lugares e consegui acumular três milhões de Col em apenas dois meses. Se eu estivesse no
mundo real, meu corpo estaria coberto de músculos por causa de todas as vezes que usara o
martelo e minha mão direita, toda calejada.
Mas tudo isso valeu a pena, uma vez que eu consegui a escritura um pouco antes dos
meus competidores e abri a "Loja de Armas Especiais da Lisbeth" nesta casa com a roda d’água.
Isso aconteceu há três meses, durante a primavera.
Depois de tomar meu café matinal rapidamente (graças a Deus que aqui é Aincrad) enquanto
ouvia a roda d’água girar como se seu barulho fosse música de fundo, coloquei meu uniforme
de ferreira e olhei meu reflexo no grande espelho pendurado na parede.
Embora eu tenha dito “uniforme de ferreira”, na verdade não era nada parecido com um
macacão, parecia mais um uniforme de garçonete: blusa vermelho-escura com tufos nas mangas
e uma saia da mesma cor, mais um avental branco por cima disso e uma fita vermelha no peito.
Não fui eu quem escolheu estas roupas, na verdade foi uma amiga minha que também é
uma cliente regular. Segundo ela, “você tem uma cara de bebê, então roupas pesadas não ficam
bem em você”.
Bem, isso é o que ela disse, mas eu estava tipo “cuida da sua vida”. Contudo, as vendas
dobraram desde que eu comecei a usar este uniforme, então não tive alternativa além de
continuar usando-o.
Os seus conselhos não eram apenas para a minha roupa, mas também para meu cabelo,
que agora é customizado para ser muito rosa e fofo. Mas, de acordo com as respostas dos
clientes, parece que este visual combina comigo.
Eu, ferreira Lisbeth, tinha quinze anos quando loguei pela primeira vez em SAO. Já
tinha ouvido no mundo real que eu parecia mais nova do que realmente era, mas essa impressão
ficou ainda mais forte neste mundo. Combinando meu cabelo rosa, grandes olhos vermelhos e
lábios pequenos com o avental à moda antiga, meu reflexo quase parecia uma boneca.
Como eu era uma estudante do ensino médio sem interesse em moda no outro mundo,
essa impressão ficou ainda mais forte. Eu até consegui acostumar-me com esta aparência, mas a
minha personalidade não muda tão facilmente e, por isso, eu assustava alguns clientes com
meus surtos de vez em quando.
Conferi se eu tinha me esquecido de equipar algo antes de ir até a frente da loja e virar a
placa que dizia ‘Fechado’. Olhei para os poucos jogadores que estavam esperando a loja abrir,
dei-lhes meu melhor sorriso e cumprimentei-os.
— Bom dia! Bem vindos!
Na verdade, demorou um pouco até eu conseguir agir desse modo naturalmente.
Ser dona de uma loja era um sonho antigo meu, mas fazer isso em um jogo era bem
diferente de fazê-lo no mundo real. Eu experimentei em primeira mão o quão difíceis eram a
recepção e o serviço quando comecei como uma vendedora de rua com base em uma pousada.
Como ficar sempre sorrindo era muito difícil, decidi conquistar meus clientes pela
qualidade, e, para isso, parecia que o segredo era aumentar minha habilidade de forja de armas
como uma louca, já que muitos dos meus clientes regulares continuavam a avaliar meus
produtos mesmo depois que eu abri esta loja.
Depois que acabei de cumprimentá-los, deixei a recepção para minha NPC balconista e
enfiei-me na oficina anexada à loja. Cerca de dez itens precisavam ser fabricados hoje.
Puxei a alavanca na parede, os foles começaram a usar a energia mecânica produzida
pela roda d’água para soprar ar na fornalha e o polidor começou a girar. Peguei um pedaço caro
de metal do meu inventário e prendi-o na fornalha, que tinha começado a esquentar. Depois de
aquecê-lo o suficiente, movi-o para a bigorna com uma pinça. Apoiei-me em um joelho, peguei
meu martelo, abri o menu e escolhi o item que queria fazer. Agora eu só tinha que acertar o
metal certo número de vezes e o item seria forjado. Não havia técnica necessária para isso e a
qualidade da arma resultante era aleatória, mas eu acreditava que o resultado final dependia de
quanto eu me concentrava, então deixei meus músculos tensos e ergui lentamente o martelo.
Mas no momento em que eu acertaria o metal...
— E aí, Liz?
— Ahh!
A porta da oficina abriu ruidosamente e eu errei, acertando a bigorna pateticamente em
vez do metal, fazendo barulho e soltando faíscas.
Enquanto eu levantava meu rosto, a intrusa coçava sua cabeça e sorria com a língua para
fora.
— Desculpa. Vou tomar mais cuidado da próxima vez.
— Eu me pergunto quantas vezes já ouvi isso... Bem, pelo menos foi antes de eu
começar.
Levantei-me com um suspiro e coloquei o pedaço de metal de volta na fornalha antes de
colocar as mãos na cintura e dar meia volta. Então olhei para a garota que era um pouco mais
alta que eu.
— E aí, Asuna?
A usuária de rapier Asuna, minha amiga e cliente regular, cruzou a sala andando em
minha direção e sentou-se no banco de madeira. Ela então jogou para trás, com a mão, o longo
cabelo castanho que passava de seus ombros. Todos os seus movimentos pareciam brilhar,
como se ela fosse uma estrela de cinema, e desconcertavam-me mesmo que eu já tivesse a
conhecido por muito tempo.
Sentei-me também, na cadeira em frente à bigorna, e deixei meu martelo apoiado contra
a parede.
— Então, o que vai ser hoje? Você chegou cedo.
— Ah, quero que você arrume isto.
Asuna tirou sua rapier, ainda embainhada, e arremessou-a. Peguei a arma com uma mão
e desembainhei-a. Estava meio gasta por ter sido usada durante muito tempo, mas não estava tão
ruim a ponto de a lâmina ficar cega.
— Não está tão gasta assim, está? Ainda é um pouco cedo para polimento.
— Sim, é verdade. Mas eu quero que ela fique bem brilhante.
— Hmmm?
Olhei para Asuna cuidadosamente. O uniforme branco de cavaleira com as cruzes
vermelhas e a sua minissaia eram as mesmas de sempre, mas as botas brilhavam como novas e
ela tinha até mesmo colocado um par de brincos de prata.
— Você está estranha... Pensando bem, hoje é um dia de semana. E a sua cota de
exploração? Você não dissera que vocês estavam tendo dificuldades no 63º andar?
Depois de eu ter dito isso, Asuna deu um sorriso envergonhado.
— É... Eu tirei folga hoje. Porque eu tenho um compromisso com uma pessoa mais
tarde...
— Ohh!
Ainda na minha cadeira, inclinei meu corpo em direção a Asuna.
— Dê mais detalhes. Com quem você vai se encontrar?
— S-segredo!
Asuna corou e evitou meu olhar. Cruzei os braços, balancei a cabeça e disse:
— Ah… Achei que você estava estranhamente mais animada nesses dias. Então você
finalmente conseguiu um namorado.
— Não é bem assim!
As bochechas de Asuna ficaram mais vermelhas. Ela tossiu e, olhando de relance para
mim, perguntou:
— Eu estou tão diferente assim recentemente?
— Claro! Quando a vi pela primeira vez, você só pensava em completar masmorras!
Achei que era um pouco rígida demais, porém, nessa primavera, você começou a mudar um
pouco. Por exemplo, descansar em um dia de semana é algo que você nunca faria antigamente.
— C-certo… Talvez eu realmente tenha sido afetada…
— Então, quem é? Alguém que eu conheça?
— Acho... que não... provavelmente.
— Traga-o da próxima vez.
— Não é o que você está pensando! Ainda é, bem… não correspondido...
— Hm...?
Agora eu estava realmente surpresa. Asuna era a sub-líder da guilda mais forte e uma
das cinco garotas mais bonitas de Aincrad. Os garotos que queriam a atenção dela eram tão
numerosos quanto as estrelas no céu, mas eu nem sonhava que o oposto existia.
— Bem, sabe, ele é uma pessoa bem estranha.
Asuna disse isso olhando para longe, com um sorriso suave em seus lábios. Se
estivéssemos em um mangá de romance, haveria pétalas de flor ao fundo agora.
— Devo dizer que ele é imprevisível, leva as coisas em seu próprio ritmo... Mas, apesar
de tudo isso, ele é muito forte.
— Oh, mais que você?
— Sim, bem mais. Se duelássemos de verdade, eu não duraria nem um minuto.
— Oh! Eu posso contar as pessoas que podem fazer isso em meus dedos.
Assim que comecei a pensar na lista de jogadores da linha de frente, Asuna agitou suas
mãos.
— Ah, não o imagine!
— Bem, espero conhecê-lo logo. E, se for esse o caso, confiarei em você para fazer
propaganda também!
— Você nunca perde uma chance. Vou introduzi-lo à loja... Ah! Termine logo o
polimento!
— Certo, certo. Já vou acabar, então espere um pouco.
Levantei com a rapier de Asuna na minha mão e andei até o polidor girando no canto da
sala.
Tirei a fina lâmina de sua bainha vermelha. A arma era classificada como rapier com o
nome único de “Luz Cintilante". Era uma das melhores espadas que eu já havia feito. Mesmo
que eu use as melhores matérias-primas, martelo, bigorna, tudo da melhor qualidade, a arma
pode ficar pior devido ao fator aleatório. Portanto, uma espada deste nível só poderia ser feita a
cada três meses, mais ou menos.
Segurei a espada lentamente contra o polidor com as duas mãos. Também não havia
técnica para polir armas, mas eu não tinha intenção de negligenciar o serviço.
Passei a lâmina contra o polidor, do cabo à ponta. Faíscas voavam com um claro som
metálico enquanto um brilho cintilante voltava à espada. Quando o processo acabou, a rapier
estava novamente limpa e prata, brilhando com a luz do sol da manhã.
Embainhei a espada novamente e arremessei-a para Asuna. Ao mesmo tempo, ela jogou
uma moeda de prata de 100 col para mim e eu a peguei com as pontas dos dedos.
— Obrigada!
— Também vou pedir para você consertar minha armadura depois... Mas agora meu
tempo está acabando, então... tchau!
Asuna levantou-se e prendeu a rapier na lateral de seu cinto.
— Eu me pergunto como ele é… Talvez eu vá junto.
— Ah, n-não!
— Hahaha, estou brincando. Mas traga-o com você da próxima vez.
— E-em breve.
Asuna acenou com a mão e correu para fora da oficina como se estivesse fugindo. Soltei
um profundo suspiro e desabei na cadeira de novo.
— Deve ser bom.
Sorri meio amargamente com as palavras que saíram da minha boca.
Faz um ano e meio que eu vim para este mundo. Devido à minha personalidade, eu não
perdi tempo e investi tudo em fazer minha loja prosperar, o que me trouxe a este ponto. Porém,
agora que eu já consegui isso e quase dominei minha habilidade de forja, estou começando a
sentir falta da companhia de pessoas de novo, provavelmente por não ter mais um objetivo claro.
Como não havia muitas garotas em Aincrad, vários garotos tentaram aproximar-se de
mim, mas por algum motivo eu nunca tive vontade de corresponder. Por isso, sentia bastante
inveja de Asuna nesse aspecto.
— Eu me pergunto se receberei uma missão de “Encontro Maravilhoso” também...
Murmurei, depois chacoalhei minha cabeça para tirar esses pensamentos estranhos dela
e levantei-me. Peguei o pedaço de metal, vermelho por causa da temperatura, tirei-o da fornalha
e coloquei-o sobre a bigorna. Suponho que isso será meu companheiro por enquanto. Com esses
pensamentos em minha cabeça, levantei meu martelo e bati. Iá.
O som rítmico do metal ressoando pela oficina geralmente clareava a minha mente, mas
hoje o caroço em meu coração simplesmente não ia embora.
Era meio-dia do dia seguinte quando ele visitou minha loja.
Eu tinha acabado todos os pedidos de armas ontem e estava cochilando na cadeira de
balanço no terraço na frente da loja.
Estava sonhando. No sonho, ainda estava no ensino fundamental. Eu era uma criança
quieta e aplicada, mas tinha esse mau hábito de dormir durante a primeira aula da tarde. Os
professores frequentemente me repreendiam por cair no sono.
Nessa época, olhei para o jovem professor que tinha acabado de formar-se. Ainda tinha
vergonha de ser reprimida, mas por algum motivo eu realmente gostei da maneira de que ele me
acordara. Ele chacoalhou levemente meu ombro e disse em uma voz baixa e tranquila...
— Uhm, desculpa, mas...
— S-sim, desculpa!
— O qu-?
Eu pulei como uma mola e gritei. Na minha frente, estava um jogador com uma
expressão surpresa em seu rosto.
— Hein...?
Olhei em volta. Não era a classe cheia de carteiras. As árvores ao longo da rua, o canal
que corria junto à larga estrada de pedra, o pátio coberto com grama; era minha segunda casa,
Lindus.
Parecia que eu estivera sonhando acordada pela primeira vez em um bom tempo. Tossi
para esconder meu constrangimento e cumprimentei a pessoa que parecia ser um cliente.
— B-bem vindo. Você está procurando uma arma?
— Uhm, sim.
O menino concordou com a cabeça.
Ele não parecia alguém em um alto nível. Parecia um pouco mais velho que eu; cabelo
preto com uma camiseta, calças e botas simples. A sua única arma era a espada de uma mão em
suas costas. As minhas armas requeriam altos atributos e eu estava preocupada, pois não sabia
se ele estava em um nível alto o suficiente, mas não demonstrei isso e guiei-o até minha loja.
— A prateleira de espadas de uma mão está ali.
Quando eu apontei para a seção de armas básicas, ele deu um sorriso meio estranho e
disse:
— Ah, bem, eu queria encomendar uma personalizada…
Fiquei ainda mais preocupada. Mesmo as armas personalizadas mais baratas precisavam
de materiais especiais para serem forjadas e custavam mais de cem mil col. Se ele entrasse em
pânico com o preço, eu ficaria constrangida também, então tentei evitar a situação.
— O preço dos metais está meio alto agora, então eu acho que pode ficar um pouco
caro...
Eu disse isso, mas o menino de preto disse algo totalmente inacreditável com uma
expressão indiferente.
— Não se preocupe com o preço. Por favor, apenas forje a melhor espada que você
consegue agora.
Eu não sabia o que dizer.
Só fiquei encarando essa pessoa por um momento e, de alguma maneira, consegui abrir
minha boca.
— Bem, mesmo que você diga isso, eu tenho que ter alguma ideia da qualidade…
O meu tom estava um pouco mais ríspido que o normal, mas ele não parecia se importar
e simplesmente concordou com a cabeça.
— Bem, suponho que sim. Então...
Ele tirou sua espada das costas, ainda embainhada, e deu-a para mim.
— Que tal uma espada com qualidade parecida ou superior a essa?
Não parecia uma arma muito impressionante. Um punho com couro preto entrelaçado;
um cabo da mesma cor. Mas quando eu a segurei com a mão direita...
"É pesada!"
Quase a derrubei. O pré-requisito do atributo de força era incrivelmente alto. Como uma
ferreira e usuária de maça, eu estava bem confiante no meu atributo de força. Mas nunca
conseguiria balançar essa espada.
Hesitando, tirei-a da bainha e a lâmina quase absolutamente preta brilhou. Percebi que
era uma espada de alta qualidade com apenas um vislumbre. Toquei nela com o dedo para abrir
o menu: categoria: “espada longa/de uma mão”, nome único: “Elucidator”. Não tinha o nome do
fabricante, o que significava que não fora feita por um ferreiro.
Todas as armas de Aincrad podem ser separadas em dois grupos.
Um deles é “feitas por jogadores”, ou seja, armas feitas por ferreiros. O outro incluía
armas ganhas em aventuras, como recompensas de monstros. Nem preciso dizer que nós não
gostamos muito de armas dropadas. Não consigo nem começar a contar todos os nomes como
‘Sem Nome’ ou ‘Sem Marca’ que foram dados a elas.
Mas esta espada parecia ser um item bem raro entre itens dados por monstros.
Comparando a qualidade média de armas desse tipo e a de feitas por jogadores, as desse último
grupo eram melhores. Contudo, ocasionalmente, espadas demoníacas como essa apareciam,
pelo que eu tinha ouvido.
De qualquer maneira, agora meu orgulho estava em jogo. Como uma ferreira, eu não
poderia perder para um item dropado de monstro de jeito nenhum.
Eu devolvi a pesada arma e trouxe uma espada longa que estava pendurada na parede de
trás da minha loja. Eu tinha forjado essa espada há um mês e era a melhor que eu conseguia
fazer. A lâmina que eu tirei da bainha tinha uma cor avermelhada, o que fazia com que ela
parecesse coberta por chamas.
— Nesse momento, esta é a melhor espada na minha loja. Ela provavelmente não
perderá para a sua.
Em silêncio, ele pegou a espada com uma mão, golpeou o ar algumas vezes para testá-la
e inclinou a cabeça.
— É meio leve.
— Usei metal de velocidade para ela...
— Hmm...
Parecendo duvidar, fez mais alguns movimentos com a espada, então olhou para mim e
perguntou:
— Posso fazer um teste rápido?
— Teste do quê?
— De durabilidade.
O garoto pegou a sua arma, que estava em sua mão esquerda, e colocou-a em cima do
balcão. Então, ficou de frente para ela e levantou lentamente a espada vermelha em sua mão
direita.
Percebi o que ele estava prestes a fazer e tentei pará-lo.
— Espere um pouco! Se você fizer isso, sua espada quebrará!
— Se esta espada quebrar tão facilmente, então ela é inútil. Se isso acontecer, vou lidar
com a situação.
— Isso é...
"Isso é loucura" é o que eu iria falar, mas me contive. Ele segurou a espada sobre a
cabeça e seus olhos brilharam. Pouco depois, ela começou a emitir um brilho azul.
— Iá!
Gritando, ele golpeou com a espada em uma velocidade incrível. As duas lâminas
colidiram antes que eu conseguisse piscar e o som alto do impacto percorreu toda a loja. Como
o clarão resultante era cegante, semicerrei os olhos e dei um passo para trás involuntariamente.
A espada estava quebrada em duas partes e tinha sido completamente destruída.
A melhor espada que eu já fizera.
— AHHHHHH!
Gritei e corri em direção a sua mão esquerda. Peguei a metade restante e examinei-a
cuidadosamente.
Conserto... era impossível.
No momento em que eu cheguei a essa conclusão e abaixei meus ombros, a metade
restante estilhaçou-se e virou pedaços de polígonos. Depois de alguns segundos de silêncio,
levantei lentamente minha cabeça.
— O-o que...
Segurei o garoto pelo colarinho; meus lábios tremiam.
— O que você vai fazer agora? Ela quebrou!
— D-desculpa! Eu nem imaginei que a espada com que eu golpeei quebraria...
"Isso quer dizer que...."
— Em outras palavras, você está dizendo que a minha espada é mais fraca que você
pensava?
— Bem... uhm... acho que sim.
— Ah! Agora você vai falar na cara?
Soltei o seu colarinho, coloquei as mãos na cintura e endireitei as costas.
— E-escuta aqui! Se eu tivesse os materiais certos, poderia forjar armas que quebrariam
a sua espada quantas vezes eu quisesse!
— Oh?
Ao ouvir minhas palavras cheias de raiva, ele sorriu.
— Então eu realmente gostaria de uma dessas; algo que pudesse quebrar esta espada
fácil assim.
Ele pegou a espada no balcão e embainhou-a. O sangue finalmente subiu à minha
cabeça.
— Então é assim que você quer? Que seja! Então você vai ter que ajudar também!
Comece ajudando-me a coletar os ingredientes!
Percebi que tinha feito um erro, mas o leite já estava derramado. Não havia volta agora.
Mesmo assim, ele não pareceu se importar e examinou-me rudemente.
— Bem, eu não me importo, mas não seria melhor se eu fosse sozinho? Seria um
problema se você ficasse no meu caminho.
"Argh!"
E pensar que existe uma pessoa tão boa assim em irritar os outros. Agitei as mãos
freneticamente e protestei como uma criancinha.
— N-não me subestime! Mesmo que eu não pareça, sou uma mestra com a maça!
— Ufa...
O garoto assobiou. Agora ele estava apenas se divertindo.
— Bem, mal posso esperar. Mas, de qualquer maneira, vou pagar pela espada que
quebrei.
— Não precisa! Mas lembre que, se eu fizer uma espada melhor que a sua, ela vai custar
uma fortuna!
— Tudo bem, dê o preço que quiser. Meu nome é Kirito. Espero que nos demos bem até
a espada ficar pronta.
Cruzei os braços e virei a cara.
— Também espero que nos demos bem, Kirito.
— Nossa, você está me chamando só pelo meu nome? Bem, por mim tudo bem. Espero
que nos demos bem, Lisbeth.
— Aahhh!
Nunca antes uma equipe prometeu ser tão ruim.

Rumores sobre "Aquele Metal" começaram a circular entre os ferreiros há cerca de dez dias.
Claro, o objetivo final do SAO era alcançar o último andar e zerar o jogo. Mas, além disso,
havia muitas outras missões: de NPCs, de guardas, de caçar tesouros, etc. Contudo, como
geralmente o prêmio incluía equipamento cobiçado, muitas delas, depois de serem completadas,
tinham um tempo de espera antes de ficarem disponíveis de novo. Existiam até mesmo algumas
que só podiam ser feitas uma vez. As desse tipo realmente chamavam a atenção dos jogadores.
Uma dessas foi descoberta em uma aldeia no canto do 55° andar. Certo NPC, líder de
vila, de barba branca, diria:
Havia um dragão branco que vivia nas montanhas do oeste, ingeria cristais todo dia
para alimentar-se e estocava grandes quantidades disso para criar um metal extremamente
raro e valioso em seu estômago.
Claramente, essa era uma missão cujos prêmios eram materiais incríveis, então um
grande número de pessoas imediatamente formou um grupo de ataque que poderia derrotar o
dragão facilmente.
Mas eles não conseguiram nada. O dragão apenas dropou uma pequena quantidade de
Col e equipamento de má qualidade, que sequer pagavam as poções e cristais de cura usados.
Depois disso, todos supuseram que havia apenas uma chance de o metal dropar,
portanto muitos grupos falaram com o ancião e derrotaram o dragão, mas mesmo assim
ninguém encontrou o material. Durante uma semana, inúmeros dragões brancos foram mortos,
mas nem uma única equipe conseguiu achar o metal. Finalmente, alguém sugeriu que
provavelmente existiam condições especiais que deveriam ser cumpridas, por isso agora todos
estavam tentando descobrir o que precisava ser feito.
Depois de ouvir a minha explicação, o homem chamado Kirito, bebendo o chá que eu
não queria ter feito, sentado de pernas cruzadas na cadeira da minha oficina, respondeu com um
"Ah..." e assentiu de leve.
— Já ouvi rumores sobre isso também. Realmente parece ser uma chance de conseguir
ingredientes raros. Mas ninguém conseguiu nada até agora, certo? Nós conseguiríamos algo se
fôssemos agora?
— Há uma teoria circulando que diz que 'a equipe deve incluir um ferreiro', uma vez
que não há muitos de nós que treinaram direito suas habilidades de combate.
— Então é por isso; na verdade, isso parece estar certo. Se esse for o caso, deveríamos
sair logo.
Em silêncio, encarei Kirito com raiva.
— Estou surpresa que você tenha conseguido sobreviver até hoje sem senso comum.
Isso não é como caçar goblins! Temos que formar uma boa equipe e...
— Mas, se fizermos isso, há uma chance de não conseguirmos os materiais mesmo se
eles droparem, certo? Esse dragão é de qual andar?
— Do 55° andar.
— Heh... Eu poderia ir sozinho; você nem precisa ajudar.
— Você é extremamente forte ou apenas extremamente idiota? Bom, eu não ligo. Ver
você chorando enquanto teleporta de volta também soa bem interessante.
Kirito apenas deu uma risadinha, terminou de beber o chá sem responder e colocou o
copo de volta na mesa.
— Posso partir a qualquer hora; e você, Lisbeth?
— Ah... Bem, já que você não vai adicionar um honorífico mesmo, me chame de Liz...
a montanha do dragão branco não é muito grande, então acho que conseguiremos voltar hoje. Só
me dá um tempinho para algumas preparações simples.
Depois de abrir o menu, coloquei uma armadura simples por cima da minha saia,
certifiquei-me de que a maça estava no meu inventário e conferi o número de poções e cristais.
Fechei o menu e disse "Ok", então Kirito levantou-se. Por sorte, não havia clientes à
vista enquanto andávamos da oficina até a entrada da loja. Rapidamente, virei a placa pendurada
na porta.
Levantei a cabeça e olhei para fora; a luz do sol ainda estava brilhante, então havia
algum tempo até escurecer. Independentemente de conseguirmos o metal ou não
(provavelmente não, não importa como eu pense), eu não queria voltar muito tarde.
Dito isso.
"Como eu acabei nessa situação estranha..."
Depois de sair da loja, andei até a praça do portal imersa em meus pensamentos.
Definitivamente, eu tinha uma má impressão do homem vestido de preto andando
calmamente atrás de mim, o que era esperado. Além de todas as suas palavras irritarem-me, ele
era um arrogante megalomaníaco e ainda quebrou minha obra-prima.
Mas, ainda assim, eu estava andando com um garoto que acabara de conhecer. Nós até
formamos uma equipe e nos preparamos para caçar monstros em outro andar; era como se fosse
um encon...
Tendo chegado aqui, imediatamente parei nesse pensamento. Eu nunca tinha passado
por uma situação como essa até agora. Embora eu fosse bem próxima de vários jogadores
homens, sempre inventei desculpas para não sair como eles em apenas duas pessoas. Eu queria
ter certeza que a primeira pessoa com que eu fizesse um time fosse alguém de que eu realmente
gostasse, ou pelo menos era o que eu pensava.
Mas, quando percebi, já estava com esse menino estranho... Como eu acabei nessa
situação?
Sem perceber o meu conflito interno, Kirito viu um vendedor de comida perto do portão
da praça e correu até ele. Quando o garoto virou-se de frente para mim, um enorme cachorro-
quente já estava em sua boca.
— Vochê qué uhm também?
Percebi que não havia o que fazer e eu me senti uma idiota por ser a única preocupada
com isso. Então, gritei de volta:
— Sim!
O gosto crocante do cachorro-quente (mais precisamente, uma comida misteriosa que
parecia um cachorro-quente) ainda permanecia na minha boca quando chegamos à famosa vila
no 55° andar.
Não tivemos problema algum com os monstros no caminho.
Considerando que a linha de frente estava no 63° andar agora, os monstros daqui eram
bem fortes. Mas o meu nível era cerca de 65 e esse Kirito valentão deveria ser tão forte quanto
eu, então saímos de algumas batalhas praticamente ilesos.
O único problema é que o tema desse andar envolvia campos de gelo e neve...
— Atchim!
Espirrei, fazendo muito barulho, no momento em que entramos na pequena vila e
relaxamos. Como o verão estava começando em todos os outros andares, eu fui muito
descuidada. Não havia apenas uma camada de neve no chão daqui, mas também enormes
pedaços de gelo pendurados nos tetos.
Esse inverno de gelar os ossos fez todo o meu corpo tremer, e muito. Kirito, ao meu
lado, fez uma expressão irritada e disse:
— Você não trouxe nenhuma outra roupa?
— Não...
Então, Kirito, aparentemente com roupas leves, mexeu em seu menu. Uma capa preta de
couro materializou-se, a qual ele colocou sobre minha cabeça.
— Mas você está bem com essas roupas?
— É uma questão de força de vontade.
Tudo que ele dizia irritava-me. Mas a capa com pelo por dentro parecia bem
aconchegante, então não consegui resistir e rapidamente a vesti. Suspirei aliviada, uma vez que
o frio do vento imediatamente desapareceu.
— Hmm... qual delas você acha que é a casa do ancião?
Quando Kirito disse isso, olhei a pequena vila e uma casa especialmente grande em
frente à praça central chamou a minha atenção.
— Deve ser aquela, não?
— Deve ser.
Nós dois assentimos e começamos a andar.
Alguns minutos depois.
Como esperado, achamos o NPC ancião de barba branca e conseguimos iniciar uma
conversa. A sua história era cheia de detalhes inúteis, que iam desde a sua infância longa e
entediante, passando por sua adolescência, até seus dias difíceis na fase adulta. Então, ele
repentinamente mencionou um dragão nas montanhas do oeste. Quando ele finalmente acabou,
a luz laranja do pôr do sol já cobria toda a vila.
Saímos completamente exaustos da casa do ancião. A neve que cobria as casas estava
pintada de laranja pelo sol poente. Era uma imagem muito bonita, sem comparação, mas...
— Eu não esperava que só receber a missão demorasse tanto...
— Inacreditável... bem, e agora? Devemos esperar até amanhã?
Virei minha cabeça e olhei para o Kirito.
— Hmm... Mas me disseram que o dragão branco é noturno. Aquilo é a montanha?
Na direção para que Kirito apontou, avistei um pico branco chegando ao céu. Mesmo
que eu tenha dito isso, a altura não poderia exceder cem metros, devido às limitações estruturais
de Aincrad. Logo, escalar a montanha não deveria ser difícil.
— Certo! Vamos! Quero ver você chorando o mais cedo possível.
— Só não fique boquiaberta com minhas habilidades de espada magníficas.
Nós dois viramos a cara com um 'Hmph'. Mas, de alguma maneira, como devo dizer...
Mesmo discutindo com o Kirito, meu coração começou a ficar um pouco incerto...
Forcei-me a chacoalhar a cabeça para esquecer esses pensamentos estúpidos e comecei
a abrir caminho pela neve.
Embora a montanha do dragão branco parecesse perigosamente íngreme de longe,
percebemos que era, na verdade, bem fácil de escalar.
Pensando melhor sobre a missão, muitos times improvisados conseguiram completá-la
sem problemas, então ela não poderia ser difícil.
Mesmo que já fosse tarde, o que afeta a força dos monstros gerados, os mais fortes que
estavam aparecendo agora eram esqueletos de gelo chamados de 'ossos congelados'. Além disso,
monstros de osso não tinham chance contra a minha maça. Simplesmente continuei a esmagá-
los, com sons de ossos sendo esmigalhados.
Depois de subirmos pelas estradas cobertas de neve durante mais algumas dúzias de
minutos e virarmos em direção aos penhascos de gelo, chegamos ao topo da montanha.
O fundo do próximo andar estava extremamente perto. Colunas gigantes de pilares de
cristal quebrado destacavam-se na grossa camada de neve. A luz roxa do sol poente refratava
por essas colunas e espalhava-se nas cores do espectro do arco-íris, pintando assim uma cena
que só poderia ser retratada em sonhos.
— Uau!
Sem me conter, eu me animei e estava prestes a correr, mas nesse momento Kirito
segurou-me pela gola para me parar.
— Ei... O que você está fazendo?
— Antes, fique pronta para usar os cristais.
Vendo a expressão extremamente séria dele, eu só pude assentir. Materializei os cristais
e coloquei-os nos bolsos do meu avental.
— Além disso, vai ficar perigoso daqui em diante, então é melhor que eu continue
sozinho. Quando o dragão branco aparecer, só fique escondida atrás daquele pilar de cristal e
não saia de lá em hipótese alguma.
— Por quê? Meu nível é bem alto! Eu também quero ajudar!
— Não!
As pupilas do Kirito encaravam meus olhos diretamente. No instante em que nossos
olhos encontraram-se, eu entendi que essa pessoa estava realmente preocupada com a minha
segurança, do fundo do seu coração, então suspirei profundamente e recuei. Não disse nada,
apenas concordei com a cabeça de leve.
Um sorriso surgiu no rosto de Kirito enquanto ele afagava minha cabeça e dizia "Certo,
vamos." Eu só pude continuar concordando.
Tive a impressão de que a atmosfera mudou total e repentinamente,
Depois de percorrer todo o caminho até aqui com o Kirito, talvez meus sentimentos
tenham mudado? Ou eu me deixei levar pelo clima? De qualquer maneira, eu realmente não
reconhecia isso como um encontro com risco de vida.
Mais da metade da minha experiência viera da forja de armas, então eu nunca tinha
entrado em campos de batalha cruéis.
Mas eu sentia que essa pessoa era diferente. Ele tinha um olhar o qual só alguém que
lutou todos os dias nos lugares mais perigosos poderia ter.
Continuei a andar com meus sentimentos confusos até chegarmos ao centro do cume.
Olhamos rapidamente em volta, mas não havia sinal do dragão branco. Contudo, vimos
uma área selada por pilares de cristal...
— Uau...
Havia uma caverna gigante cuja abertura tinha pelo menos 10 metros. A luz que refletia
nas paredes alcançava o buraco, enquanto uma escuridão impermeável cobria as regiões mais
baixas.
— Isso é bem profundo...
Kirito chutou um pequeno pedaço de cristal para o buraco. Ele reluziu por pouco tempo
antes de desaparecer completamente, sem emitir som.
— Não caia.
— Como se eu fosse cair!
Pouco depois de eu responder, um grito selvagem saiu da caverna e espalhou-se por
toda a montanha, propagando-se pelo ar pintado de azul pelo pôr do sol.
— Esconda-se atrás daquilo!
Kirito apontou para um pilar gigante de cristal perto de nós e disse isso em um tom
autoritário. Segui apressadamente as instruções dele enquanto acenava exageradamente para a
sua sombra e gritava:
— Ei! Os ataques do dragão branco são: cortes com as duas garras, bafo congelante e
investida de nevasca... T-tome cuidado!
Depois de rapidamente adicionar essa última frase, eu vi Kirito fazer um OK com sua
mão esquerda, de costas para mim, fingindo ser maneiro, . O espaço em sua frente começou a
chacoalhar e uma enorme forma explodiu para fora do buraco.
Vários polígonos largos e de formas estranhas apareciam em um ritmo constante. Eles
começaram a conectar-se e a identidade da forma gigante ficou mais evidente. O grito que fazia
as pessoas tremerem incontrolavelmente resoou mais uma vez. Incontáveis fragmentos
espalharam-se em todas as direções antes de desaparecerem nos raios de luz.
Um dragão branco coberto por cristais de gelo parecidos com escamas aparecera. Ele
bateu lentamente suas asas gigantes enquanto pairava nos céus. A situação era amedrontadora,
ou talvez pudesse ser descrita mais apropriadamente como extremamente bela. Ele nos encarou
com seus olhos largos, da cor de rubi, lançando um olhar insolente sobre nós dois.
Kirito calmamente moveu a mão para as costas e desembainhou a sua espada preta de
uma mão com um som perfeito. Então, como se o som tivesse enviado um sinal, o dragão
branco abriu sua enorme mandíbula e, com um som duro, soltou uma rajada de gás branco.
— É o bafo! Saia do caminho!
Mas, mesmo que eu tenha gritado, Kirito não se moveu nem um centímetro. Ele ficou
de pé, perfeitamente imóvel, e levantou a espada em sua mão direita.
Não havia como uma arma tão fina conseguir bloquear um ataque de sopro...
No momento em que pensei isso, a espada começou a girar como um moinho centrado
na mão do Kirito. Pela cor verde-clara do efeito, deveria ser uma habilidade de espada. Em
apenas um segundo, ela alcançou uma velocidade rápida demais para o olho humano e parecia
ter se tornado um escudo de luz.
O bafo de gelo foi diretamente de encontro ao escudo de luz, emitindo uma estonteante
luz branca, o que me forçou a desviar o olhar. Mas, quando o ar frio bateu contra a espada-
escudo do Kirito, ele se dispersou como se tivesse evaporado.
Rapidamente foquei no corpo do Kirito para verificar seus pontos de vida.
Talvez fosse impossível bloquear o bafo por completo, já que a sua barra de vida estava
diminuindo lentamente. Mas a parte chocante era que o dano tomado estava sendo recuperado em apenas alguns segundos. Essa deve ser a habilidade para batalha de nível altíssimo, "Cura de
Batalha", mas, para melhorá-la, é necessário aguentar quantidades enormes de dano.
Considerando os andares atuais, era impossível fazer isso sem se colocar em perigo.
Kirito... Quem é ele?
Só agora comecei a pensar seriamente sobre a identidade desse espadachim negro. O
seu poder absurdo fazia com que ele parecesse um jogador essencial para as estratégias, mas seu
nome não estava na lista dos melhores jogadores das guildas, dominada pela KoB.
Nesse momento, Kirito, prevendo precisamente o final do ataque de gelo, moveu-se. Ele
atravessou a névoa de neve e pulou para o dragão flutuando no ar.
Normalmente, ao lutar contra um inimigo voador, ataca-se com uma alabarda ou alguma
arma de arremesso e, só depois de o inimigo ter sido derrubado para o chão, as pessoas com
armas de curto alcance entram na luta. Mas, surpreendentemente, Kirito voou até quase tocar a
cabeça do dragão branco, onde começou uma sequência de técnicas de espada, no meio do ar.
Com um som agudo, a investida de Kirito acertava o tronco do dragão branco mais
rápido que o olho humano poderia acompanhar. Mesmo que o monstro retaliasse com as duas
garras, a diferença entre suas capacidades era simplesmente muito grande.
Quando Kirito desceu lentamente ao chão, a barra de vida do dragão já havia descido
mais de um terço.
Era um massacre unilateral. Ver essa batalha inacreditável fez minha espinha gelar.
Repentinamente, o dragão branco mirou no Kirito, agora no chão, e lançou seu bafo de
gelo, mas dessa vez ele correu para desviar e lançou-se de volta ao ar. Com um som profundo e
pesado, um único e poderoso ataque acertou o alvo e a vida do dragão branco diminuiu bastante.
A barra de vida mudou de cor imediatamente, de amarelo para vermelho, e a batalha
deveria acabar com apenas mais um ou dois ataques. Decidi que, desta vez, eu honestamente
elogiaria a habilidade do Kirito e dei um passo para fora do pilar de cristal.
Então, como se tivesse olhos atrás da cabeça, Kirito subitamente gritou:
— Idiota! Não saia ainda!
— Hã? A luta obviamente está prestes a acabar, não? Apenas se apresse e termine-a...
No momento em que respondi em uma voz alta...
O dragão, voando mais alto que antes, abriu completamente as asas. Batendo-as para
frente, a neve diretamente embaixo dele foi mandada embora voando com um "bang".
Fiquei paralisada, em choque, por causa da cena diante de mim. Kirito fincou sua
espada no chão alguns metros à minha frente e abriu a boca como se quisesse me dizer algo,
mas sua imagem foi bloqueada rapidamente pela neve. Logo depois, uma pressão incrível, como
uma parede de vento, acertou e arremessou-me facilmente no ar.
"Droga... O ataque de nevasca!"
Girando no ar, finalmente lembrei o que eu mesma dissera sobre os ataques do dragão
branco. Por sorte, essa habilidade não tinha muito poder de ataque, então eu quase não tomei
dano. Abri meus braços e fiz uma postura de pouso.
Mas, quando a neve dispersou-se, não havia chão abaixo de mim.
Era o buraco gigante sobre o pico da montanha. Eu tinha sido mandada voando
diretamente para cima desse buraco enorme.
Meus pensamentos pararam de imediato; todo o meu corpo congelou.
— Só pode ser brincadeira...
Com minha mente completamente paralisada, eu só podia murmurar essas palavras
enquanto minha mão direita tentava alcançar algo, em vão.
Uma mão com uma luva de couro preto de súbito pegou meus dedos.
Meus olhos sem foco abriram-se de repente.
Fiquei surpresa, sem palavras.
Kirito, que estava lutando contra o dragão branco, bem longe, correu até aqui em uma
velocidade assustadora e saltou no ar sem hesitação. Ele estendeu a mão direita para pegar a
minha e então puxou-me para mais perto. Depois disso, ele envolveu minhas costas com o braço
direito e abraçou-me forte.
— Segure firme!
Ouvindo a voz do Kirito reverberar dentro do meu ouvido, abandonei minha dignidade
e abracei bem apertado o seu corpo, com os dois braços. Começamos a cair no instante seguinte.
No centro da abertura da caverna, nós dois caímos, um agarrando o outro. O vento
uivava nos ouvidos e nossos casacos tremiam loucamente.
Se este buraco fosse até a superfície do andar, cair desta altura significaria morte certa.
Esse pensamento passou repentinamente pela minha cabeça, mas eu não acreditava que isso, de
fato, estava acontecendo agora. Tudo o que eu podia fazer era encarar estupidamente o círculo
de luz branca enquanto ele desaparecia.
Subitamente, a mão direita do Kirito, segurando a espada, moveu-se. Ele a levantou,
forçadamente, e golpeou para frente. Um clarão surgiu, acompanhado por um alto "clang!" de
um metal acertando outro.
A força de reação mudou a nossa trajetória, arremessando-nos para as paredes da
caverna. O gelo azul ia se aproximando e eu não podia evitar cerrar meus dentes. Nós íamos nos
espatifar!
No momento em que estávamos prestes a colidir com a borda, Kirito levantou a espada
em sua mão direita de novo e fincou-a na parede com toda a sua força. Explodiram faíscas,
como se a arma tivesse acertado uma pedra de amolar. O ataque súbito diminuiu a nossa
velocidade de queda, mas não conseguiu nos parar completamente.
O som de metal cortando continuava enquanto a espada do Kirito cortava a parede de
gelo. Olhei para baixo e percebi que já podíamos ver o fundo da caverna, coberto por neve
branca. Vi-o chegar cada vez mais perto, até que só faltavam alguns segundos para a colisão. Eu
queria não gritar, ao menos, então mordi meu lábio e apertei o abraço.
Kirito soltou sua espada, usou as duas mãos para segurar-me firme e girou seu corpo de
modo que ele ficasse embaixo. Então...
Um impacto. Um barulhão.
Os flocos de neve arremessados ao ar pela força de nossa queda começaram a cair
delicadamente em minhas bochechas antes de derreterem.
A sensação de frio espantou meus pensamentos confusos. Abri os olhos e vi que as
pupilas do Kirito estavam muito perto de mim.
Ainda me abraçando bem apertado, ele levantou o canto da boca e sorriu fracamente.
— Está viva?
Assenti de volta debilmente e respondi:
— Sim, estou.
Por várias dúzias de segundos ou talvez vários minutos, apenas ficamos parados naquela
posição. O calor corporal do Kirito permitia que todo o meu corpo relaxasse e a minha mente
ficasse completamente vazia.
Depois de algum tempo, ele soltou o meu braço e lentamente levantou-se. Depois de
pegar a espada que caíra ali perto e colocá-la de volta no inventário, ele tirou da sua bolsa de
cintura duas garrafas com algo que parecia poção de recuperação de vida e deu uma para mim.
— Para garantir, beba.
— Tudo bem.
Concordei com a cabeça e sentei-me para receber a poção enquanto checava minha
barra de vida. Eu ainda tinha cerca de um terço restante, mas Kirito, que colidira diretamente
com o chão, já estava na zona vermelha.
Tirei a tampa, bebi o líquido de uma vez e virei-me de frente para o Kirito. Ainda na
minha postura relaxada, comecei a mover os lábios que estavam tendo uma dificuldade enorme
em dizer algo agradável.
— Hum... Obrigada por me salvar...
Kirito fracamente deu o seu sorriso sarcástico habitual e respondeu:
— Ainda é muito cedo para me agradecer.
Ele olhou rapidamente para o céu.
— Graças a deus, o dragão não nos perseguiu, mas como vamos sair daqui?
— Ué? Não podemos simplesmente teleportar?
Coloquei a mão no bolso do avental e tirei um cristal azul brilhante para mostrar ao
Kirito. Mas...
— Isso provavelmente não vai funcionar, uma vez que esta é uma armadilha feita
especialmente para jogadores. Duvido que consigamos sair tão facilmente assim.
— Certeza?
Kirito deu-me um olhar de "tente se não acredita", então segurei o cristal e disse o
comando:
— Teleportar! Lindus!
Meu grito ecoou nas paredes congeladas antes de desaparecer. O cristal simplesmente
continuou a brilhar em silêncio.
Kirito apertou meus ombros de leve, sem fazer som algum.
— Se eu achasse que poderíamos usar cristais, já os teria usado enquanto estávamos
caindo. Mas como este lugar parecia uma zona anticristais...
Fiquei sem palavras.
Abaixei minha cabeça em desespero; Kirito colocou sua mão em minha cabeça e
despenteou o meu cabelo.
— Calma, calma, não chore. Se não podemos usar cristais, deve haver outra maneira de
sair daqui.
— Talvez não, talvez este seja um abismo inescapável que mate todos que caírem aqui...
Ou seja, já estamos mortos!
— Hm... Você pode estar certa.
Vendo o Kirito concordar, perdi de novo toda a energia do meu corpo.
— Que... que tipo de atitude é essa? Não dá para ser um pouco mais otimista?
Depois de eu ter gritado repentinamente, Kirito sorriu e disse:
— Essa expressão brava é muito mais a sua cara, continue assim!
— O qu-?
Minhas bochechas ficaram vermelhas e meu corpo congelou. Então, Kirito tirou a mão
de minha cabeça e levantou-se.
— Bem, vamos tentar algumas coisas. Alguma ideia?
Eu não sabia o que dizer.
Sorri amargamente para ele, que claramente não tinha sido afetado pela situação em que
estávamos e continuava com a sua atitude habitual. Sentindo-me um pouco mais animada, bati
em minhas bochechas com as duas mãos e levantei-me.
Analisei os arredores; o fundo da caverna era uma superfície de gelo plana com um
pouco de neve. O diâmetro deveria ser cerca de dez metros, assim como a sua entrada. As
paredes congeladas perto do topo continuavam refletindo raios de luz do pôr do sol, mas logo
este lugar seria completamente imerso em escuridão.
Olhei em volta, mas não havia nenhuma saída visível pelas paredes ou pelo chão.
Coloquei as mãos no quadril, pus meu cérebro para funcionar à toda e disse ao Kirito a primeira
ideia que pensei.
— Hmm... Podemos pedir ajuda a alguém?
Kirito rejeitou a possibilidade na hora:
— Um... Acho que esse lugar é considerado uma masmorra.
Jogadores registrados como "amigos", como a Asuna, no meu caso, podem se
comunicar por um tipo de correspondência chamado de "mensagem privada". Todavia, nem isso
nem o "sistema de rastreamento" podem ser utilizados dentro de masmorras.
Tentei abrir a janela de mensagens em esperança vã, mas, como Kirito dissera, ela
estava indisponível.
— Bem... E se gritarmos para outros jogadores que vierem caçar o dragão?
— Acho que estamos a uns oitenta metros do topo, então meu palpite é que nossas
vozes não chegarão lá.
— De fato... Espera um pouco! Agora pense você em uma ideia!
Quando eu retorqui chateada por ele ficar rejeitando todas as minhas ideias, ele
respondeu com algo absurdo:
— Subir correndo pelas paredes.
— Você é idiota?
— Bem, não custa nada tentar.
Quando eu o encarei, chocada demais para falar, Kirito andou até um lado da caverna e
começou a correr em direção à parede oposta em uma velocidade anormal. A neve voou do chão
e uma rajada de vento bateu na minha cara. No instante em que ele estava prestes a colidir,
Kirito agachou-se e pulou com uma força explosiva. Pisou nela a uma altura inacreditável e
começou a correr diagonalmente.
— Meu deus...
Enquanto eu assistia pasma, Kirito já estava muito acima de mim e subindo em uma
espiral nas paredes como um desses ninjas de filmes de terceira. A sua silhueta ficava cada vez
menor...
Então, tendo percorrido um terço do caminho até o topo, ele subitamente escorregou.
— Ahhhhhh!
Kirito debatia-se enquanto caía em cima de minha cabeça.
— Kyaaaa!
Logo depois de eu recuar gritando, um buraco em forma de humano apareceu bem onde
eu estava. Um minuto mais tarde, depois de o Kirito ter terminado sua segunda poção de vida,
sentei-me perto dele e suspirei.
— Eu já sabia que você era um idiota, mas nunca pensei que fosse tão estúpido...
— Eu teria conseguido se tivesse mais espaço para pegar impulso.
— Sem chances.
Eu disse suavemente.
Kirito ignorou minhas palavras e devolveu a garrafa vazia para seu inventário. Depois
de estender os braços, ele disse:
— Bem, está ficando muito escuro, então vamos acampar aqui. Por sorte, não acho que
nasçam monstros nesse buraco.
O sol já havia se posto e o fundo do buraco estava ficando bem escuro.
— Suponho que sim...
— Bem, então...
Kirito abriu uma janela e materializou várias coisas. Um fogão de acampamento, uma
panela, vários saquinhos que eu não sabia para que serviam e duas canecas surgiram.
— Você sempre leva isso com você?
— Eu acampo nos campos de batalha bem frequentemente.
Pela sua expressão séria, ele não parecia estar brincando.
Ele tocou no fogão, que acendeu com um "fwoosh" e iluminou os arredores com um
suave brilho laranja. Kirito pôs a panela sobre o fogão e colocou alguns pedaços de neve antes
de abrir os saquinhos e derramar o seu conteúdo nela. Ele fechou a panela com a tampa e tocou
nela duas vezes; uma tela de contagem regressiva apareceu.
Pouco depois, comecei a sentir um aroma de ervas. Pensando nisso, percebi que eu não
comera nada desde aquele cachorro-quente de manhã. Meu estômago começou a pedir comida
bem alto, como se tivesse lembrado que estava passando fome.
A contagem regressiva para a preparação da comida desapareceu com um "pin pon" e
então Kirito dividiu-a em duas canecas.
— Não crie expectativas, minha habilidade de culinária é zero.
— Obrigada...
O calor passou para as minhas mãos por meio da caneca que Kirito deu-me. Era uma
sopa simples de carne seca e ervas, mas os níveis dos ingredientes pareciam ser altos e estava
mais que delicioso. Além disso, o calor espalhou-se pelo meu corpo.
— Que sentimento estranho... Isso não parece real.
Murmurei enquanto tomava a sopa.
— Quero dizer, esta situação, acampar em uma área inexplorada e ter uma refeição com
um estranho...
— Ah, acho que sim... já que você é uma artesã. Não é raro para mim fazer equipes com
jogadores aleatórios e acampar com eles
— Hmm, sério? Conte-me mais sobre as masmorras e o resto.
— Hã? Hm... tudo bem. Mas eu não acho que isso seja interessante... ah, antes de eu
começar...
Kirito pegou as canecas e a panela vazias e devolveu-as ao seu inventário. Ele abriu o
painel de novo e materializou duas unidades de algo parecido com um pedaço de pano enrolado.
Depois de ele desdobrá-los, percebi que eram sacos de dormir. Eles pareciam os da vida
real, apenas significantemente mais largos.
— Esses são itens de alta qualidade. Conservam calor perfeitamente e ainda têm o efeito
de esconder-nos de monstros agressivos.
Com um sorriso, ele me deu um. Quando eu o coloquei na neve, parecia que nele
caberiam três pessoas do meu tamanho. Estupefata pelo seu tamanho, eu disse para o Kirito:
— É impressionante o fato de você levar essas coisas para todos os lugares, ainda mais
duas...
— Bem, eu preciso usar o espaço do meu inventário para alguma coisa.
Kirito rapidamente retirou seu equipamento e deitou-se no saco de dormir da esquerda.
Eu também desequipei minha capa e maça e entrei na minha cama improvisada. Era realmente
um item de alta qualidade; seu interior era quentinho e bem mais macio que parecia. Estávamos
a um metro de distância um do outro, com o fogão no meio. Mas eu ainda estava um pouco...
constrangida, então falei de novo para quebrar o silêncio:
— Hm... bem, continue a história...
— Ah, claro...
Kirito lentamente começou a falar depois de apoiar a cabeça nas mãos.
Ele me contou sobre quando foi encurralado por MPK (criminosos que reúnem
monstros, de propósito, para emboscar outros jogadores) em uma masmorra. E uma história de
ter lutado por dois dias inteiros contra um chefe com dano baixo mas vida absurdamente alta,
tendo que dormir em turnos com os outros jogadores. Também teve uma vez em que ele fez
uma aposta com outros cem jogadores por um item raro. Todas as suas histórias eram
eletrizantes, agradáveis e, de certo modo, engraçadas. Elas também deixavam algo bem claro:
ele fazia parte da linha de frente, arriscando a sua vida todo dia. Mas isso também significava
que esta pessoa era responsável pelos destinos de milhares de jogadores. Ele não era do tipo que
arriscaria sua vida só para me salvar.
Virei-me para o Kirito e olhei para a sua face. Seus olhos pretos refletiam a luz do fogão.
— Ei... Kirito, posso perguntar uma coisa?
— Por que você ficou séria de repente?
— Por que você me salvou naquela hora? Não havia garantia de que você conseguiria.
Na verdade, era mais provável que você apenas morresse comigo, então... Por quê?
A expressão do Kirito enrijeceu por um segundo, mas ele imediatamente relaxou para a
sua cara de sempre e respondeu com uma voz calma:
— Eu prefiro morrer ao lado de alguém a ver essa pessoa morrer, sem fazer nada.
Especialmente se esse alguém for uma menina como você, Liz.
— Você realmente é um idiota. Você deve ser a única pessoa que responde assim.
Embora eu tivesse respondido sarcasticamente, não pude evitar que meus olhos
lacrimejassem. Uma parte do meu coração doía e eu dei meu melhor para controlar e esconder
isso. Eu não ouvira palavras tão obstinadas, diretas e calorosas desde que eu viera para este
mundo. Na verdade, eu não tinha ouvido palavras assim nem antes, no mundo real.
Os sentimentos dolorosos de solidão e a vontade de interagir com outros, que haviam
sido enterrados nas profundezas do meu coração, subitamente explodiram e engoliram-me como
uma tempestade. Eu queria o calor do Kirito perto o suficiente para o meu coração sentir...
Antes que eu percebesse, as palavras saíram da minha boca:
— Você pode... segurar a minha mão?
Fiquei de frente para o Kirito, coloquei a mão direita para fora do saco de dormir e a pus
sobre a esquerda.

Ele arregalou levemente os olhos, mas respondeu "Sim" em uma voz baixa e estendeu
sua mão esquerda. Quando nossos dedos tocaram-se, nós dois recuamos por um segundo, mas
logo depois unimos as mãos.
Segurei firmemente a mão do Kirito; ela estava mais quente que a sopa a qual eu tinha
acabado de tomar. Mesmo que a parte de trás da minha mão ainda estivesse no gelo, eu não
sentia frio algum. Eu sentia calor humano. Eu sentia como se finalmente tivesse descoberto qual
era o desejo que tinha se estabelecido em um canto do meu coração desde que eu viera para este
mundo.
Justamente porque eu estava com medo de perceber que este mundo era uma ilusão, que
o meu corpo real estava em algum lugar distante e eu não poderia alcançá-lo independentemente
do quanto eu tentasse, continuei a colocar objetivos para mim mesma e foquei totalmente no
meu trabalho. Eu me convenci de que aumentar minha habilidade de forja e expandir a minha
loja eram a minha realidade.
Mas alguma parte minha sempre achou que tudo isso era falso, nada além de simples
dados. Eu sentia falta de calor humano de verdade.
Claro, o corpo do Kirito também era um conjunto de dados. O calor que eu sentia agora
eram meros sinais elétricos aos quais meu cérebro reagia. Mas eu finalmente percebi que isso
não importava. Eu conseguia sentir o seu coração; no mundo real ou neste mundo simulado,
essa era uma verdade.
Segurando firme a mão do Kirito, sorri e fechei meus olhos. Embora meu coração
estivesse batendo mais rápido do que nunca, o sono veio até mim lamentavelmente rápido e
envolveu minha consciência na agradável escuridão.
Um refrescante aroma doce passou pelo meu nariz; lentamente abri os olhos e vi o mundo todo
envolvido por um brilho branco. A luz do amanhecer, refletida diversas vezes pelas paredes de
gelo, fazia a neve do fundo da caverna brilhar.
Olhei para o lado e notei que havia um bule sobre o lampião e vapor tremulando em
cima dele. Parece que o cheiro estava vindo dali. Na frente do lampião, havia uma pessoa
sentada e vestida de preto, cuja face eu só podia ver de lado. Mas, no momento em que vi esse
indivíduo, uma pequena chama parecia acender no meu coração.
Kirito virou a cabeça, deu um sorrisinho e disse:
— Bom dia.
— Bom dia.
Eu respondi. Enquanto eu me preparava para levantar-me, percebi que a minha mão
direita, que deveria ter ficado fora quando caí no sono, havia sido colocada de volta dentro do
saco de dormir. Levei o calor que permanecia na mão para os lábios e rapidamente pulei.
Kirito deu-me uma caneca fumegante logo depois de eu ter saído da neve. Agradeci-lhe,
aceitei a caneca e sentei-me ao seu lado. Dentro dela, tinha um tipo de chá de flores que eu
nunca tinha experimentado, com um aroma parecido com menta. Tomei lentamente a bebida,
um gole por vez, deixando-a afundar gentilmente no meu corpo. Meu coração esquentou de
modo agradável.
Mudei meu corpo de posição, apoiando-me no Kirito. Quando virei a cabeça, nossos
olhos encontraram-se por um instante antes de rapidamente separarem-se. Por um breve
momento, apenas os sons de duas pessoas bebendo chá podiam ser ouvidos.
— Ei...
Finalmente, murmurei em uma voz baixa, com meus olhos fixos no copo.
— Hmmm?
— Se não conseguirmos sair daqui, o que vamos fazer?
— Dormir todos os dias.
— Essa foi uma resposta rápida. Pense um pouco mais sobre isso!
Sorri e cutuquei o braço do Kirito com meu cotovelo.
— Na verdade, até que isso não seria ruim.
Depois de dizer isso, comecei a apoiar a cabeça no seu ombro.
— Ah!
Kirito subitamente gritou e inclinou-se para a frente. Perdendo meu suporte, acabei
caindo no chão com um "poft".
— Meu deus, para que você fez isso?
Reclamei com raiva enquanto endireitava meu tronco, mas o Kirito levantou-se sem
sequer olhar para trás e, em seguida, correu para o meio do abismo circular.
Mesmo em dúvida, também me levantei e segui-o.
— O que foi?
— Ah, só uma coisinha...
Kirito ajoelhou-se no chão e começou a limpar a neve acumulada com ambas as mãos.
Ele rapidamente cavou um buraco profundo, fazendo barulho ao raspar a neve. Então...
— Ah!
Um raio de luz prata repentinamente brilhou diante de meus olhos. Algo enterrado bem
fundo na neve estava refletindo a luz do sol nascente.
Kirito desenterrou essa coisa, segurou-a com as duas mãos e levantou-se. Sem
conseguir conter a minha curiosidade, observei-a de muito perto.
Era um objeto transparente, branco-prateado e retangular. Um pouco maior que as duas
mãos do Kirito. Tinha uma forma e um tamanho familiar... um material metálico. Mas eu nunca
tinha visto um dessa cor.
Toquei cuidadosamente no material com os dedos da mão direita. Uma janela
automática imediatamente surgiu. O nome do objeto era "Lingote de Cristálito"
— Isso... Isso não é...
Olhei para a cara do Kirito e ele assentiu com uma expressão confusa.
— Sim... Esse é o metal pelo qual estivemos procurando... Eu me pergunto por que ele
está aqui...
— Mas... por que estava enterrado?
— Hmm...
Kirito continuou a encarar o lingote na sua mão direita, pensando sobre isso, antes de
dizer um "Ah..."
— O dragão branco come cristais, que são refinados no seu estômago para tornarem-se...
Haha, então é assim que funciona!
Ele parecia ter descoberto. Sorrindo, jogou o lingote de metal para mim.
Apressadamente, peguei com ambas as mãos e segurei-o perto do meu peito.
— Ei, que atitude é essa? Não fique com a resposta só para você!
— Essa caverna não é uma armadilha. É o ninho do dragão.
— Hm... Ah!
— Em outras palavras, esse lingote é o excremento do dragão, suas fezes.
— Fe...
Com minhas bochechas contraindo, desviei o olhar para o lingote no meu peito.
— Ahh!
Sem pensar, joguei-o de volta para o Kirito.
— Uou.
Ele foi repelido habilmente pelos dedos do Kirito. Depois de ficarmos jogando-o um
para o outro várias vezes, de modo infantil, Kirito finalmente expandiu a seção de itens para
guardar o objeto no inventário.
— Bem, de qualquer modo, completamos o nosso objetivo. Agora, só falta...
— Se apenas conseguíssemos sair daqui...
Suspiramos e trocamos olhares.
— Por enquanto, não há opção a não ser tentarmos tudo que pudermos pensar.
— Acho que sim. Ah, se eu tivesse asas como o dragão...
No momento em que eu disse isso, percebi algo. Fiquei de queixo caído, sem saber o
que dizer.
— O que foi, Liz?
Fiquei de frente para o Kirito, que estava me encarando com sua cabeça inclinada.
— Ei. Você disse que este lugar era o ninho do dragão, certo?
— Ah. Como há fezes, aqui deve ser...
— Não é esse o ponto! Dragões são noturnos, então agora, de manhã, ele não deveria
estar voltando para o seu ninho...
Por um instante, meu olhar cruzou-se com o do Kirito, que ficou em silêncio, e então
olhamos para o céu na entrada do buraco. Exatamente nesse momento...
Longe, bem alto, uma sombra indistinta surgiu na luz em forma de círculo. Ela crescia
enquanto a encarávamos. Demorou apenas um instante até eu conseguir ver um par de asas, uma
longa cauda e quatro patas armadas com garras.
— Ele... Ele...
Recuamos ao mesmo tempo. Mas, claro, não havia nenhum lugar para escaparmos.
— Ele está aqui!
Nós dois gritamos ao desembainhar nossas respectivas armas.
O dragão branco, tendo descido no abismo, percebeu a nossa presença e emitiu um grito
agudo, parando logo antes de atingir o chão. Seus olhos vermelhos com pupilas verticais
estavam claramente cheios de hostilidade contra os intrusos de seu ninho. Contudo, não havia
onde se esconder no fundo do estreito buraco. Preparei a minha maça enquanto suprimia meu
nervosisimo.
De modo parecido, Kirito preparou sua espada de uma mão e moveu-se para minha
frente, dizendo rapidamente:
— Escute, fique atrás de mim. Beba uma poção imediatamente depois de perder
qualquer pequena quantidade de vida.
— Tudo bem...
Simplesmente concordei com a cabeça, obediente, desta vez.
O dragão abriu sua grande boca e rugiu mais uma vez. Suas asas criaram uma rajada de
vento que levantou neve no ar.
"Pof!" "Pof!" A longa cauda do dragão acertava o chão, cada golpe cavando uma
trincheira profunda na superfície nevada.
Brandindo a espada em sua mão direita sem parar, a fim de ganhar a iniciativa, Kirito
repentinamente parou de se mover, prestes a fazer uma investida.
— Ah... Talvez....
Ele disse em uma voz baixa.
— O-o que foi?
— Não...
Sem responder à minha pergunta, Kirito deixou sua espada na bainha, virou-se
abruptamente e abraçou-me firme com o braço esquerdo.
— Ah!
Sem entender nada, entrei em pânico e fui levantada até seu ombro.
— E-ei, o que você está... Ahh!
O impacto emitiu um "Bam!" e, ao mesmo tempo, o cenário dos arredores ficou borrado.
Kirito correu para a parede com uma força violenta. Logo antes de colidir, ele deu um grande
pulo e, assim como na tentativa anterior de escapar, começou a correr na superfície da parede
curva. Mas, como se não tivesse intenção de subir, a órbita permaneceu na mesma altitude. A
cabeça do dragão virava com vontade e continuava tentando nos seguir, mas Kirito corria em
uma velocidade mais rápida do que ele conseguia acompanhar.
Poucos segundos depois, quando finalmente aterrissamos no fundo do buraco, minha
visão estava girando. Depois de piscar várias vezes, finalmente abri os olhos e vi a traseira do
dragão. Ele nos perdera de vista e estava balançando sua cabeça para a esquerda e para a direita
sem descanso.
Quando pensei que o Kirito planejava atacar por trás, ele surpreendentemente se
aproximou do dragão sem fazer barulho e, esticando a mão direita para frente, agarrou a ponta
da sua cauda.
Nesse momento, o animal soltou um grito agudo. Parecia haver um tom surpreso em sua
voz... Talvez fosse só a minha imaginação. Cada vez mais, eu não entendia as intenções do
Kirito e estava prestes a gritar também.
De repente, o dragão branco abriu ambas as asas e começou uma subida repentina em
uma velocidade formidável.
— Oof!
O ar acertou minha face. Sem sequer ter o tempo para pensar, nossos corpos voaram
com uma força equivalente à de ser atirado de um arco. Segurávamos na cauda do dragão
enquanto ela balançava para a esquerda e para a direita e o animal subia o abismo. O fundo
circular do buraco distanciou-se muito rapidamente.
— Liz! Segure firme!
Para responder à voz do Kirito, abracei sua cabeça, em transe. A luz do sol que refletia
nos picos de gelo nos arredores ficava cada vez mais brilhante e o tom do som dos ventos
mudava sutilmente. No momento em que achei que o mundo explodira em um brilho branco,
saímos voando do buraco.
Quando abri meus olhos semicerrados, uma vista do vasto 55° andar apareceu sob mim.
Diretamente abaixo de mim, estava uma montanha nevada em forma de cone. Um
pouco mais longe, uma vila pequena. Depois do grande campo de neve e da densa floresta, os
telhados pontudos de todas as casas do distrito principal estavam unidos. A cena de tudo isso brilhando devido à luz do sol fez-me esquecer o terror e eu, sem querer, deixei escapar um grito
de admiração.
— Uau...
— Eh!
O Kirito também gritou e soltou a mão direita da cauda do dragão. Ele me carregava
como se eu fosse uma criança e deixava a inércia levá-lo, dançando no ar.
O voo foi por apenas alguns segundos, mas pareceu durar dez vezes isso. Acredito que
estava sorrindo. A luz e vento envolventes estavam varrendo o meu coração. Minhas emoções
estavam sendo sublimadas.
— Kirito, sabe...
Gritei com todo o meu coração.
— O quê?
— Eu gosto de você!
— O que você disse? Não consegui ouvir!
— Não é nada!
Agarrando firmemente sua cabeça, caí na risada. No final, este momento, que parecia
um milagre, acabou e terminamos no chão. Fazendo um último movimento, Kirito abriu
bastante as pernas e fez uma postura de pouso.
A neve fez "Pof!" e voou no ar. Um longo voo. Abrindo caminho pelos cristais brancos
como um trator de neve e desacelerando, finalmente paramos perto do cume da montanha.
— Ufa...
Kirito tomou fôlego e colocou-me no chão. Com relutância, virei a cabeça e soltei as
suas mãos.
Nós dois olhamos para o grande abismo ao mesmo tempo. O dragão, que parecia ter nos
perdido de vista, lentamente voava em círculos no céu.
Kirito colocou a mão na espada em suas costas e começou a desembainhar a lâmina,
mas logo a devolveu para a bainha com um "cling". Sorrindo de leve, ele ficou de frente para o
dragão e disse suavemente:
— Você deve ter tido com problemas por causa de todos que vieram caçá-lo até agora...
Depois que o método de conseguir o item espalhar-se, as pessoas que querem matá-lo devem
desaparecer também. Então, a partir de agora, viva sem preocupações.
Falar com um monstro que se movia apenas de acordo com um algoritmo do sistema e
dizer tais palavras era algo que eu considerava idiota até ontem. Mas, por algum motivo, senti
que, de certo modo, agora eu podia aceitar mansamente as palavras do Kirito no meu coração.
Estendendo a minha mão direita, segurei gentilmente a sua esquerda.
Nós dois assistimos à cena, em silêncio, enquanto o dragão branco virava sua cabeça,
dava um único grito claro e descia para o seu ninho. Houve um momento de silêncio.
Pouco depois, Kirito olhou de relance para mim e disse:
— Bem, vamos voltar?
— Acho que sim.
— Quer usar um cristal?
— Não, vamos andar de volta.
Respondi sorrindo e dei um passo à frente, segurando a sua mão. Então percebi algo e
olhei para a cara do Kirito.
— Ah... O lampião, o saco de dormir e as outras coisas ficaram para trás, não ficaram?
— Agora que você disse... Bem, não tem problema. Alguém pode usá-los.
Trocamos olhares e rimos, dessa vez, uma risada sincera; começamos a andar
lentamente na trilha da montanha, seguindo a estrada para casa. Dei uma rápida olhada em
volta: o céu estava limpo, sem uma única nuvem.
— Estou de volta!
Abri vigorosamente a porta da minha querida casa.
— Bem-vinda de volta.
Apesar de a NPC fêmea que cuidava da minha loja meramente dar uma resposta
educada para o meu cumprimento, acenei com a mão e passei meu olhar pela loja. Eu só tinha
ficado fora por um dia, mas, estranhamente, ele estava ocupando toda a minha mente.
Kirito, que tinha comprado comida para viagem da mesma barraca de ontem, entrou
atrás de mim na loja com um cachorro-quente em sua boca.
— É quase meio-dia, você deveria simplesmente ter comido isso lá.
Quando eu disse minhas reclamações em voz alta, Kirito deu um sorriso irônico, acenou
e, com a mão esquerda, abriu uma janela.
— Antes disso, vamos começar a fazer a espada logo.
Manipulando habilmente o inventário, ele materializou o lingote prata. Pegando-o com
cuidado e ignorando a origem do item por um momento, assenti com a cabeça.
— Sim, vamos. Venha para a oficina.
Ao abrir a porta atrás do balcão, o som da roda d'água ficou notavelmente mais alto.
Puxei a alavanca para baixo e os foles começaram a mover-se, soprando ar para dentro. A
fornalha imediatamente começou a emitir um brilho vermelho.
Gentilmente coloquei o lingote dentro dela e defrontei o Kirito.
— Uma espada reta de uma mão, certo?
— Sim. Conto com você.
Kirito concordou com a cabeça e sentou no banquinho circular para visitas.
— Entendido. Só para avisar, tem fatores aleatórios que influenciam o resultado final,
então não crie expectativas muito altas, tudo bem?
— Podemos voltar lá e pegar os materiais de novo se der errado. Dessa vez com uma
corda.
— Sim, uma bem longa.
Relembrando aquela grande queda, inconscientemente dei um sorriso. Baixando a
minha visão para a fornalha, percebi que o lingote já fora aquecido o suficiente. Com pinças,
tirei e coloquei-o em cima da bigorna.
Peguei da parede meu martelo de ferreira favorito, marquei as configurações no menu e
olhei de relance para a cara do Kirito. Como ele assentiu silenciosamente, sorri em resposta e
grandiosamente levantei a ferramenta sobre minha cabeça.
Preparei meu espírito e acertei o metal carmesim brilhante; com um claro "Kan!",
faíscas brilhantes espalharam-se.
De acordo com a seção de metalurgia sobre o processo de manufatura no guia de ajuda,
"Dependendo do tipo de arma sendo criada e da classificação do metal usado, o lingote
precisará ser atingido determinado número de vezes". Isso era tudo usado para descrevê-lo.
Em outras palavras, durante o ato de acertar o metal com o martelo, não havia a
possibilidade de a habilidade do jogador afetar algo; era assim que deveria ser lido, mas havia
todo tipo de rumores e teorias sobrenaturais em SAO, que a precisão do ritmo das batidas e o
espírito de luta do ferreiro conseguem manipular o resultado, esse tipo de opinião era
amplamente difundida.
Eu me considero uma pessoa racional, mas acreditava nessa teoria por causa do meu
longo tempo de experiência. Portanto, eu deveria limpar minha mente de pensamentos
excessivos ao produzir armas, concentrando minha consciência na mão direita que segurava o
martelo, batendo sem parar com a minha mente vazia — era isso em que eu acreditava.
Contudo.
Enquanto eu acertava o lingote, produzindo sons revigorantes, vários pensamentos
passavam pela minha mente e recusavam-se a ir embora.
Se a espada fosse feita com sucesso e o pedido, acabado, Kirito naturalmente retornaria
para a linha de frente e não haveria muitas chances para encontrar-nos. Mesmo se ele viesse
para fazer manutenção na espada, isso ocorreria a cada dez dias, no máximo.
Algo assim... eu não quero algo assim. Senti uma voz gritando dentro de mim.
Enquanto ansiava pelo calor de outro... não, era por isso; era esse o motivo pelo qual,
até agora, eu hesitava em aproximar-me de um jogador em especial. Eu temia que o inverno
solitário no meu interior mudasse completamente com o amor. Isso não seria amor verdadeiro,
mas sim uma desilusão criada por um mundo ilusório; eu pensava assim.
Mas, na última noite, sentindo o calor das mãos do Kirito, percebi que esse sentimento
de hesitação era os espinhos ilusórios que me confinavam. Eu sou eu mesma, a ferreira Lisbeth, e, ao mesmo tempo, Shinozaki Rika. O Kirito também. Não um personagem de um jogo, mas
um ser humano de verdade. Portanto, meu amor por ele era real também.
Se eu conseguir forjar uma espada satisfatória, confessarei o que sinto por ele. Quero
que ele fique ao meu lado, que ele volte do labirinto para cá todo dia, é isso o que lhe direi.
Quando o lingote foi forjado, brilhando cada vez mais, os sentimentos dentro de mim
também pareciam ter se firmado. Senti que eles estavam fluindo da minha mão e indo para a
arma nascida do martelo.
Então, o momento finalmente chegara.
Não sei quantas vezes isso tinha ocorrido até agora. Provavelmente, entre duzentas e
duzentas e cinquenta. Imediatamente depois do som do martelo, o lingote emitiu um clarão
notavelmente branco e ofuscante.
O objeto retangular mudava sua forma pouco a pouco enquanto brilhava. O brilho
começou palidamente na sua parte da frente e na de trás e depois uma protuberância parecida
com um cabo inchou para fora.
— Ohh...
Dizendo sussurros maravilhados, Kirito levantou-se da cadeira e aproximou-se.
Observamos um ao lado do outro e a criação do objeto foi completa em alguns segundos,
finalmente revelando sua forma de uma espada longa.
Bonita; era uma espada realmente bonita. Para uma espada de uma mão, era bem
deslumbrante. A lâmina era pálida e fina, mas não tão fina quanto uma rapier. Como se tivesse
herdado a propriedade do lingote, era levemente transparente e de um branco cegante. O punho
era prata, com um toque de azul.
"Um mundo onde a espada simboliza o jogador"; como se fosse para apoiar essa frase
prometida, a variedade de armas disponíveis em SAO era extremamente grande. Se alguém
fizesse uma lista dos nomes das armas inclusas em cada categoria desde o começo, dizia-se que
ela teria milhares de linhas.
Diferentemente de um RPG normal, a diversidade desses nomes peculiares aumentava
junto com o nível das armas. Entre as armas classificadas como mais fracas, por exemplo,
"Espada de bronze", "Espada de aço" eram nomes comuns para as espadas longas de uma mão.
Existiam inúmeras com nomes entediantes como esses neste mundo, mas para as de nível mais
alto, como a presente aqui e agora ou a "Luz Cintilante" da Asuna, por exemplo, provavelmente
havia somente uma no mundo.
Claro, rapiers com o mesmo nível de habilidade, sejam elas feitas por jogadores ou
dropadas por monstros, provavelmente existem. Mas cada uma delas possui um nome e
aparência diferentes. E, por isso, armas de alto nível têm certo charme, tornando-se algo como
um parceiro com quem você compartilha seu espírito.
Uma vez que o nome e a aparência da arma são decididos pelo sistema, mesmo nós,
produtores, não os entendemos completamente. Levantei a espada brilhando em cima da bigorna,
ou, ao menos, tentei; surpreendi-me com o peso, incompatível com a sua elegante aparência
externa. Tinha um pré-requisito do atributo de força não inferior ao da espada preta do Kirito,
"Elucidator". Alongando minhas costas, coloquei-a diante de meu peito.
Com um dedo da minha mão direita, que segurava a base da lâmina da espada, toquei
nela. Olhei para a janela pop-up que apareceu em sua superfície.
— Bem, parece que o seu nome é "Repulsora da escuridão". É a primeira vez que ouço
isso, então não acredito que esteja na lista da loja de informações no momento. Pegue,
experimente.
— OK.
Kirito concordou com a cabeça e, estendendo a mão direita, segurou o cabo da espada.
Ele a levantou com gestos que não pareciam afetados por seu peso. Movendo sua mão esquerda
para abrir o menu principal, ele manipulou a figura do equipamento, objetivando a espada
branca. Com isso, ela seria equipada no Kirito no sistema, permitindo que seu potencial
numérico fosse confirmado.
Mas o Kirito imediatamente fechou o menu e, tendo dado vários passos para trás,
trocou-a para a sua mão esquerda e golpeou o ar algumas vezes com sons sibilantes.
— O que achou?
Perguntei sem demora. Kirito olhou para a lâmina por um breve momento, em silêncio,
mas logo deu um largo sorriso.
— Ela realmente é pesada. É uma boa espada.
— De verdade? Certo!
Fiz uma pose triunfante com a minha mão direita sem pensar. Com essa mão estendida,
dei um soquinho no punho direito do Kirito.
Fazia certo tempo desde a última vez que eu me sentira assim.
Há muito tempo, quando eu vendia nas ruas principais do 10° andar, sentia-me assim se
minhas armas feitas imprudentemente fossem elogiadas pelos consumidores. "Estou grata por
ter me tornado uma ferreira", era isso o que eu sentia do fundo do meu coração, honestamente,
naquele tempo. Quando eu me concentrei em melhorar minhas habilidades e em fazer negócios
apenas com os jogadores de nível alto, esqueci-me desse sentimento antes de perceber.
— É um problema com o meu coração, então... tudo isso...
Ouvindo as palavras que saíram da minha boca casualmente, Kirito inclinou a cabeça
com um olhar curioso.
— N-não, não é nada. Deixando isso de lado, vamos beber algo por aí. Estou com fome.
Falando mais alto para esconder meu constrangimento, empurrei os ombros do Kirito
por trás. Pensei em sair da oficina desse jeito, mas... uma questão subitamente veio à minha
mente.
— Ei.
— Hm?
Kirito olhou por cima do seu ombro. A espada preta de uma mão estava pendurada nas
suas costas.
— Falando disso, no início, você dissera: uma espada igual a esta, não? Essa branca é
realmente uma boa espada, mas não acho que haja muita diferença entre ela e essa dropada de
um monstro. Por que você precisaria de duas espadas parecidas?
— Aah...
Kirito virou-se, encarando-me com uma expressão hesitante.
— Bem, não posso explicar tudo. Se você não me perguntar nada além disso, posso
dizer-lhe.
— O que deu em você? Agindo como se fosse legal.
— Dê um passo para trás.
Depois de eu ter dado um passo para trás em direção às paredes da oficina, Kirito, com
a espada branca ainda em sua mão, tirou sua espada preta das costas com a mão direita, fazendo
um som agudo.
Achei estranho.
Não consegui entender suas intenções. Depois de ter manipulado a figura do
equipamento mais cedo, com o sistema atual, o seu objeto equipado deveria ser apenas a espada
na mão esquerda; segurar outra arma na mão direita não serviria para absolutamente nada. Ao
contrário, com um status considerado irregular como esse, não seria possível ativar habilidades
de espada.
Olhando para a minha face confusa por um instante, Kirito calmamente assumiu uma
postura com as duas espadas. A direita na frente, a esquerda atrás. Ele abaixou os quadris
levemente e, com isso, no instante seguinte...
Um clarão escarlate surgiu, tingindo a oficina de sua cor.
As espadas nas mãos do Kirito alternavam-se, atacando o ar em sua frente a uma
velocidade a qual não podia ser acompanhada pelo olho humano. "Kyubambambambam!", esses
sons exerciam pressão no próprio ar e, mesmo não tendo um alvo, fizeram os objetos da sala
chacoalharem.
Era obviamente uma técnica de espada com assistência do sistema. Mas... eu nunca
ouvira falar de uma habilidade que usasse duas espadas!
Diante de mim, que estava parada, tentando recuperar meu fôlego, Kirito levantou seu
corpo silenciosamente, tendo terminado a técnica de ataque que provavelmente chegara a dez
golpes.

Limpando as duas espadas e colocando apenas a da sua mão direita nas costas, ele olhou
para a minha cara e disse:
— Bem, é por isso. Aliás, vou precisar de uma bainha para essa espada. Posso escolher
uma?
— Ah... S-sim.
Sério, quantas vezes eu já ficara de boca aberta por causa do Kirito? Embora eu devesse
estar acostumada a isso agora, decidi não perguntar nada por enquanto. Estiquei a mão para a
parede e exibi o menu da loja.
Passando os olhos pela tela de armazenamento, chequei o resumo do estoque de bainhas
que eu coletara dos artesãos próximos a mim. Escolhi uma feita de couro preto, parecida com a
das costas do Kirito, e materializei-a. Depois de colocar um pequeno símbolo da minha loja,
entreguei-lhe a arma. Kirito, depois de guardar a espada branca na bainha com um breve som,
abriu uma janela e colocou-a no inventário. Pensei que ele fosse equipar as duas em suas costas,
mas não parecia que ele faria isso.
— Então... é um segredo? Essa habilidade.
— Hm, bem, sim. Não conte para ninguém, tá?
— Entendi.
Informações sobre habilidades são como uma corda salva-vidas, então se ele me disser
para não perguntar, não insistirei. Deixando isso de lado, estava grata por ele ter deixado que eu,
ao menos, espiasse o seu segredo e concordei com um pequeno sorriso.
— Bem, então...
Kirito colocou as mãos nos quadris e sua expressão mudou.
— Esse seria o fim do meu pedido. Vou pagar pela espada. Quanto é?
— Ah... sobre isso...
Mordi meus lábios por um momento e verbalizei a resposta que estava fervendo dentro
de mim.
— Não vou precisar de nenhum pagamento.
— Eh?
— Em troca, quero que você me torne sua ferreira exclusiva.
Os seus olhos mostraram leves sinais de surpresa.
— Como assim?
— Sempre que você voltar das linhas de frente, venha aqui e deixe-me fazer a
manutenção do seu equipamento... todos os dias, a partir de hoje, sem exceções.
O meu coração não parava de acelerar. Será que este era um sentimento do meu corpo
virtual ou será que o meu coração de verdade estava batendo do mesmo jeito... Pensei sobre isso
em um canto da minha mente. Minhas bochechas estavam queimando. Todas as partes da minha
face devem ter ficado completamente vermelhas agora.
Mesmo o Kirito, que sempre ficava com a mesma cara séria, parecia ter entendido o
significado por trás das minhas palavras e desviou o olhar por acanhamento. Sempre pensei que
ele fosse mais velho, mas, depois de vê-lo assim, ele parecia ser da mesma geração ou talvez até
mais novo que eu.
Juntei minha coragem e dei um passo à frente, segurando a sua mão.
— Kirito... Eu...
Eu dissera essas palavras tão alto quando escapamos do ninho do dragão, mas, tentando
falar agora, elas simplesmente não saíam. Continuei a encarar os olhos pretos do Kirito,
desejando que aquelas palavras saíssem da minha boca de alguma maneira. Então...
A porta da oficina foi aberta à força. Por reflexo, soltei a mão do Kirito e pulei.
— Liz, eu estava tão preocupada!
Essa pessoa, que correu para dentro logo depois, abraçou-me com a força de uma
investida enquanto gritava. O seu longo cabelo castanho dançava suavemente no ar.
— Ah, Asuna...
Asuna continuou a falar sem parar, encarando-me de perto com uma expressão chocada
todo o tempo.
— As mensagens não chegavam a você, sua posição não aparecia no mapa, sem
mencionar que os seus clientes não sabiam nada sobre isso. Aonde você foi na última noite? Eu
até fui ao Castelo do Ferro Preto para checar, sabia?
— D-desculpa. Eu fiquei presa em um labirinto por um tempinho...
— Uma masmorra? Liz, você foi sozinha?
— Não, fui com essa pessoa...
Apontei para um lugar diagonalmente atrás da Asuna com o meu olhar. Ela virou-se e,
depois de ver aquele espadachim de preto, que estava de pé ali, parecendo entediado, ela
congelou com seus olhos e boca abertos. Logo depois, em uma voz uma oitava acima:
— Ki-kirito-kun?
— Eh?
Agora era a minha vez de ficar estupefata. Olhei para o Kirito, que estava com uma
postura reta, como a da Asuna.
Ele tossiu de leve e falou, levantando a mão direita:
— Bem, Asuna, há quanto tempo... ou não, eu suponho. Alguns dias.
— S-sim. Isso foi supreendente. Entendo, você veio aqui na hora. Se você tivesse me
falado, eu teria vindo junto.
Asuna escondeu as palmas das mãos atrás de si e riu timidamente, tocando o chão
repetidamente com os saltos de suas botas. Vi suas bochechas levemente tingidas com um tom
de rosa-cereja.
E entendi toda a situação.
Não foi uma mera coincidência que levou o Kirito à minha loja. Mantendo aquela
promessa comigo, Asuna recomendou este lugar... para a pessoa em seu coração.
"O que eu devo fazer? De verdade, o que eu devo fazer?"
Minha mente estava totalmente preenchida com essas palavras. Eu me sentia como se o
calor de todo o meu corpo estivesse lentamente saindo das pontas dos meus pés. Não consigo
sentir força alguma. Não consigo respirar. As emoções vêm à tona, sem qualquer maneira de
liberá-las.
Virando-se para ficar de frente para mim, que ainda estava rígida, Asuna disse
casualmente:
— Este cara disse algo rude para a Liz? Ele provavelmente fez um pedido absurdo ou
algo parecido, certo?
E, com isso, ela inclinou levemente a cabeça para o lado.
— Eh... Mas, então isso significa que você estava com o Kirito-kun na última noite?
— B-bem...
Dei um passo à frente nesse instante, segurei a mão direita da Asuna e empurrei a porta
da oficina para abri-la. Olhei de relance para o Kirito e disse rapidamente, tentando não olhar
para sua face:
— Por favor, espere um pouco. Já vamos voltar, então...
Puxei a mão da Asuna desse jeito e saímos pelo balcão.. Fechei a porta e saímos da loja
pelo espaço entre as janelas de exibição.
— Espere, espere, Liz, o que foi?
Mesmo ouvindo a voz questionadora da Asuna, fui silenciosamente para a rua principal,
andando em passos rápidos. Eu simplesmente não conseguia ficar na frente do Kirito, nem mais
um segundo. Se eu não tivesse escapado, acho que eu teria chegado à conclusão de que eu
perdera meu caminho.
Embora ela tivesse notado meu estado anormal, Asuna seguiu-me silenciosamente.
Soltei a mão da garota gentilmente.
Entramos na rua lateral para o leste, andamos um pouco e achamos um café pequeno
que parecia estar escondido pela alta parede de pedra. Não havia sequer um cliente. Escolhi uma
mesa na ponta e sentei-me em uma cadeira branca.
Asuna olhou para a minha cara ao sentar-se no lado oposto, sem deixar transparecer
seus pensamentos.
— O que foi, Liz?
Esforcei-me para reunir todo o resto de vigor que eu tinha e coloquei um largo sorriso
em meu rosto. O mesmo sorriso de sempre, de quando nós fofocávamos alegremente.
— Bem, é essa pessoa, não é?
Cruzando os braços, inclinei-me para olhar para a cara da Asuna.
— E-eeh?
— A pessoa que você gosta!
— Ah...
Asuna desviou o olhar para baixo e encolheu seus ombros. Ela concordou com a cabeça,
suas bochechas coradas.
— Hm... Sim.
*Tum*; ignorando a dor aguda no meu peito, dei um largo sorriso novamente.
— Bem, ele de fato é uma pessoa estranha; bem estranha, na verdade.
— O Kirito-kun fez algo?
Juntei toda a minha coragem e respondi concordando para a preocupada Asuna.
— Ele chegou na loja e quebrou a minha melhor espada, do nada.
— Aah... D-desculpa...
— Não é realmente algo pelo qual a Asuna tem que pedir desculpas.
Olhando para a Asuna, que estava com as mãos cruzadas como se tivesse quebrado a
espada, algo latejou nas profundezas do meu peito.
"Só mais um pouco... Só mais um pouco, continue, Lisbeth."
Sussurando para mim mesma no meu coração, consegui manter meu sorriso de alguma
maneira.
— Enfim, para criar o tipo de espada que aquela pessoa pedira, precisávamos de um
metal raro, então fomos até outro andar para consegui-lo. E, nesse meio tempo, caímos em uma
pequena armadilha, sabe, e tivemos alguns problemas em escapar dela. Foi por isso que eu não
voltei.
— Então foi isso... Você podia simplesmente ter me ligado... ah, mensagens também
não podiam ser enviadas, né?
— Eu deveria tê-la convidado para ir junto também, desculpa por isso.
— Não, eu tinha que lutar nas linhas de frente pela guilda, então... Enfim, você fez a
espada?
— Ah, sim. Meu deus, eu não quero esse tipo de trabalho problemático mais uma vez.
— Você realmente deveria cobrar um preço bem alto por isso.
Começamos a rir ao mesmo tempo.
Continuei com um pequeno sorriso no meu rosto e fiz um último comentário.
— Bem, ele é estranho, mas certamente não é uma má pessoa. Estarei torcendo por você,
então dê o seu melhor, Asuna.
Esse era o meu limite. Minha voz tremeu no final da frase.
— S-sim, obrigada..
Asuna concordou com a cabeça, inclinou a cabeça para o lado e olhou para a minha face.
Antes que ela pudesse ver o que estava escondido embaixo das minhas pálpebras, levantei-me
rapidamente e disse:
— Ah, não! E-eu tinha marcado de comprar materiais para o estoque. Vou ter que sair
por um tempinho!
— Eh, mas e a sua loja... E o Kirito-kun?
— Faça companhia para ele, Asuna! Conto com você!
Virei-me e saí correndo. Olhei para a Asuna, atrás de mim, e acenei com pressa. Não
havia mais volta.
Depois de correr para a praça do portal e até um lugar no qual eu não pudesse ver aquele
café, virei na primeira curva, indo para o sul. Fiquei nas bordas da cidade, procurando áreas sem
jogadores, correndo com esse único objetivo.
Quando a minha visão ficou borrada, limpei os olhos com a mão direita. De novo e de
novo, sem parar de correr.
Quando percebi, já chegara às paredes que circundavam a cidade. Diante dos muros
levemente curvados que se estendiam, grandes árvores foram plantadas em intervalos regulares.
Entrei na sombra de uma delas e apoiei-me no seu tronco com a mão.
— Snif... Ah...
Minha voz saía da minha garganta e eu nem tentava abafá-la. As lágrimas que eu tinha
segurado tão desesperadamente saíram uma depois da outra, desaparecendo ao escorrer pelas
minhas bochechas.
Era a segunda vez que eu chorava desde que viera para esse mundo. Quando eu entrei
em pânico e chorei no dia em que loguei pela primeira vez, disse para mim mesma que não
choraria de novo. Eu pensava que não precisava destas lágrimas, que escorriam por causa do
sistema de emoção do jogo. Mas nunca sentira lágrimas mais febris, mais dolorosas que essas,
nem mesmo no mundo real.
Quando eu estava falando com a Asuna, tinha algo que não conseguiu sair. — Eu
também gosto daquela pessoa. — Essas palavras quase saíram inúmeras vezes. Mas eu nunca
poderia dizê-las.
Na oficina, no instante em que vi Kirito e Asuna virarem-se para conversar, entendi que
não havia lugar para mim perto do Kirito. Porque... naquela montanha nevada, eu colocara a sua
vida em perigo. Ninguém pode ficar ao lado dessa pessoa, a não ser quem possui o mesmo
coração firme. "Isso mesmo... Por exemplo, alguém como a Asuna..."
Os dois estavam conectados por uma força poderosa, como um encaixe perfeito de
espada e bainha. Era isso o que eu realmente sentia. E, além do mais, Asuna ficou pensando
constantemente no Kirito por vários meses e esforçou-se para diminuir a distância entre eles pouco a pouco, então eu não podia simplesmente me intrometer nesse relacionamento de
repente.
"Isso mesmo... Eu conheci o Kirito há menos de um dia. Indo em uma aventura com
que eu não estava acostumada junto de uma pessoa diferente, meu coração deve ter apenas sido
surpreendido por isso." Não era a verdade. Estes não eram os meus sentimentos verdadeiros. Se
eu fosse apaixonar-me, não teria pressa; pensaria lentamente sobre isso. Sempre pensei sobre o
amor desse modo.
Mas, ainda assim, por que estas lágrimas não paravam?
A voz do Kirito, suas ações, todas as expressões que ele me mostrara nessas vinte e
quatro horas passavam pelos meus olhos, uma após a outra. As sensações da sua mão segurando
a minha, de quando ele mexeu no meu cabelo ou segurou o meu braço. O calor daquele coração
batendo... enquanto essas memórias passavam por mim, uma dor aguda surgiu no fundo do meu
peito.
"Esqueça. Foi tudo um sonho. Esqueça tudo com essas lágrimas."
Segurando desesperadamente o tronco de uma árvore ao lado da rua, chorei. Olhando
para baixo enquanto abafava minha voz, continuei chorando. No mundo real, estas lágrimas
teriam secado mais cedo ou mais tarde, mas parecia que esse líquido escaldante saindo dos meus
olhos não pararia de sair.
E, de trás de mim, aquela voz veio.
— Lisbeth.
Todo o meu corpo tremeu quando meu nome foi chamado. Essa voz suave e gentil,
ainda com traços do seu tom original de menino.
Deve ser um sonho. Não tem como ele estar aqui. Pensando assim, olhei para cima, sem
nem limpar as lágrimas da minha face.
Kirito estava ali, de pé. Os olhos atrás do seu topete preto, com um pesar característico,
estavam fixos em mim. Devolvi o olhar brevemente e pouco depois murmurei com uma voz
trêmula:
— Não é bom você ter vindo agora. Eu teria retornado à Lisbeth energética de sempre
em pouco tempo.
Ele não respondeu.
Silenciosamente deu um passo à frente e tentou estender a mão direita. Balancei a
cabeça levemente, impedindo-o.
— Como você achou esse lugar?
Depois de ouvir isso, Kirito ponderou um pouco e apontou para o meio da cidade.
— Dali...
Naquela direção, bem longe, o topo da igreja oposta à praça do portão destacava-se em
meio aos outros prédios.
— Dali, procurei pela cidade e achei-a.
— He, he.
Minhas lágrimas continuaram a escorrer silenciosamente, mas, antes de ouvir a resposta
do Kirito, um sorriso surgiu em meu rosto.
— Você é absurdo como sempre, hein?
Mesmo essa parte dele... Eu gostava dela. De modo incorrigível.
Senti mais um impulso de chorar crescendo dentro de mim. Contive-o com todas as
minhas forças.
— Desculpa... veja, estou bem. Apresse-se e volte para a Asuna.
No momento em que consegui dizer isso e estava prestes a me virar, Kirito continuou
suas palavras.
— E-eu queria agradecer a você.
— Eh?
Confusa pelo comentário inesperado, olhei para o seu rosto.
— Eu... houve uma vez, no passado, em que todos os membros da minha guilda foram
aniquilados... Por causa disso, decidi nunca, nunca mais ficar próximo a alguém de novo.
Kirito franziu a testa brevemente, mordendo o lábio.
— É por isso que eu normalmente não formo equipes com ninguém. Contudo, ontem,
quando você me convidou para aquela missão, não tive problemas, por algum motivo. Durante o
dia todo, fiquei achando isso estranho. Por que eu estava andando ao lado desta pessoa...
Esqueci a dor no meu peito por um instante, olhando para o Kirito.
Isso quer dizer que... quer dizer que eu era...
— Até agora, não importava quem pedisse, eu sempre rejeitava. Quando as pessoas que
eu conhecia... Não, mesmo os jogadores cujos nomes eu não sabia, só de ver os outros
batalharem, eu congelava de medo. Eu não podia evitar, tinha que fugir. É por isso que eu
sempre me isolei nos lugares mais avançados das linhas de frente, onde quase ninguém ia.
Quando caímos naquele buraco, eu até pensei que seria melhor morrer junto com você do que
ser deixado para trás; isso definitivamente não era uma mentira.
Ele deu um fraco sorriso. Parecia que havia uma quantidade imensurável de auto-
condenação nele, tanto que eu fiquei sem ar.
— Mas você viveu. Foi inesperado, mas o fato de que eu consegui continuar a viver
com você deixou-me bastante feliz. E, naquela noite... Quando você me deu a sua mão, tudo se
revelou. A sua mão era quente... Esta pessoa ainda está viva, foi o que pensei. Eu, todo mundo,
nós definitivamente não existimos só para ir ao encontro da morte algum dia; acredito que
vivemos para simplesmente continuar vivendo. Então... Obrigado, Liz.
Fiquei sem palavras.
Dessa vez, um sorriso verdadeiro emergiu das profundezas do meu coração. Guiada por
uma forte emoção misteriosa, abri minha boca:
— Eu também era assim... Como você... sempre estive procurando por isso. Por algo
real e especial nesse mundo. Para mim, foi o calor da sua mão.
Subitamente, senti como se aquele espinho de gelo que perfurara meu coração
gentilmente tivesse derretido. Minhas lágrimas também haviam parado há algum tempo.
Encaramos um ao outro brevemente, em silêncio. Aquela sensação que aparecera quando
voávamos voltou, passando pelo meu coração por um mero instante, e desapareceu.
Eu fui recompensada: era nisso que eu acreditava.
As palavras do Kirito envolveram os cacos do meu amor, que se tinha estilhaçado.
Senti-os afundando dentro de mim.
Pisquei uma vez, limpando pequenas lágrimas, e abri minha boca para dizer sorrindo:
— Faça a Asuna ouvir essas palavras. Aquela garota está sofrendo também. Afinal, ela
também quer o calor do Kirito.
— Liz...
— Estou bem.
Assenti com a cabeça de leve, com as mãos sobre o peito.
— Este calor vai continuar por mais algum tempo. Então... Por favor, Kirito, zere este
mundo. Trabalharei duro até lá. Mas, quando voltarmos ao mundo real...
Dei um sorriso levado.
— Vamos ter uma segunda rodada.
Ele não disse nada.
Kirito também sorriu, concordando vigorosamente. Depois, ele moveu a mão esquerda,
abrindo uma janela. Enquanto eu imaginava o que ele queria fazer, a Elucidator foi removida de
suas costas e foi guardada no inventário. Em seguida, ele mexeu na sua figura de equipamento e
materializou uma nova espada em seu lugar. "Repulsora da escuridão", a espada branca
preenchida com minhas emoções.
— A partir de hoje, esta espada será minha parceira. A conta... será paga no outro
mundo.
— Ah, agora que você disse, vai sair bem caro.
Enquanto ríamos juntos, ele fez um "toca aqui" e eu retribuí.
— Bem, vamos voltar para a loja. A Asuna deve estar cansada de esperar... E, além
disso, estou ficando com fome.
Depois de dizer isso, levantei-me e comecei a andar. Pela última vez, limpei meus olhos,
espalhando as últimas lágrimas que ainda estavam nos seus cantos, e elas desapareceram,
tornando-se grãos de luz.
O frio estava especialmente mais severo hoje.
Entrei na oficina esfregando as mãos e puxei a alavanca na parede. A fornalha acendeu
imediatamente, vermelha de tão quente, e esquentei minhas mãos nela. O som da roda d'água
era o mesmo, mas agora, no início do inverno, já estava bastante frio. Se, no meio do inverno, o
pequeno rio congelasse, eu estava preocupada com o que aconteceria comigo.
Pensei nisso por certo tempo e, depois de sair desse estado letárgico, consultei meu
cronograma. Ainda havia mais oito itens na lista de pedidos para hoje. O dia vai acabar logo se
eu não me apressar e terminá-los.
O primeiro pedido era uma espada reta e leve de uma mão. Vendo a minha lista de
lingotes, rapidamente escolhi um que tinha bom custo-benefício e joguei-o na fornalha.
Agora, minha habilidade com o martelo havia aumentado e eu também conseguira
alguns metais novos, então tenho conseguido fazer constantemente armas de alto nível. Quando
o fogo estava na temperatura ideal, coloquei o lingote na bigorna. Peguei o martelo e bati com
vigor.
Mas, falando sobre espadas retas de uma mão, sequer uma espada conseguiu ficar
melhor do que aquela forjada no verão deste ano. Esse fato é frustante e, ao mesmo tempo, um
alívio.
Aquela espada que enterrara os estilhaços do meu coração provavelmente estava
causando alvoroço nas linhas de frente hoje, mais uma vez. Embora eu cuide dela com esta
pedra de amolar de vez em quando, a transparência de sua lâmina parecia aumentar com o uso,
diferente das armas normais. Por algum motivo, ela não funcionava como os consumíveis que
acabavam mais cedo ou mais tarde; parecia que ela quebraria quando sua missão fosse completa.
Era isso o que eu previra.
Mas, bem, isso provavelmente é um futuro que não está perto. As linhas de frente
estavam agora no andar 75. Aquela espada ainda teria que trabalhar por mais um tempo. Na mão
direita daquela pessoa... Kirito.
Quando percebi, já havia acertado a espada o número de vezes necessário. O lingote
começou a mudar de forma, com um brilho vermelho. Vi esse instante mágico passar prendendo
a minha respiração e peguei a espada que apareceu em seguida para examiná-la.
— Mais ou menos, eu acho.
Murmurando isso, coloquei-a sobre a mesa de trabalho. Sem demora, peguei o lingote
seguinte. Desta vez era um machado de duas mãos, com foco em alcance...
Depois de uma longa tarde, consegui, de algum modo, acabar todos os pedidos.
Levantei-me e estiquei o corpo vigorosamente, movendo minha cabeça em círculos. Respirando
aliviada, olhei para uma pequena foto pendurada na parede.
Fazendo sinais de paz juntas, a Asuna e eu. Ao lado dela, meio passo atrás, estava o
Kirito sorrindo devido à situação complicada. Foi tirada em frente a esta construção. Cerca de
meio mês atrás, quando as notícias do casamento dos dois chegaram.
Para qualquer pessoa que você perguntar, esses dois realmente combinam, mas chegar a
este ponto demorou meio ano. Eu estava ficando impaciente, tentei intrometer-me nesse
relacionamento de várias maneiras e, quando recebi as notícias do casamento, fiquei muito feliz
por eles. Mas ainda assim... senti um pouquinho de dor no meu coração.
Ainda vejo o que aconteceu naquela noite nos meus sonhos. Recuperando aquele único
momento onírico que brilhava como uma gema modesta nesses dois anos sem muitos altos e
baixos. Mesmo agora, depois de três meses, isso ainda esquentava meu coração como chamas
brilhantes.
— Mesmo assim...
Foi certamente esplêndido, murmurei assim no meu coração e gentilmente passei o dedo
pela foto. Embora eu me considere realista e racional, o fato de eu ter uma disposição tão grande
era algo que eu nunca notara.
— Eu sempre te amei, até o final.
Dando um firme toque em um certo ponto da foto, mudei meus pensamentos. Enquanto
eu ponderava se deveria fazer uma refeição simples para o meu almoço atrasado or talvez comer
fora pela primeira vez em muito tempo, algo aconteceu.
Um efeito sonoro que eu nunca ouvira até agora ressoou bem alto, vindo de cima.
*Ding*, *ding*, um som parecido com o de um alarme de campainha. Imediatamente olhei para
o teto, mas parecia que o som vinha de ainda mais alto, reverberando na direção dos andares
superiores.
Quando estava prestes a correr apressada, aconteceu algo que me surpreendeu ainda
mais. A NPC que cuidava da minha loja e não precisara de um único dia de descanso desde a
sua abertura(por motivos óbvios) desapareceu sem sequer emitir som.
Pisquei várias vezes e encarei o espaço onde a garota estava até agora há pouco, mas
não havia sinais de que ela voltaria. A situação estava tornando-se cada vez mais confusa.
Eu cambaleei para fora e uma experiência ainda mais surpreendente fez-me congelar em
choque.
No chão do andar seguinte, cem metros acima, logo antes do teto cinza, havia gigantes
letras vermelhas. Fiquei encarando-as; as duas frases, "Aviso" e "Anúncio do sistema", estavam
organizadas em um padrão xadrez.
— Anúncio... do sistema...
Era uma cena que eu já vira antes. Não havia como eu me esquecer dela. Há dois anos,
no dia em que este jogo mortal começou, o mesmo espetáculo apareceu com aquele avatar vazio
anunciando a mudança de regras para os dez mil jogadores.
Finalmente olhando para os meus arredores depois de ficar congelada por vários
segundos, vi muitos outros jogadores olhando de pé para o andar superior como eu. Franzi a
testa, estranhando esta cena, e percebi o motivo logo depois.
Normalmente, pelas ruas, havia NPCs vendendo suas mercadorias, mas nenhum deles
estava por perto. Acredito que eles desapareceram ao mesmo tempo que a da minha loja, mas...
por quê?
Subitamente, o som do alarme parou. Depois de um momento de silêncio, surgiu uma
suave voz feminina no mesmo volume alto.
— Agora faremos um anúncio urgente a todos os jogadores.
Ela era completamente diferente da voz do mestre do jogo, Kayaba Akihiko, de dois
anos atrás, que era artificial, sintetizada com sons eletrônicos misturados. Era claramente um
anúncio feito por meio do sistema do jogo, mas, como quase não havia administradores no SAO,
esta era a primeira vez que eu ouvia um. Agucei meus ouvidos, prendendo a respiração.
— O jogo agora entrará em modo de administração forçada. A geração de todos os
monstros e itens será suspensa. Todos os NPCs serão despedidos. Os pontos de vida de todos os
jogadores serão fixos no máximo.
Um erro do sistema? Algum bug fatal aconteceu?
Foi isso o que eu pensei por um instante. Meu coração foi envolvido em inquietação.
Mas no momento seguinte...
— Tempo Padrão de Aincrad, 7 de Novembro, 14:55, o jogo foi zerado.
A voz do sistema reportou assim.
O jogo... foi zerado?
Não consegui entender o significado dessas palavras por vários segundos. Os outros
jogadores por perto também ficaram parados com expressões congeladas. Todavia, depois de
ouvir a fala final, todos eles levantaram-se.
— Todos os jogadores serão deslogados em ordem. Por favor, espere na sua posição
atual. Repito...
Repentinamente, "Eba!", e outros gritos comemorativos de alegria surgiram. O chão,
não, todo o Castelo Flutuante Aincrad tremeu. Todos estavam abraçando um ao outro, rolando
no chão, gritando com as mãos erguidas para o céu.
Não me movi, não disse uma palavra, simplesmente fiquei na frente da minha loja. De
alguma maneira, consegui levantar as mãos e cobri minha boca.
Então ele conseguiu. Ele... o Kirito conseguiu. Com a sua imprudência de sempre...
Era nisso que eu acreditava. Afinal, as linhas de frente ainda estavam no 75° andar, mas
com o jogo zerado assim, esse ato absurdo, imprudente e audacioso com certeza era obra do
Kirito.
Ouvi alguns sussurros perto dos meus ouvidos.
— Eu cumpri minha promessa...
— Sim... Sim... Finalmente, você conseguiu...
Com isso, lágrimas mornas saíram dos meus olhos. Sem me importar em limpá-las,
estendi a mão direita para cima com toda a minha vontade, pulando sem parar.
— Oh!
Colocando as mãos em concha na minha boca, como se isso fosse alcançá-lo nos
longíquos andares mais altos, gritei o máximo que eu conseguia.
— Nós vamos, definitivamente, encontrar-nos de novo, Kirito! Eu te amo!

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