Meritíssimo [DEGUSTAÇÃO]

Por wantsilva

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Isabella Araújo só queria arranjar um emprego para que pudesse sustentar seu filho Lucas e, esquecer seu pass... Más

Introdução e notas.
BOOK TRAILER
Playlist.
Prólogo.
Capítulo Um.
Capítulo Dois.
Capítulo Três.
Capítulo Quatro.
Capítulo Cinco.
Capítulo Seis.
Capítulo Oito.
Capítulo Nove.
Capítulo Dez.
LIVRO FÍSICO PELA @EDITORASCARDINI

Capítulo Sete.

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Por wantsilva

Isabella narrando:

Ao fim da tarde os três vão pra sala de estudos que também era na mansão. Eu os acompanho olhando tudo ao redor de queixo caído, ali era enorme.

A sala de estudos era meio que uma biblioteca, havia vários livros, uma lousa branca, duas mesas com cadeiras ao redor, computadores, mapas e um globo. Parecia coisa de escola e como em todo local da mansão, era bem friozinho e confortável.

Quem nos recebeu foi o professor deles, era aparentemente simpático e bem novo. Seu nome era Caio, ele era professor formado no Canadá e as crianças pareciam gostar bastante dele.

Me sentei em uma cadeira e fiquei de olho neles e no professor. Ele era legal e extrovertido, fazia piadas e brincadeiras, o inglês dele era perfeito mas não entendia nada do que ele falava. E as crianças... tinham uma fluência na língua estrangeira magnífica.

Ao fim do reforço, por umas seis da tarde, as crianças arrumaram seus materiais em suas mochilas e se despediram do "teacher Caio", ali parecia ser meio que um local onde eles gostavam de estar. O Caio conversava e brincava com eles, coisas que o pai não fazia.

Eu ia saindo atrás das crianças mas o Caio me chamou, me virei o fitando e o mesmo me encarava de olhos cerrados.

─ É a nova babá? ─ questionou e apenas assenti séria. ─ Prazer, sou Caio.

Ele caminha até mim, segura em minha mão e a sacode. Eu trato logo de desfazer nosso singelo aperto de mão, não gostava muito de ficar em contato físico com homens, ainda mais homens que acabara de conhecer, mas o Caio parecia ser um cara legal, esbanjava um ar bem social, tinha os cabelos castanhos e olhos na mesma tonalidade, usava óculos e roupas formais. Quem o olhasse na rua o confundiria com um moleque de dezoito anos que destina sua vida aos games e não um professor de letras formado internacionalmente.

─ Sou Isabella... ─ fazemos uma pausa meio constrangedora, ele olha em meu olhos e desvio o olhar. ─ As crianças se dão bem com você, se quiser me ensinar esse técnica eu agradeço.

Ele venta, rindo. Se afasta pra arrumar seu material e começa, sem olhar.

─ São crianças difíceis, a mãe morreu quando ainda eram recém-nascidos, por isso são bem rígidos, como o pai. Além de não terem uma mãe, também não tem um pai, digo, a mãe morreu, mas o pai era como se tivesse morrido junto... ─ ele fala sem me olhar, está concentrado em seus materiais didáticos que guarda dentro da mochila, outros nas prateleiras vermelhas e azuis. ─ Mas são crianças, não são impossíveis... talvez Clarisse seja um pouco mais, mas Clara é uma boa garota.

─ Todos falam bem da Clara, bem, esse é meu primeiro dia de emprego... e cá entre nós, está péssimo ─ sussurro com uma expressão de desespero e ele gargalha.

─ Já passei por isso... mas é só conversar com as crianças, conquista-las ─ ele comenta por fim guardando sua apostila, ele me encara e cruza os braços ainda sorrindo.

─ Bem... vou indo atrás deles, foi bom lhe conhecer, Caio.

─ Nice to meet you, Isabella ─ ele diz e apenas lhe lanço um sorriso em resposta, era péssima na língua inglesa, e não entendia, literalmente, nada que eles falavam.

Penso nas crianças, no quão elas eram sem vida. Logo Sebastian, um homem com condições de dar o bom e o melhor não dar pra elas não dava. Era triste vê-las assim, a mercê de um pai rigoroso e prepotente. O que custava dar amor aos filhos? Eram apenas crianças, três crianças que eram como bonecos na mão do pai. Lucas não havia crescido com o pai, mas ele tinha todo o amor do mundo, isso definitivamente não era algo faltoso, por isso ele era tão carinhoso e atencioso. Sei bem da profissão de Sebastian, mas sua profissão não era sua única obrigação e sim seus filhos, em primeiro lugar.

Caminho em passos lentos pelos corredores extensos e obscuros afim de não me perder, aquela casa me dava medo, parecia aquelas mansões mal-assombradas que passavam em filmes e ainda mais o dono da mansão, era só ouvir seu nome que minha espinha congelava.

Encontrei as crianças em seus quartos, na verdade, a governanta havia me avisado que Christian estava tomando banho, Clarisse na sala de música e Clara em seu quarto. Meu primeiro ato foi checar Clara, aliás, a sala de música era no final do corredor. Abri a porta após bater duas vezes e esperar cinco segundos, quando adentro ao quarto confortável e com cheirinho de morango a vejo sentada, olhando pela janela, ela encarava a praia e as ondas que ali se quebravam em ritmo lento.

─ Oi ─ me sento ao seu lado, ela nem se mexe, apenas abraça mais o ursinho ao seu corpo.

─ Oi ─ diz baixinho, quase como um sussurro.

─ Precisa de algo? ─ pergunto após um tempo, ela balança a cabeça, assentindo. ─ O que você quer?

─ Quero o papai ─ ela diz de forma triste, meu coração naquele momento se despedaça, é como se eu estivesse no lugar dela. Eu também havia crescido sem um pai, era somente eu e mamãe. ─ Ele nunca... ele nunca esteve aqui.

Por impulso ergo meu braço, toco as mechas lisas e loiras de seu cabelo, faço um carinho e a mesma fecha as pálpebras recebendo tal ato de carinho.

─ Eu também cresci sem meu pai, ele foi embora quando era pequena... ─ digo como forma de a confortar.

─ Também cresceu sem sua mãe?

A pergunta dela me cala instantaneamente.

─ Clarisse finge não se importar... mas eu sei que ela e Christian também sentem falta e choram, eu posso sentir... ─ ela olha em meus olhos dessa vez, se vira lentamente e encosta a cabeça na cabeceira da cama ainda segurando sua pelúcia no colo. Seus olhos azuis se encontram com os meus e olho fixamente pro seu olho castanho, escuro. Sinto muita pena, queria poder a abraçar e dar todo meu amor pra ela, mas isso tudo é culpa do pai dos três.

─ Hmm... ─ tento procurar um assunto para enfim mudarmos de assunto. ─ Que tal irmos chamar sua irmã pra tomar banho? A governanta avisou-me que dentro de meia hora o jantar estará servido.

Clara dá de ombros, entendiada e se levanta.

─ Uma princesa não se porta dessa maneira ─ digo de forma divertida e a mesma dá um sorrisinho sem mostrar os dentes e se curva, repito o ato e lanço meu braço para a mesma agarrar e enfim podermos ir atrás do furacão mirim.

Na sala de música a melodia do piano soava carregando consigo diversas emoções, o instrumento parecia ser tocado por dedos profissionais e não por uma garotinha que não tinha nem dez anos. Mas assim que adentramos na enorme sala, ela cessou seus dedos do piano e nos encarou.

─ Perderam alguma coisa aqui? ─ ela indaga e posso ver Clara revirar os olhos diante das palavras da irmã gêmea. Garota arrogante!

─ Clarisse você precisa tomar banho ─ falo receosa por sua resposta, mas eu logo me endireito, não seria eu que teria medo dessa pirralha mal-educada. ─ O jantar logo irá sair.

─ E você precisa cuidar da sua vida ─ dispara levantado-se do piano e cruzando os braços.

─ No momento não estou cuidando da minha vida e sim do meu emprego, então se não quiser que eu diga seu comportamento pro seu pai, eu quero que vá agora tomar seu banho.

Ela fica meio surpresa, arqueia a sobrancelha e bate de frente comigo.

─ Você acha que é quem pra falar assim comigo? Você não é minha mãe!

─ Ainda bem que não sou, porque se fosse você não seria tão arrogante assim ─ rebato estressada. Mas logo vejo o que estava fazendo: discutindo com uma criança, eu devia fazer meu serviço, mas era impossível não querer dizer umas poucas e boas pra essa garotinha ignorante.

Ela me encara com um olhar desafiador e devolvo o mesmo olhar.

─ Você trabalha pro meu pai, mas pra mim não é nada.

E em seguida sai disparada até a saída da porta, onde encara a irmã ao meu lado e lhe fuzila com o olhar.

─ Vai ficar do lado dessa aí, Clara? ─ pergunta com certa raiva.

─ E se eu ficar? O que vai ter? ─ Clara pergunta pra sua irmã que bufa rolando os olhos.

─ Ótimo, você sempre foi do contra, por isso gosto mais de Christian do que de você ─ responde e sai como um furacão dali.

Encaro Clara que aparentemente parece ter costume com aquele comportamento.

Ela em seguida me olhou e também saiu em passos lentos pra fora da sala de música.

As crianças depois do jantar puderam assistir televisão e às oito e meia elas já estavam na cama prontas para dormir. Clara abraçada com seu ursinho e Clarisse olhando pra parede, embrulhei Clara e passei minha mão sobre seus cabelos, ela fechou as pálpebras e pareceu gostar do meu toque, mas tinha que ir logo, Clarisse ainda estava acordada e apenas ajeitei o cobertor nela que não protestou. Christian também estava na cama, desliguei seu abajur mas no mesmo instante ele se virou e acendeu depressa.

─ Não apaga a luz ─ ele diz coçando os olhos.

─ Tudo bem, pronto. Boa noite.

─ Tchau, babá.

Apenas suspirei e saí dali.

Olhei no relógio e já estava em minha hora, arrumei minhas coisas mas antes passei na cozinha de funcionários. O pessoal ali parecia me ignorar, como se eu não existisse, mas eu também nem havia dado importância pro meu tratamento naquela casa. Aliás, eu não era ninguém, pra nenhum deles, e jamais seria.

Assim que adentro ao carro na qual o motorista me levaria pra casa é o momento que uma BMW chega na garagem imensa da mansão, vejo o senhor Guimarães sair do carro acompanhado de uma mulher esbelta e bem bonita, mas não era a mesma de hoje pela manhã, dessa vez ela era ruiva e ele parecia não dar muita importância na companhia dela, estava sério e inexpressivo. Já a mulher... gargalhava e esbanjava sua beleza dentro de um vestido negro maravilhoso.

Desvio meu olhar da tal cena e encosto minha cabeça no banco inspirando o ar-condicionado, estava exausta do dia corrido de hoje, cuidar de três crianças era bem difícil, ainda mais quando elas não colaboravam.

Mal vi quando ele deixou-me em casa, agradeci e desejei boa noite sem obter resposta. Será que todo mundo dali era mal educado?

Quando abri a porta do flat em que morava, já exausta, fui surpreendida por um abraço calorento e gostoso que fez com que todo meu péssimo dia se dissipasse.

─ Mamãe! ─ Lucas se agarra em meu pescoço e o encho de beijos. ─ Tavo com saudade!

─ A mamãe também estava ─ o carrego no colo, ele já estava pronto pra dormir. Encarei Jéssica no sofá que sorria, ela deu de ombros quando cerrei meus olhos querendo saber o por que do mocinho não estar na cama.

─ Eu tentei botar ele pra dormir mas ele quis por que quis esperar a mamãe dele.

Encaro Lucas que sorria sapeca e aperto seu nariz com carinho.

─ Não pode, tem que dormir cedo se não o neném vai ficar muito preguiçoso pela manhã.

─ Mas eu queria espelar  você.

Agora que a mamãe está aqui vamos dormir então?

Lucas assente e jogo minha mochila no chão, vou tomar banho e o deixo na cama me aguardando. Aquele banho me relaxa por completo, era como se tudo fosse por ralo a baixo, o cansaço, as crianças, o juiz e tudo mais que fizeram do meu dia turbulento.

E quando termino meu banho e adentro o quarto, Lucas já está dormindo em um cantinho com seu urso polar que o tio Eric havia lhe dado no aniversário de dois anos.

Abro um sorriso e vou até o mesmo despejando um beijo em seu rosto e indo colocar qualquer roupa, em seguida me deito sentindo todo os músculos do meu corpo relaxando, solto um suspiro e agradeço mentalmente por estar em casa, na minha cama e ao lado do meu bebê. Não havia coisa melhor que isso.

E quando estava quase pegando no sono a porta é aberta. Jéssica adentra no quarto puxando seus cachos para trás e fazendo um rabo de cavalo no lindo cabelo, ela está dentro de uma cueca de Eric que deixa seu corpo ainda mais valorizado e bonito e usa uma camisa do Chelsea, cujo jogador era Drogba, digamos que ela tinha uma certa tara por esse homem.

Ela abriu um sorriso e me empurrou o bastante para deitar-se na cama, ficamos apertadinhas na cama de casal que Lucas ocupava praticamente todo o espaço. O peguei no colo e coloquei-o em nosso meio.

Lembro-me que quando Lucas era um bebê e meus pesadelos eram constantes, Jéssica deitava-se comigo sempre e só assim conseguia dormir um pouquinho melhor. Eram nós três naquela cama de casal que mais parecia de solteiro, mas era minha família, por mais que fosse pequena, e eu a amava mesmo na necessidade. Porque família é assim, afinal.

Ela deita sua cabeça no travesseiro e acaricia os cabelos de Lucas que dorme tranquilamente.

─ E então... como foi o primeiro dia? ─ sussurrou.

─ Uma... ─ ponderei em busca de palavras. ─ Uma merda, posso dizer. O pai delas é mega chato e controla os filhos como fantoche, ele me causa medo, o olhar dele... me lembra dele...

Jéssica alcança minha mão onde aperta amigavelmente, ela encara meus olhos e solta um suspiro.

─ Mas não é, ele é seu chefe e tenho certeza que um homem como Sebastian, um homem da lei, jamais ergueria os dedos ao menos pra tirar mechas de cabelo grudadas em sua testa... Além do mais, você precisa esquecer esse merda de policial e seguir em frente, arranjar um namorado e um pai pra Lucas, você precisa.

Ignoro completamente a parte de encontrar alguém, não estava afim de namorar, na verdade, não queria ser tocada por outro homem. Só queria trabalhar, me formar e poder investir na vida do meu filho, só ele me importava.

─ Você acha que ele pode me encontrar? ─ pergunto com a voz falha após um tempo.

─ Com certeza não, sem falar que ele não deve estar te procurando, por que ele estaria? Esqueça ele, não se apegue no passado, viva seu presente, viva sua vida com seu filho.

─ Meio impossível esquecer ele ─ encaro Lucas que respirava lentamente. ─ Tirou minha inocência e me concebeu Lucas.

─ Meu irmão também tirou minha inocência, quando eu tinha sete anos e também colocou um filho em mim. Mas isso não me impediu de continuar, hoje eu tenho Eric e nossa... transar com ele é uma delícia!

─ Jéssica! ─ a repreendo e a mesma gargalha.

─ Vamos mudar esse assunto... como foi seu dia? ─ ela indaga interessada.

─ Uma merda, como já disse. As crianças me odeiam e são impossíveis, pensava que seria fácil, mas nenhuma criança é como meu filho... Não digo que são mimados, digo que são revoltados. Os funcionários me odeiam, as crianças também e o meu chefe parece não ir muito com minha cara. Tirando isso...

─ Eles são ricos, podem ter tudo o que quer na hora que desejarem. Mas se acalma, tudo vai melhorar ─ ela garante.

─ Com o salário vou poder comprar uma casa pra gente, mandar dinheiro pra mamãe e pagar as dívidas.

─ Na moral, acho que vou virar babá também... ─ ela gargalha. ─ Estão pagando melhor que meu emprego.

─ Mas também... são umas pestes ─ rolo os olhos e me embrulho cheirando os cabelos lisos do meu filho. ─ Não podemos comemorar ainda, estou em fase de teste.

─ Mas vai passar! ─ ela se debruça e beija minha testa. ─ O melhor estar por vir, Isa.

Dito isso Jéssica puxa meu lençol e se abraça com Lucas fechando as pálpebras.

Analiso sua última frase desdenhando. Será mesmo que o melhor estar por vir? Tomara que sim. Estava cansada de sofrer tanto.

E só assim pude fechar minhas pálpebras e adormecer me preparando para o dia de amanhã.


REV

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