UM PASSO PARA LIBERDADE

By LidayanaMaia

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CONTO ESCRITO PARA A ANTOLOGIA "VIAGENS FANTÁSTICAS 2" NUMA VERSÃO MAIS ESTENDIDA. ESSE CONTO, É SOBRE A... More

UM PASSO PARA A LIBERDADE

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By LidayanaMaia





A rua com paralelepípedos na cidade de Pereia, era o que estava sob a visão de Afra, como também, ora os pés de um animal, ora os pés de outras pessoas, mas infelizmente, ela não podia enxergar o rosto de alguém. Não, seu campo de visão era limitado, já que o significado de seu nome, uma jovem corça, era realmente o contrário de como era sua vida desde os oito anos de idade. Não podia correr, sentar, nem andar rapidamente. A humilhação e a vergonha eram roupas que vestia desde que sua coluna não pudera mais se endireitar! Andava praticamente arrastando-se pelas ruas, ouvindo zombarias e escárnios sem fim.

Um suspiro acompanhado de um gemido sôfrego, foi o que saiu de sua boca após subir a ladeira em direção à sinagoga naquele sábado de manhã. Era desgastante e doloroso, mas precisava ouvir o que DEUS tinha a falar, isso era mister em sua vida. Lembrou-se do verso que Habacuque cantou em seu livro, capítulo três, versos dezessete a dezenove:

" A rua com paralelepípedos na cidade de Pereia, era o que estava sob a visão de Afra, como também, ora os pés de um animal, ora os pés de outras pessoas, mas infelizmente, ela não podia enxergar o rosto de alguém. Não, seu campo de visão era limitado, já que o significado de seu nome, uma jovem corça, era realmente o contrário de como era sua vida desde os oito anos de idade. Não podia correr, sentar, nem andar rapidamente. A humilhação e a vergonha eram roupas que vestia desde que sua coluna não pudera mais se endireitar! Andava praticamente arrastando-se pelas ruas, ouvindo zombarias e escárnios sem fim.

Um suspiro acompanhado de um gemido sôfrego, foi o que saiu de sua boca após subir a ladeira em direção à sinagoga naquele sábado de manhã. Era desgastante e doloroso, mas precisava ouvir o que DEUS tinha a falar, isso era mister em sua vida. Lembrou-se do verso que Habacuque cantou em seu livro, capítulo três, versos dezessete a dezenove:

" Ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto na vide; o produto da oliveira minta, e os campos não produzam mantimento; as ovelhas sejam arrebatadas do aprisco, e nos currais não haja gado, todavia, eu me alegro no SENHOR, exulto no DEUS da minha salvação. O SENHOR DEUS é a minha fortaleza, e faz os meus pés como os da corça, e me faz andar altaneiramente. "

Embora com a fé abalada pelas circunstâncias, não deixava de crer. Sim, acreditava que um dia poderia correr como uma corça, poderia ser honrada, embora nada tivesse feito para desmerecer essa honra em meio à sociedade. Mais um gemido, as dores aumentaram após o esforço de haver subido a ladeira.

Em outros tempos, qualquer pessoa poderia dizer que ela era linda, mas toda a beleza de seu rosto aveludado desaparecia quando precisava de uma bengala para poder se manter de pé, praticamente um c se formava em sua coluna e dia após dia o sofrimento só aumentava.

Ela lembrava de um tempo feliz em sua vida. Um tempo em que seu pai ia com ela para a sinagoga, cuidando, amparando para que ela não caísse. Mas aquele homem fiel a DEUS, forte e carinhoso com sua filha, encontrou-se com DEUS quando ela tinha apenas quinze anos de idade. A mãe dela, Marta, teve que continuar a cuidar da filha, mas isso era feito com muitos murmúrios, o que incomodava e muito aquela garotinha que começava a crescer.

Quem sabe um dia algum homem se interessasse em casar com ela para que a mãe tivesse paz e ela deixasse de ser esse estorvo para a própria mulher que lhe deu à luz. Mas que homem no mundo iria querer formar matrimônio com uma mulher praticamente paralisada, que mal levantava os braços?

Saiu de seus pensamentos ao sentir uma momentânea falta de ar, seus olhos lacrimejaram pelo desespero de não encontrar ar! Sua coluna pressionava os pulmões, provocando isso.

— Socorro, SENHOR! – sussurrou.

—Afra? Você está bem? – disse Joshua, um amigo de infância, a segurando e vendo as lágrimas daquela pobre mulher encontrarem o chão.

—Estou... melhor. – respondeu ela ainda cansada, mas já sentindo o alívio de o ar entrar mais facilmente nos pulmões. Parecia ter acabado de sofrer uma surra, mas, mesmo cansada, fez menção de soltá-lo e seguir adiante.

—Estou indo para a sinagoga, quer que eu a acompanhe?

—Não quero dar trabalho e eu demoro muito para chegar lá, Joshua.

—Não é trabalho nenhum. Quando éramos pequenos você sempre ganhava de mim nas corridas. Agora que anda um pouco mais devagar, não vou deixa-la para trás. Como está sua mãe?

—Já deve haver chegado lá. – respondeu ela e deu mais um passo sentindo pontadas fortes na coluna, hoje parecia um dia que estava doendo mais que o normal.

—Então, ontem me disseram que seus pais estão lhe arranjando uma noiva, fico muito... – tossiu e continuou:

—Muito feliz. – respirou fundo e parou, enxugando a testa.

—A colheita foi boa esse ano. Eles estão com essa ideia de eu me casar.

Ela tentou levantar os olhos para ele, mesmo sentindo muitas dores e por um instante, admirou aquele homem alto, forte, de barba feita e cavanhaque. Um homem de DEUS e um amigo de infância, que seu pai quando vivo apreciava muito. Sem poder mais olhar, sentiu agora seu coração acelerar e doer, apertar, não só pela coluna, mas porque queria sim ser a noiva que se casaria com ele. Viu durante o decorrer do tempo ele se transformar em um homem lindo, mas só de longe o apreciava enquanto ficava ainda mais encurvada. Respirou fundo, pigarreou para disfarçar o embargo na voz e disse:

—E a noiva, é alguém que conheço?

—Não sei, é da tribo de Benjamim. Mas ainda não tem nada certo.

Deram mais alguns passos e ele disse:

—E você Afra, tem algum pretendente?

—Doente como estou, Joshua, que homem iria querer casar comigo? – disse se sentindo miserável.

—Não entendo sua pergunta, já que é uma linda mulher, com todo respeito.

A mão forte daquele homem segurava seu braço com delicadeza e firmeza, como se dissesse que estaria sempre ali, como o bom amigo que eram quando pequenos, mas não era mais verdade. Depois que ele se tornou um rapaz se afastou um pouco dela, apesar de morarem próximos. Ela até queira ir aos casamentos, festas, mas se sentia envergonhada. No entanto, o lugar que não abria mão de ir era à sinagoga, não, isso não deixava de fazer.

—Vamos parar um pouco. – disse ela ofegante, era mais falta de ar e ele, compadecido, perguntou:

—Os médicos, não podem fazer nada?

Ela meneou a cabeça em negativa e ao olhar para um lugar em que havia pedras e feno, com um velho juntando o feno, a mente daquela mulher guerreira voltou no tempo. Ao tempo em que seu pesadelo teve início:

Ela estava brincando com Joshua, Maria e Pedro no mercado em que o pai dela viera fazer compras. Estavam sob a supervisão da mãe de Joshua, que examinava a textura de alguns tecidos novos que chegaram numa tenda.

Um homem corpulento e de barba branca e farta se aproximou de Afra, que tinha uma beleza exuberante, desde criança, se destacando com seus olhos negros e brilhantes, cheios de vida.

—Afra, seu pai pediu que eu viesse buscá-la.

—Mas estou brincando agora, ele disse que eu o esperasse com meus amiguinhos e antes da hora terceira estaria aqui.

—Ele mandou eu vir antes, garotinha, porque está muito ocupado, ele é meu amigo, sabe?

—Ah, não sei.

—Afra, não vai, vamos brincar mais! – pediu Maria inocente.

—Mas ele quer que você vá agora, senão ele vai te deixar, isso seria ruim.

Joshua uniu as sobrancelhas desconfiando desse senhor, pois já tinha seus onze anos e Afra somente oito.

—Tenho que ir Joshua, Maria e Pedro. – disse com a voz fininha e triste, gostava muito dos amiguinhos.

—Vou avisar à minha mãe, Afra!

Quando ela ficou na expectativa de uma intrusão da mãe de Joshua, o homem segurou forte e bruscamente em sua mãozinha e a levou para um lugar parecido com aquele, que a Afra de vinte e seis anos avistava naquela rua a caminho da sinagoga.

Apesar de não imaginar o que o asqueroso senhor, que tinha um sorriso diabólico no rosto, queria, Afra sentiu o desejo de correr para muito longe dali!

—Me solta, o que está fazendo? Papai!!! Joshua!!! Maria!

O homem bruscamente rasgou uma pequena parte do vestidinho dela, que ao usar todas as suas forças para escapar, foi lançada por ele sobre as pedras, rolando algumas vezes e se machucando, com escoriações pelo corpo e na coluna. O homem com os olhos arregalados disse:

—Menina malcriada! Venha aqui!

Ela quase não tinha forças para se levantar ou se mexer do local onde estava. Começou a gritar e a chorar, à medida que o homem se aproximava dela. O que ele faria?

Um fio de esperança brilhou em seu coração ao ver como em câmera lenta que Joshua se aproximava com o pai dela apontando para o homem!

Simeão empurrou o velho maligno, fazendo-o cair e rolar no chão. Joshua estava com o rosto apavorado ao ver a amiguinha jogada, com os braços escoriados e sangrando, o vestidinho rasgado no ombro e uma das sandálias ao longe. Aquilo não era bom, acabou por se sentir culpado por ter deixado ela ter ido.

O pai se aproximou perplexo dela e disse:

—Minha Afra, está tudo bem? Oh, Yeaveh, cuide de minha filhinha!

—Papai, dói muito! – disse entre lágrimas de desespero e dor.

O velho se levantou e fugiu, Simeão pensou em persegui-lo, mas tinha que cuidar de sua filhinha. A segurou nos braços com cuidado e a levou ao médico, logo se espalhou que houve uma tentativa de estupro ali. Aquele velho nunca mais fora visto de novo. Mas ela, enquanto crescia, percebia que não era bem vista pelas pessoas, embora nada tivesse feito que desabonasse sua conduta. A vergonha, a fazia andar sempre de cabeça baixa e sofrendo com a rejeição da mãe e das pessoas. Quando percebeu, aquela queda que sofreu deixou uma marca terrível, sua coluna não se endireitava mais, pelo contrário, se curvava dia após dia e sem haver soluções na medicina. Seu pai, enquanto vivo, tentou de tudo para que ela ficasse curada, mas foi em vão.

—Está melhor? – indagou Joshua.

—Sim, agora estou, podemos dar mais alguns passos, acho que essa ladeira hoje foi um desafio maior do que nas outras vezes.

—Afra, acho que a última vez que vi mesmo seu sorriso mais feliz, você tinha dezoito anos e havíamos ido na festa de casamento de Maria e Tiago.

— Sim, foi muito divertido e romântico, eles se amavam. Há pouco havia acontecido a festa dos tabernáculos e O SENHOR havia abençoado a terra. Como o rei Davi, eu suspiro pelos átrios DO SENHOR. Naquela noite a lua estava cheia e muito brilhante. – disse ela com um sorriso sôfrego se formando em seus lábios.

— Sim, naquela noite eu descobri que estava apaixonado por uma linda mulher. Queria que o tempo houvesse parado ali, mas ele não perdoa ninguém!

—Não, não perdoa ninguém, olhe para mim, pior a cada dia! Apesar de todas essas dores e... – respirou fundo, já que sentia a respiração interrompida, continuou:

—Eu quero viver, tenho esperança que DEUS olhará para mim, Joshua!

—Sim Afra, ELE vai!

Se aproximaram da sinagoga e ela estava lotada. Tentaram se aproximar para que ouvissem melhor e ela foi surpreendida ao ouvir que O PREGADOR a chamava. As pessoas abriram caminho e ela com dificuldade, deu o que parecia, seu primeiro passo para a liberdade! Caminhou até ELE e permaneceu olhando para seus pés. A voz diferente de tudo que ela já ouvira ecoou naquele lugar, dizendo:

—Mulher, estás livre da tua enfermidade!

O que houve depois foi um toque que estremeceu suas estruturas, sim, ELE impôs as mãos sobre a cabeça dela e a sensação era de grilhões que há muito a prendiam estavam sendo quebrados! O poder de DEUS passou por toda sua coluna, o barulho dos ossos voltando ao seu devido lugar foi ouvido ali.

As lágrimas de alguém que sentia sua vida estar por um fio com um sofrimento diário e sem trégua, agora banhava seu rosto extasiado em forma de agradecimento! JESUS estava a curando! E quanto amor existia naquele olhar, mesmo que nunca o houvesse visto, era como se ELE conhecesse todo o seu sofrimento de anos! Aquele amor a contagiou e ela perdoou o homem que provocara nela seus sofrimentos iniciais. Respirou fundo e na altura correta para seu corpo, levantou suas mãos ao alto e exclamou:

—Glória a DEUS! Bendito seja O NOME DO SENHOR! Hoje, O SENHOR se lembrou de mim!

JESUS sorriu e o chefe da sinagoga, disse com a sobrancelha arqueada:

—Seis dias há em que se deve trabalhar; vinde, pois, nesses dias para serdes curados e não no sábado.

JESUS, indignado com as palavras dele e os pensamentos de outros, disse:

—Hipócritas, cada um de vós não desprende da manjedoura no sábado, o seu boi ou o seu jumento, para levá-lo a beber? Por que motivo não se devia livrar deste cativeiro em dia de sábado, esta filha de Abraão a quem satanás trazia presa há dezoito anos?

Os adversários DO MESTRE se envergonharam, mas todo o povo, que acompanhava as idas e vindas de Afra para a sinagoga, se alegraram pelos feitos extraordinários e gloriosos de JESUS!

Os olhos de Afra encontraram os de Joshua que tinha o rosto banhado com lágrimas por aquele milagre e sofrimento findo! Ela olhou para JESUS e sim, ELE realmente sabia de tudo, ELE É O MESSIAS tão esperado, que veio libertar SEU povo, que com grande amor, a chamou de filha de Abraão, quando esse título era apenas para os homens!

Afra se sentiu amada, restaurada, transformada e agraciada por tão grande milagre. Após o término do culto prestado a DEUS ali, ela saiu de lá, sentindo os pulmões livres e seus pés com a leveza de uma corça, como se pudesse voar!

Joshua a encontrou e disse:

—Não há palavras para descrever minha alegria!

—Joshua, me sinto viva de novo! Parece que acabo de nascer, JESUS deu um novo sentido para minha vida, eu sou um milagre!

—Sim! – disse emocionado.

—Agora, posso ir ao seu casamento.

O sorriso dele se desfez e ficou sem palavras, não queria se casar com a benjamita, mas com a mulher por quem sempre fora apaixonado desde o casamento de Maria e Tiago, ou mesmo de muito antes disso e ela estava em sua frente.

—O que houve, Joshua?

Ele meneou a cabeça e se perguntava se ela iria acreditar que ele a amava com o sem as costas encurvadas. Olhou para a multidão que acompanhava JESUS e sentiu como se O MESTRE o olhasse e entregasse Afra em suas mãos.

Ele não perdeu tempo. Foi até sua casa e expôs seus sentimentos aos pais, que após relutarem muito, por pensarem que não haveria descendentes para aquela família, deixaram que ele firmasse compromisso com ela, somente depois de saber do milagre realizado por JESUS.

Afra e a mãe receberam a visita de Joshua e dos pais dele, uma semana depois do acontecido e a mão dela foi pedida em casamento. Após uma conversa com o rapaz, e perceber que ele fora sincero, ela aceitou se casar com ele! O grande amor de sua vida, se transformou em seu esposo.

Após ser chamada por JESUS e sentir seu toque, a vida de Afra, jamais foi a mesma, ele mudara completamente sua história! Aquele encontro, foi o primeiro passo para sua liberdade.

FIM

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