Sam
- Acabei de mandar uma mensagem para os meninos. Eles chegarão logo. Aí poderemos comer – avisa Molly, de olho em seu celular.
Não dou à mínima se os meninos virão para o jantar.
A única coisa que consigo enxergar e pensar em meios as lágrimas que borram a minha visão é a foto do Tyler beijando a cadela da Cassandra. Onde estive com a cabeça que nós realmente daríamos certos? Onde estive com a cabeça que não cogitei a volta da Cassandra? Não importa o quanto o Tyler estivesse a fim de uma garota, ele sempre a trocaria por sua versão feminina.
Os dois são mais que perfeitos e convenientes um para o outro.
- Sam? O que houve? – pergunta Molly preocupada, só agora prestando realmente atenção em mim.
- Isso! – balbucio, estendendo minha mão com o aparelho.
Seu choque e surpresa ficam estampados em seu rosto. Os olhos arregalados e incrédulos, e a boca aberta. Seria cômica em outra situação menos dramática e dolorosa. Quando finalmente vê Tyler e Cassandra aos beijos no barzinho a algumas quadras daqui, onde ele e Peter foram com outras caras assistir a partida de beisebol. Momento testosteronas.
- Eu mato esse filho da puta cheio de merda – esbraveja de um modo totalmente homicida e psicótico.
Antes de formular qualquer palavra me vejo negando repetitivamente com a cabeça, e secando as lágrimas e limpando a meleca molenga que escorre do meu nariz de modo bem grosseiro com a parte posterior da mão.
- Não.
- Não? Que merda é essa de não? – esbraveja, agora toda sua irritação dirigida a mim.
Seus olhos azuis escuros querendo cometer mais que um homicídio.
- Vai adiantar o quê? – murmuro, indo em direção ao meu quarto. Ela me segue.
- Vai adiantar o quê? – repete, perplexa.
- É, o quê? Molly, me escuta, quais são as chances do Tyler escolher a mim entre a Cassandra. E, de qualquer modo, não é como se eu quisesse olhar mais na cara dele depois dessa – digo, encarando-a – E, se eu soubesse que ela estaria de volta nem faria tanto drama. Tyler e Cassandra são tão certos quanto o Sol e a Lua.
- Que seja – admite, contra gosto – Mas temos que dar o troco nesses dois filhos da puta. O Tyler prometeu que não te machucaria – termina, a voz um fiasco entristecido.
- Por favor, Molly, deixa quieto – peço, a voz rouca com o choro que quer voltar a cair livre – Eu vou pra casa. Não vou ter paciência pra ouvir o deboche da Cassandra e as desculpas esfarrapadas do Tyler. A verdade é que se eu pudesse nunca mais olharia em sua cara cínica – digo, apanhando umas poucas peças de roupas e pondo em minha mochila.
- Você vai fugir? – pergunta irritada – É o que você sempre faz – esbraveja.
- É. É exatamente o que vou fazer. É o que eu sei fazer de melhor. Fugir e me esconder. Satisfeita? – retruco no mesmo tom – Me dá um tempo, Molly – peço, conciliadora.
- Vou com você. É perigoso dirigir em seu estado. Pior naquele carro velho – zomba, tentando levantar o clima. Sorrio.
Ou tento.
- Não, quero ficar só – digo, abraçando-a – Assim que chegar te ligo. Te amo.
- Se cuida. Amanhã, assim que as aulas acabarem vou te encontrar – avisa – Te amo, pequena Sam.
Era pra todos nós. Molly e Peter, Jake e Amanda, Tyler e eu, passarmos o fim de semana em casa. Aproveitar que os dias estão quentes e nós divertimos muito na praia. Mas, as coisas não ocorrem sempre como queremos.
Penso em fazê-la prometer que não irá confrontar o Tyler ou a Cassandra, mas bem, que se foda os dois.
Ah, Tyler!
Tyler
A minha pequena batalha de mensagens com a Sam, sobre o que eu vou fazer com ela por ter me deixado literalmente na mão, aquele dia, é infelizmente encerrada cedo demais quando a própria deixa de me enviar uma resposta. Tento ligar em seu celular, mas apenas dá desligado. Provavelmente sua bateria acabou, e como nunca o usa quando esta sendo carregado, deixo de lado. Logo estarei em seus braços e lábios. Hmmm! O gosto doce que sinto somente ao imaginar sua boca na minha é cortado pela imagem dos lábios da Cassandra sobre os meus.
Assim que nos encontrarmos essa será a primeira coisa da qual falaremos. Parte de mim quer esconder, afinal de contas não significou nada. No entanto, sei que devo ser sincero com a Sam e essa será a primeira coisa da qual a Cassandra vai jogar em sua cara quando se encontrarem.
As duas definitivamente se odeiam.
- Ei, esquece isso, cara – diz Peter, ao meu lado em seu carro - A Sam vai entender - assinto, mas parte de mim grita exaustivamente que não deveria ter esperado pra chegar em casa.
Só de lembrar meu estômago embrulha e a minha pele se arrepia.
...
O Pub está consideravelmente cheio para o início da noite. Com os minutos restantes para a partida, algumas pessoas aproveitam a falta de barulho excessivo para dar uma olhada em suas anotações. Em bancos longos no balcão, Phill e John tem lugares guardados para mim e Peter. Ambos caminhamos até lá, e no pequeno percurso não posso deixar de notar Isaac ao lado de um de seus amigos em uma mesa nos fundos, próximo a porta que leva ao corredor onde ficam os banheiros. Filho da puta. Ainda tenho vontade de socá-lo até ficar inconsciente cada vez que o vejo e lembro-me de suas mãos sobre a minha garota.
Ele também me vê, e passamos a nos encarar. Ele é o primeiro a desviar.
- Ei, caras – cumprimenta Peter, assim que chegamos perto.
Quase três horas depois e o lugar está quase que irreconhecível. Lotou perceptivelmente nas últimas horas, assim como o barulho. Um emaranhado de vozes gritantes e a batida de uma música pop.
- Está na nossa hora – aviso ao Peter, que discute com um possível descendente do Elvis Presley sobre a partida vergonhosa de hoje.
- Cinco minutos – pede, os olhos flamejantes e raivosos.
- Assim que eu voltar do banheiro – digo.
Próximo a porta do corredor a voz do Peter consegue alcançar meus tímpanos, seguido do barulho que seu punho faz ao se chocar com o balcão. Corro meu olhar em busca de um dos caras. É John que encontro. E só preciso olhar em direção ao meu amigo que ele logo entende o recado. Alguém tem que ficar de olho no Peter. No Peter quase bêbado.
- Tyler – cumprimenta-me um cara do qual não tenho muita certeza se já o vi algum dia em minha vida. Aceno de volta, enquanto lavo as mãos.
Ele se junta ao meu lado, e para evitar que puxe conversa me mando. Louco para encontrar a Sam e convencê-la a ir até meu apartamento. Quem sabe ela não dorme por lá. Sorrio.
Meus planos são parcialmente interrompidos por longas unhas pintadas de preto quando alcanço a porta que se depositam em meu peito. Com os cabelos castanhos presos em um rabo de cavalo e olhos verdes cinzas marcados por longos cílios pintados de preto está Cassandra em minha frente. Seus dentes são revelados em um grande e sedutor sorriso, marcado por batom vermelho.
- Olá, amor – pronuncia de forma sensual e debochada.
Estilo Cassandra.
- O que você está fazendo aqui? – pergunto, sem querer saber de fato. Afastando sua mão para longe de mim, e caminhando até a saída.
- Pra quê a pressa? – pergunta, se pondo em minha frente mais uma vez – Soube que finalmente assumiu a sem sal da ruiva.
- Olha como fala – rosno.
- Ui. Assim vou acabar me apaixonando – zomba – Sério, nunca entendi o que você vê naquela garotinha. Ela é tão...
- Eu já avisei, Cassandra – digo lentamente – Não mexa com a Sam. Agora com licença.
Seus olhos levam alguns segundos, mas logo registram que eu falo sério. Não importa o quanto nos divertíamos antes. Agora tudo mudou.
- Recado dado e entendido. Mas mereço um adeus de maneira divertida – diz, e logo seus lábios estão sobre os meus.
Sua língua tenta passagem para dentro da minha boca, mas não lhe dou. Logo a empurro para longe. Seu batom completamente borrado. Em instantes tenho minhas mãos sob meus lábios esfregando freneticamente. Ela sorri satisfeita.
- Adeus, gostoso! – e sai rebolando.
- Merda.
Merda do caralho.
Ao meu lado Isaac tem seus olhos sobre mim, enquanto larga algumas notas sob a mesa. Seu amigo o acompanha quando segue em direção a saída, sempre me olhando. Em meios algumas cabeças posso vê-lo dizer algo ao filho da puta ao passar seu celular.
- Peter, vamos!