Uma Louca em Nova York

By caterinelondero

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Rachel sempre sonhou em começar sua jornada na Universidade de Nova York, ansiosa por independência e desejan... More

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Prólogo
02. Amável reencontro de irmãos

03 | Invasores, tacos de basebol e pantufas derrapantes

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By caterinelondero

A temperatura diminuiu abruptamente, e o envolvente aroma de um perfume amadeirado se mesclou à frescura do ar noturno, preenchendo o quarto. O lençol, cuja textura áspera me envolvia, já não proporcionava conforto suficiente. Os fios da minha franja dançavam diante dos meus olhos, causando irritação. Apesar do desconforto, ignorei-o até que uma brisa gelada acariciou minhas pernas, arrepiando-as.

"Será que esfriou tanto a ponto de uma calça de pijama e uma blusa não serem mais adequadas?"

Com a testa franzida, ponderava a resposta para aquela pergunta, tentando voltar a dormir. O silêncio noturno era interrompido apenas pelo distante ruído de carros na rua, mas foi o ranger de couro que rompeu o silêncio, despertando-me instantaneamente.

Sem mover um músculo, direcionei meu olhar para a janela recém-aberta em frente à cama. O som agudo do vento que passava pela abertura ecoava pelo quarto, mergulhado na escuridão, salpicado pelos ruídos da cidade.

O quarto, decorado com móveis minimalistas de cor branca, parecia ganhar vida sob a tênue luz lunar.

Antes de me deitar, fechei a janela. Por que ela estava agora aberta?

Um arrepio gélido percorreu minha espinha ao avistar uma silhueta intrusa na escuridão, envolvendo-me em um frio cortante e paralisante. Os olhos penetrantes encaravam-me com uma intensidade que me fazia estremecer de medo.

Meu coração martelava descontroladamente no peito, enquanto o medo e o pânico cresciam exponencialmente. Cada batida ressoava em meus ouvidos como um tambor, lembrando-me constantemente de manter a coragem e não ceder ao medo.

A adrenalina me impulsionou a saltar da cama de forma desordenada, gritando. Minhas mãos tremiam incontrolavelmente enquanto procuravam algo para me defender, fechando-se em torno de objetos quadrados – os livros que havia deixado na cabeceira antes de dormir. Tensão e medo emanavam através dos meus dedos trêmulos.

Por um momento, hesitei em confrontar o intruso, mas uma voz interior insistia que não poderia ficar parada e esperar pelo pior.

Lancei os livros contra o intruso sem parar de gritar, cada um arremessado representando minha luta pela sobrevivência. Meu coração martelava descontroladamente enquanto eu tentava encontrar uma saída para aquela situação assustadora.

— Socorro, tarado!

Uma onda de desespero tomou conta de mim, ciente de que estava sozinha e indefesa diante de um intruso desconhecido. Com os olhos fixos na silhueta ameaçadora à minha frente, dei um passo para trás, esbarrando em um abajur que tombou com estrondo.

Apesar de erguer as mãos em sinal de rendição, o desconhecido permanecia de costas para a luz da janela, seu rosto oculto na escuridão do quarto. Estaria arrependido?

Meus músculos tensos revelavam minha prontidão para o combate, enquanto ele mantinha uma postura defensiva.

— Calma, louca, eu não quero te machucar! — ele falou com calma tensa, embargado de apreensão e susto, tentando me acalmar.

Engoli em seco, confusa e desamparada. Será que meu ato de bravura e coragem havia funcionado? Ele partiria pela janela e voltaria ao lugar de onde veio? Deus havia tido misericórdia de mim e minha hora ainda não havia chegado?

— Quem é você e o que faz aqui? — perguntei, encolhendo-me contra a parede e apontando o último livro como uma arma, tentando afastar os pensamentos aterrorizantes.

Eu estava vulnerável como uma presa diante de um urso, e sabia que, se aquele homem quisesse, poderia me atacar. Mas era como diziam os sobrevivencialistas: se avistar um urso, erga os braços e grite bastante. Talvez ele se assuste e fuja.

— Vim consertar a janela emperrada — respondeu calmamente, embora sua voz quase não transmitisse convicção.

Um genuíno e temeroso "é sério?" escapou de meus lábios, incapaz de discernir a ironia em sua voz. Antes que pudesse processar a resposta, dei um passo para trás e caí sobre a cabeceira da cama, tomada pelo medo e nervosismo.

— É óbvio que não. Eu moro aqui, sua louca! Agora pare de gritar ou irá acordar os vizinhos!

Não tive tempo para ponderar sobre sua mentira, pois assustei-me quando ele se aproximou de mim, desencadeando meu pânico. Gritei ainda mais alto e arremessei o último livro em seu rosto, aproveitando a distração para empurrá-lo. Avancei pelo corredor escuro, a luz vacilante criando sombras fantasmagóricas ao meu redor.

Malcolm teve a mesma reação que eu, assustado e com os olhos arregalados, como se tivesse acabado de despertar e não soubesse o que estava acontecendo. Ao vê-lo, coloquei-me atrás dele e usei-o como escudo. Meus dedos trêmulos buscavam um apoio seguro, agarrando seus ombros.

Ignorei o fato de que ele estava apenas de cueca e segurava um taco de beisebol, apontando na direção do quarto. O som distante de sirenes ecoava na rua escura lá fora.

— Há alguém... — minha voz perdeu força, rouca de tanto gritar. Minha respiração era pesada e irregular, como se meus pulmões lutassem para capturar oxigênio suficiente em meio ao crescente pânico. — ...no quarto!

Malcolm correu para dentro, escorregando na meia que saía de seu pé. Acompanhei-o na ponta dos pés, certificando-me de manter o intruso à vista para não ser surpreendida.

A iluminação escassa destacava os feixes de luz que dançavam pelas cortinas semiabertas, pintando padrões oscilantes de sombras nas paredes. Nunca antes tinha sentido medo do escuro.

Mas meu irmão, sonolento, não percebeu a presença do intruso, embora estivesse bem à sua frente.

— Onde? — ele olhava em volta, desesperado, tentando despertar. — ONDE?!

— NA SUA FRENTE! — gritei, apontando para o invasor, que se aproximava da luz do corredor. Deixei a raiva fluir quando distingui seu rosto: — ESSE MALUCO, PSICOPATA, ENTROU PELA JANELA! ESSE...

Estava tão nervosa e cheia de adrenalina que as palavras fugiram e eu disse qualquer asneira que me veio à mente. Afinal, se eu morresse, essa seria minha última chance de desabafar com meu assassino. Que Deus me perdoasse pelo descontrole, mas eu provavelmente seria morta em segundos.

— DESRESPEITADOR DE MULHERES INOCENTES!

— Essa palavra nem existe — ele respondeu de forma irredutível e calma, demonstrando sua determinação e controle sobre a situação. Seus cabelos negros como a noite caíam em desordem sobre sua testa suada, enquanto tentava controlar a respiração acelerada.

Os vincos de tensão em sua testa e os olhos inquisitivos pareciam examinar cada movimento meu. Eu mentiria se dissesse que não estava morrendo de medo daquele cara. Sentia o formigamento nas pernas enquanto tentava me manter firme diante do intruso. Não podia demonstrar fragilidade.

Malcolm, finalmente parecendo despertar, relaxou o corpo e olhou para o intruso com descrença enquanto me perguntava:

— Você tá falando desse maluco psicopata?

Assenti freneticamente, como se ele fosse idiota e a resposta à sua pergunta óbvia, mas recebi um suspiro.

— Quem é essa maluca? — o desconhecido perguntou.

O olhei de cima a baixo, começando a ficar ofendida. Quem ele pensava que era?

Além de invadir meu quarto, ele era arrogante e prepotente, com sua postura rígida e assertiva, como se cada movimento calculado revelasse uma confiança silenciosa em sua própria presença. Céus, como aquele jeito dele se mexer me incomodava!

Ele havia acabado de invadir o meu quarto, pelo amor de Deus, o quarto de uma garota! Como ele podia sentir tanta paz e tranquilidade sendo um pervertido?!

— Minha irmã.

Realmente não sabia se devia ficar confusa ou ofendida.

Malcolm deu as costas e saiu do quarto, me deixando frente a frente com o intruso. De olhos arregalados, corri atrás do meu irmão, colocando-me à sua frente e impedindo-o de ir embora.

Malcolm era insuportável, mas nunca achei que também fosse burro, então gritei para ter certeza de que ele ouvisse (de repente estava surdo):

— Ele invadiu o meu quarto!

— Rachel, em primeiro lugar, ele é o meu colega de quarto e nós dividimos o apartamento — respondeu com um tom sarcástico, demonstrando sua irritação e descrença diante das minhas acusações —, e em segundo lugar, não tem como invadir algo que é seu.

Levei um tempo para processar e entender, mas quando todas as peças se encaixaram, uma sensação de alívio me invadiu ao perceber que Malcolm o conhecia e tudo não passara de um mal-entendido.

Foi como se um peso invisível fosse retirado dos meus ombros enquanto permitia que um suspiro profundo de alívio escapasse de lábios.

A tensão que me dominava se dissipou no ar, e o sentimento de alívio misturado com constrangimento me inundou. Mas, acima de tudo, senti pura gratidão e contentamento. Eu não iria morrer hoje.

Percebi que havia dado um tapa no peito de Malcolm quando a palma da minha mão ardeu.

Ele estava me provocando, não é?

— Você acha que isso aqui é um circo? — ignorei seus gemidos de dor. — Você está velho demais para continuar pregando essas peças estúpidas! — Cruzei os braços sem perceber que estava falando sem parar. — Saiba que não tem graça! Vou contar tudo para os nossos pais, e você vai ver o que...

— Pelo amor de Deus! — ele gritou, me fazendo calar, surpresa. — Eu já expliquei!

Eu estava me segurando para não atacar aquele moleque inconsequente e esganá-lo ali mesmo, na frente do desconhecido. Eu juro, estava prestes a cometer um ato de agressão física e ser presa por tentativa de homicídio. Meu sangue fervia, e sentia o rosto quente, provavelmente ruborizado, em uma mistura de vergonha, humilhação e raiva.

Se a raiva fosse um elemento químico, eu teria certeza de que estava começando a escapar em forma de fumaça pelo meu nariz.

— É sério, Logan é meu colega de quarto há dois meses — gesticulou impacientemente com o braço. — Eu esqueci de avisar quando você chegou, ainda não me acostumei a ter outra pessoa no apê.

Malcolm explicava aquilo como se a culpa fosse minha.

Como se a culpa fosse minha.

Minha.

Aquela era a maior provação de autocontrole que Deus me fazia passar.

Malcolm arqueou as sobrancelhas e gesticulou na direção do desconhecido como se dissesse "veja por si mesma", e assim o fiz.

Com um pesar no olhar, o garoto juntava os livros do chão, ou o que havia sobrado deles. Não havia me dado conta na hora, mas no processo, a maioria acabou rasgando, amassando ou se deteriorando fortemente.

Uma parte de mim se perguntava se ele realmente era uma ameaça ou apenas um inocente pego no meio de uma confusão. Mas o que me fez acreditar naquela situação foi que eu sabia exatamente qual era a dor de quebrar a lombada de um livro. E eu não poderia imaginar ter toda a sua estante de livros naquele estado.

Ai.
Meu.
Deus.

Abri a boca quando a ficha caiu.

Fiquei ali, estática e incrédula por alguns segundos.

Eu havia acabado de atacar a estante de livros de alguém gratuitamente. Se ele não me odiasse para o resto da vida, não seria nada.

Os livros eram dele, o quarto era dele e tudo que havia lá era dele. Eu havia dormido na cama de um garoto que eu não conhecia e ainda por cima o ataquei e machuquei com seus próprios livros. Se não fosse a adrenalina anterior e o ódio que passaram a correr nas minhas veias por causa de Malcolm, eu teria sentido vergonha.

Provavelmente me contorceria de vergonha mais tarde.

O celular do moreno começou a tocar, e sua reação ao ver a tela foi de suspirar:

— É o síndico. Deve estar querendo saber o que foi essa gritaria — esclareceu, afastando-se para atender.

Quando me dei conta, meus dedos já estavam puxando a orelha de Malcolm, enquanto ele choramingava como uma criança.

— Você alugou o meu quarto para um desconhecido?! — gritei a plenos pulmões, confusa e incrédula.

— Ele é meu amigo, e você nem morava aqui ainda!, eu... — enquanto ele falava, cerrei o maxilar de ódio e finquei as unhas em sua orelha. — Ai, ai, me solta! Me solta!

— E você não foi capaz nem de me avisar?

— Eu esqueci! — gritou, desesperado, escapando dos meus dedos e protegendo a orelha com as mãos. — Eu estava de ressaca, nem consegui raciocinar direito! E você nem avisou que vinha!

Ele mal conseguiu finalizar a frase, pois eu já havia pulado em cima dele com todo o ódio que 1,60 metros de altura poderiam armazenar.

O som ambiente foi preenchido pelas reclamações de Malcolm, tentando se desvencilhar das minhas agressões, enquanto o moreno conversava com o síndico pelo telefone. Aquele era o cenário mais caótico já vivido na vida, e olha que havia convivido 20 anos com o meu irmão.

Me afastei apenas porque fiquei cansada, pois satisfeita eu não estava.

Os seus cabelos loiros estavam bagunçados e as bochechas vermelhas. Os olhos castanho-amarelados me encaravam como se eu fosse desequilibrada:

— Pelo visto a psicopata aqui é você!

— A culpa agora é minha?! — inquiri com um misto de raiva e confusão, demostrando minha frustração diante da falta de comunicação e consideração do Malcolm.

Estava ultrajada demais para perceber que o moreno havia voltado e nos observava com as mãos nos bolsos, tentando disfarçar a expressão apavorada.

Eu estava constrangida.

Muito constrangida.

— Olha, me desculpa! — Me aproximei dele. — Foi sem querer...

— Sem querer? — me interrompeu o moreno com sarcasmo, incrédulo com a colocação de palavras.

Realmente... o corte havia sangrado bastante. E havia sido de propósito.

Acho que fiquei em silêncio tempo demais, pois as sobrancelhas dele se ergueram com curiosidade, e seus olhos brilharam com uma mistura de confusão e interesse, revelando um mistério por trás de seu semblante tranquilo.

— Quer dizer...

Engoli a seco, tomada pela vergonha na cara que pelo menos um dos irmãos Hawkins tinha.

A sensação de calor e um rubor se espalhava pelo meu rosto ao perceber a magnitude da situação embaraçosa em que eu havia me enfiado.

Decidi simplesmente fugir da situação, me virando para o Malcolm outra vez:

— Você queria que eu dormisse no sofá?!

— Sim?!

SIM?!

Antes que eu pudesse pensar em agredi-lo outra vez, Malcolm se antecipou. Seus passos apressados ecoaram pela sala enquanto ele fugia pela porta do apartamento, o som de suas pantufas batendo no chão de forma desajeitada, tentando escapar daquela situação desagradável o mais rápido possível.

Eu não estava acreditando.

Recuperando o fôlego, respirei com calma. Mas a calma só durou até eu me virar e perceber que estava sozinha com o garoto, que mantinha o olhar impassível sobre mim.

O medo da morte já havia ido embora, mas agora o peso do constrangimento e da incerteza voltava a esmagar meus ombros, tornando difícil respirar.

Em contrapartida, ele possuía uma expressão impassível, com os ombros relaxados, como se estivesse completamente à vontade na minha presença, apesar da situação desconfortável.

Que cara mais insuportável! Nada o abalava.

Sentimentos contraditórios tomavam conta da minha mente, debatendo comigo mesma sobre como reagir diante de tudo aquilo. Estava dividida entre o desejo de manter meu orgulho e a compreensão de que talvez eu tenha ido longe demais.

Mas já havia pedido desculpas. Isso devia ser suficiente, certo? Além do mais, eu me sentia humilhada e havia pago o papel de idiota na frente de um desconhecido, então meu reflexo foi tentar resgatar um pouco do meu orgulho.

Eu devia?

Provavelmente não.

— E você, não me olhe desse jeito porque esse quarto é meu, não importa para quem o meu irmão alugou! — o olhei de cima a baixo para mostrar que a situação não iria me abalar. — Você ainda invadiu o MEU quarto!

O olhar penetrante do garoto desconhecido me incomodava, e a intensidade de seu olhar e a maneira como parecia ler a minha mente como um livro aberto, cada pensamento e emoção transparente diante dele, me tiravam um pouco do sério. Ele estava tão confortável!

— Um invasor que paga aluguel todos os meses.

A voz firme, controlada e a sua calma impressionante diante da adversidade me surpreenderam. Para ser mais honesta, me humilharam. E para falar a verdade, eu não estava esperando que ele tivesse a audácia de responder às minhas provocações.

A tensão no ar era palpável, como se cada palavra trocada fosse carregada de eletricidade, pronta para explodir a qualquer momento.

Enquanto isso, minha mente se debatia entre o desejo de me justificar e a consciência de que minhas ações haviam passado um pouquinho dos limites.

— Aliás, você me deve livros novos, já que estragou todos os que eu tinha e ainda dormiu na minha cama sem permissão.

O desconforto quando ele bateu a porta na minha cara foi gritante, e a batida ecoou em meus ouvidos como um lembrete cruel da minha própria indiscrição. Naquele momento, minha mente havia tomado um veredito e se revoltado contra a injustiça de ser responsabilizada por algo que considerava um acidente.

E o verdito era que aquele garoto era a mais nova persona non grata do meu cérebro.

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