Eu já não falava com Nick havia algum tempo. Ele me mandara mensagens a semana toda e eu me recusara a responder todas, até mesmo a atender as suas ligações. Nem sequer suas mensagens deixadas na caixa postal tivera coragem de ouvir.
Também não falei com Marceline e bem pouco via minha própria mãe. Ficava o tempo todo no quarto e quase não comia, apenas me focara nos estudos e em qualquer coisa que não fosse me deixar chateada.
Estava deitada dentro da banheira cheia de espuma enquanto pensava sobre como havia decepcionado a pessoa que tanto me amava. Marceline nem sequer olhara para mim depois da mentira, nem viera tirar satisfações e eu decidi dar um tempo para ela pensar.
Noah dissera que seu pai passara a semana nervoso e desabafara com o garoto - o que ele estava achando estranho já que os dois nunca foram próximos.
- Ontem a noite o meu pai me pediu conselhos amoroso, dá pra acreditar? - Ele disse na quarta-feira.
- Sobre? - Perguntei, fingindo desinteresse.
- Ele disse que tem essa mulher que não está falando com ele. Disse que eles passaram uma ótima tarde, mas que ela nunca mais retornou ligações ou mensagens. - A medida que ele falava, meu coração acelerava. - Eu disse à ele para esquecer, partir pra outra. Ele é...
- Não! - Falei, alto demais, arregalando os olhos. Bianca e Noah me olharam confusos. - Não... Ahn... Talvez ela só esteja com problemas. Diga para ele dar um tempo e que talvez ela vai procurá-lo. Se ela gosta dele como ele disse que gosta...
- Eu não disse nada sobre ela gostar muito dele. - Noah franziu o cenho.
- Ah, não? Eu estou supondo. - Dei de ombros.
- Bom, de qualquer modo eu não acho que ele vá desistir. Meu pai parece gostar muito dessa mulher e ela faz bem para ele. Quem diria que estaríamos tão próximos?
Depois disso eu decidi não dizer mais nada, já havia me enrolado o bastante. Bianca ficou me fazendo perguntas incisivas, mas eu desviava com cuidado. Quando minha amiga queria, poderia descobrir as coisas com facilidade.
Me levantei e peguei a toalha para cobrir minha nudez. Tinha uma festa para ir naquela noite no Clube e decidi não recusar para não levantar mais suspeitas. O tema era realeza e eu decidi que ia com um vestido pelo qual me apaixonei. Ele era na cor creme, com detalhes em dourado, no estilo tomara que caia. Deixei meu cabelo solto e saí de casa para esperar minha carona.
Não falei com Marceline e minha mãe não estava em casa. Mesma situação dos últimos dias.
Quando Noah passou para me buscar, eu o vi dentro do seu smoking e não poderia negar que estava muito lindo. Sorri para ele e fomos em busca de Bianca.
- Você está muito linda, Blue. - Ele acariciou minha mão.
- Obrigada Noah. - Eu lhe sorri e olhei para frente.
Tinha que me lembrar que era errado todo aquele... Toda aquela... Eu não sabia bem o que era. Mas eu sabia que estava com o pai de Noah e qualquer interação com segunda intenções era errada.
Agradeci aos céus quando Bianca apareceu em um vestido rosa bebê com detalhes em rosa mais escuro e decote em forma de coração. Estava maravilhosa, com o cabelo semi preso.
- Vamos porque hoje eu quero dançar. - Comentou quando entrou, se ajeitando no banco de trás.
- Com esses saltos? Duvido que aguente cinco minutos de pé.
- Cala essa boca, Noah. - Revirou os olhos e passou a olhar a paisagem.
Fomos conversando sobre o que havia ocorrido durante a semana e Noah voltou a mencionar o seu pai.
- Ele disse que queria trazer a tal garota como acompanhante, mas não obteve resposta.
- Essa garota é idiota? Seu pai é um gato! - Bianca gracejou.
Revirei os olhos e bufei.
Resolvi que não ia responder nada ou poderia me complicar.
Noah me ajudou a descer, assim como fez com Bianca e deu o braço às duas, nos acompanhando para dentro do enorme salão. Os lustres imponentes tinham uma coloração amarelada, um grande tapete vermelho estava estendido desde a entrada até o final das escadarias e o piso cor de creme parecia estar mais brilhante.
As pessoas estavam todas elegantes, as mulheres de cabelo preso e de repente me senti deslocada, desleixada. Senti falta de Marceline me cuidando.
Fomos direto para o bar e eu logo pedi uma Cuba Libre. Senti o olhar de Noah pesando sobre mim e logo depois seu braço rodeou minha cintura, fazendo o garoto depositar um beijo em minha cabeça acima da minha orelha.
- Está bem? - Ele apertou sua mão e eu senti um choque ali.
Eu sabia ao que se referia a sua pergunta. Não gostava de beber e Noah sabia muito bem disso, de repente eu chegar pedindo Rum era no mínimo um grito por desespero.
- Tudo ótimo. - Sorri e, sem poder mentir olhando nos seus olhos, me limitei a olhar para o meu copo.
Suguei o conteúdo pelo canudo e fechei os olhos, não demoraria muito para que eu esquecesse de todos os meus problemas.
Seria uma verdade se no segundo seguinte o meu maior problema não aparecesse no alto das escadas, chamando a atenção de boa parte das pessoas.
Ele estava sozinho, fazendo jus à fama de solteirão cobiçado por boa parte das sócias do clube Renovación. Ele caminhou até o palco baixo montado do lado oposto do bar e, quando se aproximou do microfone, eu já podia sentir minhas pernas tremerem.
- Boa noite. Espero que se divirtam em mais uma festa temática. Ganhamos novos sócios, com isso, novos prestigiadores destes eventos.
Palmas foram ouvidas enquanto ele fazia uma pausa.
- Meu pai disse que as adesões aumentaram 20% em relação ao mês anterior. - Noah comentou entre mim e Bianca, para que ambas pudéssemos ouvir o que ele estava falando.
E eu não estava ao lado dele para prestigiar essa vitória, pensei.
- Muito obrigado à toda a minha equipe e em especial à vocês. - Ele piscou e saiu do palco com mais uma salva de palmas.
Eu fiquei procurando ele por entre as cabeças, mas perdi tão logo que desisti. Não era certo e ele não ia querer me ver tão cedo. Finalizei minha bebida e pedi a segunda.
- Vodka de maçã com groselha.
É, misturar ia ser ainda melhor.
Não demorou para eu estar levemente alterada. Quando percebi, já estava dançando com Noah e Bianca, rindo e cantando enquanto as músicas pop tocavam nos auto-falantes. Os pés ainda calçados mostravam que eu ainda não estava extremamente alterada ao ponto de perder a classe.
Não poderia dizer o mesmo de minha amiga Bianca, que já estava descabelada e descalça. Vez ou outra lançava olhares para um grupo de garotos e sumia, voltando algum tempo depois sem batom algum. Noah revirava os olhos e eu ria. Era a minha amiga, o seu jeito, e eu gostava dela exatamente como era.
Me afastei mais uma vez para pegar mais uma bebida, alcançando o bar com alguma dificuldade.
- Por favor, uma... - Alguns risos frouxos por absolutamente nada. O barman ria comigo. - Uma dose de tequila.
- Ahn, eu acho que você não quer perder seu emprego, não é mesmo? - Quem estava ao meu lado com uma expressão séria era ninguém mais ninguém menos que o próprio Nicholas Hayes.
Eu me apoiei com alguma dificuldade no bar e fixei meus olhos nele, completamente atordoada.
- Não, senhor.
- Ela é menor e se eu souber que ingeriu mais uma gota sequer de álcool, pode ter certeza que não estará presente nas próximas festas.
- Sim, senhor. - O homem se afastou, cabisbaixo e sério.
Nicholas me olhou e não parecia nem um pouco feliz. Engoli em seco e senti um nó impedindo que minha saliva concluísse seu caminho.
- Vamos, Blue. Temos algo importante a fazer. - Ele tocou minha cintura e me guiou pelo mar de gente.
- Nicholas, o que está fazendo? - Perguntei ainda sem entender nada.
Ele não me respondeu, continuou sério. Quando percebi, estávamos perto do palco onde um DJ dançava conforme a música. Nicholas gritou algo pra ele, mas eu estava um pouco tonta para compreender então apenas apoiei a outra mão em seu peito.
No microfone houve um anúncio.
- Senhoras e senhores, juntem-se com seus pares, é hora da dança principal.
Todos pareceram arrumar um par e, sem demora, Nicholas estava me levando para os jardins dos fundos do salão. Onde estávamos indo? Não era para supostamente estarmos dançando com os outros?
Um coreto foi avistado ao longe e sem demora estávamos ali. O lugar estava enfeitado com luzes do mesmo tom do salão, algumas flores também estavam por todos os cantos e aquilo era tudo o que eu conseguia notar.
Nicholas envolveu minha cintura com seu braço enquanto a outra pegava a minha mão. A minha tão fria e a dele tão quente. Deixei a mão livre descansar em seu peito e me deixei guiar enquanto Just The Way You Look Tonight do Frank Sinatra tocava ao fundo.
Algum dia
Quando eu estou terrivelmente pra baixo
Quando o mundo está frio
Eu sentirei um fulgor só de pensar em você
E de como você está esta noite
Ninguém disse nada. Nossos olhares estavam conectados e eu sentia meu estômago se agitar só por estar na sua presença. Meu Deus, como eu sentia falta do seu toque. Seu coração estava acelerado e eu o sentia por cima do smoking. Não poderia negar que o meu estava igual.
Sim você está encantadora
Com seu sorriso tão animado
E com sua face tão meiga
Não há mais nada para mim a não ser amar você
E como você está esta noite
- Você não me quer mais, Blue? - Começou, os olhos pareciam marejados de repente, mas a voz ainda estava firme.
- Não. - Ele franziu o cenho. - Quer dizer, sim. - E ergueu uma sobrancelha. - Eu quero você, Nicholas. - Sorri.
A cada palavra sua ternura aumenta
Acabando com o meu medo
E aquela gargalhada
Enruga o seu nariz
Toca o meu coração tolo
- O que aconteceu? Por que não me procurou a semana toda? - Seu braço se firmou na minha cintura e nossos corpos foram colados um ao outro com mais força. Mais um pouco e seríamos um só.
- Eu só... - Engoli em seco, piscando diversas vezes e respirando fundo para me acalmar. - Nick, Marceline sabe que eu sai com você. Eu não estou falando com ela e... Não sei, só não queria envolver você nos meus drama de adolescente bobos. - Dei de ombros.
Encantadora
Nunca mude
Mantenha esse charme de tirar o fôlego
Por favor não arrume isto
Porque eu amo você
Assim como você está esta noite
Ele parou de dançar comigo, me olhando nos olhos depois de revirá-los e adotando uma expressão suave.
- Blue, eu amo você, amo tanto que dói e, se tem uma coisa que seus problemas não são, é isso. - Ele beijou minha testa.
- Eu também amo você, Nick. - Toquei seu rosto com ambas as mãos e colei nossos lábios.
Ao contrário do beijo calmo que costumava ser, esse foi feroz, desesperado e cheio de saudade. Os braços fortes dele me prederam para si enquanto eu me preocupava em bagunçar seus cabelos. Ele me empurrou entre duas colunas e me sentou ali, espalmando as mãos nas minhas costas e tendo cuidado para que eu não caísse.
O sentimento ali era diferente, mais do que nunca quis com Zack, eu queria ele dentro de mim o mais depressa possível. Toquei seu peito por cima da camisa apenas, sentindo seu coração acelerado como antes - talvez não tivesse se acalmado ainda. Toquei o botão da sua camisa, mas sua mão forte me impediu.
Separei o beijo confusa, franzindo o cenho para o homem à minha frente.
- Não. - A expressão, mais uma vez, séria e autoritária.
- Não? Você não me...
- Eu quero você, Blue. Mas não aqui. Eu quero que seja perfeito.
Franzi o cenho e comecei a rir, mordendo o lábio inferior para me conter.
- Você sabe que eu não sou mais virgem, não é? - Ergui uma sobrancelha.
Ele uniu as sobrancelhas e logo em seguida pareceu surpreso.
- Tudo bem, mesmo se você não for virgem, Blue. Não quero que seja quando você está bêbada e, acima de tudo, não quero que seja em qualquer lugar, de qualquer jeito.
- Não é qualquer lugar. - Fiz um pequeno bico, descendo e entrelaçando os braços no seu pescoço. - É o nosso lugar.
- Menina Blue, vai ser quando tiver que ser. - Recebi um beijo na testa.
Naquela noite eu entendi que não teria sexo, mas acima de tudo eu entendi que namoro - ou o que quer que a gente tivesse - não era só isso, não era só carnal. Era sentimento, era companheirismo, era amor no seu sentido mais puro.
xxx