Sacrifício

Por LiviaLorena

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O mundo dos vampiros e dos humanos nunca mais será o mesmo. Ruby, já adaptada ao seu novo estilo de vida e a... Más

Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39

Capítulo 14

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Por LiviaLorena

— Ruby? Amor? Fala comigo!

— Aaron? — respondi como pergunta.

— Abra seus olhos. — senti leves tapinhas no rosto e me vi forçada a abrir as pálpebras — Merda!Merda!

— Calma. — toquei seu rosto, ainda revirando os olhos e buscando foco para distingui-lo das demais sombras da noite — Eu estou bem.

Toquei a testa e me dei conta de que ali havia um corte. Ele era pequeno, mas parecia já ter sangrado bastante. Instintivamente, busquei minha barriga e me desesperei com a ideia de ter acontecido algo de mal ao meu bebê.

— Aaron? — comecei entre os soluços que queriam vir — O bebê?

Sem ter certeza do que falar, o vampiro me olhou e pousou o ouvido sobre meu ventre, buscando o som de seu filho vivo.

— Calma. — ele respondeu, aliviado — Parece que está tudo bem. Acha que consegue ficar de pé?

Menos atordoada e nervosa, respirei fundo e acenei positivo com cabeça. Aaron passou os braços pelo meu corpo, já querendo pegar-me no colo, mas eu concluí que, apesar do estado final do carro, fora mais o susto. O antes veículo de luxo agora parecia uma lata velha amassada e torcida. Se fôssemos humanos, eu não tinha dúvidas que ainda estaríamos presos às ferragens ou com parte de nossos corpos espalhados por todo asfalto. Levei às mãos a cabeça ciente de que fora culpa da minha imprudência estarmos em tal situação.

— Aaron? — chamei, sentindo a cabeça latejar. Graças aos céus não havia nenhum outro ferimento grave em meu corpo, não fosse o corte na cabeça e alguns arranhões.

— Ruby! — ele me chamou, completamente em alerta, seu corpo com leves escoriações que já se fechavam sob a pouca luz da marginal — Fique atrás de mim.

Sentindo sua voz passar da tensão à ira, segui para trás de seu corpo e, sem saber o que fazer, busquei o aparelho celular na bolsa.

— Não foi um acidente. — ele concluiu e me olhou — Alguma coisa atingiu o carro. — Aaron estreitou os olhos e parou, como se tentasse captar os vestígios do que nos tinha atingido — Há um vampiro. — estremeci, pois eu pouco podia fazer numa batalha, pelo menos naquela situação — Posso sentir o seu cheiro. O rastro vem daquele lado. — e apontou com o queixo para um terreno baldio encostado à marginal.

Sem nada dizer, Aaron atravessou as pistas louco de raiva, esquecendo-se até mesmo que eu não conseguiria acompanhá-lo como uma vampira. Corri o mais rápido que pude, seguindo-o, parando de frente a um muro de cerca de dois metros que agora eu teria que me esforçar pra pular.

— Ok. — tomei impulso, dando alguns passos curtos atrás e, com muito esforço, consegui transpor a barreira. Meus sentidos tolos não me deixavam identificar que, diante de mim, além de Aaron, um pequeno vulto agachado nos contemplava. Ele estava longe de qualquer foco de luz, mas eu podia ouvir distante o sibilar de sua fome e sede, a garganta implorando pela bebida santa.

— Cuidado, Ruby! — Aaron alertou, já transformado e pronto para uma batalha.

— Foi isso o que nos acertou? — perguntei, me aproximando lentamente dele, como se estivesse diante de um animal irracional e eu tentasse não intimidá-lo.

— Sim. Uma jovem vampira.

A criatura pôs-se de pé e eu tive a real noção de seu tamanho. Menor do que parecia, forcei meus olhos e minha mente a crerem que tínhamos ali não uma adulta, mas sim uma criança, pouco mais velha que Cecília.

— Aaron? — perplexa demais, não consegui entender quem seria o responsável por minar uma vida tão jovem de modo tão cruel — Isso não é possível...

— Ela está faminta, Ruby. Ela quer o seu sangue, fique atenta. Não se deixe enganar pela aparência. — Aaron se aproximou ainda mais da vampira, que sorriu e sumiu de sua frente.

E eu, mais uma vez, não servia pra nada. Mais uma vez, a donzela em perigo. Aquilo já estava me cansando.

— Eu reconheço o seu cheiro! — o líder da RC baixou a guarda e disse, pausadamente, na esperança de fazer a criatura entender — Como ousam?

Num ato estúpido, a menina apareceu, querendo passar pela fortaleza que era Aaron naquele momento, como se buscasse me alcançar. Mais veloz e experiente, ele a pegou no ar, puxando seus cabelos, mesmo sob a densa noite, com precisão, pronto para arrancar-lhe a cabeça do tronco.

— Aaron, NÃO! — gritei — Ela é uma criança, ainda.

— Ela não é mais uma criança humana como Ceci, Ruby. — ele disse, sua voz demoníaca cheia de fúria e poder — Ela quer o seu sangue.

— Não tem necessidade disso. Ela seria uma tola se realmente o quisesse.

— Acho bom você ouvir a rainha. — uma nova voz preencheu o campo aberto e eu gelei, sentido de longe que mais três vampiros chegavam para aquele impasse — Senhor.

De baixo da luz da Lua, vi dois homens, um bem mais velho e um bem jovem, de no máximo uns 18 anos, virem cada um por minha esquerda e direita, respectivamente. Por trás de nós, uma moça de aparentemente 16 anos vinha, de presas salientes, passando a língua bifurcada nos dentes e nos lábios.

— Eu sabia que isso tinha sua interferência. —Aaron, ainda atado à criança que rosnava baixinho e se debatia, recolheu as presas e analisou bem ao redor. Mesmo que todos ali fossem vampiros novos e sem experiência, eles eram maioria. Eu não serviria para muita coisa naquelas circunstâncias, por isso, sem nenhum tipo de cuidado, ele simplesmente atirou o corpo da menina para longe, e o vampiro mais velho a alcançou antes que ela atingisse o chão.

— Isso são modos de tratar minha princesa? — o homem abraçou a criança, que agarrada ao seu pescoço parecia completamente inocente — Meus filhos você já conhece, estou certo?

Busquei os olhos de Aaron, imaginando qual sua ligação com aquele vampiro de olhos ensandecidos.

— Aaron, quem são eles?

Sob tantas sombras, a silhueta diante de nós tomou uma forma nítida e eu vi um homem de pele clara, jeans e camisa pra fora da calça. Busquei os outros vampiros que ainda há pouco estavam ao nosso redor, mas estes já se posicionavam ao lado do pai, que carregava a criança nos braços. Uma moça de cabelos cacheados e loiros, o rapaz de cabelo raspado e de pele acinzentada.

— Marcos? — Aaron me olhou e se colocou ainda mais à frente de meu corpo, tendo a plena certeza de que muito em breve nos atacariam — Como ousa pisar nessa cidade novamente?

Sem entender nada do que ocorria ali, tentei ao máximo parecer uma vampira perigosa, fazendo esforço para esconder a barriga.

— Se eu fosse você, tomava mais cuidado com a forma com que se dirige a mim. — o homem disse, caminhando lentamente até nós — Estamos em maioria. — ele olhou para os filhos, que estavam prontos para atacar.

— Você deve ter perdido o juízo para me afrontar assim. — Aaron também caminhou lentamente para frente, me deixando sem proteção.

— Se eu fosse você, Aaron, meu caro líder — um tom imenso de sarcasmo —, não tiraria os olhos da rainha e do seu filho no ventre dela. — olhei-o com raiva e ciente de que corríamos grande perigo — Minha filha aqui ainda ressente muito a forma como foi tratada por você.

Eu queria saber mais. Saber quem era aquele homem, como ele nos conhecia e parecia ter tanta segurança ao falar com Aaron. Queria saber as razões do ressentimento da jovem que me devorava com os olhos.

— Do que ele está falando? — perguntei, tocando o ombro de Aaron e chamando sua atenção — De onde você o conhece?

Marcos colocou a filha pequena no chão e fez sinal para que o rapaz a segurasse pela mão. A moça lambeu os lábios e apontou para mim. Eu podia ver que a presença daquele homem e sua família muito incomodavam o líder vampiro. Como poucas vezes eu vira antes, Aaron estava ao mesmo tempo furioso e amedrontado.

— Aaron? — o chamei novamente, dessa vez apertando seu braço.

Ele balançou a cabeça como se espantasse alguma coisa para longe e, depois de pensar por instantes, começou.

— Esse homem é um dos cientistas responsáveis por grandes feitos da medicina que conhecemos hoje. Ele trabalhou para nós e era um dos incumbidos a tratar do seu DNA junto de Nestor.

— Não, não. — o homem revirou os olhos, incrédulo — Conte direito minha ligação com os vampiros, Aaron. Mostre a ela o bom líder que você é!

— Como? — perguntei novamente, ciente de que Aaron omitia alguma coisa. Relutante, ele me olhou, já pedindo desculpas por algo que eu nem sabia o que merecia compreensão.

— Deixe que eu conto. — Marcos, por fim, falou. — Fui contratado para prestar serviços para a RC há 10 anos. Eu era humano, mas um humano digno o bastante para saber de toda a verdade. — virei o rosto para ele enquanto Aaron prestava atenção na minha reação — Estávamos fazendo testes e mais testes com DNA de vampiros e humanos, em busca de curas e vacinas. No laboratório, sabíamos da existência de uma rainha, mas ninguém tinha real ideia do poder dela e de seu sangue letal.

— Pare, homem! — Aaron ordenou.

— Não! — eu o repreendi. — Deixe-o continuar.

— Faz bem, senhora... — e Marcos me reverenciou. — As quantias em dinheiro que eu e meus colegas recebíamos pelo silêncio eram tão grandes, que cedemos diversas vezes à estressante rotina nos laboratórios. Afastei-me de meus filhos, da minha esposa. — ele abriu os braços — Mas um dia... — riu — Um dia tudo mudou, porque eu fui contaminado por um vírus mortal.

Aquela história me deixava ansiosa e temente ao que viria a seguir. Algo no passado recente de Aaron podia mudar muita coisa entre nós e eu estremeci com as possibilidades.

— Como eu era uma peça chave para as pesquisas, depois de muito deliberar com seus aliados, Aaron resolveu me transformar num ser das sombras. — olhei para o vampiro ao meu lado, incrédula que ele tivesse quebrado sua própria lei — Mas, como tudo tem um preço — Marcos suspirou como se realmente precisasse — Fixamos um acordo, um contrato... Onde eu me comprometia a me afastar de tudo o que eu mais amava.

Por um minuto, olhei para o homem frio e altivo diante de mim e me reconheci. Aquela incerteza de abraçar ou não a vida tão cheia de sangue e dor, abandonar tudo. As lembranças do passado, os anseios de um bom futuro. Ele tivera que abandonar filhos e esposa e eu me vi em seu lugar, pensando em como seria abrir mão de tudo, deixar meu bebê e Ceci por uma existência tão regada a morte.

— Sim. — ele confirmou ciente de que eu me vira em si — Temos muito em comum e, por isso, você deve imaginar como foi doloroso nos anos seguintes.

— Marcos... Por que isso agora? — Aaron perguntou.

— Porque logo as coisas vão mudar e eu quero estar perto para ver você e toda sua corja cair. — ele riu com deboche — Essa mulher, em seu momento de maior ira, não será suficiente para o que está por vir. — e voltou-se para mim — Ruby, dois anos depois de minha morte, eu me aproximei de minha família novamente. Minha esposa me viu. Na verdade eu queria ser visto, queria que ela soubesse que eu não estava morto. Queria poder senti-la, amá-la. Só isso. — seu tom de voz se alterou pouco a pouco, aumentando num som enfurecido, cheio de dor — Eles a mataram! Quando Aaron e seus aliados descobriram, puniram minha mulher com a pena de morte!

Olhei para Aaron tão em choque e sem palavras que estremeci. Seria ele capaz de tamanha crueldade?

— Isso é verdade? — perguntei, sabendo em meu íntimo que ele era frio o bastante — Aaron?

O vampiro me olhou e abaixou a cabeça, sem nada a dizer, somente consentindo com tudo o que Marcos praguejava.

— Esse maldito matou minha esposa por conta de uma noite! UMA NOITE! — sem controle, Marcos passou a andar de um lado a outro, completamente desesperado. Os filhos, sempre em alerta, vidrados nos movimentos do pai.

— Você sabia o preço. — Aaron esbravejou como se tivesse razão — Você sempre soube que esse era o preço. Eu não podia colocar em risco nossa família, nossa integridade, por conta de um deslize seu.

Afastei-me de Aaron sem reconhecê-lo. Quem era o homem que falava ali?

— Eu não acredito! — gritei, levando as mãos à cabeça.

— Sim. — Marcos continuou. — E ainda tem mais... Muito mais!

Abaixei-me e Aaron tentou puxar-me, mas, cheia de raiva, me desvencilhei de sua mão e o olhei de modo tão penetrante quanto ele costumava fazer.

— Não contente, Aaron mandou meus filhos para a adoção. Minha mais nova tinha só dois anos!

Tapei os ouvidos. Não queria mais ouvir tudo o que o homem ao meu lado fizera. Não queria associar tanta coisa brutal ao grande amor da minha vida.

— Cada um para uma instituição diferente. — as crianças emitiram um som grotesco e amedrontador. Raiva, ódio, frustração — E eu... Eu fui exilado. Mandando para fora do país com a promessa de que, se voltasse a pisar aqui, morreria. Ele não pensou duas vezes, quando deixou os três sem família, sem nada, temendo que tivessem visto ou soubessem de algo sobre os vampiros. Aaron e Nestor não me deram sequer satisfação de como estavam meus filhos nos últimos dois anos. Fiquei completamente sem notícias. Minha filha aqui — apontou para a moça e mudou de postura — sempre foi apaixonada por ele... E você sabe o que ele fez?

— Cale-se, Marcos! — Aaron gritou e eu o olhei, temendo com a minha alma as palavras que viriam.

— Ele seduziu minha filha. Ela só tinha 14 anos na época. Isso foi antes da minha transformação, pouco antes, na verdade. Eu sempre desconfiei do que tinha acontecido, mas preferi o silêncio.

— Não minta! — Aaron já não se continha de ódio. — Todos sabem o que essa menina fez.

Aaron me olhou como se tentasse se explicar, mas tudo o que meus olhos frustrados mostravam era desprezo.

– Ruby, não dê ouvidos a tudo o que ele diz! Aquela cobra foi até meu escritório e, quando eu cheguei, se encontrava nua. Completamente despida de roupas e pudor.

— E claro que você não poderia deixar de se deliciar nos braços dela!? — esbravejei, me pondo de pé. — Uma criança, praticamente!

— Sim! — Marcos passou as mãos no rosto da filha mais velha — Convicta de que ele a queria, ela quase enlouqueceu quando se deu conta de que fora só mais uma entre tantas.

— Não diga besteiras. — Aaron passou o braço por minha cintura e eu, mesmo cambaleando, me afastei, cheia de repulsa — Ruby, meu amor...

— Não fale comigo! — ordenei.

— Ele a tomou para si. O cheiro de uma virgem é tentador demais para um vampiro como ele. — Marcos olhou a filha com um falso carinho, exagerando um sentimento que, mais do que nunca, eu tinha certeza que vampiros não sentiam daquela forma — Agora ela quer vê-lo sofrer, bêbedo do sangue da mulher que está com ele.

— Você deve ter o suporte de alguém muito poderoso. — Aaron se aproximou do oponente — Voltou e ainda transformou os filhos. E isso tudo pra quê? Para me derrotar? Você sabe que não pode comigo.

— Eu não serei o responsável pela sua queda. E na verdade, minha caçula seguiu vocês desde o centro da cidade... Só vim para conferir até onde a sede de vingança dela era capaz de chegar. Claro que todos sabem da sua história, da história de como a mãe querida foi brutalmente assassinada.

— Você me culpa, quando o maior criminoso aqui é você. — Aaron parou para pensar — Dar a vida eterna a criaturas tão jovens não é alívio, é um sacrifício, um verdadeiro martírio. Você desrespeitou inúmeras regras, leis e não ficará impune.

— Mesmo só, a rainha na atual condição não serve para nada — Marcos apontou para mim e eu o fitei, nervosa – Você ainda tem coragem de me ameaçar?

— Não é uma ameaça. — Aaron disse — É uma promessa.

Ficamos alguns instantes sem dizer nada. Marcos, ciente de que pisava num território arriscado demais, mas de confiança inabalável.

— Você ainda tem muita pose para um homem que já perdeu todo o poder que tinha. — o pai, concentrado nas reações de Aaron, parou de caminhar e nos olhou. Algo dentro de mim afirmava que ele atacaria, mesmo que só para nos dar um susto.

— Nós dois sabemos que meu poder não tem limites. — Aaron retrucou, posicionando-se para contra-atacar — Ruby, afaste-se!

Olhei para ambos sem acreditar que lutariam pondo em risco as pessoas que amavam. O cheiro de batalha no ar, os sons loucos de ódio saindo das gargantas dilaceradas de desespero.

— Um homem que não consegue cuidar da própria família sozinho. — Marcos falou, quebrando toda tensão e se esticando — Você realmente mudou.

Perdida e sem conseguir captar muito mais do que acontecia, percebi que Aaron virou o rosto para trás e inspirou, deixando algum novo cheiro adentrar suas narinas.

— Nestor. — falou para si.

Olhei ao redor e inspirei algumas vezes, puxando o ar para tentar sentir algum novo cheiro, mas para meu infortúnio nada veio aos meus sentidos.

— Foi bom encontrá-lo novamente. — Marcos virou as costas e seus filhos continuaram nos fitando, como se dessem cobertura ao pai — Venham, crianças! — ele ordenou, percebendo que estavam concentrados demais em nós dois — Ruby... — então, me chamou — Eles estão sentindo o cheiro desse menino aí dentro. — levei as mãos de modo protetor ao meu útero e me espantei com o desdém com que ele se dirigiu a mim e ao meu filho — Cuide bem dessa criança. Tenho certeza de que o sangue dele não será letal como o seu, se você descuidar, certamente estaremos lá para trucidá-lo.

Aterrorizada e fraca com suas palavras, respirei fundo inúmeras vezes, tentando puxar o ar que faltava. Marcos sumiu num piscar dos meus olhos, deixando para trás palavras tão cheias de uma certeza que me arrepiei. Os filhos, mesmo a mais nova, já nos davam as costas me olhando desejosos, como se o nascimento da criança fosse um dia muito aguardado. Logo, tudo o que restou foi a leve presença dos quatro, e mesmo cheio de vontade de sair em busca deles, Aaron me abraçou e eu me vi obrigada a aceitar sua ajuda, pois a cada segundo eu me sentia pior.

— Acalme-se. — ele pediu, com o rosto colado ao meu — Ele não poderá fazer mal algum a você ou a ele. — e tocou minha barriga — Respire, Ruby!

Eu tremi. Tremi com a convicção de Marcos, com o ódio em olhos tão jovens, e tremi por acabar de conhecer uma faceta de Aaron que até então eu não conhecia. Ainda me amparando, ele virou-se e logo vi a silhueta de duas pessoas. Mesmo não conseguindo identificá-los pelo cheiro, percebi serem Nestor e Amir, e a certeza de que a ajuda tinha chegado, por hora, me tranquilizou.

— Como sabiam onde estávamos? — Aaron perguntou, me apertando.

— Marcos? — Nestor perguntou antes de responder — O filho da puta ousou voltar?

— Ele está confiante demais. — Aaron afirmou. — Ainda transformou os três filhos.

Nestor trazia numa das mãos uma arma de pesado calibre e eu tive quase certeza de que, se pudesse, naquele momento ele atiraria em alguém.

— MAS ISSO É UM ABSURDO! — explodiu. — COMO ELE OUSOU?

— Um homem que volta e toma tal decisão, certamente se sente seguro. — Amir completou.

— Isso é ultrajante. — o velho retrucou. — Vamos aniquilá-lo.

— Como fizeram com a esposa dele? — sussurrei, a voz ainda fraca por conta da falta de ar.

— Você não sabe o que diz. — Nestor me olhou, incrédulo — Tão jovem e tão cheia dos questionamentos.

— Jovem, mas não burra. — respondi e saí dos braços de Aaron, olhando-o com uma boa pitada de raiva.

— Ruby... — ele começou, vindo em minha direção — Aqui não é o lugar. Eu sei que lhe devo explicações.

— Você não me deve nada. — gritei. — Fique com sua consciência.

— Vamos embora. — Amir tentou nos interromper. — Temos homens vasculhando a região, Marcos e seus filhos não irão muito longe.

Aaron desviou os olhos para ele e acenou. Como se não tivesse me ouvido, estendeu a mão, buscando me tocar.

— Não encoste em mim! — alertei-o.

— Ok. — ele respondeu, vencido — Mas pelo menos vamos pra casa?

Sem responder, passei por ele rumo ao local por onde Amir e Nestor tinham entrado, no caso, um velho portão escondido sob um bom punhado de flores e mato crescido.

— Como nos acharam? — ouvi Aaron voltar a perguntar.

— Uma ligação. — Nestor respondeu rispidamente. — Do celular dela. Não chegou a ser completada, mas Sandro rastreou o lugar.

E, em silêncio, os três vampiros me seguiram para o SUV parado a poucos metros dali.

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