💜 LUNA

By IsabelaMiller

109K 8.5K 3.4K

SÉRIE NINFAS: LUNA - CONCLUÍDO TAYLA - EM BREVE MAYA - EM BREVE KYARA - EM BREVE KAYLA - EM BREVE PETRA - E... More

Sinopse
Capítulo 1 - O tempo
Capítulo 2 - Au Pair
Capítulo 3 - Olha a cobra!
Capítulo 4 - Cupcake ou Et?
Capítulo 5 - Pressuposto
Capítulo 6 - De chocolate...
Capítulo 7 - Abalada na balada
Capítulo 8 - Presença Vip
Capítulo 09 - Déjà Vu
Capítulo 10 - Prova de fogo!
Capítulo 11 - De conchinha no meio fio
Capítulo 12 - Invasão francesa
Capítulo Bônus - Rod
Capítulo 13 -Pau de Pau-lo
Capítulo 14 - Problemas com o Cox
Capítulo 15 - Senhora Dona de si
Capítulo 16 - R.e.c.a.l.c.a.d.o
OLHA ELA!
Capítulo Bônus - Melina Michelini Cartier!
Capítulo 17 - Todo mundo odeia o Chris
Capítulo 18 - No amor e na guerra
Capítulo 19 - Perigótica
Capítulo 2O - Flores
Capítulo 21 - Hot
Capítulo 22 - O mar
Capítulo 23 - De porta e ❤ aberto
Capítulo 24 - I Hate you, I love you
Capítulo 25 - Gabi, mais pura que dez virgens impuras.
Capítulo 26 - O povo de Marselha
Capítulo 27 - Lendo os sinais...
Capítulo 28 - As aparências enganam
Capítulo 29 - Mais perto da verdade.
Capítulo 29 - Continuação...
Povs - As mães das filhas de Alpha
Capítulo 31 - Reino de Luna
Capítulo 32 - Malandramente
Capítulo 33 - Eu vou roubar você pra mim
Capítulo 34 - Uma manobra arriscada
Capítulo 35 - Olha a mãe dela...
Capítulo 36 - Dia 'D'
Capítulo 37 - Por Luna Michelini!
Capítulo 38 - Sensível demais
Capítulo 39 - Minha clareza
Capítulo 40 - Tiro certo!
Capítulo 41 - Fogo e paixão
Capítulo 42 - Relaxa e goza
Capítulo 43 - Existe este lugar...
Um conto de amor 💞🔥
Capítulo 44 - Que comecem as batalhas!
Toda história merece um final!
Capítulo 45 - Os segredos de "La Luna"!
Cap 45 Parte 2 - Mais segredos de "La Luna"
POVs - Reta final!
Capítulo 46 - Após um furação...
Capítulo 47 - Vem o Arco-íris!
Epílogo
Presente Grego e Agradecimentos
"Q" de quero mais - 2° Livro

Capítulo 30 - Uma herança fwolfinha

1.7K 130 84
By IsabelaMiller

Boa leitura e enjoy :D

----------------------------<3

PARTE 1 - Luna/Gabi...

A minha cabeça está a bater como um sino. Girando, batendo, doendo. Parece que meu coração e meu cérebro estão prestes a explodir.

- Ei Lindys, está melhor hoje? – Rod me pergunta.

Fico calada, cada palavra é como uma badalada do sino em minha cabeça, que bate marcando a minha culpa.

- Gabi, migs... – Renatinha fala me abraçando. – Deixa a gente te ajudar. Fala alguma coisa.

Não, ninguém pode fazer nada por mim. Leiloei meu destino quando deixei minha família para trás. Agora só penso que estou tão encrencada que nem eles conseguiram me salvar de mim mesma. Estou arrastando pessoas que me amam para os meus problemas. O maior problema é que eles estão caindo e eu continuo de pé.

Uma lágrima cai. Me arrependo imediatamente de ter fugido ao invés de ter ficado e lidado com meus problemas, mas eu não quis ficar para sofrer as consequências. Eu era uma adolescente que queria ser livre, mas isso não é desculpa. Conscientemente eu sabia que assumir uma nova identidade poderia me trazer problemas no futuro. Só não contava com tantos e que eles envolveria, levaria tantas pessoas amadas. Agora estou tão ferida, arrependida e exposta que nem sei. Não sei porque ainda vivo se por minha causa inocentes se foram.

Ninguém me diz nada, mas imagino que meu rosto deve estar estampado nos principais jornais do mundo após o ultimo golpe de Christiano em minha vida. Se eu volto pra casa, corro risco de ser presa por falsidade ideológica e outros crimes pelo uso de identidade falsa. Passei por 6 países como Gabriele, posso ser indiciada e todos. Tenho duas opções: Voltar e viver escondida ou continuar vivendo minha vida como Gabriele.

Para continuar como Gabriele eu preciso urgentemente romper com todos da minha família e explicar á eles meus motivos. Meus motivos se resumem á vida deles. Não quero perder mais ninguém. Acredito que com a morte de Christiano, meu segredo foi enterrado. Pois ele era minha única ameaça.

- Tenho um evento no Brasil esse fim de semana. Terei que ir, mas eu trouxe alguém para te fazer companhia. – Rod diz.

Toda vez que o ouço falar á minha volta penso se ele também não é uma ameaça. Ele sabe quem eu sou e sequer bateu de frente comigo.

- Robert está aqui.

- Oi coisinha. – Ouço a voz de Betinho.

Seus lábios tocam meu rosto e ele me dá um longo beijo na bochecha. Betinho não é a primeira visita familiar que recebo. Papai, Tia Malu e Jay já passaram por aqui. Eu não falei com nenhum deles. Só ouvi.

Papai chorou, me pegou no colo, pediu perdão, me implorou para falar com ele.

Tia Malu falou que sabe que eu gostaria de voltar para casa e que ela adoraria poder me levar, mas que ainda não podia. Prometeu-me que ela e mamãe estariam encontrando uma solução para fazer os registros de Gabriele desaparecer. Explicou-me que precisarão de tempo, mas não muito e que em breve terão uma solução.

Tio Jay foi o mais direto. Disse que eu não poderia deixar a Austrália e mandou-me apagar as contas em redes sociais e evitar a imprensa. Também mandou eu cortar relação com todas as pessoas com quem Gabriele tem forte ligação, pois ela irá desaparecer e eles devem esquecê-la antes que isso aconteça. Deixou-me aparelhos eletrônicos novos e as chaves de um local no centro da cidade.

Entreguei duas páginas do meu diário para Tio Jay, que dizia:

"Eu tomei uma decisão no passado e só eu sou responsável pelas consequências dela no meu presente e futuro. Eu sabia do risco e mesmo assim arrisquei. Só pensei em mim. Não dividi minha dor com ninguém porque não queria separar minha família. Não queria ferir ninguém e hoje eu me vejo perdida em espectativas frustradas. Nada saiu como eu esperava. Aquele meu GRANDE problema de adolescência não é nada comparado aos que enfrento hoje. Eu era uma criança e ainda sinto que sou. Mas ao invés de voltar e enfrentar minha família quebrada, vou me acovardar e ficar aonde estou.

Eu não vou voltar, eu não quero ninguém me protegendo e assim arriscando sua vida por mim, porque eu não mereço. Ninguém mais vai leiloar sua vida pela minha como aconteceu com Wolf. Eu não pensei em ninguém quando deixei á casa de meus pais. Não pensei no sofrimento de ninguém e muito menos que arriscariam suas vidas pela minha. Wolf só queria me levar para casa e vou me culpar a vida toda pelos nove anos que eu fiz falta para ele e que nunca poderemos recuperar.

Prometo quando puder, aparecer para os visitar, mas como Gabriele. Luna morreu junto com Wolf, Suri e Lyh. Eu não quero ser associada á ao nomes Alpha, Michelini e Cartier. Deixem-me seguir minha vida, a que eu escolhi, pois eu tenho que concertá-la. "Por favor, parem de lutar por mim, pois sinto vergonha de mim mesma e peço perdão por todo transtorno que causo á todos."

Ele abriu e começou a ler. Me chamou de orgulhosa, pois eu preciso de todos assim como eles também precisam muito de mim. Não dei ouvidos. Tio Jay me balançou em seus braços, mandando eu começar a falar ou ele ia me obrigar.

- Eu escolhi isso pra minha vida. Quando puder irei á Nova York visitar papavih. – Foi o que eu disse.

Ele questionou sobre mamãe e os demais. Calei-me. Pois se há pessoas á quem eu posso culpar além de mim, esses são: Melina & Viggo.

- Luna. Nós não podemos te obrigar seguir nossos planos... Mas você tem que começar a nos ouvir, ou então enterrará á todos. – Tio Jay me disse.

Respondi á ele que o primeiro plano de mamãe e papai para mim,deveria ter sido considerar plano aborto. Se eu não tivesse nascido, quantos problemas e dramas teriam sido evitados. Que se hoje eu enterro pessoas, a culpa deles não foram inteligentes o suficiente no passado e não tomaram a melhor decisão que era interromper uma gravidez indesejada.

- Não culpe sua mãe, você não sabe o quanto ela se sacrificou por você. Garota você é muito ingrata. Quer um culpado, culpe seu pai e á você mesma por ser filha dele. CULPE A MERDA DE UM ESPERMATOZOIDE INSISTENTE QUE VOCÊ FOI! NÃO FALA DA SUA MÃE. – Neste momento, Tio Jay deu um murro no travesseiro quase acertando a minha cabeça. – Você só nasceu porque é uma merdinha insistente. Mano que caralho! Quer saber garota. Tem toda razão quando diz que não deveria nem ter nascido. Teria evitado mil merdas pelas quais sua mãe e todos nós já passamos por você. Garota você é amaldiçoada, se eu fosse você eu me matava. Sydney está cheia de pontes, escolha uma e se jogue.

Eu fiquei como?

Jay saiu e eu continuei assombrada. Ele chicoteou meu Cox com o chicote do bicho ruim. Foi um choque ouvir palavras tão duras saindo da boca de um tio tão querido, que sempre me disse coisas bonitas e que tanta coisa legal me ensinou.

- Você quer ir para um SPA? – Betinho tenta me fazer reagir.

Nego e ele continua tentando me fazer reagir. Ele conta sobre as lutas, me convida para morar com ele.

- Olha aqui. A policia liberou algumas coisas do seu apartamento.

Abro os olhos e espio. Vejo minhas esculturas de Ariel e Betinho os enfileira sobre a cama.

- Humm... – Pego-os e verifico se estão inteiros.

- Trouxe também seu baú de diários, suas plantas, as canetas...

Pego tudo.

- Papai levou Amô, ela está doente. Xena está sumida. – Betinho conta. – Os patos, o galo e os gatos estão em um hotel para animais.

Olho triste para Betinho, pois eu sinto muita falta deles.

- O médico que te viu pediu que déssemos um tempo com os animais até... – Rod se enfia na nossa conversa.

Fecho os olhos e finjo a demência da múmia mais antiga do antigo Egito.

- Rico, se manda cara. Não irrita a baixinha. Deixa ela em paz... – Betinho diz.

- Estou lhe dizendo coisas que você não saberá dizer.

- Demorou pra sumir daqui. – Betinho continua...

- Vou trazê-los quando os médicos permitirem. – Rod diz e ouço-o mais perto de mim.

- Ela vai morrer de tristeza. QUE MERDA RICO! O que você tem na cabeça? Tirar os bichos dela.

- Cala a boca Robert, estou fazendo o que é melhor para ela.

- Você é um babaca. – Robert e Rod discutem. – Eu vou dar um jeito de trazê-los. – Betinho me promete.

- Você não vai trazer nada. – Renatinha diz e eu me dou conta de que ela ainda está ali. – O médico disse que ela não pode ter bichos peludos.

- Basta tosar. – Betinho fofinho. – Eles sempre foram pelados por isso. E a cobra não tem pelos, tem casca.

- Eles sempre foram peludos e Gabi nunca disse-me que era asmática. – Natinha retruca.

- Ela não te deve satisfação. – Betinho continua me defendendo.

Eles discutem o que é melhor para mim como se eu não estivesse ali. Começo a chorar e eles param.

- VAI BUSCAR ESSES BICHOS. – Betinho grita desesperado. – VAI CARA! Rápido.

Ouço a porta bater.

- Eles saíram. – Renatinha diz ao meu lado. – Ai Gabi, essa bolsa aqui é linda, mas está cheirando menstruação.

Abri os olhos e vi a bolsa que Wolfinho me deu.

- Ninguém não respeita a minha dor! – Falo.

- Fica com a bolsinha menstruada então. Eu vou fazer alguma coisinha pra você comer, tem que se alimentar melhor ou aquela médica nunca vai parar de vir aqui nos xingar porque você está desidratada.Já volto.

Ela beija meu rosto e sai. Abro a bolsa, vejo os docinhos, chocolates, balas e noto algo diferente no fundo dela. Há um saquinho plástico.

- Maconha K2! – Leio a descrição do produto.

Pergunto-me como a policia não apreendeu isso. Pego o pacotinho e penso em dar uma pirada de despedida em homenagem a Wolfinho. Wolf faria isso se eu morresse. Abro o pacotinho e desisto. Prefiro guardar de recordação como o ultimo pó que ele não pôde usar. Agora entendo como o velho Wolfinho teve tanta força e disposição nos últimos momentos que dividimos juntos.

Ele estava chapadão!

Uma nova maconha sintética confere a seus usuários uma força sobre-humana e grande resistência à dor. É muito usado por foras da lei porque confere a seus usuários uma força sobre-humana e grande resistência à dor. Tia Malu me disse uma vez que ela produziu para os chineses, amostras dessa droga. Ela parece maconha, mas é misturada com produtos químicos, que é muito perigosa, nociva e não deve ser consumida em grandes quantidades por cardíacos e pessoas de idade avançada.

Então creio que na idade de Wolfinho, é suicídio usar isso. O que ele estava pensando quando usou isso?

Cada vez me sinto pior.

Vejo um homem gordinho de estatura média, ela sorri amigavelmente para nós e permanece onde está. Parado, completamente imóvel á beira da porta. Rod entra atrás dele e vem até mim.

- Como se sente? – Ele me pergunta e eu fecho os olhos. – Tudo bem. Eu entendo que ainda não queira falar comigo. Voltei para me despedir antes de viajar. – Ele beija meu rosto e eu cubro-me com um lençol. - Qualquer coisa que precisar, pode pedir á Zé Maria.

Meus olhos curiosos se abrem. O homem continua parado na porta me observando.

- Ele cuida da casa e lhes auxiliarão em tudo que precisarem. – Rod diz e o homem se aproxima.

Encolho-me na cama e começo a tremer. Rod nota e pede para que Zé Maria não se aproxime.

- Ela está sensível. – Rod diz ao tal Zé Maria.

- Entendo. Com licença. – Zé Maria diz se retirando.

- Não precisa temê-lo. Zé é de confiança, está em minha família á mais de 20 anos.

Agora que temo mais ainda. Rod toca meu braço e eu afasto sua mão.Fecho os olhos e imagino uma bolha. Eu só quero ficar sozinha comigo mesma.

- Fico fora apenas dois dias. – Ele insiste. – Tenho um presente muito bacana pra você e eu acho que irá te será melhor companhia do que eu tenho sido.

Todos os dias ele aparece com uma coisa diferente.

- Não quer ver?

Nego com a cabeça.

- É um telescópio luneta. Sei que você gosta da companhia das estrelas, então eu te deixo com elas.

Agora ela me deixou balançada porque me lembrei de Theozinho lá no Opera House me falando sobre meu amor pelas estrelas.

Faço sinal de negativo para Rod. Não quero luneta alguma.

- Não me puna assim. Já não sei mais o que fazer ...

- Nummm – Resmungo baixinho.

- O que você quer? Me fala pra eu te ajudar. Você não pode continuar assim.

- Nummm. – Nego chorando e ele me abraça.

- Theozinho. – Falo mesmo sabendo que ele pode ficar nóia por ouvir o nome de outro homem.

- O que? – Ele não entende.

- Lina... – Resmungo.

- Você quer ver a Lina?

- Lina e Theteozinho.

Ele se afasta e segura meu rosto com as duas mãos e balança a cabeça concordando.

- Me dê dois dias... – Ele diz como promessa.

Concordo.

- Mereço um sorriso em troca do que me pediu. Não mereço?

Sorrio e ele sorri fraco. Ele coloca a luneta nas minhas mãos e eu a abraço.Rod me abraça e beija minha testa por longos segundos. Então ele me solta,me lança um ultimo sorriso e se vai.

- Vou esperar Theo e Lina para usar o seu presente. – Falo antes que ele passe pela porta.

Ele sai e eu me levanto. Mexo nas coisas que Betinho trouxe e nos eletrônicos novos que Jay deixou para mim antes de me esculachar. Pego um celular, ligo e disco o número de Lina.

- Lininhaaa!

- LUNINHA? É você?

- Sou eu...

- LUNA, EU TO LOUCA COM VOCÊ. VOCÊ ESTÁ BEM?

- Não, mas eu vou ficar. Rod vai te trazer pra me ver.

- Rod?

- Simmm... O Henrico.

- Há; Ele está aí com você?

- Não mais. Ele vai para o Brasil e eu pedi que ele trouxesse você e Theteo até mim. Você vem né?

- Qua... Ni... Espera, deixe-me entender. – Ela faz uma longa pausa.

- Lina, vem, por favor!

- Eu vou, mas não estou no Brasil.

- E Theo.

- Theo?

- É!

- Ele vai.

- Ele vem se você pedir. Eu o vi no baile de Máscaras.

- Luna, aonde você está?

- Ora essa, em Sydney. Theo não te disse? Ele me prometeu que falaria com você.

- Não, ele não me disse nada. Vou matá-lo!

- Não mata não. Pega na mão dele e vem me ver. Eu não posso ir Lina.

- Eu vou, lógico que vou. – Ela diz brava.

- Você ficou brava?

- MUITO. COMO ELE NÃO ME DIZ NADA. ESTOU COM MUITA RAIVA. EU IMPLOREI PARA ELE ME DIZER AONDE VOCÊ ESTAVA E ELE NÃO ME DIZIA.

- Calma Lininha, agora você já sabe e pode vir. Quando eu tiver dinheiro e puder sair do país, eu vou te visitar aonde quer que você esteja.

- Sem dinheiro Luna? Tá louca? Bateu a cabeça?

- Ora essa, eu abdiquei da boa vida quando saí de casa.

- Só você mesmo. Virou Hippie?

- Aaaaaaaaaaai Lina!

- Luninha, eu tenho que atender Theo e...

- Atende, atende. Conta pra ele.

- Conto.

- Tchau. Até segunda.

- Não sei se irei segunda.

- MAS LINA! Insensível.

- ATÉ SEGUNDA! Pronto!

- Pronto. – Concordo satisfeita.

- Te amo. – Ela diz.

- Também te amo. Um beijo para você e para o bebê.

- Ownn... Ele manda outro. Te amamos.

- Até.

- Até.

Desligo e vejo Renatinha parada atrás de mim com as mãos na cintura.

- Comigo nem fala, essa daí do telefone ama. O que deu em você? Animou do nada! Rod te pediu em casamento.

- Não. Melhor que isso. Ele vai trazer dois velhos amigos para me ajudar.

- Ahhhhhh que cacho de acácias!

- Hã?

- Ouvi Caetano.

- Hã?

- Seu boy não para de tocar viola e cantar cacho de acácias. Sei lá o que é isso. É coisa dele e ele canta mal viu migs!

Será que ele me serenata e eu não ouvi?

...

Passei o resto do dia pensando no que seria legal fazer com Theozinho e Lina aqui em Sydney. Lina como eu ama praia, Theo não ama tanto. Ele prefere shopping, restaurantes, clubes de campo. Ele é fino, nós bagaceira.

À noite fiquei imaginando nós três juntos outra vez e a madrugada também. Pela manhã de sábado arrumei minhas coisas e quando peguei a bolsa que Wolfindo me deu,mais surpresas. Encontrei um papel contendo o número de rastreamento de uma transportadora, um fecho de chaves e uma nota fiscal toda rabiscada.

"Se alguma coisa acontecer com o tio Wolf, chore, mas não abandone o unicórnio trancado. Encontre-o além do arco-íris!" – Leio o rabisco de palavras confusas.

Só sei amar esse pedaço de papel. Como pode uma pessoa ser tão fofa como o Wolfinho? Tão doce. Olha isso. Ele deve ter escondido um unicórnio de pelúcia em algum lugar de Sydney.

- Que isso migs?

- Wolfinho deixou para mim.

- Ele te deixou um tesouro?

Em baixo do recado mostro um mapa desenhado para Renatinha.

- Você não está pensando em ir nesse lugar, está?

- Em vez do pote de ouro no final, eu vejo a cabeça de um unicórnio. Olha Natinha. Acho que ele me conseguiu um unicórnio.

- Isso não existe.

- Existiram sim, foram extintos há cerca de 29 mil anos.

- Então morreram e não deixaram raça. Isso não existe mais.

- Mas e se ele conseguiu um.

- GABI, se ouve!

- Mas...

- Dá isso aqui. Eu vou nesse endereço verificar.

- Ta.

- Esse lugar é de bacana. Você não quer ir comigo? Levamos Otavio com a gente e...

- Não vou sair.

- Migs, uma hora você vai ter que sair.

- Numm...

- Você que sabe.

...

Renatinha voltou uma hora depois dizendo que não encontrou nada no endereço. Fiquei com aquilo na cabeça o dia todo, pois Wolfinho nunca me enganaria.

- Em algum lugar ele escondeu o unicórnio. – Falo para Otávio.

Ele ri, assim como Renatinha. Os dois saem e me deixam sozinha com meus pensamentos.

Fiquei com aquilo martelando na cabeça. O que ele quis dizer com não deixá-lo trancado.

- É um trocadilho. Wolfinho não iria querer que eu ficasse trancada. – Falo sozinha.

Tiro os pijamas que uso á dias e procuro uma roupa nas malas que Betinho trouxe. Me visto e pego tudo que preciso. Saio e todos me olham assustados.

- Vou soltar o unicórnio.

Natinha bate palma e faz uma dança estranha. Otavio chama dois seguranças para irem comigo e eu recuso.

- Vou sozinha.

- Eu vou com ela. – Renatinha diz me acompanhando.

Saio e a luz do sol do fim de tarde mesmo fraco me cega. Estou á dias trancada em um quarto. Dentro de uma casa toda escura, sem vida, sem plantas, sem animais. Uma casa de paredes de cimento queimado, pisos e azulejos de mármore preto e cinza. Muito triste e depressiva.

Meu carro estava parado no estacionamento, Renatinha dirigiu seguindo as minhas orientações. Chegamos á um apartamento no centro que fica nos fundos de uma boate e em uma área boemia da cidade.

- Vou filmar isso porque se der BO temos tudo registrado.

Entramos e ...

- AAAAAAAAAAAAAAAAAAAA – Grito correndo em direção ao unicórnio. – Fofinho!

- QUE HORROR! – Renatinha grita.

- É LINDO! – Grito de volta correndo para abraçar meu pelucinha.

- JESUS CRISTO, QUE BICHO É ESSE? 

- Um unicórnio.

- É um pônei com um troço de bosta pregado na testa.

Olho para o bichinho e tampo seus ouvidos.

- Nãoooo... Eu sou lindo e encontrei minha dona. Vamos passear no parque e nos fins de semana iremos para a praia surfar.

- Ai Gabi, não sei se acho isso bom ou ruim. Olha, se isso de passear no parque for sério, eu vou fingir que não te conheço. 

- Ah, ele é chata. Não lhe dê ouvidos. – Falo com o unicórnio.

- Esse Ap é legal Migs, será que deixou de herança?

- Eu acho que não... – Solto o bichinho e ando pelo apartamento. - A herança que ele me deixou foram os momentos de diversão, alegria e esse pequeno unicórnio representa toda magia que ele criava para me fazer sorrir.

- Ahhhh migs, você é tão sensível. Ele era um tio legal né.

- Muito especial.

O unicórnio me segue e fica mordendo minha perna. Ele estava com fome. Procurei o que Wolf dava para ele e encontrei muitas cenouras na geladeira. Renatinha correu para dar-lhe cenouras e eu fui desbravar o cantinho de Wolfinho.

Não havia muitas coisas, apenas poucos móveis e contas atrasadas para pagar.

- Gabi , tem um cartãozinho preso no sininho da coleira dele.

- É cela.

- Que seja. Ó AQUI Ó! É um presente de Melina Michelini para a ovelhinha.

Corro até ela e vejo o cartão. Abro e vejo a letra de mamãe. Renatinha abre a porta da área de serviço e me mostra um caixote.

- Ele deve ter vindo aqui. Ó, ta aqui o endereço. Ele veio da França, há 2 meses atrás.

Wolfinho não me entregou porque queria dá-lo para mim e não para a ovelhinha que até então ele não sabia se tratar de mim mesma.

- Aaaa tadinho. Agora entendi o recadinho.

Ele pensou que talvez não teria tempo para me entregar o presente de mamãe e me deixou o recadinho lúdico. Fofinho!

Eu me lembro de alguém me dizer que mamãe me mandou um presente, se não me engano teria sido Robert. Foi logo após a noite em que Christiano foi preso. Eu nunca procurei saber do presente, então era isso.

Renatinha me mostra os documentos do bichinho. Ele está no nome de Gabriele Silva dos Santos e vejo que está legalizado. Tem até o endereço do haras aonde ele tem uma baia. Mamãe pensou em tudo.

- Vamos levá-lo para o Haras.

- Não... Ele vai com a gente.

- Pra casa chique de Rod? Ta louca?

- É dele aquela casa?

- Lógico. De quem pensou que era?

- Sei lá. Eu nem estava ali. Aiii Natinha esse unicórnio fofo veio para mudar as minhas perspectivas.

- É? E como?

- Você vai ver! Estou um pouco atrasada, mas espero que ainda dê tempo.

- De que?

- De fazer as coisas direito. Ficarei longe de confusão.

- Que bom ouvir isso migs. Você precisa mesmo diminuir o ritmo das loucuras em série.

- Acho que basta. Só quero ser uma pessoa normal. Para começar, não posso ficar na casa de Rod. Eu preciso encontrar um novo lugar e um emprego.

- Eu te entendo. Rod era amigo do dito cujo lá e eu também estou com um pé atrás.

- Você ta?

- Sim. É estranho Gabi e a vida da gente é algo muito frágil. Melhor não arriscar.

- Ele nos salvou. – Falo de Rod.

- Eu sei, mas é estranho mesmo assim. Pois eles eram muito amigos. Não esquece que eu trabalhei para aquele filho da puta. Rod só é dono de empresa porque o diabo investia nele. Aí tem Gabi.

- O que tem?

- Tem que desenhar?

- Se puder.

- Migs, ele matou o demo para sanar suas dividas com ele.

- Sanar?

- É, se livrar...

- Não, eu sei o que é. Só estou estranhando seu vocabulário.

- Há hahahah eu vi na TV um economista falando que era vantajoso para Rod o demo morrer.

- Hummm.

- Agora Rod deve para você!

- PRA MIM?

- Então Migs. Não é estranho. Ele te levar pra casa dele logo depois do que aconteceu? As Bis tentaram te levar pra casa delas e ele e Otavio não deixaram.

- Porque você disse que Rod deve para mim?

- Porque o demo antes de fazer a merda, deixou um documento deixando tudo que estava no nome dele para você.

- ORA ESSA, EU NÃO QUERO ISSO.

- Dá pra mim então que eu quero.

- RENATA.

- Estou zoando. Eu não quero nada do demo, mas se você...

- EU NADA! Que absurdo isso! Ninguém me disse nada!

- Você não falava com ninguém e a psicóloga nos orientou não tocar no assunto.

- Mas... Mas... Mas... – Deu gagueira. – Ele estava preso justamente por ser ladrão, por ter negócios ilícitos.

- Nem todos né migs. O cretino era esperto. As empresas dele foram investigadas e nada ilegal foi encontrado nas daqui da Austrália e em outro país aí. Agora tem umas farmacêuticas aí na Alemanha e na Coreia que deu ruim. Era tudo de fachada. Lavavam dinheiro. Contrabando mesmo. Tinha até trabalho escravo pro meio.

- Você está bem informada!

- Eu assisto jornal e tenho um aplicativo policial no celular. Você também deveria ter.

- Não gosto dessas coisas.

- Sei. Agora sabe por mim.

- Por isso a policia me interrogou tantas vezes! Eles suspeitam que eu e Rod armamos para o demo!

- Não. O demo deixou um vídeo bizarro. Uma gravação aonde ele falava da amizade e da honestidade de Rod. Pede perdão por ter que te – Natinha faz um sinal de forca passando a mão pelo pescoço. – Sabe né migs.

- Ele ia me matar.

- Ia.. E deixou um vídeo pro migo.

- Ai, to confusa. Minha cabeça ta doendo.

- Vamos embora.

...

Colocamos o unicórnio fofinho na carroceria do carro e paramos na boate das Bis que fica na mesma rua. Elas nos mostraram um cômodo vazio em cima de uma garagem. Esse local fica dentro da área da boate.

. O cômodo que elas alugam fica em cima de uma garagem.

- É muito seguro, nós moramos no apartamento ao lado, germinado á esse. Usamos a garagem embaixo desse, mas ele tem saída independente, mas você pode guardar seu carro lá para não deixar na rua. O mesmo sistema de segurança daqui é o de todo o terreno em volta da boate. .

- Posso ficar aqui?

- Pode pagar aluguel. – Shiva é sincera. - Mas seremos camaradas.Você pode pagar água, luz e gás como aluguel.

Olho para Renatinha e ela concorda.

- Ok.

- Tem alguns móveis da boate lá no fundo, você podem usar o que quiser. Em tempos em tempos mudamos a decoração, talvez precisaremos pegar algo de volta vez ou outra. É normal. Móveis entram e saem o tempo todo.

- Entendi, são emprestados e vez ou outra vocês podem precisar de algo para voltar á decorar a boate.

- Isso. – Elas concordam. – Você pode ver que tem uma cozinha americana e o quarto fica no sótão.

Ensaio para pedir algum serviço para elas enquanto olho em volta. É apenas um grande cômodo com uma cozinha e um banheiro em cima garagem.

- Gabi precisa de emprego. Se vocês souberem de algo discreto para ela fazer, nos avise por favor meninas. – Natinha fala por mim.

- Pam precisa de alguém na sua confecção? – Shiva diz.

- É, acho que sim. – Ela diz pensando. –Biuni, sou gerente de uma confecção de médio porte e estou sempre precisando de pessoas para trabalhar na mesa de reparos. Interessa-lhe?

- Sim, com certeza.

Nem acredito.

-Vou te passar o endereço. Apareça lá segunda-feira e procure por mim.

- Obrigada Pam!

- Por nada Biuni. Nosso lema é "Umas pelas outras", sempre. Pode contar com as Bis para qualquer coisa.

- Awn que lindas. – Falo as abraçando. – E que horas eu vou trabalhar?

- Dás 7 ás 4 com 1 hora de almoço e outros 15 para lanchar.

- Ta bom! Estarei no endereço que me passar amanhã ás 7.

- E eu estarei arrumando nosso barraco.

- Nosso não. Meu! – Falo e Renatinha arregala os olhos.

- E eu?

- Eu vou morar sozinha. Preciso disso.

- Você pode vir morar conosco se não houver nada que te impeça. – Shiva diz.

- Na hora. Não tem nada não! Há, e Gabi tem um unicórnio. – Renatinha lembra desse pequeno detalhe.

As Bis fazem um escândalo e exigem ver o pobrezinho. Mostro para elas e pronto. Apaixonaram-se pelo meu bichinho exótico.

...

Nem voltei para a casa de Rod. Passei o dia com as Bis vendo o que podia levar para o novo apartamento. Por ser uma boate de sócias Gays, haviam muitos móveis cor de Rosa e Roxo púrpura. Identifiquei-me na hora. No entrar da madrugada, eu já tinha muitas coisas claras na minha cabeça.

Pego uma agenda vazia e anoto alguns pontos:

1. Não importa como eu me sinta por dentro, não posso voltar para minha família sendo Luna;

2. Eles irão conhecer Gabriele.Voltarei esporadicamente, mas para visitá-los.

3. Tornei-me uma inconsequente desde que conheci Rod. Minha ficha caiu e agora sã outra vez, assumirei responsabilidades e as desenvolverei com rigor como antes.

4. Abdicarei da herança que aquele monstro me deixou.

5. Os homens que se aproximam de mim não estão necessariamente interessam por mim, na verdade, me usam para entrar para minha família. As mulheres que me encontraram são falsas (Rubi, Senhora Paola..). As mulheres que eu encontrei, são amigas fiéis (Renatinha, Shiva, Pam, Candy e Divine)

6. Rod não é quem ele diz ser e já é completamente claro/transparente que sou parte de algum plano dele, assim como era para Christino;

7. Rod matou Christiano, achei heroico na hora, mas agora eu tenho certeza absoluta que não foi para preservar a minha vida, foi sim para salvar sua própria dele;

8. Irei velar as pessoas que eu amo no silêncio e na solidão do meu novo cantinho. Rezarei para que encontrem a paz e farei coisas por mim que os deixariam orgulhosos e felizes;

9. Meu coração está despedaçado, mas nem só de coração é feita a minha carne. Continuarei de pé e darei a volta por cima.

10. Eu sou uma princesa, mas mamãe nunca me iludiu. Ela me avisou que contos de fadas não existem. Descobri da pior maneira, mas ainda sou uma princesa.

11. Gostaria de ser uma princesa das galáxias, mas sou a das trevas e minha luta será manter a escuridão restrita á mim, sem deixar que ela atinja e destrua mais pessoas especiais para mim.

12. Cuidarei da minha saúde e também de trabalhar, estudar, de me divertir e de voltar a escrever em meu diário.

Todos os dias, irei ler esses pensamentos antes de iniciar meu dia. Será o meu mantra antes da meditação.

De volta aos velhos hábitos. Levanto-me, visto minhas roupas de ginástica e procuro um local calmo para meditar.

...

Ás sete em ponto eu estava no endereço que Pam me passou por SMS. Para minha surpresa total, eu não era a única na fila do pão. Lá haviam outras 23 pessoas, divididas em homens e mulheres. Pam apareceu e falou brevemente com todos. Explicou que passaríamos por treinamento para ver aonde cada quem se encaixaria melhor.

E assim foi.

Passei a manhã recebendo orientações e sendo testada junto aos outros. No horário do almoço Renatinha apareceu por lá e levou almoço para nós duas. Após o almoço continuamos na mesma rotina da manhã. No final do dia um a um foi chamado e me colocaram na tarefa de desenho e corte de moldes para confecção.

Nada demais. Fiz corte e costura na escola Suíça. Aonde me colocarem, saberei como fazer.

Saí da confecção e dei de cara com Rod.

- Boa noite. – Ele disse vindo apressado em minha direção.

Deu-me um abraço apertado e disse que estava com saudades. Eu realmente não acredito em uma só palavra e isso dói muito.

- Shavana me disse que você estaria aqui, não fique brava com ela. Eu a fiz falar. O que vai fazer agora, posso te acompanhar?

Shavana seria Shiva. Ele nem sabe o nome das minhas amigas, pois não se importa. É um dissimulado egoísta.

- Pode entrar no seu carro e ir cuidar da sua vida e deixar eu viver a minha em paz. – Falo e ele demonstra espanto.

- Gabi...

Isso que me cansa. Ele continuar ignorando o fato de eu saber que ele sabe que sou Luna e insistir em continuar me tratando como se nada tivesse acontecido.

- Eu te levo. – Ele insiste abrindo a porta do carro e eu nego. Não quero nada que venha dele. – Não seja teimosa, entre. Vai andar quantos quarteirões com esse sapato.

Olho para os meus pés. Não há nada de errado com meus sapatos, eu mesma o pintei e apliquei as miçangas.

Ele é lindo. As bis amaram.

- Tchau! – Falo saindo.

Ora essa, irei andar um quarteirão apenas. A confecção é próxima da boate e das casas de aluguel da meninas.

Ando pela calçada e não olho para trás. Mais a frente eu vejo um policial de costas parado na próximo á entrada da boate, bem ao lado de aonde eu devo entrar.

. Passo por ele e não olho para o lado.

- Hey... – Ele me chama e segura minha mão. – Tem um minuto?

Nego fazendo um sinal com as mãos e me solto.

- É sobre sua irmã. – Quando ele diz isso, meu sangue gela.

Viro-me e vejo Otávio vestido de soldadinho.

Ai... Que agressivo!

Fico só olhando. Não falo nada.

Será que ele veio para me prender?

Rod estava o ajudando me investigar e ele me entregou, agora... Aiiiiiiiii

- Sou eu Gabi... – Ele diz se identificando.

É outro sonso igualzinho Rod. Se são próximos á ponto de Rod deixar passar um nheco nheco na praia, deve ele saber muito. Otavio é de MUITAAA confiança. Ele também sabe que sou Luna.

- Hummm... – Eu sei meu rapaz.

Sínico.

Veio me prender fantasiado de soldadinho. Achei ofensivo!

- Eu não vou com você! – Falo soltando minha mão da dele. – To vendo o canivete.

- Uau... Você viu! Hahahaha

Atrevido! Fica exibindo canivete bem na protuberância localizada abaixo da cintura e acima das pernas.

- Se vai me prender. – Estico os braços unidos. – Faça, não precisa se fantasiar de soldadinho. É completamente abusivo, um desrespeito.

- Eu não vim te prender. Estou com uma equipe vistoriando a boate.

Sério?

- Aaaaaa ta e você não é sínico. Com licença! – Falo indo em direção ao meu portão.

- Quando terminarmos, passo para conversarmos. – Ele grita nas minhas costas.

- Eu não falo com soldadinhos mascarados. – Aponto para a máscara (ou capacete) em suas mãos.

Ele diz e não entendo.

- Você é demais garota. – Ele pisca e entra na boate.

Abro a minha porta e entro correndo. Batem na porta. Olho no olhinho mágico e vejo Shiva.

- Ora essa Shavana!

- Não me ofenda pequeno pônei. Para as migs, apenas Shivá!

- Hummm...

- Hospedei o unicórnio no gramadinho dos fundos, demos feno e cenouras. Estamos encantadas e queremos alugá-lo para performar com ele na boate na matinê de domingo.

- Shivá, se ele bater duas vezes a patinha é sim, se não bater nenhum é NÃO! E migs, não conte para ninguém, mas ele é um pônei com um adereço colado na testa.

- Jura? Nem notei.

- É sim, mas não fale perto dele. Pode magoar os sentimentos de unicórnio dele.

- Ok!

Depois de me convencer alugar meu unicórnio ela me perguntou sobre meu dia e disse que arrumou um cantinho nos fundos para eu colocar meus bichinhos.

- Amo bichos e bichas. – Ela faz um trocadilho. – Eles podem ficar no nosso apartamento se você não quiser deixá-los do lado de fora.

- Resumindo: Você quer meus bichinhos para vocês. Não, não! Eu os exportarei. Lina os levará com ela.

Já tenho tudo planejado na minha cabeça.

- Lina?

- Uma pessoa.

- Que nome feio.

- Feio são aqueles soldadinhos na sua boate.

- Você viu? Gatéééézimos! As meninas estão com a tchaca fervendo.

- Elas têm xana?

- Pam tem.

- Pam não é menino?

- Não. Pam nasceu menina.

- Nossa.

Shiva ri e continuamos jogando conversa fora enquanto eu me arrumo para ir para a faculdade. Termino e saio. Tranco tudo e me despeço de Shiva.

Na faculdade foi tranquilo, ninguém falou comigo, só me olharam curiosos o que acho normal perante aos últimos acontecimentos. No final da aula eu vi Peter, ele me viu, mas ignorou. Achei por justo ligar na policia e fazer uma denuncia anônima. Espero que eles deem um sustinho nele e ele arraste sua chinelinha suja para bem longe daqui.

Cheguei em casa e a boate estava fervendo.

- Gabi...

Procuro quem me chama e mais uma vez vejo Otavio. Ele ainda está fantasiado.

- Podemos conversar agora?

- Sobre?

- Sinceridade! É tudo que posso lhe adiantar.

- Se tiver uma ordem judicial pode entrar, se não tiver não vai me obrigar á nada.

Nadinha mesmo.

Ele sobe os degraus e para ao meu lado.

- Por favor! – Ele pede e cedo.

- Taaa!

Saco.

Ele entra e aponto para o sofá.

- Senta aí.

Otavio se senta e espero ele começar á falar.

- Pode se sentar também. – Ele sugere e me sento.

- Gabi, você deve imaginar porque estou te seguindo o dia todo.

- Não sei não.

- Eu ouvi quando você disse á Henrico que era Luna Michelini.

- Ah

Ele vai me prender, veio avisar.

- Eu já sabia disso muito antes de chegar á Austrália. Fui mandado para cá para investigar Gabriele Silva dos Santos.

- Hummm.

To fudida mesmo. Agora fudeu tudo. To suando frio, quente, morno, pedra de gelo.

- Antes mesmo de Rod, eu sabia. Escondi dele a possibilidade de você e Luna serem a mesma pessoa, pois sei do passado de vocês e não vou entrar nessa questão. É bastante pessoal e não irei te constranger com esse assunto.

- Hummm.

Que filho da puta.

Ele passa as mãos pelo rosto...

- Eu não sei o que fazer com todas as informações que tenho sobre você!

Aiiiiiiiiii que droga!

- E você não precisa ter medo de mim. Não vim aqui te dizer essas coisas para te assustar.

Veio fazer o que então?

- Deve estar pensando que sou louco de estar te dizendo tudo isso. Eu não pude evitar, porque eu não quero que você me odeie um dia se caso eu tiver que entregar essas informações para os meus superiores.

Não estou entendendo nada.

- Gabi, Luna, não sei como prefere ser chamada. Nesse momento eu acho que você é vitima de uma armação, mesmo não tendo provas, tudo me leva crer que é um grande golpe contra sua família. Que estão te usando e... Eu não sei... Quando eu saí do Brasil e montei uma equipe para te investigar, eu tinha certeza que você era uma riquinha mimada brincando com a justiça. Hoje eu sei muito mais de você, coisas que nem sequer imaginava ser possível uma garota privilegiada como você carregar.

Está mais perdido que eu. Pobrezinho! Nem estou entendendo.

- Eu quero te dar uma chance de começar a fazer as coisas direito, da forma correta para tentar te livrar das acusações que você pode vir á responder se essas informações caírem nas mãos erradas. Andando na linha, longe de confusão há uma chance de você provar á policia que usa a identidade de Gabriele para se proteger.

- Hummm.

Então porque ele não queima isso tudo e limpa minha ficha.

- Christiano matou os seguranças de Rod porque sabia que assim como eu, eles eram policiais infiltrados te investigando. Assim como eu, eles também mudaram de opinião quando te conheceram. Nós queríamos te ajudar depois que notamos que você estava sendo coagida pela sua família, pela máfia e por Christiano Castilho.

Ai, que droga. Sou uma pobre menina rica... VIRGULA>>> Amaldiçoada. Das trevas. PUNK!

- É né... – Evito falar muito.

Sabe-se lá se isso é uma conversa de confissão. Ele pega minhas mãos e segura junto as dele.

- Eu sei e sinto que você é inocente, mas vejo que se perdeu. Deixe-me te orientar. Não irei mandar em você, conversaremos honestamente e assim eu poderei te dizer aonde pode pisar e aonde não pode.

Pelo menos ele é sincero.

- Ninguém pode me entender. – Falo. – Eu prefiro ficar sozinha agora. Mas obrigada por me dizer tudo isso. Aprecio muito sua iniciativa.

- Ok. Eu estarei por perto e você pode contar comigo.

Ele quer meu corpinho, me levar no papo manso e PÁ! Eu falo de papai, tia Malu, tio Sasha e corre bandido na lista. Povo vai tudo preso. Vira um vuco vuco. Eu entro no programa de proteção á testemunha e morro de culpa.

Não. Eu não irei entregar minha família torta para um tira de canivete grande.

- Obrigada.

- Eu vi você meditando na calçada hoje de manhã.

- É...

- E correr no quarteirão.

- É. Estou em um projeto saúde já.

- Eu não estava te seguindo.

- Nunca está.

- É verdade. Pela manhã eu realmente não estava. Corro todo dia de manhã com o batalhão e te vi.

- Com um batalhão? Haha eu não vi.

- Quase passamos por cima de você. Amanhã tente não meditar na quebrada da esquina.

- Hehhehehehe é... Mas ai... – Suspiro. – Eu não tenho certeza se eu meditei na esquina ou em frente aqui de casa porque eu despertei em outro lugar.

- Nós te movemos para um lugar seguro.

- JURA?

- Juro. E você não acordou.

- Hahahaha

- Te apelidaram de bela adormecida da esquina 15.

- HEHEHEHEHEHE

- Minha meditação é super poderosa.

- É melhor eu ir.

- É. Tchau.

Ele sorri e balança a cabeça.

- Até... –Ele diz saindo pela porta.

- Até!

Fecho a porta e ele á segura.

- O que foi?

- Recebemos a denuncia, seu irmão está preso e será deportado. Obrigado.

Vai te catar cara! Deixa-me!

Fechei a porta e fui cuidar da minha vida. Tomei banho, olhei o "ponicornio"( Pônei unicórnio.) e bebi água. Não tinha comida. Por volta das uma da manhã Renatinha bateu na minha porta e começou a falar sobre o dia dela.

- Ele queria falar de minha irmã, mas não tocou no assunto. – Falo lembrando da abordagem de Otavio á mim, mais cedo.

- Hã? – Natinha não entende nada. – Como foi lá na fabrica? Pam disse que você arrasa nas costuras.

- É.

- Fui á uma seletiva lá na Ricco hoje. Rod faltou me servir caviar. Tudo para saber de você. Ele está preocupado porque parece que a tal Lina engastalhou.

- Hã? – Agora eu que não entendo.

Natinha mistura um assunto em outro.

- Não é Lina a tua migs veia.

- É...

- Então, ele me disse que está com dificuldades de se reunir com ela.

- E Theozinho? Ele não disse nada?

- Ta com problemas com a Lina prenha. AÁÁÁ não entendi nada. Ele comprou impada e coxinha pra mim. EU SO QUERIA COMER. Perdi a concentração. Migs, faz anos que eu não como quitutes brasileiros. Pirei.

- Se vendeu por fritura. Ta doida mesmo Natinha.

- Desculpa. Se tiver próxima vez eu vou me concentrar. Mas aqui Migs, eu estava lá e vi Rubi sair chorando do banheiro. O boy terminou com ela.

- Ai... Ela foi avisada que o tombo da realidade aconteceria em breve.

Quando mamãe profetiza, dá zica pra pessoa. Ela cambaleia e cai de perna aberta, toda arrobada.

- Pois é.

- Mais alguma coisa?

- Rod discutiu com Otavio na minha frente. Eu acho que eles são irmãos. Pelo que entendi chamam a mesma mulher de mãe.

- Oh meu Deus!

- É. Também pensei em Deus na hora. Família abençoada. Será que tem mais irmãos naquele naipe.

- Naipe? Hehehehehe besta.

- Ahhhh, eu queria um DiCello menos ranzinzo pra mim. Aqueles dois são um porre né migs.

- É. Bem probleminhas.

- Quantos irmãos ele tem? Porque eu já vi dois.

- Ele me disse ter dois mesmo.

- A mãe deles é egoísta né migs. Nem pra povoar o mundo de magia.

- Pois é.

- Escuta, lembrei.

- Rod não queria que Otavio falasse com você sobre aquela Luna filha da Michelini. GABIII, A MICHELINI ME MANDOU CHOCOLATE SUIÇO! RICA, FINA!

Ta me batendo um cansaço moral. Não acredito que mamãe vai começar agradar Renatinha só para me amolecer.

- É né. E o que eles falaram da filha dela.

- Rod disse que ela era assunto dele e começou um pá,pá,pá. Não entendi meio que nada. Rod disse que Luna é sensível, Otavio disse que ela é forte. Rod mandou ele se afastar dela ou ele ia dizer algo para o superior dele no Brasil. Otavio respondeu que se isso acontecesse ele e Luna seriam presos e se era isso que Rod queria.

- E o que Rod disse?

- Que se prenderem Luna o pai dela explode o mundo.

- Hehehehehe explode nada.

- Então migs. Nem pai ela tem, a mãe dela fez com o dedo.

- HAHAHAHAHAHAHAHA Ai Natinha. Você é muito engraçada.

- Ai Gabi eu tenho dó dessa menina.Rica e desaparecida á tantos anos. Ninguém sabe se ta viva ou morta. Parece aquele caso da menina Madalena que sumiu em Portugal. Sabe lá se ta sequestrada, morta, prostituída em algum beco espanhol.

Que imaginação fértil.

- Você acha que ela é uma coitada?

- Eu acho. Ela quis dar uma pirada, saiu de casa e caiu em mãos erradas.

- É...

- Rica e perdida. Que desgraceira.

- É... – Só concordo.

- A Melina podia me adotar. Eu aceitava ser rica.

- Hehehehe pouco fresca. Para de sonhar.

- Não custa nada e ela me mandou chocolate.

- É sentimento de culpa. Ela te xingou lembra. E a filha dela te bateu.

- As duas me bateram, mas eu perdoei. Tenho o coração bom.

- Tem mesmo. Me dê um abraço. – Abro os braços e ela me abraça.

Se Natinha descobre que sou Luna e não importo com a riqueza da família, acaba a amizade.

- Migs, colocaram as coisas do seu apartamento na garagem.

- Não sei se vou conseguir ver algumas coisas.

- Faça uma lista e deixe suas chaves que amanha eu pego e coloco aqui pra você.

- Ta. Obrigada Migs.

...

1 semana depois...

Voltei á minha rotina normal. Normal me refiro aquela regrada, organizada e funcional que eu tinha antes de esbarrar com Rod. Nos dois primeiros dias foi difícil de me adaptar. Deus, só agora eu vejo o quanto eu era certinha e como é difícil! Desacostumei de ter horários, de fazer exercícios, estudar e principalmente ter uma rotina. Tiro o chapéu para mim mesma antes de conhecer Rod. Eu era tão correta e preocupada com minha saúde, depois dele eu descambei. Tudo era ele e mais nada importava.

Hoje é sábado e não tive mais noticiais dele. Eu chorei de saudade, mas também tive tempo para analisar que nos últimos tempos ele estava fazendo pouco da minha companhia. Ele não demonstrava mais a mesma animação e prazer de estar comigo. Longe eu desintoxiquei e posso ver melhor.

Eu forçava a barra e ele quando não fugia, me suportava. É humilhante, ainda bem que agora enxergo o quão patética estava sendo. Eu praticamente implorava por atenção e o pouco que ele me dava me bastava.

Não vi Rod, mas em compensação vi Otavio todos os dias. Ele realmente corre com um pelotão de soldadinhos sarados no meu quarteirão. Eles me cumprimentam com um coral que grita em conjunto: " Bom dia senhorita adormecida". Ás vezes Otávio me acompanha na ioga, me leva na clinica veterinária aonde estão meus bichinhos. Não falo muito com Otávio, tenho medo dessa aproximação. Mas se ele realmente estiver sendo verdadeiro, o considero uma boa companhia.

Hoje ele marcou comigo e com as migs para irmos á um abrigo que ele conhece e que cuida de crianças carentes. Para mim ele disse que são crianças filhas de detentos que estão em prisões de segurança máxima. Explicou-me que é um projeto que tem mais de 15 anos e é administrado por Maluma e Melina Michelini. Achei curioso eu não saber sobre essas crianças. Mamãe nunca me disse que administrava. Até onde eu sabia, ela e tia Malu ajudavam resgatar crianças exploradas pelo crime organizado.

Passamos a manhã lá e foi muito triste. Lembrei-me de Peter I, Petter II e Betinho. Pensei no quão injusta é a justiça. Eles abandonam as crianças, não dão suporte algum á elas após as prisões. A maioria segue os passos dos pais e se tornam inimigas da justiça por verem nela o carrasco de seus pais.

- É muito triste. – Falo.

- Mamãe está fazendo um belo trabalho aqui. – Renatinha fala. – Ela é solidária. Linda!

- Mamãe? – Pergunto.

- Melina.

- Ela não é sua mãe.

- Mas podia ser.

Essa viaja! Está obcecada por mamãe. As duas se falam pelo Whatsapp 24 horas por dia. Mamãe está usando Natinha para me fazer ciúmes, e essa bobinha está caindo na armadilha dela. Eu fico de olho e já deixei avisado para Natinha não falar nada sobre mim e a proibi de passar qualquer informação sobre a minha vida. Mas até o momento mamãe não fez perguntas cabulosas.

Nem discuto com Renatinha, não vale a pena. Deixa ela sonhar. Quem sabe até consiga tirar algo mais de mamãe do que uma simples caixa de chocolate. Coitada dessa Renatinha, ela não sabe da missa a metade. Eu nunca vi uma nota de 100 dólares na carteira de mamãe. Se ela pensa que ser filha dela é um mar de dólares, está muito enganada.

- Hoje tem balada hem meninas. – Divine avisa.

- Estou de luto. – Aviso e elas se indignam.

- VAI SIM!

- AHHH VAI!

- Não! – Falo pedindo ajuda para Otávio.

  - Você deveria ir. Divirta-se um pouco, relaxe! Vai te fazer bem.

Penso no que me divertiria de verdade...

Hummm, será melhor eu parar de pensar de linguá na boca e boca na linguá. O soldadinho é chave de cadeia. 

 Ele deveria ter ficado calado, pois quem não ajuda, não deve atrapalhar. Eu acho a boca dele muito apetitosa, toda vez que ela fala e morde o cantinho da boca eu penso essas coisas molhadas. 

Ahh do que adianta pensar na boca de um se o coração bate pelo outro. Não está sendo fácil ignorar o fato de que Rod existe, de que ele é Henrico e muito menos que eu não posso mais me enganar insistindo em inocentá-lo. Rod é culpado. Eu estou guardando meu cox em uma caixinha com cadeado para conseguir me afastar dos sentimentos que me levam até ele. Dói trancar o cox, mas eu estou sem alternativas melhores no momento.

- Por favor , Migs! – Renatinha implora.

- Ok. Mas só uma horinha.

##

14 horas depois...

Fechando a balada e discutindo com o segurança porque ele me expulsou. Ora essa, só porque eu queria ficar mais um pouquinho. Dancei e me diverti tanto com as migs. Senti uma alegria e uma liberdade que á muito tempo não sentia.

Olho para o chão e lamento a calamidade pela qual se coloca naquele momento a minha migs Natinha. Ela está dormindo (desmaiada) babando, agarrada na grade. Atrás dela Pam, minha contratando, abraçada no tornozelo da migs Natinha cantando como é "bom ser vida louca". É triste, quando penso como as levarei para casa. É engraçado quando penso na carinha delas quando eu contar toda essa "vida louca" delas, para as próprias, quando acordarem.

- Precisa de ajuda? – Otávio me pergunta.

- Já está vestido de soldadinho hahá!

Ele ri e diz que já é manhã e hora de trabalhar.

- Eu exijo que o senhor policial pegue essas duas bichas e as levem para minha casa, EM NOME DE JESUS! – Grito apontando para as duas largadas na calçada.

- Deixa comigo.

- Vá nobre cavalheiro, mas volte para me resgatar. Te recompensarei com moedas de ouro.

- Sim senhorita.

- De chocolate. Pode se que tenha licor verdinho e vermelhinho.

Ele me deixa falando sozinha e chama dois camaradas para o ajudarem carregar as "malas".

Sorte deles que nossa residência é ao lado. Poucos passos, muito peso. Elas são cavalas, eu sou um pônei delicado.

-Como eu uma donzela... – Falo para um bêbado apoiada na grade de minha residência. - Uma pequena, pequeinina princesa conseguiria sozinha carregar dois... – Olho para a rua e faço gestos. – Carregar pelo reino dois ma...ma...ma... – Deu gagueira..

É ela!

É Lina! Ali na esquina.

-LINAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA!

Grito minha Lininha.

- É Lina... É Lina. – Falo para os migos bêbados. - To no desespero. - CRETINAAAAAAAA... LINAAAAAAAA! LININHA. – Faço um escândalo. -  SAI DA ESQUINA.

Ai que medo do pelotão dobrar a esquina e á atropelar.

- Luna... – Ainda distantes, leio seus lábios dizendo meus nome baixinho.

Corro em direção á ela e ela vem andando atrapalhada em minha direção.

- Putitiputiputi – Falo e ela não para de chorar.

- Ai meu cox! - Falo.

Ficamos paradas uma de frente para a outra nos olhando. Ela estende a mão e me toca.

- É mesmo você? Luninha?

- Sim... Putiputinha

- Hahahahaha cadela!

- VACA!

Abraçamos-nos e choramos o oceano atlântico de lagrimas.

- Cadela. Sua cadela. Cachorra! – Ela só sabe me xingar carinhosamente. – Que ódio Luna, porque você faz essas coisas.

Lina dá pequenos murros nas minhas costas e eu puxo seus cabelos.

- Você está morena e cabeluda.

- ÉÉÉÉÉ''EÉÉÉ . Sasha não pinta mais meu cabelo.

- Filho da puta!

- Desgraçado!

- Aiiiiiiiiiiiiiiihhh

- Aiiiiiiiiiiiiiiihhh

- Pouca vergonha. – Renatinha fala e se enfia entre a gente.

- Bebada, não encoste em mim. – Lina empurra Renatinha.

- Não encosta você na minha migs.

O bafo de Renatinha me deixa mais tonta. Ela bebeu álcool puro? Em gel? Em gelo?

Tô confusa. Puxo Lina e a esmago em meus braços.

- Que saudade coisinha!

Lina sorri para mim e no mesmo segundo faz cara de nenhuma amiga para Natinha.

Natinha cuspe no rosto de Lina e começa o auê!

- SOCORRO... AAAAAAAAAAAAAA SOCORRO... SOLDADINHOS! Aiii... – Paro de gritar quando Rod aparece e ...

Ai...

- DESCE, DESCE JÁ DAÍ. PARA DE SENSUALIZAR SEU EXIBIDO. PARA! 

ELE É MUITO EXIBIDO. Que raiva! Que moto sexy é essa. PARA MUNDO. 

Rod desce da moto e me desespera mais ainda quando para atrás de Lina e pen...

- AAAAAAAAAAAIII SOLTA ELA! SOLTA. TARADO!

Ele pegou Lina de jeito por trás e tirou de perto de Natinha. Ai não pega ela assim não. Ai meu cox, que inveja.

- QUE ISSO CARA. SOLTA! - Imploro.

Lina esperneia nos braços do merda, do exibido, do DESGRAÇADO do RodRiccoHenricoDiCello...

- Ai. Ai... – Meu Cox dói.

- ME SOLTA PORRA! – Lina se solta de Rod e monta em cima de Natinha.

- Ai... Ai... Não fala porra, não bate na migs. – Dói em mim os tapas que ela dá na cara de Natinha.

- LINA. – Rod dá um grito de ordem tentando pará-la. – Querem serem presas duas filhas de uma puta.

Lina solta Natinha e se levanta na maior pose.

- Policia não. – Ela diz se recompondo.

Me abaixo para verificar Renatinha e ela está rindo.

- Eu mereci... Foi justo. – Ela diz tranquila.

Então se levanta e dá tchau.

- Causei, agora vou me retirar. Tchau gentalha!

Ela vai e eu fico com o maior carão. Natinha quando bebe fica muito impossível.

- Sinto muito Lina. – Falo e ela me abraça.

- Eu sinto sua falta coisinha... – Ela me aperta toda e elogia meu novo corpo. – Você está tão linda. Tão linda Luna!

- Continuo fofinha.

- Convencida. I miss you.

- Eu também.

Ficamos de fofurinha e me esqueço do mundo ao meu redor. Quando volta sinto falta de alguma coisa.

- O que foi? – Ela pergunta.

- Tudo bem? – Rod questiona.

- Está faltando alguma coisa.

Olho para Rod e fecho á cara.

- Você é um mentiroso.

- Você está bêbada.

- Cala á boca. – Lina fala para ele.

- É mesmo. Cala a boca e me escuta. Você é um merda mentiroso. Eu estou com o Cox doendo Lininha. A culpa é dele. Filho da puta.

- Olha a boca! – Rod me ameaça apontando um dedo na minha cara.

- MENTIROSO, MENTIROSO, MENTIROSO.

- Controla sua amiga. – Ele fala para Lina.

Olho para ela e ela me enche de beijos no rosto.

- Fica calma Luna, se não, como iremos entender o que você tem.

- EU TENHO ÓDIO DESSE HOMEM. – Me solto de Lina e dou murros no peito de Rod.

- Você está bêbada, não irei discutir com bebum. – Ela me insulta.

- OLHA ELE LININHA!

- Cala a boca cara. – Ela fala e eu concordo.

- É... CALA A BOCA CARA. ORA ESSA! Eu não preciso disso. Aiii Lina.. Meu Cox...Ó – Faço sinal indicando meu peito. – Partiu no meio. Uma parte chora e a outra caga pro mundo.

- Rsrsrs – Ela segura o riso. – Ai Luna, você não mudou nada peste.

- Cadê... – Pergunto para Rod. – Você me promete mil coisas e nunca cumpre. Cadê. Cadê. Cadê. Cadê. Cadê. Cadê. Cadê. Cadê. Cadê. Cadê. Cadê. Cadê. Cadê. Cadê. Cadê. Cadê. Cadê. Cadê. Cadê. Cadê. Cadê. Cadê. Cadê. Cadê. Cadê. Cadê. Cadê. Cadê. Cadê. Cadê.

Encho o saco dele.

- Cadê o que Luna? – Lina pergunta me segurando pelos braços.

Aponto para Rod e enfio o dedo na boca dele.

- A boca desse mentiroso disse-me que traria você e Theteo. – Enfio todos meus dedos na boca dele. - AONDE ESTÁ O MEU THEOZINHO? QUE ÓDIO. QUE ÓDIO. AI QUE ÓDIO! – Faço birra, talvez eu esteja mesmo bebum.

- Calma Luna.

- Theo não... – Rod tenta falar do meu Theo e eu não permito.

Ele não tem moral pra falar de Theo.

- NÃO FALA DO THEO, VOCÊ NÃO TEM MORAL PRA FALAR DELE. Quieto. – Soco a boca dele com meu pequeno muque.

Lina me puxa e prende meus braços ao lado do meu corpo. Então eu uso as pernas. O chuto e ele sai. Vai até o final da rua e volta. Me encara e diz.

- Eu não aguento mais suas infatilidades Luna.

- VAI Á MERDA. NÃO ME CHAMA DE LUNA.

Lina tampa a minha boca e meu Cox dói. Ela é má, calou a minha voz.

- Do que devo te chamar então? De Gabriele? Mentirosa é você. Eu não conheço uma mulher mais mal caráter do que você.

- LINA, OLHA ELE. Aonde está o Theo. Quero o Theo.

- Theo ainda vem. Calma. – Lina tenta me acalmar.

- Theo não vem. – Rod me apavora.

- CALA Á SUA BOCA. – Lina grita com Rod e eu acho é pouco.

Ela me solta acerta um tapa no meio das fuças de RoDicelinho.

- Ai tadinho. – Penso que sou bipolar.

Será? Em um segundo quero matá-lo e no mesmo protegê-lo entre meus braços. Entre meus seios e entre minhas pernas.

Rod segura os braços de Lina e eu entro no meio.

- Não... Não. Coisa feia. Podem parar.

- VAI BUSCAR O THEO E NÃO VOLTE SEM ELE. – Lina está o bicho.

- Isso mesmo. Vai seu... Seu...

- VAGABUNDO – Ela completa para mim.

- MENTIROSO.

- FILHO DE UMA...

- VACA.. UMA VACA HOLANDESA BEM GORDA.

- E LARGAAAA

Estamos furiosas.

- Conversamos quando a bebedeira passar. – Rod me diz antes de subir na moto e desaparece. – Eu volto.

- Não volte sem Theo, seu príncipe paraguaio. - Falo o seguindo até a moto. - Não aceitarei mercadoria falsificada no meu reino. Mantenha seu traseiro gordinho fora dos limites do meu reino. Não és bem vindo aqui sem o príncipe Theo. Só terás meu perdão quando me trouxeres Theozinho virado na almofadinha, bem engomadinho. Agora vá!

- Luninha, ele já está longe. – Lina me avisa.

Abro os olhos e dou risada. Nem sinal de moto e muito menos de príncipe controverso.

- Linaaaaaaaaaaa...

- Lunaaaaaaaaaa...

- Eu olho para você e me dá vontade de brincar no parque. Preciso de uma corda.

- Já quer me amarrar na árvore né sua maluquinha.

- É... Você combina muito com o tronco da árvore.

- Meu amor. Que falta você me fez Luninha!

-----------------------------<3-----------------------------

PARTE 2 - Rod DiCello

É louco pensar que eu matei um cara que por longos anos foi um dos meus. Eu e Christiano tínhamos uma amizade sólida, que eu acreditava ser verdadeira, e foi assim até Luna aparecer em Sydney. Naquela época, a primeira vez que a vi na casa dele, eu não tinha noção de que Gabriele pudesse ser Luna. 

Na noite em que matei Christiano, ele me ligou dizendo que iria levar Luna com ele para algum lugar que não soube me dizer. Depois do vi naquele apartamento, eu tenho certeza que ele iria matá-la e depois se mataria.

Eu estava no evento beneficente quando recebi a ligação. Lembro-me de Luna entretida com um outro homem. Ela sorria para ele como nunca sorriu para mim. Seus olhos brilhavam quando ela o olhava. Ela parecia anestesiada por ele. Nunca senti tanto ciúme e medo. Pela primeira vez eu senti medo de perder para outro homem, mas não era um medo comum. Medo da perda de uma pessoa, era medo de ela amar mais aquele cara do que ela me ama. 

Eu o abordei e o olhando de frente o reconheci imediatamente. Tivemos uma breve conversa:

- O que você faz aqui. - Perguntei á ele. 

- Fui convidado para uma despedida de solteiro. Você não foi?

- Sabe que fui. Não foi essa minha pergunta. 

- Você viu Luna? Ela está diferente, mas ainda é doce e tem o mesmo sorriso gentil. Ela foi convidada para a despedida?

- COmo eu vou saber. Você não sabe?

- E não saberia, não compareci a festa. Estava ocupado.

- O que Luna queria com você? Porque ela te olhava daquele jeito. O que disse á ela?

- Riquinho, está com ciúme de Luna? 

- Responda o que te perguntei.

- Ela me reconheceu, eu a reconheci e conversamos brevemente. Nada de especial.

- Como ela te reconheceu?

- Irei detalhar. Ela segurou minha mão e sussurrou "Theo, Theteo".

...

Fim de conversa, eu quis esganá-lo ali mesmo. O filho de uma puta teve a cara de pau de me dizer que Luna o reconheceu para me fazer ciúmes. Ele é doente se pensa que permitirei que ele se aproxime novamente dela. 

Após aquela breve e desagradável conversa eu esbarrei com Iggor. Ele me pediu que ficasse de olho em Luna e que seguisse o cara que a levaria para um porto. Não deu tempo de entender, mas ele é pai de Luna e eu fiz o que ele pediu. Fiquei de olho em Luna. Ela como sempre andava de um lado para o outro, sempre inquieta e curiosa com tudo a sua volta. Ela estava próxima do bar e eu atrás dela. Rubi me chamou e perguntou por Iggor. Disse que ele teve que ir embora por conta de algum assunto urgente que não me disse qual. Rubi já estava estranhando Luna e eu não quis alimentar ainda mais esse estranhamento entre elas dizendo-lhe que o noivo havia ido embora por causa de algo ligado á filha. 

Peguei uma bebida e voltei a olhar aonde Luna estava antes. Ela não estava mais lá. Perguntei para Shavana e ela me disse que ela havia saído para tomar ar com o senhor que estava sentado em nossa mesa anteriormente. O senhor era um capanga de Iggor. Imediatamente liguei para Iggor e ele me confirmou que aquele senhor havia deixado o evento com Luna e estava indo com ela para o cais do porto e me pediu para os encontrar lá. Chamei Rubi e avisei á ela que algo grave estava acontecendo pois iriam tirar Luna da cidade e na hora percebi que fariam isso á força. 

Fiquei desesperado pensando que eles estavam tentando afastá-la de mim outra vez. Eu estava deixando á festa quando Renata me abordou, ela estava preocupada com "Gabi", a Luna. Disse á Renata que ela havia ido embora para casa. Menti sem saber então a gravidade do que acontecia na casa de Luna. 

Renata saiu correndo, dizendo que Gabriele havia deixado sua bombinha de asma dentro de sua bolsa e não viu. Avisou-me que estava indo para casa encontrá-la. Saí de lá e na porta esbarrei com Melina Michelini. Ela também estava correndo. A chamei e ela não me ouviu. Liguei para Otávio e pedi que tentasse rastrear o telefone celular de Luna. Fiquei menos de 10 minutos com ele tentando localizá-la. No meio daquele ligação, recebi uma segunda chamada. Deixei Otávio em espera e atendi quando  reconheci pelo toque que aquela era uma ligação vinda da casa de Luna. Imaginei que fosse ela. Atendi, mas não foi ela que conversou comigo, foi Christiano. Ele me disse:

- Ei amigão, quanto tempo cara. Eu tenho para você uma informação privilegiada. Luna subiu as escadas, o elevador parou, os andares abaixo estão interditados, seus seguranças foram conversar pessoalmente com Deus e ...

Parei de ouvi-lo. Subi em minha moto e a guiei o mais rápido que pude para a casa de Gabriele. Naquele momento eu não pensava em nada. Agradeci mentalmente minha mãe, pois eu quando atrasado á ouvi quando ela me questionou se não seria melhor eu ir de moto para o evento. Ouvi minha mãe, se ela não tivesse mencionado a moto, eu não chegaria tão rápido como cheguei ao apartamento de Luna. 

O telefone celular ficou ligado em espera no meu bolso. Quando cheguei ao apartamento, tirei e falei com Christiano. Implorei para que ele não fizesse nenhuma loucura. Pedi que pensasse na mãe dele e na filha. Christiano estava atormentado. Ele descrevia como matou os seguranças e me relatou que havia matado a Senhora Castilho porque ela não quis furar os olhos de Suri para ele. Naquele momento eu percebi a gravidade do problema. Ele estava fora de controle. 

Na entrada do prédio notei um cheiro muito forte de enxofre e meus olhos arderam quando me aproximei da entrada. Quando usei meu controle para abrir o portão da garagem, uma nuvem de fumaça toxica exalou de dentro do prédio para fora dele. Arranquei com a moto e estacione-a na rua dos fundos. 

Só eu e Luna. Não se preocupe, amigo. Nunca machucarei Luna, eu a amo tanto. Nós dois iremos embora juntos outra vez e dessa vez para sempre. Venha se despedir, amigão. Estamos apenas esperando você para podermos partir. Talvez nos encontre dormindo, talvez acordados. - Foia  a ultima frase que ouvi de Christiano antes de um longo silêncio se instalar, até soar 3 bips.

Assim percebi que era uma gravação. Ele não estava falando comigo em tempo real, por isso não percebeu que eu estava á caminho. Algumas janelas do prédio estavam abertas e eu via a mesma fumaça que saiu da garagem, saindo por elas. Vi uma árvore que dava mais ou menos na altura da sacada do quarto secreto de Luna. Ao lado dessa sacada há um telhado mais baixo, da garagem do prédio. Subi por ali. Para proteger-me do cheiro forte e também ter mais mobilidade. Me livrei da parte de cima do meu terno. A camisa usei de máscara.Enrole e amarrei em volta do meu rosto. Quando cheguei á sacada, ouvi os gritos de Renata. Olhei pelas janelas e elas estavam todas pintadas com tinta preta. Não havia como enxergar lá dentro. Não tinha como saber exatamente aonde eles se encontravam e o que acontecia lá dentro. Eu não tinha comigo nenhum tipo de arma. Ando armado, mas a arma fica no carro, como fui de moto não levei. Liguei para Otavio e depois para Iggor pedindo reforço.

Já estava desesperado, sentindo-me impotente quando ouvi o miado dos gatos de Luna. Eles vinham da lavanderia. Cheguei até eles e senti um cheiro muito forte. Os chequei averiguando se havia algum morto entre eles, mas estavam todos vivos. Todos os animais de estimação que Luna mantinha no apartamento estavam presos em uma rede de pesca. e estavam agonizando tentando se soltar. Os tirei da rede e eles foram subindo em cima de mim. Os gatos miavam muito alto, era como um pedido de socorro.  Miavam tão alto que isso chamou a atenção de Christiano. 

Christiano acendeu uma luz dentro do apartamento e abriu os vidros da porta da cozinha. Os animais de Luna desceram de cima de mim e voltaram para rede. Eu me escondi atrás de um arbusto que tinha ali e lá fiquei esperando ele sair. Mas ele não saiu. Só olhou para fora pelas aberturas estreitas das janelas da porta.  Ele deixou as deixou abertas e falou com os animais.

- Venham se despedir da mamãe. Aquela ali é amiga dela, mas não vai conosco. Ela vai ficar para contar a nossa história para quem fica.  - Ele disse aos animais 

Nenhum deles o seguiu. Olhei para dentro através das frestas e o que vi foi de horror. Havia muito sangue e pedaço de corpos espalhados pelo apartamento. Renata estava amarrada sentada no chão. Ela me viu e usou os pés para apontar para mim aonde ele estava com Luna; Ela apontou para o quarto secreto..

Peguei todos os animais que consegui e os deixei em cima da árvore, já que eu havia que passar por ela para ir até a sacada do quarto secreto de Luna. Um dos gatos de Luna, o maior deles não se soltava de mim. Ele arranhava meu bolso a ponto de rasgá-lo. O gato só me soltou quando tirou do meu bolso traseiro a minha carteira. Ela caiu no chão, ele a abriu e começou a destruí-la. Já havia o deixado para trás imaginando que estava "brincando" com a minha carteira. Naquela hora o que menos me importava era uma carteira. Voltei á sacada e quando cheguei lá vi o gato pendurado na porta encaixando uma chave com a boca dentro da fechadura da porta.

A minha ficha caiu. O gato de Luna é mais esperto do que eu e ela juntos. Esse mesmo gato me deu pistas de que Gabriele era Luna. Ele vivia me dando sustos. Após os sustos ele corria para o quarto secreto e entrava nele através de uma passagem minuscula embaixo dela. Um dia, após ele repetir esse ritual, Luna se trancou no banheiro. Eu não fazia ideia de que ela era Luna até ouvi-la conversar com ela mesma no banheiro. Fiquei lá parado, anestesiado. O gato saiu pela fresta com uma chave na boca e pulou no meu colo. Peguei a chave, ele deu a volta pela lavanderia, subiu no telhado da garagem e de lá saltou para a sacada do quarto secreto. Eu segui o caminho que ele estava me ensinando e abri a porta do quarto de Luna pela primeira vez. Entrei e quando senti o cheiro do perfume dela dentro daquele quarto passou um filme na minha cabeça. Situações que antes não faziam sentido passaram a fazer. As faltas de ar, as manias, os trejeitos, os amor pelos animais, a coleção de anjos, as pinturas no teto, os sapatos coloridos, a mania de enterrar coisas em vasos de plantas, a obsessão por rosa, os sucos estranhos, os diários, o descontrole por doces,  a cobra que ela tanto falava. 

Em uma fração de segundos Luna e Gabriele se fundiram. Tornaram-se uma só e eu senti muita raiva. Não dela, mas de mim por ter pela centésima vez sido enganado por ela. Eu vi dentro daquele quarto quadros de Iggor, muitos livros marcados com etiquetas cor de rosa,  caixas e mais caixas de embalagens de tudo quanto é coisa, animais  empalhados, fotos de família espalhados por todos os cantos,  muitas anotações e esboços de rostos familiares  rabiscados nas paredes. Eu vi o mundo de Luna resumido em um único lugar. 

Foi a única vez que entrei naquele quarto. Eu não precisei voltar para ter certeza de que ela era Luna. Á partir dali, tudo que ela fazia me remetia Luna. Cada questionamento fora de hora, cada peça de roupa espalhafatosa, casa sorriso, cada gesto. Ela é tão ingênua que nem sequer se esforça para parecer outra pessoa. Eu que fui burro e não notei, ou melhor, eu não quis ver o que estava tão claro. E um gato me mostrou a verdade. Foi patético!

E pela segunda vez, o gato me mostrou o caminho. Eu destravei a porta e entrei. Fiquei escondido atrás de um sofá. Entre o sofá e o corpo da Senhora Castilho. Na hora eu não temi nada mais além do medo de perder Luna daquela forma. Quando eu a vi, nunca irei esquecer da dor  e do desespero que vi em seu olhar quando ela ali me viu. Eu matei Christiano com gosto, com ânsia de fazer aquilo. Eu sabia que a policia iria invadir á qualquer momento. Sabia que Iggor deveria estar de fora esperando a hora certa de entrar, mas eu quis sujar minhas mãos para ela saber que eu faria qualquer coisa por ela. Qualquer coisa para que ela nunca mais  e em outra ocasião voltar a ver aquele olhar morto, vazio, assustando, amedrontado.Tristeza e medo não combinam com a menina que eu amo desde a primeira lembrança que tenho dela.

Antes daquela tragédia, eu Luna pensava que Luna de umas lições na vida para crescer. Mas depois de tudo, não penso mais. Ela presenciou a morte de seus seguranças, do tio, da madrasta. Viu Christiano torturar sua irmã, a melhor amiga e no mesmo dia perdeu a fé e a confiança que tinha nos pais. Tudo em um único dia. Ela ficou despedaçada. 

Por 3 dias ela ficou apática.Renata que ficou com ela o tempo todo era a única que conseguia fazê-la comer e tomar banho. Ela  parecia uma boneca nas mãos de Renata. Não respondia á ninguém, só fazia o que Renata pedia. No quarto dia Otávio junto de Renata e uma psicologa conseguiram tirar dela algumas palavras dela para anexar ao inquérito policial. No quinto dia ela disse tudo que viu com detalhes. No sexto dia ela conseguiu dormir e acordou no oitavo dia. Pediu por Lina e Theo. Eu tinha uma viagem marcada para o Brasil, aonde inaugurei uma a primeira sede da Ricco na América Latina. De lá eu fui para a Suíça aonde me reuni com Lina e expliquei toda a situação á ela. 

Em parte o que ela me contou não foi novidade. Luna tentando me encontrar, ligando Rico a Henrico. Henrico á carnaval. Pela forma que Luna falou comigo durante uma dança no evento de caridade, eu deduzi que ela sabia e queria que eu confessasse o que eu sabia. Eu me calei, fiquei um pouco confuso. Ela não parecia assustada por saber quem eu sou. Falando com Lina fiquei ainda mais confuso. Me pergunto aonde ela quer chegar. No passado eu a machuquei, ela me machucou. Eu a odiei por muitos anos, ela nunca me odiou, mas ela aceitar tão fácil é completamente insano para mim. 

Ao mesmo tempo que sinto conhecê-la, percebo que estou preso á uma Luna do passado. Que essa tem valores diferentes. Coisas que no passado era cruciais para ela, hoje não é mais. Como quando Melina abordou Luna no evento de caridade. Ela ficou na defensiva e tratou a mãe que ela tanto idolatrava com certa indiferença. Era notável que ela se esquiava de Melina. A mesma situação se repetiu com Iggor. No evento e após aquela noite. Mesmo Iggor e Jay relatando para ela o empenho de todos para conseguirem chegar até ela, nada a fez reagir. Ela ignorou completamente os pais. É como se parte das emoções dela houvessem sido desligadas.

Quando cheguei á Lina, ela já estava com as malas prontas para ir para a Austrália encontrar Luna. Lina foi para Marselha pegar algumas coisas dela que Lina queria levar e ficou de ir para Sydney na sexta-feira. Ela queria fazer algo especial para Luna. Eu vim para Sydney sozinho. Esperei até Lina chegar para abordá-la, mas antes da chegada dela eu observei Luna de perto. Ela retomou a vida dela. Está trabalhando, estudando, fazendo trabalho voluntário em Ongs e o que mais me deixou feliz e aliviado foi ver que ela está praticando esportes diariamente. Que ela foi ao médico duas vezes na mesma semana e não desobedeceu nenhuma recomendação. Os animais continuam na clinica veterinária e só o que  me incomoda é o novo animal que ela carrega para cima e para baixo. Ele anda sobre duas patas e tem nome de gente. Otávio é o nome dele. Ele resolveu seguir Luna. Meu irmão já me tranquilizou dizendo que só está fazendo companhia e a orientando para que não se envolva em novas confusões, mas desconfio e muito de suas intensões. 

Não acredito que ela venha a ter nada sério com Otávio e não quero que isso aconteça. Ao mesmo tempo a voz da razão e do bom senso me dizem que eu deveria torcer para que ela passasse a amar outro cara, mais do que ela me ama. Eu me vi muito perdido essa semana. Não sei o que pensar agora que ela sabemos a verdade um do outro. Não sei o que espero dos sentimentos dela por mim daqui e não imagino o que se passa no coração dela neste momento. Isso me reaproximou de meu pai. Ele ficou sabendo pela minha vó dos meus problemas Luna e me ligou. No início ele não ligou Gabriele á Luna, até que eu lhe disse que elas eram a mesma pessoa. Ele não julgou nós dois, apenas  me disse que tanto eu quanto ela somos tolos se acreditamos que podemos fugir de um amor como este que nos liga á tantos anos. 

Agora estou aqui, mais perdido que filho de puta em dia dos pais e com Lina me enchendo o saco.

- A Luna é demais para você. Porque você é covarde. Eu acho melhor você trazer o Theo para encontrá-la, ou eu mesma trago.  NEM QUE EU O ARRANQUE DE UMA TUMBA EU TRAGO. VOCÊ NÃO ME TESTE! NÃO ME TESTA! 

Essa sabe ser tão irritante quanto a melhor amiga.

- Você não vai machucar a Luna outra vez. EU NÃO VOU PERMITIR. - Lina diz nervosa. - E se encontrar o covarde do Theodore, avise-o que eu estou C.A.N.S.A.D.A desse jogo de esconde-esconde. De fazer tudo no tempo dele, do jeito dele e na merda das regras deles. NÓS, EU E LUNA NÃO SOMOS MAIS CRIANÇAS. QUANDO VOCÊS HOMENS IRÃO CRESCER?

--------------------------------------

Continua...

Continue Reading

You'll Also Like

193K 14.6K 60
[Primeiro livro da Duologia Tão perfeitos] Luna Mitchell sempre foi uma garota que vivia sua vida sem muitas complicações, até que um acontecimento a...
103K 8.2K 54
HISTÓRIA ORIGINAL | CONTEÚDO ADULTO +18 O que acontece quando dois universos completamente diferentes colidem? Uma explosão, correto? Correto. Mas...
4.3M 288K 135
AUTORIA PRÓPRIA!⭕OBRA REGISTRADA❌ PLÁGIO É CRIME!!!🚫 (SEM CORREÇÃO ORTOGRÁFICA!! AVISO ANTES!)📵 LIVRO 1 - Saga Homens Fortes - Vol. 1 e 2. Como pod...
Wattpad App - Unlock exclusive features