Eu me arrumei com um vestido vermelho rodado que ia até a altura dos joelhos, calcei minhas sapatilhas e levei nos braços um casaco para o caso de fazer frio. No cabelo, fiz uma trança e pedi para que Marceline me ajudasse a prendê-la.
- Onde vai, senhorita? - Perguntou me olhando pelo espelho.
Baixei o olhar e pressionei os lábios.
Eu queria sorrir só de pensar em Nicholas, mas sabia que ela não aprovaria aquela saída ou, no mínimo, ficaria desconfiada. Então era melhor que eu mentisse, mesmo que aquilo me doesse.
- Vou sair com Noah. Vamos tirar umas fotos com a polaroid. - Dei de ombros, mexendo nas unhas, sem coragem de olhá-lo nos olhos.
- Divirtam-se. - Ela me deu um beijo no rosto e saiu do quarto.
Peguei meu celular e comecei a digitar uma mensagem para Nick.
"Quando chegar, permaneça no carro e apenas me ligue, xx"
Não recebi resposta, mas não demorou muito para que meu celular tocasse. Atendi de imediato.
- Blue? - Nick chamou.
- Sim?
- Estou bem próximo.
- OK. - Com um enorme sorriso, desliguei o celular e sai em disparada pela porta da frente gritando um "tchau" para Marceline.
Quando avistei seu carro, abri um sorriso largo e entrei no banco do passageiro.
- Oi. - Disse, sentindo minhas bochechas queimarem.
Ele estava lindo com uma camisa social erguida até os cotovelos e a calça caqui lhe caindo bem. Se inclinou na minha direção e selou nossos lábios devagar.
- Você está linda, menina Blue.
Será que tinha como eu ficar mais corada? Mordi o lábio inferior e vesti a blusa de frio, ajeitando a polaroid no colo.
- Trabalhou hoje, Nick? - Questionei enquanto ele já dirigia ao nosso destino desconhecido.
- Sim. Mas saí mais cedo para ficar com você. - Ele apertou minha coxa e a acariciou.
Senti um frio na barriga que não sentia há muito tempo e sorri com a sensação boa.
- Vejo que veio de saia. - Balançou a cabeça em negação, fazendo um barulho com a língua.
- O que tem?
Droga, eu havia errado na hora de me vestir? Mas como poderia saber o que vestir se nem sabia para onde ele me levaria?
- Inapropriado para o que vamos fazer. Mas não tem problema. Nós daremos um jeito. - Piscou para mim e continuou a dirigir.
Nós nos afastamos um pouco de casa, mas logo havíamos chego ao nosso destino. Estacionamos e eu ainda não fazia ideia de onde estávamos ou o que faríamos. Ele saiu e abriu a porta para mim, mas não tive oportunidade de observar muito, uma venda cobriu meus olhos e eu toquei o pano que me impedia de enxergar um palmo à minha frente.
- OK, agora estou com medo. - Dei uma risada nervosa enquanto sentia ele dar um nó no pano.
Suas mãos acariciaram meus braços e sua respiração quente bateu em minha nuca.
- Não fique.
Ele tocou minha mão e me abraçou, passando a me guiar pelo caminho de pedras que pareceu durar mais do que aparentava, logo estávamos pisando em um gramado natural.
- Deus, eu estou sentindo que vim com a pior roupa do mundo. - Ri um pouco e ele me acompanhou, dando um aperto singelo na minha cintura. Nem preciso dizer que fiquei sem ar.
- Não se preocupe, ainda vamos poder nos divertir. - Ele acariciou a lateral do meu corpo e de repente paramos.
- Chegamos?
Ele não me respondeu, apenas se postou atrás de mim e tirou a minha venda.
Aquilo era um imenso campo repleto de cavalos que pastavam por ali. Algumas árvores e um pequeno chalé ao fundo completavam o cenário dos sonhos.
- Você... O que é isso, Nick? - Me virei na sua direção com os olhos brilhando.
- Nós vamos andar a cavalo. - Ele me abraçou pela cintura e eu toquei seus braços fortes.
Soltei um grito de felicidade e pulei nos seus braços, obrigando-o a me tirar do chão enquanto ria com a minha felicidade.
- Eu amo cavalos! - Coloquei a mão em frente aos lábios. - Como você sabia?
- Eu não sabia, mas também os amo. - Sorriu para mim com tanta sinceridade que eu quase pude sentir meu interior se aquecer.
Não conseguia explicar o que sentia quando estava com Nick, era quase como se fosse coisa de outra vida, quase como se a paixão tivesse sido interrompida e agora estávamos dando continuidade. Não parecia um sentimento de agora, parecia um sentimento de décadas, milênios.
Ele me guiou para um dos cavalos e me ajudou a subir enquanto a orientadora nos ajudava na hora da selagem e de como tratar o animal. Assim que subi nele, me deitei sobre e acariciei seu pescoço, fechando os olhos para poder sentir o animal.
- Ele pareceu gostar de você. - A mulher falou para mim.
Abri os olhos para fitá-la e lhe abri um enorme sorriso.
- Acho que sim.
Fiquei ereta no cavalo novamente e segurei suas rédeas enquanto Nick fazia questão de me guiar calmamente. Não demorei muito para cavalgar sozinha e logo havia pego o ritmo. Ia lentamente, sem correr porque não tinha coragem o suficiente para isso.
Nick também passou a cavalgar, mas ele tinha muito mais habilidade e foi lindo observá-lo correr pelo campo. Sorri e peguei a polaroid para captar o momento.
- Ei! - Ouvi a voz de Dalia, a orientadora, me chamar e olhei na sua direção. - Quer tirar uma também?
- Claro, por favor. - Sorri e me ajeitei no cavalo.
Agradeci e peguei a foto em mãos, sorrindo para a imagem que se eternizaria em uma lembrança boa.
- O que está vendo aí? - Nick estava parado ao meu lado, já fora do cavalo.
- Nossas fotos. - Sorri.
- Posso ver? - Pediu, estendendo a mão na minha direção.
- Claro. - Entreguei à ele as fotos, que sorriu ao vê-las.
- Você é uma ótima fotógrafa.
- Atribuo créditos à Dalia na minha foto. Pode me ajudar? - Perguntei, estendendo os braços na sua direção.
- Claro, menina Blue.
E ele me ajudou a descer, selando nossos lábios ao final.
- Dalia, poderia tirar uma última foto? - Pedi enquanto ela tirava a sela do Cenoura, o cavalo que eu havia montado.
- Claro. - Ela sorriu e veio de boa vontade.
Entre Açúcar, o cavalo que Nick havia montado, e Cenoura estávamos eu e Nicholas. Toquei seu rosto e o fiz olhar pra mim, nossos olhares se conectando por uma carga de energia impressionante. Seus braços se apertaram em minha cintura e Dalia bateu a foto quando eu dei um sorriso, acariciando a bochecha com a barba por fazer de meu amante.
- Blue, eu só consigo enxergar pureza em seus olhos. - Ele sussurrou para que só eu pudesse ouvi-lo.
- E eu, Nick, só consigo enxergar amor. - Fiquei na ponta dos pés e selei nossos lábios.
- É uma foto digna de quadro. - Dalia sorriu e nos mostrou a foto.
Era realmente muito linda.
Eram Açúcar, Cenoura, eu e Nick. Nós dois no nosso mundo junto aos cavalos marrom chocolate.
- Está...
- Maravilhosa. - Nick completou.
- É minha! - Puxei para mim e coloquei contra o peito.
- Você é uma mocinha muito egoísta. - Beijou minha testa e riu.
Entreabri os lábios, fazendo minha melhor expressão chocada.
- Achei que eu era o retrato da pureza.
Ele gargalhou, jogando a cabeça para trás.
- Ah, menina Blue, você é. Mas parece ser muito terrível também.
Rimos juntos e fomos nos afastando aos poucos.
- Ei, está com fome? - Nick perguntou.
Minha barriga roncou no mesmo instante me denunciando.
- Acho que isso é um sim. - Ele riu e me guiou para uma pequena construção de madeira ao longe.
Dentro da construção tinha um enorme bufê com todo o tipo de comida e algumas mesas de madeira. O tempo todo eles repunham e eu me apressei a pegar um prato e uma bandeja para me servir.
- Nossa, isso tudo parece ser delicioso. - Disse enquanto pegava um pouco da salada.
- É o melhor lugar para se almoçar. Sempre que tenho oportunidade venho aqui. - Nick falou, me seguindo de perto.
Quando terminamos de nos servir, ele pagou nosso almoço e nós nos sentamos à mesa. Peguei o meu suco e dei um longo gole, dando a primeira garfada. Gemi, fechando os olhos e saboreando aquela comida.
- Que Marceline não me ouça, mas essa é uma das melhores comidas do mundo. - Dei mais uma garfada.
- Que bom que gostou. Vou te trazer mais vezes aqui. - Nick comentou enquanto cortava um pedaço do seu filé mignon.
Então teria uma próxima? Olhei para ele sob os cílios e sorri.
- Obrigada por isso, Nick. - Toquei sua mão por cima da mesa.
- Pelo quê, menina Blue? - Seu olhos cor do céu fitaram os meus.
Eu me perdia naquela imensidão, como um pássaro em sua plena liberdade.
- Por me fazer tão bem. Por me mostrar como é ser bem tratada dentro de um relacionamento.
Nicholas pegou minha mão e levou aos lábios, beijando os nós de meus dedos.
- O que quer dizer com isso, menina Blue? - Mais um beijo e então uma carícia onde seus lábios haviam encostado há pouco.
Balancei a cabeça em negação.
- Já não importa mais, é passado. Certo? - Suspirei.
Ele descansou seu talher e me olhou profundamente, quase como se conseguisse enxergar a minha alma - e talvez ele conseguisse.
- Blue, sabe que pode dizer tudo para mim. Não sabe?
Engoli em seco e pensei por um momento. Tudo? Tudo era muita coisa. Eu não queria dizer tudo. Não vivia de passado, o que me importava agora era o presente e o futuro.
- Nick, você me faz esquecer o tudo. O que me importa é o aqui e o agora. OK?
Nicholas abriu um enorme sorriso e beijou minha mão mais uma vez antes de voltar a comer.
- Então, qual matéria você mais gosta? - Perguntou, claramente tentando puxar assunto.
Ele queria me conhecer e essa demonstração de interesse só me fazia ficar cada vez mais apaixonada por aquele homem.
Passamos a tarde entre risadas e conversas, conhecendo um ao outro, mas sem tocar nas feridas. Descobri que ele gosta de rock e é mais humanas do que exatas. Estudou administração de empresas e vive muito bem, obrigada. Falou pouco sobre o filho e eu agradeci por isso porque as imagens da noite passada invadiriam os meus pensamentos e eu me sentiria culpada.
Contei à ele sobre minha mãe, sobre nunca realmente ter tido um pai, sobre Marceline e nossa ligação, sobre como adoro Noah e Bianca. Contei também que sou mais humanas, como ele, e que prefiro pop. Ele riu e disse que era mesmo minha cara.
Não fomos tarde para casa, cheio de fotos da polaroid. Quando ele estacionou, eu respirei fundo e tive vinte segundos de coragem insana. Passei uma mão pela sua nuca e beijei seus lábios com ferocidade. Suas mãos estavam postadas na minha cintura por dentro do casaco fino, me acariciando enquanto nos beijávamos em sincronia.
Eu quis sentar no seu colo, eu quis pressionar nossos quadris, eu quis me entregar ali, mas não era o momento. Quando ele acariciou minha bunda por cima do vestido, eu senti um arrepio bom na espinha, mas me afastei.
Com um sorriso tímido, eu murmurei um "tchau" e saí em disparada para dentro de casa, ouvindo ele buzinar em resposta.
Entrei com o maior sorriso do mundo apenas para encontrar uma Marceline furiosa. Ela tinha os braços cruzados e eu franzi o cenho, sem entender sua reação. Por instinto, segurei com força as fotos do dia maravilhoso que havia passado.
- O carro do Noah mudou, não é? - Ela tinha os olhos semicerrados na minha direção.
- Ahn... É... Sim... O Noah pegou emprestado do pai dele. - Dei de ombros, desviando o olhar.
Ela tinha ido até lá fora ver o carro em que eu havia chego?
- Hm, então você saiu mesmo com o Noah? - Continuou.
Deus, o que era isso? Por que ela estava me perguntando aquilo?
Engoli em seco e assenti.
- Sim, eu tenho certeza que sim.
- Então por que ele veio aqui a tarde te procurar, Blue Blanchett? - Seu tom estava mais alto agora.
OK, Marceline era como uma segunda mãe e nunca como uma empregada ou qualquer outra denominação. Eu nunca desrespeitava ela e não era agora que o faria. Ela havia descoberto a verdade e eu abaixei a cabeça, apenas esperando para ouvir o que ela tinha para dizer.
- Eu não sei com quem você saiu, Blue. E para você ter escondido, eu tenho medo de saber. Estou muito decepcionada com você. Vá para o seu quarto. - Mandou.
Eu senti meu coração se desfazer em milhões de pedaços enquanto ela dizia cada palavra.
Fui para o meu quarto e me deitei na cama, chorando como uma criança. Eu havia machucado a única pessoa que tinha certeza sempre ter se importado comigo e me amado. Eu era um monstro.
xxx