2 HÉTEROS NUMA BALADA GLS (20...

By FabioLinderoff

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Uma das histórias mais famosas do Orkut está de volta em uma edição totalmente revisada. Fábio Linderoff é... More

Fábio Linderoff apresenta
Agradecimentos
Nota do autor
Prefácio
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Epílogo
VERDADE ENTRE CUECAS
FÓRUM

Capítulo 6

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By FabioLinderoff

Eu estava só de cueca, e o que era pior, uma cueca velha e zoada. Fiquei com vergonha, acho que o Paulo percebeu.

Coloquei o shorts do Japa que ele tinha deixado em cima da cama dele e fui cumprimentar o Paulo.

— Firmeza, mano?

— Opa...podia está melhor, né? Esqueceu de ir lá pro Shopping, Cabeção?

— Esqueci nada mano, é que aconteceu uma fita errada ae que eu não quero nem lembrar.

— E porque não me ligou?

— Por que não deu, caralho. Interrogatório agora? — Já chutei o pau da barraca, queria saber muito já e eu não ia contar que os cuecas da casa tinham me feito de mictório, mijado em cima de mim e que eu tinha deixado barato ainda por cima.

— Beleza, beleza. To vendo que você está de cuca quente. Relaxa, outro dia a gente se fala.

Ele já estava indo embora. E com razão. Marcamos um encontro, eu não fui, não dei satisfação, o cara foi até a minha goma me pegar e eu ainda dou uma patada dessa. Eu no lugar dele já tinha me mandado ir tomar no cu.

— Foi mal ae Paulo. É que aconteceu uma parada desagradável, mas se quiser sair ainda, por mim beleza.

— Se troca ae então, Cabeção. — Ele disse medindo meu corpo de cima em baixo — Eu te espero lá na cozinha. Vou beber água.

— Vai lá.

Assim que ele saiu eu passei a mão no rosto, no cabelo e respirei fundo. Que merda era aquela que acontecia comigo quando eu via o Paulo? Que buceta do caralho era aquele sentimento? Senti raiva de mim mesmo, mas abri o guarda— roupas, peguei uma calça jeans bonita pra caralho, coloquei meu all star  velho de guerra, coloquei uma camiseta branca super transada.  Passei pomada no cabelo, arrumei a minha franja desfiada e coloquei um óculos de sol com as lentes prateadas. Me olhei no espelho que tinha na porta do guarda-roupas e me senti muito viado. Tirei os óculos e baguncei o cabelo. Pronto, estava natural. Passei desodorante e perfume, peguei minhas coisas e saí.

O Daniel tinha chegado e estava conversando a sós com Paulo na cozinha. Será que ele tinha falado alguma coisa? Se tivesse...afff Maria...eu ia matar ele bem matado. Se tinha uma coisa que eu tinha me arrependido de fazer foi contar as minhas paradas mais íntimas para o Daniel. Até então meus pensamentos só ficavam dentro de mim. O meu receio era sempre saber que o Daniel tinha aberto a boca para alguém. Franzi o cenho e entrei com a cabeça erguida com meu ar de folgado e metido que todo mundo diz que eu tenho e foda-se.

— Vamo ae? — Perguntei, cortando o papo.

— Ae, Cabeção, o Daniel está pegando o nome da galera que vai no sábado para uma chácara que eles alugaram em Rio Grande da Serra. É para saber quantas pessoas vão e quanto cada um vai ter que pagar.

— A chácara é show de bola. — Daniel complementou me olhando. Aquele olhar dele era penetrante, isso não tem como negar.

— Quem vai? — perguntei, se o Negão e o bando de mijões que moravam em casa fossem, eu não iria. A menos que o Paulo fosse e insistisse para eu ir. Insistisse muito.

— Vai a galera da sua sala, do segundo de PP e o primeiro de rádio e TV. Vai dar mais de cem pessoas, fácil. — Daniel respondeu.

— Você vai? — Perguntei pro Paulo.

— Não vai dar, cara. Sábado eu vou descer com a minha mina lá pra casa da praia. Vamos comemorar aniversário de um mês de namoro.

Na hora broxei. Daniel olhou para mim, olhou para o Paulo. Parecia que tinha visto na minha cara a decepção. Mas não deixei por menos não.

— Pode por meu nome ae Dan, vai ter buceta pra caralho lá. — Eu disse olhando fixamente nos olhos do Paulo sem piscar — Quem sabe eu não como pelo menos umas duas ou três?

— Falou ae, comedor. — Paulo zuou me dando um murro no braço.

Daniel escreveu meu nome na lista e saiu dizendo "Beleza, falou". Eu e Paulo o seguimos, ele foi para o quarto dele e nós seguimos em direção a porta. Paulo não demonstrou uma gota de ciúmes sequer.

O Negão e o Alemão estavam deitados cada um em um sofá assistindo TV, o Japa estava estudando na sala sentado no chão e encostado na parede. Antes de sair o Negão olhou pra gente e zoou:

— Nossa! Onde as princesas estão indo tão arrumadas?

Ele e o Alemão gargalharam, o Japa ergueu a cabeça e também riu meneando a cabeça negativamente. Até o Paulo riu, levando na zoeira. Só eu fiquei puto.

— Comer tua mãe. — Respondi.

Aí que eles riram mais alto ainda. Saí, Paulo fechou a porta se despedindo da galera.

— Não vejo a hora de sair dessa goma, mano. Esses caras são todos otários.

— Relaaaaaxa, Cabeção. — Disse Paulo empurrando minha cabeça e desarrumando meu cabelo.

Entramos no Corsinha dele e fomos embora dali.

Nossa, eu estava do lado do Paulo! No carro dele, só com ele! Fazia eras que isso não acontecia. Eu estava gelado, minha mão estava suando e eu com puta medo de estar dando bandeira, se liga. Estava na minha, mas não teve como não lembrar do dia em que andei no Corsinha pela primeira vez. Ele morava em Interlagos e foi me levar até em casa na Zona Norte! No lado oposto de São Paulo. Lembrei do primeiro e único beijo que nos demos na casa da praia. Na casa onde ele iria levar aquela vaca da namorada dele no final de semana. Me bateu uma tristeza, um ciúme, um negócio estranho. Não sabia explicar.

— Tá quieto aí porque, Cabeção? — Ele perguntou sorrindo.

— Estava pensando em um lugar pra gente ir. Você falou que não quer shopping, nem lugar lotado, né?

— É. — Ele respondeu olhando para frente, sério.

— Vamos para um barzinho então, a gente pede uma cerva e fica de boa. — Joguei um verde.

— Tranquilo. Conhece algum da hora?

— Humm...deixa eu pensar

— Tem aquele que fica em uma travessa da Paulista que a Dani uma vez falou que era legal.

Saco! E eu pensando que ele ia falar da gente ir para um motel, drive in, sei lá. Eu era um tonto retardado mesmo. Era aquele cueca velha que estava me dando azar. Deveria ter vindo sem.

— Bom, você que sabe, véi. — Respondi cruzando os braços — Eu to de boa, vou pra qualquer lugar.

Ele pegou a Anchieta até o final, entrou em umas quebradas e em menos de dois minutos estávamos na Avenida Paulista.

Quem conhece São Paulo sabe que a Paulista além de cartão postal ela tem uma energia que é dela mesmo. É como se fosse a Times Square dos brasileiros. Avenida larga, cheia de prédios do começo ao fim repletos de escritórios, empresas, bares, tem o Museu do Masp, o Parque Trianon, ela é igual casamento: Começa no Paraíso e termina na Consolação. E a Paulista é o lugar onde se vê mais viado por metro quadrado. Acho que eles já dominaram o lugar, uma das travessas da Paulista chama-se Rua Frei Caneca que a gente sabe que já mudou até de nome, os caras chamam a rua de Gay Boneca porque ali só tem viado. Loja de roupa pra viado, bares que a maioria dos frequentadores são viados, tem até um Shopping inteiro onde os viados andam de mãos dadas, se beijam, devem até dar o cu nos corredores, sei lá. Como eu não era gay, raramente ia a esses lugares e quando ia tinha que ser na companhia de uma bela bucetuda gostosa pra caralho. Já pensou se alguém pensasse que eu era viado também? Aff Maria. Mas confesso que por pouco não dei a idéia da gente ir pra esse Shopping.

Até o último momento achei que o rumo ia mudar, mas no fim acabamos chegando no bar. Estacionamos (depois de perder 15 minutos procurando uma vaga) em uma rua paralela, um velho zumbi lá pediu pra tomar conta do carro e a gente deixou, subimos a rua em direção ao bar. Chegando lá, uma surpresa. Começamos ver um grupinho de viadinhos na porta. Todos serelepes. Todos com cabelinho com gel, com uns colares de macumba pendurados no pescoço, uma calça justa que se o cara peidar a calça rasga inteira, todos de babylook com lantejoulas, um brilho só.

— Tem certeza?

— Ah meu, já perdemos um tempão para estacionar o carro. É foda procurar outra vaga hein.

— Tem esse buteco aí da esquina. — Sugeri.

— Quero um lugar que dê pra conversar, esses porras com o som do carro ligado, todos bêbados é foda. Se você fizer questão a gente sai fora, vai pra outro lugar.

— A véi, vamos ficar nessa merda aí mesmo onde a Dani falou que é bom. Qual o nome do bar?

— A Loca. — Respondeu e sorrindo complementou: —  Só a Dani mesmo.

Antes de entrar no bar uma traveco parecida com o Darkness (Demônio interpretado por Tim Curry no filme The Legend) se aproximou. Era um dragão a traveco, Deus do céu. Era uma mulata com uma peruca loira, usando brincos, unhas postiças, com os dentes tortos, roupa meio encardida sei lá do tempo que a minha bisavó ainda trepava. Um tamanco vermelho com os dedos dos pés maior que o calçado, unhas pintadas de roxa. Parecia um monstro das Noites do Terror do Playcenter. Ela estava entregando um flyer de alguma sauna.

O Paulo entrou, mas quando eu fui entrar ela disse:

— Tudo bem, querido? — Bem escandalosa — Dá um beijo na tia dá.

Naquela época eu não sabia o que o destino me reservava e que o meu caminho e o daquela Drag se cruzaria novamente.

Eu curvei o corpo para trás desviando dela e fiz um sinal de joinha.

— To de boa, valeu.

Entrei.

Como ainda era cedo, não foi difícil achar uma mesa no andar de cima, em um terraço que dava para a rua.

— Vamos sentar aqui perto da porta porque dali da frente da pra ver a gente. — Eu disse me sentando. Com receio de ser visto por alguém.

Pedimos duas cervejas e ficamos conversando sobre a Dani. Só o Paulo tinha mais contato com ela, mesmo não estudando mais na Meto, eles eram amigos e conversavam direto pelo MSN. Aos poucos o bar começou a encher. Casais de gays sentaram ao nosso redor. A todo momento eu arrastava a cadeira para lá e para cá para não ficar perto de nenhum deles e também longe da visão de quem estava na porta. Tinha medo de ser visto e de ser contaminado pelo vírus gay. Uns estavam de mãos dadas, com a perna sobre a perna do outro, uns bem encostadinhos. Em uma mesa tinham três casais de gays rindo, fumando e se divertindo. Só eu e o Paulo estávamos deslocados. Mas não era para menos, éramos dois héteros em mais uma balada GLS. O assunto aos poucos foi morrendo e nós fomos ficando cada vez mais calados e eu cada vez mais sem graça. Extremamente desconfortável por estar ali e querendo o que eu estava querendo.

Quando ele estava olhando para um lugar eu aproveitava para prestar atenção nos detalhes de sua roupa, na sua pele, no contorno da sua boca. A boca que eu beijei quando fomos para a praia e que agora estava beijando aquela mina que ele me apresentou. Aquele beijo que eu dei nele na praia foi o último beijo que eu tinha dado até então.

— E ae Cabeção, e a muierada da facul? Pegando todas?

— Opa. Sempre né, véi. Vou dar mole pra buceta? Você é louco? — Respondi — Ainda ontem peguei uma mina muito gostosa, tinha uma boca, uma boca Paulão que você não faz idéia. Fiz ela me chupar debaixo do chuveiro, eu estava tomando banho e ela fazendo uma gulosa pra mim.

— Qual o nome da mina?

— Ah você não conhece. É uma tal de Daniela, prima de uma mina lá da classe. — Menti.

— Então, cara, eu precisava conversar contigo, mano.

Engoli um litro de saliva, meu estômago veio até a boca e voltou.

— Diga. — Respondi pegando o copo de cerveja e dei um gole na loira. Um copo cheio foi embora goela abaixo. Estava tremendo, Paulo não reparou.

— Eu to muito feliz com a Tati, cara.

— Hum. — Resmunguei tentando demonstrar curiosidade.

— Só com você que é meu brother eu tenho liberdade de falar sobre essas coisas, essas paradas de sentimentos. Sei lá, acho que é porque a gente é irmão mesmo. Eu sei que você é comedor pra caralho, então eu queria saber o que eu faço pra fazer dessa minha viagem com ela no sábado um lance inesquecível, está ligado?

"Que papo de merda era aquele?" — Eu pensei.

— Porra Paulo, valeu pela consideração e tal, mas eu não sou nenhum pouco romântico, cara.

— Não, mas me ajuda cara, tipo se você fosse a minha namorada o que gostaria...

— Vixi, está me estranhando, véi? Sou cueca até nos exemplos, mano. Não sei o que você pode fazer. Olha...Pra mim acho que o beijo na hora certa e no lugar certo resume tudo e não precisa ficar dando presente, distribuindo rosas e essa merda toda. Dê uns beijo nela, fala umas merda que mulher adora ouvir e pronto, está na mão.

— É acho que você tem razão. Vou pensar em alguma coisa. Ela é linda, Cabeção.

— É...eu vi. — Olhei para os lados a procura do garçon. Já tinha me batido a vontade de ir embora já.

— Faz dois meses que a gente está junto, mas parece que a gente se conhece há 10 anos, está ligado? Parada forte mesmo. Ela tem uns peitinhos, cara do céu, uma bucetinha raspadinha, lisinha, igual de bebê.

— Cara na boa, acho melhor a gente sair fora daqui. A gente não combina com esse lugar.

— Você está certo. Vamos embora.

Pedimos a conta, pagamos e saímos.

Eu não sei o que deu em mim. Era a primeira vez que eu não apreciava nenhum pouco um amigo meu falando da buceta da mina dele. Ser homem é legal por causa disso,né? Homem não poupa detalhes. Quando a gente conhece a mina de alguém a gente já sabe o tamanho dos melões, que cor é a buceta, quantas pregas tem no cu e por aí vai. Mas o fato era que eu não queria ficar fazendo papel de conselheiro amoroso pro cara. Entramos no carro e saímos fora.

— Você está com uma cara, você está legal?

— Estou mais ou menos. — Respondi.

— Que foi? O que está pegando?

— Sei lá, conheci uma mina ae que mexeu comigo está ligado? Parada forte mesmo.

— Já beijou?

Olhei para ele, olhei para frente, disfarcei e respondi:

— Já, mas sei lá. Tem umas paradas ae complicadas. Entende?

— Ela namora?

— Namora.

— Sabia. Homem só fica com a cara que você está quando a buceta que ele quer tem dono. Você sabe quem é o Mané que está com ela?

— Vi uma vez, assim de longe, pá.

— Não fica assim não, rapá. — Ele disse chacoalhando meu joelho. Mesmo depois que ele tirou a mão da minha perna era como se eu estivesse sentindo o seu calor. Coloquei minha mão exatamente sobre o local onde ele colocara a dele.

— Pois é. Está foda.

— Mas você quer essa mina pra dar uns pegas ou pra namorar sério mesmo?

— Sei lá, nem eu sei mais o que quero.

Namorar? Nunca me imaginei namorando um cara, tendo um compromisso, uma aliança. Aí já era exagero, seria muita viadagem. O que eu queria era ficar com Paulo todo dia, sentir aquele beijo gostoso que ele me deu todos os dias, sentir aquele corpão de novo. Queria que tivesse uma cumplicidade, que não houvesse segredos e que de repente sei lá a gente não tivesse mais namoradas, nem fodas esporádicas com outras pessoas...que a gente fosse só um do outro. Queria tipo isso, mas namorar não, jamais! Eu era, sou e serei macho até a morte.

No caminho de volta começou a tocar uma música do The Cure chamada Friday I'm in Love. Já tinha ouvido aquela música um milhão de vezes, curtia The Cure pra caralho, mas ouvindo ali, naquele momento, com aquela pessoa, eu não fazia idéia de que aquela música teria um significado especial para sempre. Primeiro uns pingos, depois veio a chuva forte do lado de fora.

The Cure, chuva e você do lado de alguém que você não pode ter. É ou não é pra chorar?

Mas fiquei firme, meio quieto na minha. Já tínhamos desistido de sair, afinal de contas quando chove em São Paulo tem que ter cuidado e naquele dia o Paulo não tinha levado bote caso pegasse uma enchente em algum rio ou córrego por aí. Estávamos quase chegando, tirei do bolso um Trident de Melância. Aquele cheiro empesteia o lugar inteiro quando você começa a mascar aquela merda, já repararam? Era o último.

— Descola um pra mim Cabeção.

— Putz mano, acabou, era o último. Quer metade?

Eu já tinha mascado tudo, mas se ele quisesse eu dividiria na boa.

— Quero, mas perae.

Ele deu seta para a direita e estacionou duas ruas antes de chegar em casa. Parti o chiclete com os dentes e entreguei a metade na mão dele. Ele jogou dentro da boca, ficou mascando e me olhando.

— Que foi caralho? Esse era o último. — Eu disse, sem graça.

— Eu sei, mas eu quero tudo. — Ele disse.

Já que ele tinha pedido, né. Eu tirei o resto do chiclete da boca todo mascado e estendi a mão pra ele pegar. Ele olhou para o chiclete preso nos meus dedos, olhos para mim e fez um sinal negativo com cabeça.

— Eu quero pegar da sua boca, você deixa?

Aquele frio maldito voltou feito um furacão dentro do meu estômago, minhas mãos ficaram geladas, fiquei sem ar. Achei que teria uma diarréia bem ali. Eu esperei, continuei olhando para ele, como ele era lindo, que olhar penetrante, que boca, que nariz perfeito, tinha até feito um moicano com gel, tinha se arrumado e se produzido só para sair comigo. Eu olhei para o chiclete e prendi ele nos dentes, ficando com uma espécie de sorriso bobo na cara. Mas ele nem ligou.

A chuva fazia barulho em cima da lataria, lavava o exterior do carro escondendo a gente da vista de curiosos. No som do carro bem baixinho a música do The Cure estava quase acabando. Minha respiração estava trêmula. Paulo parecia estar consciente do que estava fazendo. Não estávamos nenhum pouco chapados. Ele fechou os olhos, inclinou a cabeça e veio bem lentamente pegar o chiclete com a sua própria boca. Fechei os olhos e logo senti seu perfume como se ele tivesse acabado de passar. Senti seus lábios carnudos pressionarem os meus, seu queixo encostou no meu, senti a textura áspera da barba que estava querendo crescer, seu nariz tocou o meu. Entreguei meu chiclete e ele me devolveu sua língua. Bem lentamente começamos a fazer aqueles característicos movimentos circulares com a cabeça de quando está beijando alguém. Não era um selinho, um beijinho, aquele era um puta beijo. Um beijo bom do caralho. Cinematográfico! Melhor que todos que eu já tinha dado em toda a minha vida. Eu nem sei quanto tempo aquilo durou, mas eu não queria que terminasse nunca.

Um beijo quente, molhado, gostoso.  E eu achava que eu sabia beijar, mas agora eu tinha certeza de que o Paulo me superava. Ele foi carinhoso, me acompanhou, não foi afoito e não foi relapso, foi perfeito. Paramos duas vezes para nos admirarmos nos olhos um do outro, mas a vontade de deixar nossos lábios grudados era maior. Coloquei minha mão sobre seu ombro, sentindo seus músculos. Ele passou a mão pelo meu rosto. Sua mão grande, quente e macia. Passou as mãos em meus cabelos e ficou segurando minha nuca enquanto sua língua disputava lugar com a minha dentro da minha boca. Meu corpo se arrepiou inteiro. Minha rola ficou dura feito rocha.

Um carro passou do lado do nosso e o farol dele nos iluminou. Por reflexo, nos separamos. Ele voltou para o lugar dele e ficou vendo no retrovisor se o carro ia parar, voltar, mas felizmente o cara passou batido e foi embora. A música do The Cure já tinha se transformado em uma lembrança inesquecível. Ele olhou no relógio e começou a mascar o chiclete que estava agora, por inteiro, na boca dele. Eu estava ali parado, encostado, imóvel, admirando a chuva que escorria pelo para-brisas. Que chuva linda! Acho que era a chuva mais linda que já tinha caído sobre a face do planeta. Ainda sentia o sabor do Paulo na minha boca.

— Vamos indo que eu to ficando atrasado. Fiquei de ir pra casa da minha mina, estou atrasado.

Olhei para ele e meus olhos não resistiram, foram direto pro pau dele. Aquele volume fálico e pulsante preso na diagonal na calça denotava que ele havia gostado tanto quanto eu daqueles beijos. Dei um sorriso bobo e balancei a cabeça negativamente. Eu tinha beijado o Paulo novamente! Não acreditava naquilo. Tinha dado e recebido um beijo de homem mesmo, nada de viadagem. Não éramos gays, éramos dois caras se beijando e trocando sentimentos de carinho, afeto e atenção.

Ele parou na frente do portão da minha goma.

— Falou ae, Cabeção. — Se despediu e ergueu a mão para que trocássemos cumprimentos.

Olhei para ele sorrindo com um ar de safado, aquele sorrisinho de lado que ninguém resiste. Aquele sorriso que substitui o "fica mais vai". Bati minha mão na dele, ouvimos o "ploc" ao encostá-las. Ele me puxou com força e repentinamente me deu um selinho demorado, gostoso. Nos desgrudamos e eu instintivamente olhei pra goma pra ver se tinha algum mané olhando pra nós, mas eu não conseguia ver nada por causa da chuva.

— Tchau. — Eu respondi manhoso. Ali sim eu pareci uma bichinha eu acho. Mas naquele momento eu não estava nem aí com porra nenhuma. Aí foi a vez de ele dar o mesmo sorrisinho que eu.

— A gente se fala. — Ele disse.

— Beleza. — Respondi soltando sua mão.

Abri a porta do carro, saí, fechei a porta, abri o portão, subi as escadinhas, e entrei na varanda correndo para não me molhar. Ouvi uma buzinada breve de despedida e o Corsinha acelerou e foi embora. Dei uma última olhada e ainda o vi de relance. Quando me virei, Daniel estava sentado no banco da varanda. Nem tinha me tocado que ele estava ali até então.

— E aí Dan, curtindo a chuva né ? — Perguntei felizão.

Ele só me olhou, quieto, sem dizer uma palavra.

— Deixa eu tomá uma ducha. — Eu disse.

Entrei, sem esperar que houvesse diálogo. Na verdade eu queria era bater uma debaixo do chuveiro.

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