O Guardião

By JaqueBastos

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Quarenta dias após a morte de seu marido, Julie Barenson recebe uma encomenda deixada por ele. Dentro da caix... More

Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 12
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37

Capítulo 27

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By JaqueBastos

Do lado de fora do Clipper, Mike se apoiou na porta traseira da picape, tentando se recompor.

- Me dê um minuto - pediu a Julie.

- Você está bem?

Mike levou as mãos ao rosto e suspirou, falando por entre os dedos:

- Sim. Só um pouco nervoso.

Julie se aproximou e puxou a camisa dele.

- Eu nunca tinha visto esse lado seu. Mas você deveria saber que eu estava lidando bem com isso sozinha.

- Deu para perceber. Mas o olhar que ele me lançou realmente me fez explodir.

- Que olhar?

Mike o descreveu e Julie estremeceu.

- Não vi isso.

- Acho que não era para você ver. Mas acredito que tudo isso enfim tenha terminado.

Por um longo momento, nenhum dos dois falou. Algumas pessoas tinham saído atrás deles e olhavam em sua direção. Os pensamentos de Julie, porém, estavam em outro lugar. O que Richard tinha dito mesmo? Que estivera trabalhando? Que tinha passado o dia inteiro na obra? Ela não prestara atenção às palavras quando ele as disse, mas agora se lembrava delas.

- Espero que sim - disse ela.

- Acabou - repetiu Mike.

Julie deu um breve sorriso, mas estava distraída.

- Richard disse que não estava me observando hoje - comentou. - E que não dera os telefonemas. Disse que não sabia do que eu estava falando.

- Você não esperava que ele fosse admitir, não é??

- Não sei. Acho que não esperava que ele dissesse nada.

- Mas ainda tem certeza de que era ele, não tem?

- Tenho, claro - Ela fez uma pausa. - Pelo menos acho que tenho.

Mike pegou a mão de Julie.

- Era Richard. Vi isso no rosto dele.

Julie olhou para o chão.

- O.k.

Ele apertou a mão dela.

- Ora, vamos, Julie. Você não quer que eu comece a me preocupar por ter batido num cara à toa, não é? Era Richard. Acredite em mim. Se ele fizer mais alguma coisa, iremos à polícia e contaremos tudo o que aconteceu. Obteremos uma medida cautelar e o processaremos. Vamos fazer o que for preciso. Além disso, se não era ele, o que estava fazendo aqui esta noite? E por que chegou tão perto de você sem cumprimentá-la? Você estava a apenas alguns metros de distância.

Julie fechou os olhos. Mike está é certo, pensou. Richard não teria ido lá. Não dissera que não tinha gostado do lugar? Não, ele só fora porque os vira entrar. Sabia que estariam lá, pois os estava observando. E é claro que mentiria sobre isso. Se tinha sido insano a ponto de fazer tudo aquilo, por que diria a verdade?

Mas por que deixara que eles os vissem dessa vez? E o que isso queria dizer?

Apesar do ar quente, Julie sentiu arrepios.

- Talvez eu deva ir à polícia de qualquer modo. Só para registrar a ocorrência.

- Pode ser uma boa ideia.

- Você vai comigo?

- É claro. - Mike ergueu a mão e tocou o rosto dela. - Então, está se sentindo melhor?

- Um pouco. Ainda assustada, mas melhor.

Mike passou um dos dedos pela bochecha dela antes de se inclinar para beijá-la.

- Eu disse que não deixaria que nada lhe acontecesse e não vou deixar, o.k?

O toque dele fez a pele de Julie formigar.

- O.k.


***

No bar, Richard finalmente conseguiu se levantar. Uma das primeiras pessoas a chegar até ele foi Andrea.

Ela tinha visto Mike pular do palco e abrir caminho pela multidão. O homem com quem estava dançando - outro aproveitador, reconheceu, embora a cicatriz em seu pescoço fosse sexy - pegara sua mão e dissera: "Vamos... briga." Eles seguiram atrás de Mike e, embora tivesse chegado tarde demais para ver o início ou o fim da briga, Andrea viu Julie levando Mike pela mão para fora, enquanto Richard usava os degraus inferiores do banco para se levantar. Pessoas o ajudavam e ouviam os comentários das testemunhas, e Andrea teve uma ideia do que havia acontecido.

- Aquele cara simplesmente o atacou...

- Ele estava quieto em seu canto até aquela mulher começar a gritar. Depois aquele outro homem se meteu...

- Ele não estava fazendo nada...

Andrea viu o corte no rosto de Richard, o sangue no canto da boca e parou de mascar seu chiclete. Não podia acreditar. Nunca tinha visto Mike levantar a voz, muito menos atacar alguém. Podia ficar carrancudo e irritado, mas nunca se mostrara violento assim. Mas a prova estava bem ali, diante dela. Richard estava em sua frente e, ao vê-lo se levantar cambaleando, ela imediatamente pensou: ele está machucado! Precisa de mim! Dispensou o homem com quem estivera dançando e praticamente disparou na direção de Richard.

- Ah, meu Deus... você está bem?

Richard a olhou sem responder. Quando cambaleou mais uma vez, Andrea passou seu braço pela cintura dele. Nenhuma gordura, notou.

- O que aconteceu? - perguntou ela, sentindo-se corar.

- Ele veio e me bateu - disse Richard.

- Por quê?

- Não sei.

Richard cambaleou de novo e Andrea sentiu quando ele se apoiou nela. Ele passou o braço pelo ombro de Andrea. Também há músculos aqui, percebeu ela.

- Você precisa se sentar um pouco. Venha... deixe-me ajudá-lo.

Eles deram um passo vacilante e a multidão começou a se abrir. Andrea gostou disso. Era quase como se eles estivessem na cena final de um filme, logo antes de subirem os créditos. Ela havia começado a piscar os olhos, para causar mais efeito, quando Joe Torto, mancando com sua prótese de perna, subitamente apareceu para ajudar Richard.

- Vamos - vociferou ele. - Sou o dono deste lugar. Precisamos conversar. Ele começou a conduzir Richard para a mesa e, quando mudou repentinamente de direção, Andrea foi empurrada para o lado e forçada a soltar Richard. Um minuto depois, Joe Torto e Richard estavam conversando em uma pequena mesa.

Do outro lado do bar, com seu momento arruinado, Andrea os observava de mau humor. Quando o homem com quem estava voltou para o seu lado, ela já havia decidido o que fazer.


***

Aquele foi um dia que Julie preferia esquecer.

Ela havia experimentado quase todas as emoções possíveis desde que se levantara naquela manhã, e tudo parecia estar em ordem. No geral, aquele dia ocupava o primeiro lugar na categoria medo (mais assustador do que a primeira noite em que dormiu numa passagem sob uma rodovia em Daytona), o terceiro na categoria tristeza (o dia da morte e do enterro de Jim ainda ocupavam os dois primeiros) e o primeiro lugar na categoria exaustão completa. Somando-se a isso amor, raiva, lágrimas, riso, surpresa, alívio e preocupação ao imaginar o que viria depois, aquele definitivamente tinha sido um dia do qual ela se lembraria por muito, muito tempo.

Na cozinha, Mike estava fazendo café descafeinado. Havia ficado quieto no carro e continuava assim. Tinha pedido aspirina assim que chegaram em casa e colocara na boca quatro comprimidos antes de encher um copo de água para engoli-los. Julie estava sentada à mesa. Singer encolheu aquele momento para se encostar nela até que ela lhe desse atenção, algo que, na mente dele, andava um pouco escassa nos últimos tempos.

Mike estava certo. Aquilo tudo devia ter sido planejado, e não só isso, Richard previra a reação dela. Devia ter sido planejado. Suas respostas, suas mentiras, tudo veio de forma muito rápida, natural e fácil.

E Richard não havia entrado em nenhuma briga.

Aquelas coisas ainda a incomodavam. Especialmente a última, concluiu.

Algo não fazia muito sentido naquilo. Mesmo se Mike tivesse usado o elemento surpresa, não havia tanta surpresa nisso. Ela tinha visto Mike se aproximar e tivera tempo para sair do caminho, mas Richard não só havia brigado como não se mexera. Se sabia o que ela faria, também não teria visto a reação de Mike? Ou pelo menos teria tido uma ideia? Então por que não havia se importado?

E por que ela tinha a sensação de que ele planejara essa parte também?


***

- Tem certeza de que não está tonto? Está com um galo feio - disse Joe Torto.

Ele e Richard estavam sentados perto da porta do Clipper. Richard balançou a cabeça.

- Só quero ir para casa.

- Ficarei feliz em chamar uma ambulância para você - ofereceu Joe.

Para Richard ele parecia dizer: por favor não me processe.

- Estou bem - respondeu Richard, cansado do velho.

Ele abriu a porta e saiu para a escuridão. Examinando o estacionamento, notou que a polícia já tinha ido embora. O local também estava silencioso e ele se dirigiu para seu carro.

Ao se aproximar, percebeu que alguém estava apoiado no veículo.

- Oi, Richard.

Ele hesitou antes de responder.

- Oi, Andrea.

Ela ergueu ligeiramente o queixo para fitá-lo.

- Está se sentindo melhor?

Richard deu de ombros.

Andrea pigarreou.

- Sei que isso pode parecer estranho, considerando tudo o que aconteceu esta noite, mas você se importaria de me dar uma carona para casa?

Richard olhou ao redor. Mais uma vez, não viu ninguém.

- E seu namorado?

Ela apontou com a cabeça na direção do Clipper.

- Ainda está lá dentro. Eu lhe disse que ia ao banheiro.

Richard ergueu uma das sobrancelhas, sem dizer nada.

Em silêncio, Andrea deu um passo na direção dele. Quando estava perto, ergueu a mão e tocou o machucado no rosto de Richard, sempre sustentando seu olhar.

- Por favor - sussurrou.

- Que tal irmos para outro lugar?

Ela inclinou a cabeça, como se perguntasse a si mesma o que ele queria fazer.

Richard sorriu.

- Confie em mim.


***

Na cozinha de Julie, a cafeteira gorgolejava. Mike estava sentado à mesa.

- No que você está pensando? - perguntou ele.

Que tudo que aconteceu esta noite parece errado de algum modo, refletiu Julie. Contudo, sabendo que Mike faria o possível para convencê-la de que ela havia interpretado aquilo mal, deu uma resposta vaga:

- Só estou pensando em tudo. Fico revendo isso em minha mente, sabe?

- Sim, eu também.

A cafeteira apitou e Mike se levantou para encher duas xícaras. Singer ergueu as orelhas e Julie o observou indo para a sala de estar. Mais cedo, em sua pressa de sair dali, ela não havia fechado as venezianas e notou um carro vindo pela rua. Não havia muito trânsito àquela hora da noite e ela tentou reconhecer um dos vizinhos voltando para casa depois de uma noitada na cidade.

Quando a luz começou a ficar mais forte, Singer foi para a janela. Mas em vez de tudo voltar a ficar escuro de novo com o carro passando zunindo, Julie viu a luz dos faróis se intensificar, atraindo mariposas e insetos. Singer latiu e começou a rosnar. O brilho dos faróis permaneceu constante.

Dava para perceber que o carro estava andando em marcha lenta e Julie se aprumou na cadeira. Ouviu o giro do motor e subitamente os faróis se apagaram. Uma porta bateu.

Ele estava aqui, pensou Julie. Richard tinha ido à sua casa.

Mike olhou na direção da janela.

Os rosnados de Singer se tornaram mais altos e os pelos da parte posterior de seu pescoço se eriçaram.

Mike pôs uma das mãos no ombro de Julie e deu um passo hesitante em direção à porta. Singer agora latia e rosnava sem parar, enquanto Mike avançava.

Singer estava furioso, e então algo inesperado aconteceu. O som era ao mesmo tempo normal e surpreendente, e Mike parou, como se tentasse descobrir se o que tinha ouvido era real.

Eles ouviram o som de novo e se deram conta d que alguém estava batendo à porta. Mike se virou na direção de Julie, como se perguntasse: quem será?

Mike espiou pela janela e Julie viu seus ombros relaxarem. Quando olhou novamente para ela, foi com uma expressão de alívio. Acariciou as costas de Singer e disse:

- Shh, está tudo bem.

O cachorro parou de latir, mas em seguida Mike, que estendeu a mão para a maçaneta.

Um momento depois, Julie viu dois policiais em pé na varanda.


***

A policial Jennifer Romanello era nova na cidade e no emprego e ansiava pelo dia em que teria sua própria radiopatrulha, nem que fosse para se livrar do sujeito com quem estava trabalhando. Depois de fazer a maior parte de seu treinamento militar em Jacksonville, ela se mudara para Swansboro não tinha nem um mês. Estava trabalhando com Pete Gandy havia duas semanas e ainda o teria como parceiro por mais quatro - todos os novatos tinham que trabalhar com um policial experiente durante as seis primeiras semanas, para completar seu treinamento -, mas, se o ouvisse mencionar "as regras" de novo, seria capaz de estrangulá-lo.

Pete Gandy girou a chave, desligando a ignição, e a olhou de relance.

- Deixe-me lidar com isso - disse. - Você ainda está aprendendo as regras.

Realmente vou matá-lo, pensou Jennifer.

- Devo esperar no carro?

Embora Jennifer tivesse dito isso em tom de brincadeira, Pete não entendeu e ela o viu flexionando o braço. Pete levava seus bíceps muito a sério. Também gostava de olhar para si mesmo pelo retrovisor antes de entrar em ação.

-- Não. Venha. Apenas deixe que eu fale. E fique de olhos abertos, garota.

Ele disse isso como se fosse velho o suficiente para ser pai dela. Na verdade, estava na polícia havia apenas dois anos e, apesar de Swansboro não ser exatamente um grande foco de atividade criminosa, Pete tinha desenvolvido uma teoria de que a Máfia começara a se infiltrar na cidade e, obviamente, era ele quem lidaria com isso. O filme favorito de Pete era Serpico - e foi por causa dele que se tornara policial.

Jennifer fechou os olhos,. por que entre todos os idiotas, tive que trabalhar com este?

- Como quiser.


***

- Mike Harris? - disse o policial Gandy.

Pete Gandy tinha assumido a postura de "eu sei que o uniforme o intimida" e Jennifer sentiu vontade de lhe dar um tapa na nuca. Sabia que Pete conhecia Mike e Julie havia anos. No carro, ele mencionara que cortava o cabelo no salão de Mabel e que Mike consertava o seu carro. Nem precisou procurar o endereço de Julie. A vida numa cidade pequena era assim, suspirou Jennifer. Para uma mulher que crescera no Bronx, esse era um mundo totalmente novo ao qual ela ainda estava se acostumando.

- Ah, oi, Pete - disse Mike. - Em que posso ajudar?

- Podemos entrar um minuto? Precisamos falar com você.

- É claro - respondeu Mike.

Eles hesitaram e Mike baixou os olhos para Singer.

- Não se preocupem com ele. Ficará bem.

Os policiais entraram na sala de estar e Mike fez um sinal com o polegar por cima do ombro.

- Querem um café? Acabei de fazer.

- Não, obrigado. Não podemos beber em serviço.

Jennifer revirou os olhos, pensando: isso só vale para bebidas alcoólicas, seu idiota.

Àquela altura, Julie tinha saído da cozinha e estava em pé ali perto, com os braços cruzados. Singer foi até ela e se sentou ao seu lado.

- Qual é o assunto, Pete? - perguntou ela.

O policial Pete Gandy não gostava de ser chamado de Pete quando estava de uniforme e, por um momento, não soube como reagir à familiaridade.

Pigarreou.

- Você esteve no Sailing Clipper esta noite, Mike?

- Sim. Toquei com o Ocraoke Inlet.

Pete olhou de relance para Jennifer, como se lhe mostrasse como fazer aquilo. Ah, grande novidade. Apenas um milhão de pessoas já viram isso.

- E se envolveu numa briga com o Sr. Richard Franklin?

Antes que Mike se pudesse responder, Julie entrou na sala de estar.

- O que está acontecendo? - perguntou.

Pete Gandy vivia para esses momentos. Depois de sacar sua arma, essa era de longe a melhor parte do trabalho, mesmo se estivesse fazendo isso com algum conhecido. Afinal, dever era dever e, se ele deixasse passar as pequenas coisas, antes que percebesse, Swansboro seria a capital mundial dos assassinatos. Só no último mês ele havia aplicado uma dúzia de multas em pedestres que atravessavam a rua de forma imprudente e outra dúzia por jogar lixo na rua.

- Bem, detesto fazer isso com você, mas tenho várias testemunhas que afirmaram que você atacou o Sr. Franklin sem ser provocado. Isso é agressão e vai contra a lei.

Dois minutos depois Mike estava sendo levado pela radiopatrulha.


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