Paixões Gregas - Sempre te am...

By MnicaCristina140

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Nickolas Stefanos é o irmão mais novo. Seus três irmãos são casados e felizes, mas Nick, como todos o chamam... More

Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7

Capítulo 4

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By MnicaCristina140



   Pov – Annie

Eu pensando que era um velho babão do tipo que aperta garotas por debaixo da mesa e o homem é simplesmente lindo. Isso é até desrespeito, ninguém devia ser bonito assim impunimente, mas isso nem é o mais estranho.

Olho para ele e só penso em meu príncipe. Quando sorriu quase desmaiei de emoção. Parecia que ele estava ali e claro que isso é a coisa mais estúpida do mundo. Meu príncipe rico e poderoso? Como isso seria possível?

Ele achava que era grego por que todo mundo chamava ele assim, então talvez seja por isso, eles são do mesmo lugar e por isso se parecem. Só etnia. Quem sabe nem se parecem? São as memórias destorcidas de uma garotinha de onze anos cheia de medo.

Me perdi dele para sempre, ele foi embora, talvez se estiver vivo, se estiver livre e não preso como quase todo mundo que saiu de lá, ele possa ter ido buscar suas raízes na Grécia. É melhor pensar nele bem e longe do que imagina-lo preso, drogado ou morto.

Termino a cozinha. Nick é tão diferente do que pensei. Tão legal, mas se ficar o tempo todo pensando no passado eu não vou conseguir aguentar. Foi o pior pesadelo que tive na vida.

A lembrança me faz estremecer e derrubo uma panela. O barulho ecoa pelo apartamento e me faz tremer de susto.

Guardo a panela e subo para seu quarto. Abro a porta e está tudo quase igual. Até a cama está forrada. Acho bonitinho. Ele tem jeito de bom menino. A mãe deve ter ensinado a forrar a cama. Ou a babá. Deve ter tido muitas. Crianças ricas sempre tem.

Entro no closet que é quase do tamanho da casa de Trace. As roupas usadas estão sobre uma cadeira. Quando descer eu as levo. O banheiro é tipo coisa de cinema. Ele é mesmo um magnata grego. A banheira é enorme e alguém podia se afogar ali.

Arrumo uma bagunça ou outra. Coloco as roupas num cesto e pretendia descer quando encontro uma parte literalmente mágica de seu closet.

O chapéu seletor. Uma varinha. O vira-tempo.

─Três voltas devem ser suficientes. – Digo quando o giro. Coloco no lugar, tem mais. Cachecol da Grifinória, taça tribruxo. Xadrez bruxo. – Caramba! Que lugar legal, será que ele brinca com todas essas coisas? Eu bem que brincaria. – Fico com a varinha na mão, olho para a porta do banheiro. – Alohomora! – Nada, um dia ainda vai funcionar.

Deixo tudo no lugar e saio antes que fique ali até anoitecer. Aposto que ele tem todos os livros, será que se importa de me emprestar? Faz um ano que não leio e preciso ler tudo de novo. Todo ano tenho que ler todos os livros. É assim que a vida funciona.

A casa fica arrumada em uma hora o que é irritante porque não tenho ideia do que fazer com o resto do dia. Olho a vista, ando de um lado para outro sem tocar em nada.

Depois vou para cozinha folhear livros de receita. Escolho o cardápio, leio dez vezes a receita. Se a comida ficar muito ruim e ele me mandar embora será muito triste.

Como um sanduiche na hora do almoço. Depois tomo banho. Gosto do ar condicionado da casa, é quentinho e não gelado como todo mundo que tem ar condicionado deixa.

Coloco um short jeans e uma camiseta. Prendo os cabelos para cozinhar. Desfaço minha mala. Não devia fazer isso tão rápido. Ele pode me mandar embora a qualquer momento, é sempre assim.

As garotas com quem dividia o apartamento não tiveram a menor pena. Toda noite uma crise de pânico, um pesadelo ou eu perambulando pela casa. Logico que depois de um tempo elas acharam que eu devia estar possuída.

Ligo a tevê, vasculho pelos canais e acabo deixando em um desenho, no fim da tarde vou para cozinha.

─Vamos lá garota. Você consegue.

Nem vejo o tempo passar, logo o frango está no forno, os legumes do jeito que a receita mostrava na frigideira. Confiro os temperos. Tudo parece estar bem confuso no momento. Duas panelas ligadas ao mesmo tempo e mais o forno é muito para mim.

─Oi. – Meu coração quase salta de susto, dou um pulo e me viro. Lá está ele com aquele olhar divertido depois de quase me matar do coração. – Desculpe. – Ele deve me achar uma idiota, não entende por que me assusto assim, nem vai saber nunca, mas sempre acho que tem algo ruim vindo, alguém chegando para me machucar e isso nunca acaba.

─Já chegou? O jantar nem está pronto.

─Desculpe. Se quiser posso sair e voltar mais tarde. – Ele diz num tom tranquilo.

─Eu sou bem idiota, não é? – Ele continua parado ali me olhando e meu coração bate descompassado e não sei bem o que isso significa, mas me dá medo. A panela. – Ai meu Deus! Está queimando.

─Estou te atrapalhando.

─Olha eu não preciso de ajuda para me atrapalhar na hora de cozinhar. – Aviso desligando e torcendo para não estar muito ruim. Que ideia estúpida confessar que não tenho a menor ideia do que estou fazendo. – É agora que me demite?

─Não. Ainda não é agora. Vou trabalhar um pouco enquanto termina. Coloque mesa para dois.

─Vai receber visita? – Isso não é da sua conta. Eu não paro nunca?

─Não. É para você. – Ele diz sumindo e fico ali olhando para a porta.

Bem feito, ele vai me obrigar a comer minha comida. Faço careta só de pensar. Termino os legumes. Arrumo como na foto do livro. Não parece ruim quando arrumadinho. Desligo o forno e coloco a mesa. Quando volto para sala de jantar com o frango ele me espera.

─Era para parecer com aqueles perus de ação de graças. Não está feio, assim muito feio.

─Já comi coisa pior. Não se preocupe.

─Não sabe. Ainda não comeu.

Eu me sento, Nick faz o mesmo. Fico esperando ele comer.

─Não vai comer? – Me pergunta educado.

─Eu cozinhei isso, quer dizer, pode ser que não seja lá muito bom, então estou esperando você.

─Muito esperta. – Ele come um pedaço do frango. – Vá em frente. É suportável.

─Então não é agora que me demite?

─Definitivamente não é agora. Não sou nenhum gourmet, se fosse teria contratado um chef de cozinha para trabalhar aqui.

─Por que é um magnata grego. – Ele ri com o comentário. – A senhora kalais cozinha bem. Foi o que pareceu.

─Nem perto de como minhas três cunhadas cozinham, ou Mira que trabalha para meu irmão Leon.

─Achava que era sozinho, mas tem uma família grande.

─Sim. Três irmãos. Ulisses que é casado com Sophia, não tem filho e mora aqui perto e trabalha comigo. Leon, que mora na Grécia com a esposa Lissa e os filhos gêmeos, Luka e Alana.

─Que fofura! Gêmeos. – Deve ser muito assustador ter dois filhos de uma vez. Me dá medo só de pensar.

─Sim. Gêmeos. E o Heitor, ele mora em Londres, com a esposa Liv, e os três filhos, quatro se contar o cachorro que ele trata como filho. Lizzie, Harry, Emma, e o cachorro Dobby.

─Família grande. Então todo mundo é fã de Harry Potter?

─Como...

─Harry e Dobby, Emma, além disso eu vi seu armário secreto, não estava vasculhando, mas não resisti.

─Somos apenas eu e Lizzie. Lizzie é a mais velha, escolheu os nomes dos irmãos, queria que Emma se chamasse Hermione, eu a convenci a colocar Emma como a atriz. Você gosta?

─Está brincando? Quem não gosta? Você brinca com aquelas coisas?

─Claro que não, são apenas... Relíquias. ─ Ele responde quase ofendido.

─Tentei alohomora na porta do seu banheiro, não aconteceu. Ainda.

─Esperou sua carta? – Ele me pergunta e remexo a comida, estava ocupada demais tentando sobreviver.

─Não. Quer dizer que você é o único solteiro? ― Mudo de assunto apressada.

─Sou e vou continuar sendo, casar não está nos meus planos, isso é definitivo.

─Também não vou casar. – Conto a ele depois de empurrar um pedaço de frango com gosto de nada goela abaixo. Seu olhar parece incrédulo. – O que? Aposto que pensa que todas as garotas do mundo querem casar.

─E não querem?

─Não sei, não conheço todas as garotas do mundo, mas eu não vou casar. – Isso nem é questão de querer, é um fato, mas não vou entrar em detalhes com ele.

─Então é isso, não vamos casar.

─Nem vou ter filhos. As pessoas ficam tendo um monte de filhos e não pensam como crianças são sensíveis e frágeis, depois acontece coisas ruins com elas e cadê que alguém se importa? – Paro de falar quando noto seu olhar surpreso, com uma família cheia de crianças ele deve estar horrorizado comigo, engulo em seco. – Claro que eu não tenho nada contra quem faz essa escolha, como por exemplo sua família grande. ─ Tento consertar.

─E nem chegamos nos recursos naturais. – Ele diz concordando comigo e agora eu fico surpresa.

─Você também pensa nisso? Por que eu penso muito. Agua, petróleo, nada disso é renovável, mas ninguém liga.

─Estou sempre dizendo aos meus irmãos, mas ninguém me ouve. Felizmente o Ulisses e a Sophia não querem povoar o mundo, não pensam em filhos, querem se aventurar pelo mundo.

─Então alguém te ouviu. – Ele nega.

─Não, isso é por que aqueles dois vivem enfiados em aventuras. Sophi quebrou o braço escalando montanhas no Himalaia.

─Que coisa, queria ser corajosa assim, não sou, tenho medo de tudo.

─Não é meu negócio também. Fico com livros e filmes. E sua família como é?

Ele me pergunta e claro que não vou contar, dizer que meu pai era um trapaceiro que morreu na prisão é pedir a demissão.

─Sou apenas eu, meus pais morreram e não tenho parentes. – Evito seu olhar, descanso os talheres. Deu para engolir. – Não tem porta-retratos dessa sua família grande, por isso achei que era sozinho.

─Verdade. – Ele diz olhando em volta como se procurasse por um. – Nunca pensei nisso, Sophia, minha cunhada é fotografa, ela me deu um álbum, fez um para cada no natal, está no quarto. Tem fotos de todos.

─Que trabalho legal.

─Ela escreve para uma revista, tem uma coluna. Liv é praticamente uma executiva na empresa, fala muitas línguas e quando não está tendo bebês ela trabalha conosco. Lissa é pintora. Seus quadros valem uma fortuna, mas ela diz que é apenas passa tempo, ela gosta mesmo é de cuidar da família. Todas dizem isso.

─Elas podem. E você é o magnata grego.

─Sou advogado, trabalho na empresa e também faço um trabalho voluntário numa ong no Harlem.

─Queria muito fazer algo assim.

─É só fazer Annie, tem sempre alguém precisando.

─Eu não sei fazer nada, não sou advogada, médica, o que poderia fazer? – Isso as vezes me faz sentir vergonha. Ele se encosta mais na cadeira, acabou de comer faz tempo, mas continua ali conversando comigo.

─Lá na associação precisamos de todo tipo de ajuda. Gente para ajudar crianças com os deveres escolares, coisa básica, temos uma biblioteca, precisamos de gente para fazer companhia a alguns idosos, ler para eles, conversar. Servimos refeições também. Aposto que todo mundo gostaria de experimentar esse seu frango com gosto de nada.

Sorrio, eu posso fazer isso, boa parte do dia que passo aqui é andando de um lado para outro, consigo me organizar e ajudar.

─É só chegar e dizer que quero ajudar? – Ele afirma. – Pode me dar o endereço?

─Posso. Semana que vem eu vou estar lá, pode ir comigo conhecer se quiser.

─Semana que vem está longe, pensei em ir amanhã. Juro que não deixo nada aqui desorganizar, é que... – Olho para ele um momento. Decido ser honesta. – É que honestamente você não precisa que uma pessoa fique aqui o dia todo, paga uma fortuna por duas ou três horas de trabalho bem leve.

─Querendo perder o seu emprego e o da senhora Kalais? – Nick diz de modo tranquilo, acho que no fundo ele sabe.

─Não. Coitada, a mulher me mata quando voltar. Mas acontece que passei o dia perambulando pela casa e já que disse que posso ser útil eu quero tentar.

─Deixo o endereço para você pela manhã. Divirta-se, acho que vai gostar e quanto a casa, eu sei que a senhora Kalais não faz muito, nem eu gostaria que fizesse, ela já é uma senhora.

─Obrigada.

─Vou trabalhar um pouco. – Finalmente ele fica de pé, passamos um bom tempo conversando, eu queria que fosse mais.

Recolho a louça, lavo, deixo a cozinha impecável, levo menos de uma hora. Não tem nada para fazer e a ideia de dormir me assusta. Sei que vou ter pesadelos e incomodar Nick mais uma vez.

Me sento na minha salinha e ligo a televisão. Vasculho os canais um tempo, assisto um filme pela metade e quando termina não entendo nada. Encaro o relógio. Quase onze. Será que ele quer um sanduiche? Talvez já tenha ido dormir.

Pego meu livro, comecei a ler faz duas semanas e está absolutamente chato. Mesmo assim me forço a ler. Quando ergo o olhar são quase meia noite e então decido que ele pode sim estar com fome. Vou até a sala e vejo a porta do escritório aberta e a luz acesa.

Faço um sanduiche. Um suco natural e levo para ele. Nick ergue o olhar quando me vê.

─Ainda acordada? – Afirmo quando ele afasta as coisas para receber a bandeja. – Sabe que não precisa fazer isso? Já passou muito do seu horário de trabalho.

─Eu sei. – Fico um pouco chateada, é só uma gentileza, não vou cobrar por isso. – Desculpe ter vindo, é que não durmo cedo e não estava fazendo nada.

─Ficou chateada? – Eu nunca escondo muito bem meus sentimentos.

─Um pouco, foi apenas uma gentileza. Não estava pensando nisso como trabalho.

─Obrigado Annie, desculpe se me expressei mal, gostei da gentileza. Apenas não estou acostumado, sempre fico sozinho e quando... Obrigado. – Nick desiste de explicar.

─Melhor eu ir. Boa noite.

─Gosta de chocolate? – Ele me pergunta quando deixava o escritório.

─Acho que sim. Como todo mundo.

─Então não gosta como eu, isso é ótimo. – Acho aquilo estranho. – Pode guardar isso, num lugar difícil?

─Quer que esconda de você? – Sorrio quando vejo uma caixa elegante de bombons finos.

─Sim. A senhora Kalais fazia isso sem eu precisar pedir, acho que esqueceu de te dizer. Eu vou comer tudo se ficar aqui. Quando aquele potinho ficar vazio você repõe. – Vejo um pequeno pote de cristal com quatro bombons.

─Tudo bem. Cuido disso.

─Obrigado. – Ele sorri mais uma vez, gosto do sorriso dele, do jeito como os olhos parecem sorrir junto.

Guardo os bombons num armário de panelas na cozinha, me sinto meio ridícula em esconder os chocolates dele, mas sei que tem gente viciada nisso.

Vou para cama. Me encolho nas cobertas. Repito meia dúzia de vezes que não vou ter pesadelos para ver se meu cérebro registra.

Estou sozinha na disciplina, me esqueceram aqui, sinto cede e calor, falta ar e cheira a mofo. Tento bater na porta, mas estou fraca, vou morrer sozinha aqui. Junto forças para gritar por socorro, alguém vai ouvir e me salvar. Grito com todas as minhas forças, uma vez, duas vezes, não quero morrer aqui, sozinha e esquecida, grito e tento bater na porta mais uma vez e então uma mão se fecha em meu pulso e abro os olhos num sobressalto.

Nick está de pé, ele segura ainda meu braço e me sento pálida de vergonha do vexame.

─Desculpe. – Ele solta meu braço. Se afasta um pouco.

─Outro pesadelo? – Afirmo, passo a mão pelos cabelos, que vergonha, olho para o relógio ao lado da cama, uma e meia da manhã.

─Sinto muito. Por favor me desculpe. Eu não devia ter dormido.

─Não dormir não parece ser o jeito mais saudável de evitar pesadelos. – Ele diz tranquilo, é o único jeito que conheço.

─Acordar o patrão toda noite também não é muito saudável.

─Estava acordado, eu estava... Onde guardou o chocolate? – Acabo sorrindo, afasto a coberta e me levanto, estou com uma camiseta longa que parece um vestido, no meu quarto, de noite, sozinha com ele e não estou com medo, isso é estranho, o modo como ele me deixa segura.

─Eu pego. – Tive tanto trabalho para esconder, se soubesse deixaria sobre a mesa. Ele me segue para cozinha, abro o armário e pego a caixa.

─É que acabei distraído e comi todos então... Quer?

─Não. Já escovei os dentes, vou ficar com preguiça de escovar de novo.

─Certo, fico com a caixa. Boa noite.

Ele some e fico me sentindo meio que numa outra dimensão, o que foi isso?

Me encolho no sofá da salinha e ligo a tevê, definitivamente vou tentar não dormir e pronto. Acabo pegando no sono no sofá, acordo com dor no corpo seis da manhã. Tomo uma ducha rápida e me visto para minha corrida. Deixo o apartamento pelo elevador de serviço e assim que passo pela portaria começo a correr.

Nova York não dorme, seis da manhã, seis da tarde, tem sempre gente indo e vindo. Tento limpar minha mente, não quero pensar no meu príncipe, não quero pensar no passado, não quero pensar em Nick.

Ele é meu patrão, nada além disso, em dois meses vou estar fora de suas vistas para sempre, não é meu emprego, não é minha casa, não somos e nem vamos ser nada um para o outro e preciso ter consciência disso antes que me apaixone.

Paro de correr no mesmo instante. Paraliso de pé no meio do parque. O que é isso? Me apaixonar? Pensei mesmo sobre isso? Claro que não, nunca. De jeito nenhum eu não posso me apaixonar. Não devo. Não quero. Não consigo evitar.

Volto a correr, era para limpar a mente como sempre foi e não para ficar toda confusa. Quando volto para casa ainda correndo só penso em como me sinto confusa e envolvida. Nunca aconteceu antes. Também nunca me deixei ficar perto de ninguém, eu não dou espaço, não fico a vontade com nenhum homem para isso.

Com ele eu fico, me sinto bem, sem medo, como se perto dele coisas ruins não acontecessem.

─Tolice! – Digo em voz alta para tentar acreditar. Começo a andar quando me aproximo do edifício e quando subia os degraus da portaria uma jovem surge também entrando, carregava um yorkshire nos braços e é a coisinha mais doce do mundo.

─Bom dia. – A moça diz educada.

─Como é lindo! – Acaricio a cabecinha dele enquanto vamos entrando. – Como se chama?

─Bob! – Ela sorri, como todo mundo que tem cachorros faz quando fico assim encantada. Amo muito cachorros.

─Oi Bob! Você é lindo. – Ergo meu olhar e sorrimos uma para outra. – Bom dia, sou Annie.

─Sarah. Moro no nono andar.

─Oi Sarah, trabalho para o senhor Stefanos, substituindo a governanta.

─Boa substituição. – Ela sorri. Seu elevador chega. – Vamos?

─Ah não eu vou pelo de serviço.

Sarah me puxa para dentro e a porta se fecha, ri do meu susto.

─Que bobagem. Não liga para aquele Ted. O Homem é um idiota.

─Ah eu sei disso, pode apostar. – Bob se abana todo para mim. Pego ele dos braços de Sarah. – Que lindo. Bob adorei você.

─Então está convidada para vir me visitar. Quem sabe um chá? Bob vai adorar. Não é filho?

─Claro, quando quiser. – A porta do elevador se abre. Devolvo Bob.

─Eu ligo, pelo interfone, não tenho o telefone do Senhor Stefanos, ele é bem recluso, fala pouco.

Ela segura a porta, sorrio sem querer discordar, acho ele bem falante, mas não conheço ele o bastante para ter certeza.

─Tchau. A gente se vê. – Ela solta a porta que se fecha. Entro pela cozinha. Coloco a mesa do café depois de lavar as mãos. Me esqueci que pretendia trazer café. Uso a cafeteira e faço um bom e forte café, isso eu faço bem.

Quando coloco o café na mesa Nick se aproxima, mas claro que o perfume chega antes. Que droga de homem todo perfeito!

─Bom dia. Conseguiu voltar a dormir?

─Sim. Obrigada. – Meus olhos encontram os dele. Sinto vontade de perguntar se por um acaso ele não foi criado num abrigo para crianças abandonadas. Ele vai rir de mim é claro. Já me contou sobre a família. Um cara com um monte de irmãos mais velhos não acabaria num abrigo.

De novo meu coração dispara, pisco tentando não pensar em como ele me faz sentir.

─O endereço. – Ele me estende um papel e volto a realidade.

─Obrigada. – Sorrio pensando na possibilidade de ajudar, nunca ninguém fez isso por mim, se tivesse tido uma única chance. Não tive, agora posso mudar a história de alguém e fico um pouco emocionada. – Eu vou.

─Tudo bem. É que as pessoas lá, elas são bem carentes, se for algo passageiro, quer dizer, se for começar e depois perder o interesse, talvez seja melhor pensar antes.

─Entendi. Obrigada. – Ele vai ver, não preciso ficar dizendo a ele. – Seu café.

Mas Nick não se move, fica de pé, me olhando de um modo estranho, parece pensar e não sei bem o que passa por sua cabeça.

─Não... Não posso ficar. Tenho... Estou atrasado, desculpe ter te dado trabalho.

─Sem problemas. – Tento sorrir, o sorriso se desfaz, sinto uma energia confusa correr por meu corpo, ele está perto e me olha tanto e é bonito e gentil.

─Vou chegar bem tarde. Não se preocupe com o jantar. – Nick me dá as costas e some em direção ao elevador.

Noite de sexta-feira, ele é rico, bonito e solteiro, claro que não vem jantar. Vai sair com alguma mulher linda e ter uma noite incrível. Uma mulher bem elegante e alta.

Guardo tudo, arrumo a casa correndo e depois sigo para a associação. Vou de metrô, vinte minutos e estou na frente da associação, é um prédio bem cuidado, uma senhora me recebe com um sorriso largo.

─Bom dia. Meu nome é Annie, eu vim me oferecer para ajudar. Tenho muitas horas livres todos os dias.

─Bom dia Annie. Bem-vinda. Como soube de nós?

─Ni... O Senhor Stefanos trabalha aqui.

─Ah! Sim. Isso não existiria mais sem ele. Se ele te indicou é muito bem-vinda. Sou Naomi, cuido das escalas.

Ela me mostra tudo, no local tem salas para crianças estudarem, com gente que ajuda com os deveres e reforço escolar. Dentista, médico, advogados, são três deles, Nick e mais dois. Então chegamos a um jardim e vejo cinco idosos, uma delas numa cadeira de rodas.

─Eles vivem aqui. Não era para ter ninguém interno, mas essas pessoas viveram a vida toda no bairro e acabaram abandonadas. Reformamos um lado da associação e durante o dia eles tomam sol, conversam, não é um trabalho muito desejado, as pessoas preferem as crianças, de noite ficam dois enfermeiros cuidando deles.

─Posso escolher?

─Prefere as crianças. – Ela diz tentando sair e continuo parada ali.

─Não. Eu posso ficar com eles. Ler, fazer companhia. Ajudar no que for preciso, vou gostar muito.

─Certo Annie. Podemos tentar. Quando pode começar?

─Agora. Posso vir todos os dias. Menos nos fins de semana. Eu não sei bem como vai funcionar minha vida nos fins de semana ainda.

─Então, mais uma vez. Bem-vinda e bom trabalho. Vá conhece-los.

Sorrio, me sinto bem importante fazendo isso, da até vontade de chorar quando encaro aqueles olhos tristes e meio perdidos. Me sento ao lado de uma senhora. Mil coisas passam por minha cabeça. Podia ser eu. Talvez um dia seja, eu não tenho ninguém e se envelhecer talvez eu termine a vida contando com a bondade de estranhos.


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Instagram Autora Mônica Cristina

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