- Então quer dizer que o Marcos te beijou? - Mateus diz tomando mais um pouco do seu milk shake.
- Sim, mas eu não deixei por muito tempo - digo e olho ao redor da sorveteria que estávamos - O que foi? - pergunto ao Mateus que está furioso e apertando o copo do milk shake que a qualquer momento pode estourar.
- Ele não podia ter te beijado, eu sou seu namorado - ele bate o copo na mesa e praticamente grita.
- Calma Mateus, eu sei que eu fui errada e que no nosso acordo isso não era permitido, mas eu sei que o Marcos não vai contar isso pra ninguém, então não se preocupe com a sua reputação.
- Amora, você sabe quantas garotas eu tive que dispensar por causa do nosso namoro? Foram muitas - ele diz tentando elevar seu ego e me fazer ciúmes. Eu olho para ele incrédula - Está bem, foram algumas. Duas, talvez. Mas isso não vem ao caso,você não deveria ter feito isso.
- Tá bom, eu entendo. E se você quiser terminar eu vou aceitar completamente - sorrio sarcasticamente.
- Não - ele grita - Quer dizer, eu acho melhor não, nem todo mundo aceitou ainda essa ideia de namoro, eu acho que a gente tem que prolongar por mais um tempo, só por garantia. Dessa vez passa, mas eu nunca mais quero saber de você beijando o Marcos - ele diz como se fosse meu pai.
- Sim senhor pai - digo rindo.
Confesso que pra mim esse história de namorar o Mateus seria bem pior do que está sendo. Quando tudo isso acabar eu vou sentir falta de não ser mais a invisível, eu vou sentir falta de fingir que existe alguém que se importa comigo.
- O que foi? - pergunto ao Mateus que está me olhando estranho.
- Nada - ele sorri de lado e se senta perto de mim ainda me olhando estranho.
- Mateus, eu já te falei que não adianta o quanto você flerte comigo eu não... - sem nem me esperar terminar de falar, Mateus segura meu rosto com uma mão e me abraça pela cintura com a outra e em seguida me beija.
- E agora? Se apaixonou? - ele me olha convencido.
- Eu só tenho duas coisas pra te falar. Primeiro, você não é um príncipe. E segundo, a mesma boca que você acabou de beijar, beijou o Marcos a alguns minutos atrás - falo e ele faz uma cara de nojo.
- Eca, Amora!! - ele praticamente grita e coloca a língua pra fora. Eu começo a gargalhar sem parar do desespero desnecessário dele.
Saímos da sorveteria e vamos até a praça, mas especificamente ao "nosso lugar secreto".
- O que você estava fazendo no corredor da escola? - junto coragem e pergunto ao Mateus o que eu já tinha vontade de saber desde que tinha me batido com ele.
- Eu fui te ver - ele diz sorrindo de lado - quer dizer, eu fui porque o Marcos tinha falado que eu podia ir e eu não ia deixar a namorada do Mateus Soares sozinha com ele - ele diz e nos sentamos no chão em meio as folhas e galhos.
- Mas você chegou um pouco tarde não é? - falo e ele passa o braço ao redor do meu ombro me puxando para mais perto e eu o lanço um olhar de reprovação - Você sabe que não precisa fazer isso aqui, nos não estamos em público - me afasto novamente.
- Desculpa. Eu esqueci - ele diz sério e um pouco abatido.
Um silêncio constrangedor se forma entre nós até que eu decido falar:
- Está vendo aquela árvore ali? - aponto para uma árvore não muito longe de nós e o Mateus assente - É uma amoreira, foi ali que meus pais se conheceram.
- Nossa, que legal - Mateus diz como se quisesse que eu continuasse a falar.
- Eles amam essa fruta e por isso me deram esse nome idiota - rio sarcasticamente.
- Seu nome não é idiota. Eu acho lindo - reviro os olhos - Mas é verdade, e ele fica mais lindo ainda depois de saber que tem toda uma historia por trás.
- Você nem sabe a história toda.
- Sim eu sei, seus pais me contaram - ele diz com um sorriso vitorioso.
- Meus pais não tem jeito mesmo - abaixo a cabeça envergonhada, por estar dividindo com o Mateus algo tão pessoal.
- Mas é legal, ter um nome que significa a história de amor de alguém - ele diz e me fazendo sentir-me melhor em relação ao meu nome por pensar desse lado.
- Verdade. E o seu nome? Significa alguma coisa em especial? - pergunto curiosa.
- Não, só é um nome - ele diz com desdém.
- Mas tem um significado. Como o meu, que significa fruto silvestre e é o feminino de amor.
- Pra falar a verdade eu nem sabia que isso existia então eu não sei qual o significado do meu nome - Mateus diz sorrindo de lado e de repente eu sinto um arrepio.
Pego o celular na bolsa e digito na barra de pesquisa Significado do nome Mateus várias opções surgem e em poucos segundos eu já tinha encontrado o que procurava.
- Achei! - falo e o Mateus se aproxima mais de mim para olhar a tela do celular - significa dom ou presente de Deus. Gostou?
- Eu gosto - ele diz me olhando estranho novamente.
- Gosta do quê?
- De como você me trata agora, sem nojo, sem desprezo, diferente de antes - ele fala sorrindo.
- Isso porquê você provou pra mim que não é enjoado nem insuportável como seus amigos - digo um pouco embaraçada por ter que admitir isso.
- Você não faz ideia de como é bom ouvir isso. Finalmente seu orgulho não resistiu e teve que confessar o que você achava de mim - ele sorri convencido e se levanta estendendo a mão para eu segurar.
- E mesmo assim você continua um chato - resmungo e seguro sua mão me levantando em seguida, já saindo em direção a praça.
- Ei, pra onde você vai? - Mateus pergunta.
- Pra casa? - respondo como se fosse óbvio.
- Não, você vai até lá comigo - ele vem até mim, segura na minha mão e aponta para a amoreira.
- Agora Mateus? - pergunto tentando me desvencilhar dele.
- Sim, qual foi a última vez que você comeu uma amora? - passo um tempo tentando lembrar quando foi - Pela sua cara você nem se lembra, então isso significa que tem muito tempo - Mateus me puxa pelo braço e vamos correndo até a árvore.
- Mateus espera!! - grito mais ele ignora e continua me puxando em direção a árvore.
- Chegamos - ele diz e começa a tentar subir na árvore.
- Mateus desce daí. Se você cair, eu não vou te ajudar a levantar.
- Você não quer amoras Amora? - ele pergunta e ri da piada idiota que acabara de contar. Me contagio com o seu riso e acabo rindo junto.
- Pega logo seu idiota - digo e em seguida ele desce cheio de amoras na mão.
- Uma amora para outra Amora - ele estende a mão e eu pego as pequenas frutinhas da mão dele.
Seguimos o camino de volta para a praça comendo as amoras, e assim que chegamos nos sentamos em um dos bancos e ficamos observando as pessoas ao passo que ia anoitecendo.
Depois de um tempo em silêncio Mateus dá um longo suspiro e eu fico indecisa se pergunto ou não o que está o preocupando.
- O que foi? - finalmente decido perguntar.
- A semana de provas está chegando, eu só estou preocupado com as minhas notas.
- Desde quando os populares se preocupam com as notas? - pergunto colocando uma amora na boca.
- Sério que você vai começar com isso? - ele diz um pouco impaciente, pelo visto o assunto era mesmo importante.
- Desculpa, mas é que suas notas sempre foram boas eu pensei que você não se preocupava com isso.
- Infelizmente ninguém nasceu como você, que não precisa estudar, eu dependo do meu... - ele para de falar e eu o olho confusa - do meu raciocínio pra tentar passar.
- Na verdade eu só estudo, por isso que me saio bem na maioria das matérias.
- Eu também estudo, só que eu tenho muita dificuldade em tudo que envolve cálculo, número, exatas, tudo isso me deixa louco.
- Menos em física, quem tira dez nessa matéria? Além de você ninguém.
- Física é exceção, nem sei como eu consigo me sair bem nessa matéria - mais uma vez me sinto indecisa, será que eu ofereço ajuda a ele?
- Se você quiser eu posso te ajudar - decidi que sim.
- Muito obrigada, mas não precisa, eu só preciso que o meu irmão me ajude, pelo menos dessa vez.
- Você quase nunca fala dele, quem é o mais velho? - pergunto e ele parece pensar um pouco na resposta.
- Ele é mais velho, mas a diferença é pouca.
- Então você é o queridinho da família? - pergunto e finalmente consigo arrancar um sorriso dele.
Seguimos conversando por quase uma hora. Nunca na minha vida eu poderia me imaginar nessa situação, amiga de um popular, mas não qualquer popular, o Mateus Soares.
Alguns meses atrás, só pensar nessa hipótese seria um absurdo pra mim, mas agora, eu já me acostumei a não ser mais invisível, a passar pelos corredores sorrindo, a ser notada.
Mais tarde, assim que cheguei em casa a Beatriz atravessou a rua correndo para falar comigo.
- Oi priminha - ela diz com aquela voz irritante.
- O que você quer? - pergunto impaciente.
- Eu só queria dizer que eu não ligo pro fato de você namorar ou não o Mateus, saiba que isso não me atinge nem um pouco - ela fala como se não se importasse.
- Eu sei que não Beatriz, pode ficar despreocupada. Eu nunca namoraria alguém pra te atingir - falo e sorrio ironicamente.
Abro a porta de casa e entro deixando ela sozinha.
- Parece que está na hora de terminar com o Mateus - repito para mim mesma.
Obrigada se você deixou ou vai deixar sua estrelinha vai me ajuda bastante.
E não esqueçam dos comentários, eu amo saber a opinião de vocês.
Muito obrigada pelos 4k (se não chegamos ainda estamos bem perto), fico muito feliz em ver o crescimento do livro e isso me motiva a escrever cada vez mais.
Beijos e até o próximo capítulo.