Instantes [CONCLUÍDA - Lolla...

By juliane_patricia_

2.5K 244 600

Essa história foi originalmente publicada em 2016/2017, com o nome Lolla&Rebeka (NÃO É UM ROMANCE LGBTQI+), t... More

Prólogo
1: Valentina
2: Peter
3: Lidia
4: Luke
5: Lolla
6: Lolla

7: Lidia

70 18 27
By juliane_patricia_

Campinas, 2014

Quando eu tinha doze anos meu mundo virou do avesso, eu já sabia que fora das paredes coloridas do orfanato onde minha mãe era diretora o mundo estava em caos por causa da Ditadura Militar, mas sempre acreditei que ali dentro tudo fosse perfeito e veio a vida e cabum, explodiu minha bolha de perfeição.

O pai que eu idolatrava tinha outra familia e estava nos abandonando para ir viver com eles.

Foi chorando o abandono de meu pai e me perguntando o que eu havia feito de errado que duas importantes coisas aconteceram na minha vida, a minha amizade com Valen - uma das muitas órfãs da Ditadura - ganhou um juramento de amizade eterna e a incredulidade em casamentos.

Por pura ironia do destino, eu que sempre jurei nunca me casar ou mesmo amar encontrei entre cervejas e discussões acaloradas sobre o futuro do nosso país Osvaldo Meirelles, professor de filosofia aficionado por Star Wars e bolos que me mostrou que não era só porque o casamento dos meus pais havia dado errado que o de todo mundo daria, assim acabei aceitando seu pedido de casamento, que se tornou a base de toda a minha vida feliz, e se não fosse meu casamento eu teria enlouquecido após a morte de Lolla.

Pensar em Lolla me causa uma enorme tristeza.

Me sinto ainda pior porque eu sabia que havia algo de errado, porém acreditei que era apenas uma fase, que se lhe desse espaço ela passaria e minha filha voltaria a ser a menina cheia de vida e hiperativa de sempre, contudo não passou e eu me sinto culpada por negligência, talvez se eu a tivesse forçado a falar o que estava errado ela ainda estivesse aqui.

Todos nós estamos sofrendo a morte prematura de Lolla, porém ninguém tem sofrido mais que Rebeka.

Ter encontrado Lolla e te-la visto morrer esperando o SAMU que chegou tarde demais não foi apenas traumático, transformou a brilhante menina com ideias modernas como o feminismo em uma casca vazia, sem forças até para vestir uma das suas muitas camisetas com frases instigantes.

Vimos o colorido virar cinza, os discursos virar palavras monossilábicas, Rebeka se transformou no que Lia chama de robô programado para dormir, acordar, estudar ou trabalhar - ou ambos - comer e dormir, porém eu errei uma vez, não vou errar com ela também, estamos pagando um preço alto demais pelo minha negligência com Lolla.

- Você não vai deixar de estudar para ficar o dia todo no quarto, Rebeka. - Digo entrando no seu quarto tão vazio que nem parece ter uma dona.

- Eu não estou deixando de estudar tia, apenas não vou essa semama pra aula, é trote e eu não estou afim de participar. - Fala sem nem mesmo tirar os olhos da tela do notebook.

-Você pretende ir e vir de São Paulo todos os dias? É isso? Porque não a vi falar de nenhum...

- Aluguei uma kitnet mobiliada a dois quarteirões do campus. - Ela me encara. - E antes que a senhora pergunte, eu já entrei em contato com uma psicóloga e começo a passar com ela daqui duas semanas. - Me aproximo da cama com a intenção de sentar, mas ao ver a tristeza em seus olhos a abraço e ficamos em silencio por vários minutos até ela quebrá-lo. - Eu estou tentando seguir em frente, tia Lidia, mas é difícil e as vezes parece tão errado.

- Ah, querida, ela não iria querer que nós ficassemos paradas apenas vendo o tempo passar, ficaria...

- Lolla ficaria furiosa se não seguíssemos em frente. - Ela sussurra.

- Exatamente. - Beijo sua cabeça e tento lhe dizer algo reconfortante, mas infelizmente as palavras de consolo sumiram da minha mente quando enterrei Lolla em vinte e um de dezembro.

Os dias passam, Rebeka inicia o curso de economia na USP e algumas semanas depois nos surpreende com a escritura da casa que alugamos em Campinas.

- Eu sei que vocês não pretendem voltar a Aliança e o tratamento da vó Verônica tem sido caro e eu tenho esse monte de dinheiro que não tenho ideia do que fazer, aí pensei, porque não compro a casa? O aluguel será uma despesa a menos. - Valdo está paralisado a encarando, já foi difícil ele aceitar que Peter comprasse uma casa maior quando Rebeka veio morar conosco, imagina aceitar esta de presente - Por favor, alguém fala alguma coisa. - Rebeka parece nervosa, Bruno segura a sua mão sorrindo ainda mais.

- Quanto de dinheiro você ainda tem, Beka? - Lia pergunta quebrando o silêncio.

- Uhm. - Ela cora. - Digamos que se eu quisesse não trabalhar eu iria viver bem por uns dez anos...

- Uau. - Lia está visivelmente surpresa, até eu que sei a quantidade absurda de zeros da conta dela fico surpresa. - Bruno, é por isso que você faz jornalismo, né!? Você sabe que a Beka não vai te deixar passar fome.

- Lia! - Repreendo-a, contudo Bruno parece não se importar. Valdo continua sem reação.

- Tudo bem, Lids, no terceiro ano, já me acostumei com essa zoação. - Ele sorri docemente e se não o conhecesse diria que o assunto está encerrado. - Apenas me aguarde, Leia.

- Lia. - Seu garfo para na metade do caminho para a boca. - Meu nome é Lia, L-I-A.

- Okay, Léeeia. - Ele sorri ainda mais, Rebeka também sorri e por um instante acho que Lolla aparecerá a qualquer instante reclamando do trânsito e pedindo desculpas pelo atraso, então eu pisco e me lembro que ela nunca mais se atrasará para nada.

- Rebeka, quanto você pagou pela casa? - Valdo finalmente se pronuncia.

- A gente não diz quanto pagou em um presente, tio Valdo.

- Que presente? - Pergunta Luke surprendendo-nos com sua presença. Ele está com o cabelo muito curto e uma mancha azul na camiseta, mas é seu olho roxo que me chama a atenção.

- Luke. - Digo já caminhando em sua direção. - O que...

- Eu não briguei com ninguém...

- Eita, foi aquela louca que mora com você?

- Lia, você não deve dizer que uma mulher é louca. - Todos encaramos Rebeka esperando que ela complete a frase do namorado, mas tudo o que ela faz é um leve dar de ombros.

- É a verdade, Raquel é louca, porém esse não é ponto. - Lia sorri. - Quem foi que te deixou com um olho roxo?

- A Raquel, mas foi um acidente.

- Eu não disse!?

- Lave as mãos e sente-se, vou pegar um prato para você. - Digo depois de verificar que não posso fazer nada por seu olho roxo, ele olha a mesa e sorri de orelha a orelha.

- Mãe, como é que a senhora faz arroz especial e eu não sou convidado?

- Luke Daniel, nem pense em sentar nessa cadeira sem lavar as mãos. - Digo puxando-o pela manga da camiseta antes que ele assalte a travessa de batatas.

- A senhora se preocupa demais com germes. - Resmunga caminhando para o lavabo. - E que presente você está dando, Beka? - Grita tão alto que o ouço da cozinha.

- Comprei esta casa. - Rebeka grita de volta.

- A Beka é milionária e não contou para nós, Luke. - É a vez de Lia gritar.

- Lia, a gente sempre soube que a Beka era rica, tanto é que ela financia todos os nossos projetos. - Estamos de volta a sala e sua frase não é exatamente bem-vinda.

- Luke! - Lia e Rebeka o Repreendem em uma só voz.

- Opa, ignorem. - Luke ataca a comida e novamente acho que Lolla entrará correndo pela porta ou reclamará com ele sobre ele nunca guardar um segredo e mais uma vez me lembro que isso não acontecerá.

- Beka, o que você anda financiando? - Pergunto antes que as lembranças me sufoquem.

- É... Uhm... Bom... - A observo, ela nunca foi boa mentirosa, porém costumava ter uma resposta pronta para tudo. Ela toma um gole do refrigerante e Luke aproveita para falar.

- A Beka é a minha sócia, pronto falei. - Ele morde um pedaço do pernil e com a boca cheia completa. - Desculpa, Beka, mas você sabe, eu ia acabar contando mesmo.

- Eu não preciso ver o que você comendo, Luke e o foco da conversa não é o que a Beka patrocina ou não, é ela ter comprado a casa.

- Rebeka... - Valdo começa a dizer, mas ela o impede.

- Tio, foi um presente e o senhor não vai morrer se o aceitar.

- Rebeka, eu não posso aceitar, é de uma casa que estamos falando - Diz a encarando e provavelmente se perguntando como fará para paga-la.

- É claro que o senhor pode aceitar, mas como eu já imaginava toda essa negação a casa no nome da Lia e pense que vocês a estão ocupando até a Lia se casar. - Ela sorri para Lia que fica vermelha.

- Lia se casar? Você bebeu, Beka? Até parece. A Lia vai ficar pra titia.

- Luke! - Rebeka chama sua atenção, mas é a própria Lia quem lhe responde.

- Luke Daniel, me casar ou não é escolha minha, não estou nenhum pouco preocupada em ficar pra titia, eu pelo menos serei bem sucedida e rica e você? Um dono de boteco que nem sabe dar nó em uma gravata. - Diz calmamente nos dando um vislumbre da advogada brilhante que virá a ser.

- Eu já te disse Leia Verônica, eu tenho um café gourmet e não um boteco.

- Meu nome é Lia!

- Como queira, Leia.

- Lia.

- Vocês dois, parem já. - Valdo intervém levantando-se. - Vocês não tem mais sete anos de idade, cresçam. Se continuarem agindo assim vou mandar os dois pro quarto antes da sobremessa. - Ele respira funda, uma, duas, três vezes, sentando novamente e vira-se para Rebeka. - E você não deveria ter comprado esta casa, mas já que comprou depois conversamos sobre e vemos um jeito para lhe ressarcir, agora vamos terminar de comer como uma família normal ou o mais perto que possamos chegar disso.

No fim Valdo é vencido pela maioria e obrigado a aceitar a casa de presente, Lia usou ótimos argumentos como a própria faculdade, o tratamento da mãe dele, mas foi a possibilidade de finalmente poder economizar para realizar seu sonho de conhecer a Califórnia que o convence.

As semanas vão passando e a ferida aberta com a morte de Lolla finalmente começa a ser cauterizada, lentamente seguimos em frente, vivendo um dia de cada vez.

Quando acredito que Rebeka finalmente está seguindo em frente ela surprende a todos com o trancamento da faculdade e uma viagem sem data de volta pela Europa, a surpresa teria sido menor se Bruno tivesse ido com ela - afinal, Bruno é um espírito livre, que faz esse tipo de coisa sem pensar duas vezes - no entanto, até onde sei, ela terminou seu namoro aparentemente ótimo e foi ter seu ano sabático sozinha.

<<<<<<<<<>>>>>>>>>>

Hey, guys!

Como todos estão?

Eu juro que estou tentando diminuir o tamanho dos capítulos, porém está bem difícil, vou me esforçar mais.

Bom era só isso que eu tinha para dizer.

See you soon.

Beijos e chocolates,

Juliane Patrícia - 16/09/2016

Continue Reading

You'll Also Like

399K 36.4K 36
Olivia Brassanini está cansada de viver sob o olhar e cuidado constante de seu pai mafioso, então em uma tentativa de ter uma vida normal, ela se mud...
87.4K 5.4K 44
Ele decide ajudar ela a investigar a morte de seu pai, porém ele quer algo em troca. -Nada é de graça meu bem. -O que quer?-Pergunto -Você. Ela só nã...
14.4K 1.7K 40
Um lobisomem X um vampiro X um feiticeiro O que eles tem em comum? Além é claro, da rivalidade entre as especies que já se estende por décadas. Luna...
10.3K 1.3K 20
Olivia tinha a vida considerada perfeita pela imprensa, bonita, casada, dona de uma empresa em ascensão. Até o dia que recebe a notícia que seu marid...