Digamos que no começo de todo essa história eu cheguei a pensar que daria certo. Mas o quê, hipoteticamente falando, pode acontecer de ruim se houver a pequena hipótese de eu ter me apaixonado pela minha namorada de mentira?
Eu estou tão envolvido nessa historia que até meus pais acreditam que eu estou namorando e eu estou prestes a encarar os pais da minha namorada que nem é minha namorada num jantar. Ou seja, estou nervoso a toa.
Repito várias vezes para mim mesmo que eu não tenho nenhum sentimento pela Amora, na tentativa de tornar isso real, mas não está funcionando.
A verdade é que eu estou me apaixonando por ela a cada dia mais, mas eu sei que se eu dizer o que eu sinto a ela, toda essa historia de namoro de mentira vai acabar e eu confesso que não quero que isso aconteça.
Passei o dia junto com o meu pai e o Luís na casa deles. Alguns anos se passaram desde que meus pais se separaram, mas ainda é muito estranho me referir a minha antiga casa como casa do meu pai.
- Saí daqui Luís - empurro o mesmo que caiu da cama e está todo esparramado em cima de mim, que dormi no chão.
Meu pai passa pelo quarto e me vê tentando tirar o Luís de cima de mim.
- Bom dia garotos - ele diz animadamente.
- Bom dia pai - falo na mesma animação que ele - pode me ajudar aqui? O Luís não quer acordar.
- Levanta Luís - meu pai o empurra e ele saí de cima de mim.
- Me deixa dormir mais um pouco - Luís se levanta do chão e deita na cama voltando a dormir de novo.
- Parece que só somos nós dois hoje amigão, de novo - meu pai passa um braço pelos meus ombros e descemos as escadas indo em direção a cozinha.
- O que temos para o café? - pergunto sentando na mesa da cozinha.
- Eu comprei pão, bolo, frutas, suco, café, bom tem de tudo, afinal hoje você vai voltar pra casa - ele diz com tristeza na voz.
- Pai, no próximo final de semana eu volto, o senhor sabe disso.
- Você tem certeza que tem que voltar pra casa hoje?
- Não posso ficar pai, eu tenho um compromisso hoje a noite.
- Então quer dizer que o senhor vai me trocar por um compromisso qualquer? - ele diz fingindo estar ofendido.
- Não é um compromisso qualquer, é algo importante e eu tenho que estar bem preparado e apresentável.
- Ah é? Então tem uma garota no meio desse compromisso - ele diz e me olhando com os olhos arqueados.
- Mais ou menos - digo colocando um pedaço de bolo na boca.
- Como assim, mais ou menos?
- Eu vou jantar na casa dela, com os pais dela.
- Então a coisa é séria? - ele começa a fazer um discreto interrogatório.
- Pra ela não, os pais dela que tornam isso tudo muito sério.
- E você gosta dela? - meu pai tenta parecer indireto e natural mas na verdade ele está fingindo que não quer saber a resposta enquanto passa manteiga no pão.
- Eu ainda não sei o que sinto por ela - digo como se ele estivesse conseguido arrancar aquilo de mim naturalmente.
- É melhor do que dizer que não sente nada. Quando quiser trazer ela aqui, sinta-se a vontade, eu estou ansioso pra conhecer a sortuda que balançou o coração do meu campeão - ele dá um leve soco em meu braço.
Passei a manhã de pijama assistindo beisebol com o meu pai no canal fechado da tevê e comendo pizza como nos velhos tempos.
Quando eu estava prestes a sair da casa do meu pai recebi uma mensagem da Amora que me fez sorrir.
Hoje a noite. Na minha casa. Jantar informal. Não se esqueça!!
Amora
- Eu sei o que você sente por ela - meu pai surge atrás de mim e diz.
- O quê? - pergunto curioso.
- A melhor parte é descobrir isso sozinho.
Termino de arrumar minhas coisas e contínuo a pensar nas palavras do meu pai. O que será que eu sinto pela Amora?
- Já vai pirralho? - Luís que até então estava dormindo diz me fazendo voltar para o mundo real.
- Já deu minha hora, você que acordou atrasado. E eu não sou pirralho, nós temos a mesma idade.
- Não sei se você esqueceu mas eu sou mais velho por cinco minutos - ele diz sorridente como se estivesse ganhado algum prêmio por isso.
- Você não vai comigo? - pergunto a ele que já está na cozinha procurando algo pra comer.
- Hoje não, fala a mamãe que eu passo por lá um dia desses na semana - ele diz com desdém.
- Me espera pra que a gente possa se ver.
- Você e suas melosidades. Para de ser fresco Mateus - ele fala com deboche pra me provocar.
- Tudo bem então, eu não preciso de muito mais que um espelho pra te ver - rio da cara de fúria dele. O Luís odeia quando eu digo que somos iguais.
Entro no carro do meu pai e em vez de me levar pra casa ele vai em direção ao shopping.
- O que a gente veio fazer aqui? - falo assim que ele estaciona o carro.
- Você veio comprar um presente pra sua namorada - ele diz como se fosse a coisa mais natural do mundo, não sabendo ele que a Amora nem merece um presente.
- Mas o que eu vou comprar? - pergunto tentando pensar em uma desculpa pra não ter que fazer isso.
- Tem uma loja de jóias aqui, onde eu sempre comprava presentes para a sua mãe - ótimo agora ele vai usar o relacionamento fracassado dele como exemplo para o meu relacionamento de mentira.
- Eu acho que não precisa, a Amora é muito simples, ela não gosta de nada sofisticado - digo mas ele continua andando em direção a loja.
- Se ela disse isso é mentira, toda mulher gosta, mas se realmente for verdade a gente pode comprar algo mais simples.
- O senhor não acha muito exagero da minha parte chegar em um jantar informal com uma jóia?
- Claro que não, ela vai ficar toda boba pro seu lado.
- Vai? - sinto uma ponta de esperança invadir meu peito - Não, ela não é assim - um surto de realidade toma conta de mim novamente.
- Siga a voz da experiência.
Enfim chegamos na loja. Meu pai parecia já saber o que eu devia comprar. Ele foi em direção a um balcão da loja onde uma atendente estava a espera de um cliente.
-Boa tarde - meu pai a cumprimentou e eu fui procurar um lugar para me sentar.
Poucos minutos depois ele voltou com uma pulseira que me parecia familiar.
- Está vendo essa pulseira? - ele pergunta e eu assinto - Foi o primeiro presente que eu dei a sua mãe - a pulseira era simples, com apenas um pingente de coração com as iniciais deles dentro.
- Uau! É perfeita - digo pegando da mão dele para examina-la de perto.
- Eu sabia que você ia gostar - sorrio ao me lembrar da minha mãe usando isso - Por isso pedir para fazer uma com a sua inicial e a da Amora.
- O quê? - pergunto assustado.
- Isso mesmo que você ouviu, agora vamos fazer um lanche e depois voltamos pra pegar a pulseira.
Sem escolha eu tive que ir atrás dele e fazer o que o mesmo tinha mandado.
Depois de lancharmos e pegarmos a pulseira meu pai me deixou em casa. Olho no relógio e já é quase a hora do jantar.
- Mateus, você já vestiu a roupa que eu te dei? - ouço minha mãe gritar atrás da porta.
- Já - digo e ela imediatamente abre a porta.
- Ai meu filho, como você está lindo - ela diz me analisando dos pés a cabeça - eu tenho certeza que a Amora vai achar o mesmo.
- Eu espero - dou um longo suspiro e pego a caixinha onde a pulseira está.
- O que é isso? - minha mãe pega a caixa da minha mão, senta na ponta da minha cama e abre - Foi seu pai que te ajudou a escolher?
- Foi - sussurro de cabeça baixa.
- Não precisa ter medo de me contar - ela diz com um sorriso no rosto - Eu me lembro como se fosse ontem o dia em que eu recebi essa pulseira e o quanto eu amei, tenho certeza que ela vai gostar tanto quanto eu - ela fala com a voz meio triste.
- A senhora está bem?
- Estou - ela suspira - E então, pegou o buquê de flores?
- Peguei - digo sorrindo confiante.
- Ótimo, o táxi já está te esperando lá em baixo, é melhor se apressar - ela saí e fecha a porta.
Olho para a minha escrivaninha e vejo o poema que a Amora tinha me devolvido a algumas semanas atrás.
Pego o poema e coloco dentro do envelope junto ao bilhete que está no buquê.
Dou uma última olhada no espelho e desço as escadas indo em direção ao táxi, que já estava a minha espera.
Alguns minutos, que mais pareceram uma eternidade, se passaram e eu finalmente estava na porta da casa da Amora. Dou uma breve olhada no relógio e percebo que não estou atrasado.
Toca a campainha e logo a Amora aparece, mas linda do que nunca.
Seu cabelo solto caia sobre seu ombro de uma forma natural, além de deixar seus óculos de lado e provavelmente estar usando lentes, o que realçava seus grandes olhos castanhos.
Assim que me vê ela arregala os olhos, e eu não sei se gostou ou não do que viu.
- Não vai me deixar entrar? - falo sorrindo.
- Claro, desculpa - ela abre a porta e eu entro.
- Trouxe para você - digo a entregando o buquê de rosas.
- Obrigada - ela sorri e me surpreende com um beijo rápido na boca.
Olho para o lado e percebo a presença dos pais e do irmão da Amora, imediatamente entendo o motivo do beijo.
- Boa noite - digo sorridente.
- Boa noite - todos respondem em uníssono.
- Deseja alguma coisa, Mateus? Água, suco... - a mãe da Amora diz amigavelmente.
- Não, muito obrigado.
- Então vamos jantar, por que eu estou morrendo de fome - o pai da Amora diz e todos exceto a mãe dela riem.
- Paulo, que coisa horrível de se dizer a mãe da Amora o repreende.
- Mas é a verdade - ele fala na defensiva.
Durante o jantar tudo ocorreu muito bem. Nós conversamos sobre a faculdade, sobre meus pais, a escola, sobre eu e a Amora e pela primeira vez eu senti como se isso tudo fosse verdade.
No fim do jantar, pedimos licença e a Amora acompanhada por mim sobe as escadas em direção ao seu quarto.
- Está bem, o que é isso? - ela fecha a porta atrás de si e diz quase sussurrando enquanto aponta para o buquê de flores que está em sua cama.
- Eu posso explicar - suspiro e ela cruza os braços - Assim como seus pais, os meus pais também acha que nós realmente estamos namorando, e meu pai meio que insistiu pra que eu comprasse isso pra você - pego a caixinha com a pulseira e entrego a ela.
- Você sabe que isso não faz parte do acordo, não é?
- Abre logo - digo impaciente para saber sua reação. E mais uma vez ela arregala os olhos e eu não sei se gostou ou não do que viu - E então, o que achou?
- Uau! É tão... Uau - ela deixa escapar o sorriso mais lindo que eu já vi - Eu não posso aceitar - Amora me devolve a caixinha.
- Por que não?
- Primeiro que isso parece ser muito caro e segundo tem um M aqui, como eu vou usar isso quando nosso namoro acabar?
- Primeiro, eu já comprei e não tem como devolver e segundo, pode servir de recordação do momento que estamos vivendo.
- E quem disse que eu quero me recordar de tudo isso? - ela diz friamente e sai do quarto fechando a porta em seguida.
Coloco a caixinha ao lado do buquê de flores, em cima da sua cama e pego o envelope com o poema de volta, guardando novamente no bolso da minha calça.
Desci as escadas e depois de pedir um táxi, me despeço de todos agradecendo pelo jantar.
Assim que saio a Amora vem atrás de mim.
- Mateus espera - me viro para ouvir o que ela tem a dizer - desculpa pelo o que eu disse, você está me fazendo um favor e eu fui muito ingrata.
- Tudo bem - digo de cabeça baixa e novamente ela me surpreende. Com as mãos no meu rosto, ela me beija e eu passo as mãos ao redor de sua cintura puxando-a para mais perto.
Mas rápido do que eu desejava ela me solta e eu volto pra realidade me lembrando do taxista que ainda me espera. Antes de entrar no carro me viro novamente para ela e pergunto:
- Por que me beijou?
- Beatriz - ela sussurra e olha para o outro lado da rua.
- Ah claro - por um minuto me esqueço do real motivo disso tudo. Entro no táxi e encosto a cabeça na janela ainda pensando na noite que tive e na enrascada que me meti ao me apaixonar pela minha namorada de mentira.
3k de visualização!!! Ai meu Deus!!
Eu não tenho palavras para agradecer a vocês, sério, muito obrigada pelos votos e comentários, vocês são os melhores leitores que eu poderia ter.
Como agradecimento (atrasado, sim, eu sei) eu preparei esse capítulo especial na voz do Mateus.
Espero que tenham gostado. Comentem a vontade e votem também, porque isso vai me estimular a atualizar a história com mais freqüência.
Se esse capítulo chegar em 50 likes e/ou 35 comentários, eu prometo atualizar na segunda-feira não na quinta.
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