Melissa Oliveira
Quem diria que o homem que me atropelou se tornaria meu chefe? Esse mundo é tão pequeno.
Que bom que meus xingamentos direcionados a ele não afetaram minha contratação.
Sou babá desde os dezesseis anos, na verdade foi meu primeiro e único emprego, meu pai arrumou para mim antes de se mudar para o Rio de Janeiro com minha mãe por conta do trabalho.
Lorenzo, meu irmão mais velho decidiu ir junto, já que tinha conseguido entrar em uma faculdade de grande nome no Rio de Janeiro.
E eu decidi ficar aqui com minha tia Cecília, sou muito apegada a ela, e meus pais tinham Lorenzo, então ficariam bem.
Ela é como uma mãe para mim, sempre cuidou de mim enquanto meus pais trabalhavam.
Hoje eles não estão mais juntos, acho que faz uns cinco anos desde a separação, e vejo que ambos estão melhor assim.
Tia Cecília e eu não temos tanto dinheiro, mas vivemos até que bem, minha tia é aposentada, então eu sou a única a trabalhar.
Meu tio faleceu quando era pequena então não tenho muitas memórias dele, mas queria ter, pelas histórias de tia Cecília, ele era um homem maravilhoso.
Não faço faculdade, terminei a escola e já arrumei um emprego de babá e desde então não tive outra profissão.
Gosto muito de crianças, então acho que gostaria de ser professora um dia, quando puder pagar uma faculdade.
-Você já pegou tudo que vai precisar, querida? Viu o horário do ônibus? - Diz minha tia Cecília enquanto me ajuda a arrumar minhar bolsa.
-Eu vi sim, tia. Já estou indo para o ponto.
-Tomou café? Está levando sua marmita?
-Tomei sim, e vou almoçar no serviço.
-Tome cuidado com esse seu patrão, homens assim gostam de dar em cima de funcionárias.
-Eu sei me cuidar tia, nada de ruim vai me acontecer, e não acho que meu chefe seja esse tipo de homem. Eu preciso ir, tchau tia. Fique com Deus, até mais tarde.
-Você também fique com ele. - Beijo sua testa.- Tchau querida.
Saio da casa e vejo um carro parado na porta, e senhor Santana dentro do carro falando com alguém no telefone, mas ao me ver, desliga o mesmo.
-Bom dia senhor Santana.
-Bom dia Melissa. Como você está?
-Estou bem e o senhor? O que veio fazer aqui?
-Eu me lembrei que não dei a você o dinheiro da passagem então decidi vir buscar você hoje, que bom que seu endereço estava no currículo. E por favor, não me chame de Senhor, acho que não sou tão velho assim, não é?
-Você é meu patrão. Como quer que eu te chame?
-Talvez pelo meu nome?
-Está bem, vou tentar.
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Assim que chegamos, Luan disse que me mostraria a casa e que Alice chegaria logo da escola.
A casa era linda, nunca tinha visto algo parecido com isso, além de ser enorme.
Luan me mostrou um quarto e disse que seria meu caso algum dia precisasse dormir lá e que poderia deixar minhas coisas lá.
-Mas não se preocupe, se você precisar dormir aqui, eu irei te avisar com antecedência e irei pagar hora extra.
Nem parecia o quarto de funcionários, tinha um guarda roupa grande, e uma cama de casal, além de ter um banheiro, só esse quarto é maior que a casa da minha tia Cecília.
Luan avisou que tinha dado a hora de buscar Alice, ele me deixou no quarto e foi até a escola.
Depois de uns vinte minutos Bruna veio me chamar, disse que a Alice já tinha chegado da escola e estava ansiosa para me conhecer.
Quando chegamos até a sala, Luan estava conversando com uma criança que provavelmente era Alice.
Não sei a aparência da mãe dela, mas duvido que tenha algo parecido com a mãe, ela é a cara do meu patrão, os olhos, o nariz, a boca, tudo.
-Filha, lembra que eu te falei que o papai ia contratar uma moça pra cuidar de você?
-Sim, papai.
Ela fala com uma voz tão fofa, a minha vontade é de aperta-la!
-Essa é a Melissa, é ela que vai cuidar de você.
-Oi gatinha. Tudo bem? - Me abaixo - Seu nome é muito lindo sabia?
-Obrigada. - Ela sorri - Você é tão linda. Parece uma Barbie.
-Você que parece uma. O que acha de me mostrar os seus brinquedos?
-Eu adoraria. Tenho uma boneca igual a você. Vem comigo!
-Tomem cuidado o Puff sujou o quintal inteiro e a Cláudia não vem hoje. -luan olha para mim - Cláudia é a empregada, ela arruma a casa e faz a comida, ou seja não precisa fazer nada disso. - me explica.
Deduzi que Puff seria o cachorro da família, da outra vez que estive aqui, não vi nenhum animal.
-Entendi. Vamos Alice. - Seguro sua mão.
Saímos da sala e alice me levou até o jardim. Lá havia um baú rosa, cheio de brinquedos.
-Tia Melissa, abre aqui por favor.
Abro e ela tira de lá algumas bonecas.
-Senta ai vou ensinar a senhora a brincar. - concordo, sentando em cima do lençol que ela colocou.
-Titia, essa daqui é a Paulinha. - Me mostra a boneca. - E essa aqui é a Sofia. - Me mostra a outra. - Qual a senhora vai querer?
-Qual você quer?
-Quero a Paulinha.
-Então eu fico com a Sofia.
-Titia, essa aqui é o seu namorado, e esse é o meu. - Me mostra dois bonecos. - Essas roupinhas são suas...
+++++++++
Depois de algumas horas brincando e nos conhecendo, percebo que Alice é uma criança sozinha, o pai trabalha o dia todo e a tia também, o que resta para ela são os funcionários da casa, espero que nossa relação melhore cada vez mais.
Ela me contou que sua mãe vem buscar ela uma vez na semana e elas ficam o dia juntas, mas que raramente dorme na casa da mãe, e disse também que a mãe dela preferiu que ela morasse com o Luan quando ela era mais nova.
Me pergunto que mãe abriria mão da guarda da filha? Ainda mais uma filha tão doce como Alice.
-O que você acha de tomar um banho?
-Na banheira do quarto do papai?
-Se ele deixar, por mim tudo bem.
Pego ela no colo e vou direção a porta. Luan e Bruna estavam na sala, ele mechendo no celular e Bruna no notebook.
-Ela disse que queria tomar banho na sua banheira, algum problema?
-Não, nenhum. Depois do banho, traga ela para jantar, e em seguida coloque- a para dormir ela foi dormir tarde ontem.
Apenas concordo e subo as escadas, vou pro banheiro do quarto de Luan e ajudo Alice a se banhar.
Quando terminamos o banho, ela mesma se seca e coloca seu pijama.
-Que linda, como você é independente!
-Minha antiga babá sempre quis que eu fizesse tudo sozinha, então aprendi.
-Saiba que eu estarei sempre aqui para ajudar você, não precisa fazer tudo sozinha, okay?
-Okay, tia melissa. - Alice sorri pra mim e me abraça.
-O que acha de irmos jantar? Você deve estar com muita fome depois de brincar o dia todo.
-Estou mesmo, e eu amo a comida da tia Bruna, foi ela que fez?
-Não sei, vamos ter que descobrir.
Descemos as escadas e Luan, Bruna e uma moça de aparentemente trinta anos estava ao lado deles, na sala de jantar.
-Limpa e cheirosa. - digo para Luan enquanto ajudo Alice a se sentar na cadeira.
-Obrigada Melissa, essa é Isabela, a professora de Alice.
Não é antiético uma professora ter um relacionamento pessoal com os pais dos alunos?
-Prazer. - Digo estendendo a mão, mas a mesma finge não ver.
-Igualmente querida. Você despediu a Dolores, Luan?
-Digamos que ela se demitiu, Alice perturbou ela até a coitada não aguentar mais. - ele ri para a filha.
-Hum, bom, fico feliz que tenha encontrado outra babá tão rápido - Isabela me olha dos pés a cabeça. - Você não é muito nova pra ser uma babá?
-Não sabia que precisava ser velha pra ser babá. - digo e no mesmo instante me arrependo.
Droga
Olha para Luan e o mesmo segura a risada
Se está com vontade de rir, não esta irritado, que bom, mas acho melhor segurar minha língua, é meu primeiro dia e não quero confusão.
-Você cozinha também? Você que fez o jantar hoje, querida? Está sem sal.
-Não fui eu, mas acho que convidados não deviam reclamar da comida do anfitrião. - não me aguentei e falei mais do que devia novamente.
-A única coisa sem sal aqui, é essa sua cara de cínica, Isabela! - Bruna se levanta da mesa. - Não sei o que o Luan enxerga em ti, vamos ver até quando ele vai querer comer você!
-Bruna! Tenha modos!
Bruna respira fundo e vai em direção a uma porta onde imagino que seja seu quarto.
-Isabela, por que tinha que falar isso hein? Aliás, por que veio até minha casa? Sabe que se alguém souber que está indo visitar pais de alunos, não vai pegar bem pra você.
Acho que não deveria estar ouvindo isso, me afasto lentamente e vou até a cozinha para colocar a comida de Alice mas ainda presto atenção na conversa.
-Você me deixou entrar, achei que tivesse gostado da visita.
-Sou uma pessoa educada, Isabela.
-Sua irmã acha que tenhos algo... - ela sorri pra ele
-Que bom que sabemos que isso é coisa da cabeça dela. E pare de falar essas coisas na frente de Alice.
Esperei todos ficarem em silêncio para levar o prato de Alice até a sala de jantar. Luan me chamou para comer mas não me sinto à vontade com isso eu sou empregada, e empregados não comem na mesa com os patrões.
Estava lavando os pratos enquanto aguardava Alice terminar de jantar, até que ouço passos vindo em minha direção.
Olho para ver quem era e vejo Luan.
-Sabe que isso não é seu trabalho né? - tira o prato da minha mão e coloca na pia novamente.
-Não vejo problema em ajudar.
-Não quero que faça nada além de cuidar de Alice, está me ouvindo?
-Okay.
-Preciso de um favor seu, me desculpe pedir isso logo no seu primeiro dia, e sei que disse que avisaria com antecedência mas houve uns problemas na empresa e somente eu posso resolver, será que você pode ficar com ela essa noite? Eu te pago hora extra como já combinamos.
-Claro, estou sendo paga para isso.
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Acordo no dia seguinte, faço minhas higienes e visto a mesma roupa, acho que vou deixar umas roupas aqui caso isso aconteça novamente. Vou pro quarto de alice, ela não estava lá, me desesperei e procurei pela casa toda.
-Alice! Cadê você?
Não tinha ninguém em casa, Luan voltou de madrugada da empresa e hora de manhã voltou para lá e Bruna também foi trabalhar cedo.
Pego meu celular e ligo pra Luan.
"Alô? "
"Senhor Santana, a Alice sumiu!"
"Como assim?"
"Eu acordei e fui pro quarto dela, mas ela não estava no quarto e em canto nenhum da casa."
"Ah, é isso" - ouço sua risada
"Por que está rindo senhor? "
"Ela não sumiu Melissa, ela está na creche."
"Nossa, ufa, que susto. "
"Foi culpa minha, esqueci de avisar para você, pode ir buscar ela na creche às onze? "
"Claro, onde é? "
"Cláudia sabe onde é, pede pra ela ir com você."
"Não tem ninguém aqui senhor. "
" O que?Ela não chegou ainda? Se ela não chegar até dez e meia, me ligue por favor! "
"Sim senhor, tenha um bom dia."
"Você também. Ah, e quando for busca-la por favor, vá na recepção e pergunte o dia que voltará as aulas."
"Claro, tchau."