Intocável

By Fahbarbosa

322K 25K 1.1K

Nickolas Steel, é um jovem arrogante e problemático que enfrenta conflitos familiares desde muito cedo e o se... More

Capitulo 1
Capitulo 2
Capitulo 3
Capitulo 4
Capitulo 5
Capitulo 6
Capitulo 7
Capitulo 8
Capitulo 9
Capitulo 10
Capitulo 11
Capitulo 12
Capitulo 13
Capitulo 14
Capitulo 15
Capitulo 16
Capitulo 17
Capitulo 18
Capitulo 20
Capitulo 21
Capitulo 22
Capitulo 23
Capitulo 24
Capitulo 25
Capitulo 26
Capitulo 27
Capitulo 28
Capitulo 29
Capitulo 30
Capitulo 31 - Final

Capitulo 19

12.3K 759 23
By Fahbarbosa

Eve

O restaurante era enorme e irritantemente bem iluminado. Pisquei, tentando fazer meus olhos se acostumarem com toda aquela claridade, e senti os dedos de Nickolas pressionarem a curva da minha cintura, enquanto ele me guiava até a mesa na lateral.
Não sei se isso era mesmo uma boa ideia mas, pensei que talvez pudesse dar certo. Ainda era estranho estarmos aqui.
Ele me olhou com cautela, percebendo meu desconforto por causa do ambiente extremamente luxuoso, e fez uma careta.

- Você não gostou do lugar?

- Não, está tudo bem. - menti.

- Podemos ir para outro se você...

- Não,não, Nick. Aqui está...bom. - respirei fundo, tentando fazer meu sorriso parecer sincero.
Ele não tinha culpa de preferir os lugares mais caros. Afinal, ele foi criado assim. E também não me conhecia o bastante pra saber que eu me sinto péssima apenas em passar na frente de um lugar como esse.
Mas tudo bem, estávamos aqui para nos conhecer. Como ele mesmo sugeriu.
Ouvi ele pigarrear e chamar minha atenção para ele.

- Então... Vamos pedir? - apontou o cardápio.

Assenti, passando meus olhos por todos aqueles nomes de pratos sofisticados, e agradeci por não ser tão ignorante e ao menos conhecer um ou outro.
Pedi um prato que consistia basicamente em bife e batatas, com um molho estranho, e Nickolas escolheu um vinho para acompanhar.
Eu estava nervosa e isso era uma merda. Não fazia ideia de como começar uma conversa com ele, e isso soava tão absurdo, considerando que até já fomos pra cama juntos. Mas as circunstâncias foram totalmente diferentes.

- Juro que não queria fazer você se sentir tão desconfortável. - ele falou e levantei o olhar em sua direção.

- Estou bem.

- Eve...

- É sério. Vamos falar de outras coisas. - pedi, observando ele balançar a cabeça, concordando.

Ele tomou um pouco do seu vinho, e me fitou com atenção.

- Eu não faço ideia do que eu deveria perguntar a você. - declarou, com um sorriso preguiçoso.
Eu acho que eu suspirei.

- Cantadas baratas definitivamente não funcionam comigo. - retruquei, ainda abobalhada com o homem à minha frente. Era outro Nickolas.

- Isso é bom... Acho. De qualquer forma eu não saberia como fazê-las. Eu sou mais de gestos, sabe? - me olhou firme, o sorriso se desenhando ali, quase escapando. Meu coração disparou um pouco, me assustando.
Oh, eu sabia que ele era mais de fazer do que falar. Clarissa era prova viva disso.
Não fui capaz de encontrar minha voz, e virei minha taça de vinho, sorvendo a metade do líquido ali.
Isso não foi nenhum pouco bonito, eu sei.
Em seguida nossos pratos chegaram, e nossa atenção foi desviada, fazendo o clima ficar um pouco mais leve. Conversas sussurradas se espalhavam por todo o ambiente, nos fazendo perceber, aos poucos, o mundo ao nosso redor. Tentamos retomar a conversa, mas era tão estranho essa situação, que ele acabou desistindo de insistir.

- Você está muito tensa. Acho que devemos ir embora. - falou, empurrando seu prato.

Eu realmente queria ir embora. Mas que droga! Eu não queria que ele pensasse que eu não estava gostando da sua companhia. Era só... O lugar que me inibia.
Mal toquei no prato, mas em compensação, o vinho eu andei tomando com mais vontade.

- Eve... Acho que já chega de vinho pra você. - ele afastou minha taça, fazendo sinal para o garçom.

- Eu não estou bêbada. - e eu não estava mesmo.

- Sei que não. Mas se continuar nesse ritmo isso pode mudar. - pagou a conta, se levantando em seguida e pegou meu braço. - Vamos?

Acho que respirei aliviada. O segui para fora, e de repente comecei a respirar melhor. Ele me olhou de esguelha, e eu me apoiei melhor em seu braço.

- Acho que descobri uma ou duas coisas sobre você. - disse, parando de andar e pousando suas mãos em minha cintura.

- Ah, é? - arqueei minha sobrancelha para ele. Seu polegar deslizou sobre ela suavemente.

- Você fica desconfortável em lugares luxuosos.

- Jura? - ele riu diante do meu imenso sarcasmo, e continuou.

- E é uma mentirosa terrível.

Sorri, afundando o rosto em seu peito e inspirando seu cheiro ali.
Ele cheirava como a minha perdição.
Me afastei, encarando seu rosto que me olhava como se eu fosse algum tipo de presente surpresa.

- Acho que devemos ir para casa.

- Eu fui péssimo não fui? - fez uma careta em desgosto.

- Nada que eu não pudesse suportar. - o provoquei, e ele riu, prendendo meu rosto, transformando meus lábios num biquinho e beijando levemente.
Merda! Eu estava prestes a perder meu controle.

- Como eu disse, uma mentirosa terrível. - murmurou, depois abriu a porta para mim.
Deslizei para o interior do carro, sentindo meu pulso acelerado e uma vontade de pular nele a qualquer momento. Mas mantive o controle. Eu precisava manter o controle.

Ele dirigiu concentrado pelas avenidas calmas, e já era tarde o bastante para a maioria das pessoas estarem no aconchego de suas camas.

Quando atravessamos a porta da sala, tudo estava silencioso. Apenas a varanda estava iluminada. E provavelmente, Jocelin já dormia.
Joguei minha bolsa sobre o sofá e tirei meus saltos imediatamente. Meus dedinhos agradeceram. Nickolas se jogou ao meu lado e me fitou por longos minutos, enquanto eu massageava meus dedos vermelhos.

- Me desculpe por hoje, Eve. Eu sou um merda quando se trata dessas coisas, e eu nunca dei muita importância pra isso, então... - virei, olhando para seu rosto cansado.

Confesso que esse Nickolas que era gentil e pedia desculpas, ainda me assustava.

- Tudo bem, Nickolas. Não foi tão ruim. - sorri para tranquiliza-lo.
Ele bufou.

- Péssima mentirosa, lembra?

- Estou falando sério. - garanti, tocando sua mão, e ele virou a palma, envolvendo meus dedos.

- Você é a primeira garota que eu levo a um encontro, e acabo de fazer ele ser um enorme desastre.
Ele estava mesmo chateado por isso, e era tão engraçado vê-lo inseguro feito um adolescente apaixonado.

- Essa "garota" que já é mãe da sua filha. - lembrei, dando um leve aperto em sua mão.
Seus olhos me analisaram por segundos, até ele se inclinar e deixar um beijo no meu maxilar.

- Se você tiver um pouco de paciência, eu posso melhorar. - ofereceu, com seus olhos azuis sobre mim.

- Prometo tentar... - murmurei, amolecida pelo carinho dos seus dedos em minha nuca.
Encarei sua boca à centímetros da minha, e suspirei, sem me conter e puxei ele pela gravata, colando meus lábios nos dele.
Sua boca envolveu a minha com vontade, e sua língua deslizou contra a minha, me fazendo agarrar seus ombros com mais força e me afundar contra ele.
Ouvi ele suspirar baixinho e seus dedos cavaram em minha cintura, me inclinando no sofá e me cobrindo com seu corpo quente. Sua boca escorregou para o meu pescoço, mordiscando a pele dali e me fazendo soltar um murmúrio que me envergonhou.
Ele sempre foi bom assim. Disso eu lembrava...
Sua boca voltou a buscar a minha e eu enrolei meus dedos em seu cabelo, sentindo ele controlar seu peso sobre mim, até se afastar, me olhando devagar.

- O que foi? - perguntei.

- Nada... - resmungou, enfiando o rosto na curva do meu pescoço e respirando ali.
Fiquei imóvel sob ele. Sentindo seu coração contra o meu. Minutos depois ele levantou e me estendeu a mão, me puxando junto.

- Vou te acompanhar até seu quarto.

Eu ri.

- Eu sei onde fica. - ele me ignorou, me puxando escada à cima.
Paramos em frente à minha porta, e eu a abri, empurrando os sapatos para dentro e voltei a fitar ele parado ali.

- Está entregue. - falou e eu revirei os olhos, sorrindo.

- Oh, isso foi cavalheiro de sua parte. Eu não saberia como chegar até aqui sem sua ajuda. - usei toda a minha ironia.
Ele riu, se recostando na porta e me puxando pelo queixo.

- Boa noite... Eve, língua afiada. - sussurrou sobre minha boca, e depois envolveu meu lábio inferior, soltando-o lentamente, e eu quase caí.

- Boa noite... - murmurei entorpecida, sentindo o mundo girar um pouquinho, ele riu e entrou no seu quarto. Bem em frente ao meu.
Fiquei encarando aquela maldita porta, pensando o quanto de coragem eu tinha para invadir o seu quarto e terminar essa noite de uma maneira totalmente diferente.
Suspirei, fechando minha porta devagar, e deixei minha testa contra a madeira dura e fria. Eu era uma covarde.

Antes de me trocar, verifiquei minha pequena que dormia o sono dos inocentes, só depois me permiti cair na cama. Ainda me sentindo envolta por aquele novo Nickolas que eu estava conhecendo.



...

No dia seguinte não o encontrei na mesa do café. Parece que essa seria mais uma semana agitada para ele. E foi.
A terça tomou o mesmo rumo do dia anterior. E em seguida, a quarta e a quinta seguiam o exemplo. Ele chegava tarde demais e eu não conseguia me manter acordada por muito tempo. Considerando que Clarissa crescia e andava me dando uma canseira danada.
Finalmente a sexta chegou e ele conseguiu se livrar mais cedo da empresa.
Eu tinha acabado de dar banho em Clarissa, e desci com ela, vendo Jocelin arrumar a mesa para o jantar, quando a porta foi aberta e ele passou por ela, com o cabelo terrivelmente bagunçado e uma cara de cansaço.

- Olá meninas. - sorriu cansado, deixando as chaves no lugar de sempre.

- Finalmente né, Nick! Pensei que não morava mais aqui. - Jocelin resmungou.

Ele riu, se aproximando e beijando as costas de Clarissa, que cochilava em meu ombro, em seguida me olhou preguiçoso, tocando os lábios nos meus. Meu coração disparou feito louco. Jocelin sorriu nos encarando.

- Gente! É sério mesmo? - ela perguntou fazendo cara de boba.

- Jocelin, não enche. - Nick falou, indo direto procurar comida.
Ela gargalhou, sentando na mesa e fazendo seu prato. Coloquei minha pequena na cadeirinha enquanto me alimentava também, e Nickolas tomou seu lugar, nos acompanhando. Ele parecia preocupado. Jocelin tagarelava sobre seu noivado e ele fingia prestar atenção enquanto comia devagar e afagava a bochecha de uma Clarissa que não parava de balbuciar seu acervo de vogais A e U.

- Então, o Liam vai vir para oficializar nosso noivado e marcarmos a data do casamento... Nick! - gritou, percebendo que ele não a ouvia. - Ouviu o que eu disse?

- Sim. Ouvi, Jocelin. Casamento não é? - ela bufou voltando a comer.
Ele tinha pegado só a última parte de sua enxurrada de palavras. Mas foi esperto o bastante para poupar seus ouvidos do falatório dela outra vez.

Horas depois, eu a ajudei a limpar a cozinha e amamentei minha menina até ela adormecer. Jocelin falou sobre como estava feliz e tudo que sonhava para o casamento dos sonhos dela, só parando porque Liam ligou, a interrompendo.
Eu estava feliz por ela mas, poxa, como ela falava. Meus ouvidos estavam até começando a doer.
Suspirei, beijando os minúsculos dedinhos da minha Clarissa, e encarei fixamente a porta fechada do escritório onde Nick se trancou depois do jantar.
Tinha algo o incomodando. Eu convivi o bastante com ele para saber disso. Provavelmente Jeremy tinha alguma relação com isso. Ele sempre tinha.
Subi para meu quarto, deixando Clarissa no berço. Apaguei a luz, deixando apenas a luminária em forma de carrossel girando e iluminando precariamente o quarto dela.
Passei horas decidindo se eu tentava fazer ele desabafar comigo, mas desisti, lembrando o quanto ele odiava ter seu espaço invadido. Ainda mais quando algo o incomodava.
Me joguei de bruços na cama, e meus olhos começaram a pesar, enquanto eu encarava o brilho da luminária ao longe.
Ouvi a porta ranger baixinho. Ouvi passos cuidadosos se aproximando. Senti um cheiro bom invadir minhas narinas, e de repente, senti o colchão afundar ao meu lado. Abri os olhos preguiçosamente, encontrando Nick deitado, também de bruços, e me olhando com um pequeno sorriso. Sua mão afagou minha bochecha, descendo em seguida e descansando sobre minhas costas.
Inspirei profundamente, e escorreguei para mais perto dele, deixando meu nariz tocar o seu.

- O que você tem?

- Não é nada. Só muito trabalho na empresa...

- Quem é o péssimo mentiroso agora? - arqueei a sobrancelha.
Ele pareceu pensar por longos minutos até decidir falar novamente.
- Perdi o contrato com os italianos. - murmurou, virando de costas e esfregando o rosto impaciente. - Eles eram importantes para a empresa. Jeremy de algum modo conseguiu arrasta-los para Londres e fechou contrato por lá. Ele planejou isso desde que soube da minha viagem à Tokyo.

- Isso é muito ruim? - ele me olhou, e eu tive minha resposta antes dele precisar solta-las.

- Ele quer me enfraquecer. Quer a minha ruína, Eve.

- Você é melhor do que ele. Não deixe ele conseguir isso.

Ele virou, me puxando pra ele, e sua mão afastou o cabelo do meu rosto.

- Obrigado... - deslizou o nariz pelo meu maxilar. - Eu sei que fui terrível com você, durante algum tempo mas... Me desculpa? De repente eu estava sendo obrigado a agarrar as responsabilidades das quais eu fugi a minha vida inteira, e eu me sentia pressionado de alguma maneira. Não sei se você pode entender, mas...

- Tudo bem, Nick. Não foi fácil para mim, e nem para você. Mas você mudou, e é isso que importa.

Ele respirou fundo, mexendo em meus cabelos.

- Eu senti sua falta esses dias... - confessou, pressionando sua boca na minha.

- Também... - admiti timidamente.

- Vou tentar não me afastar por tanto tempo.

- Eu entendo, Nickolas. - eu realmente entendia.
Não era fácil carregar o peso de uma empresa nas costas, e ainda por cima, sozinho, e com Jeremy rondando.

- Eu quero ver minha filha crescer... Não quero me tornar como o Jeremy. Ele só passou todo o seu tempo se dedicando ao trabalho. E todo o resto foi posto de lado. Só o dinheiro importa pra ele. Veja só o que ele é agora...

- Você não vai ser como ele... Você não é. - garanti, beijando seus lábios de leve.
Ele parecia um menino assustado.
Jeremy ainda o assombrava e isso era uma merda.

Seus braços me rodearam com força, e seu queixo descansou sobre minha cabeça, enquanto eu inspirava suavemente contra a curva do seu pescoço.
Ainda era estranho pra mim, estarmos nos envolvendo desse jeito. Mas não me parecia errado. Eu tinha a sensação de que, seja lá onde isso vá nos levar, era a coisa mais certa a se fazer.
Acho que estávamos crescendo juntos, de alguma forma. Passamos de um ódio mútuo, para uma parceria amigável, e de repente somos surpreendidos por esse sentimento bônus.
Se apaixonar, realmente, nunca esteve nos nossos planos.

- Posso dormir com você hoje? - seu pedido me surpreendeu, e ele tratou de explicar melhor. - Só dormir... - murmurou, desenhando círculos em minhas costas. Assenti rapidamente, me encostando mais contra ele.
Talvez eu estivesse só um pouquinho decepcionada com seu pedido. Mas entendi que ele não queria fazer as coisas como no início.

O sono chegou logo. E foi tranquilo e confortável.




...






Era sábado e fazia sol.
Me espreguiçei, e encarei a cama vazia. O relógio marcava oito da manhã. E Clarissa ainda não tinha chorado.
Como isso era possível?
Levantei aos tropeços, entrando em seu quarto e encontrando o berço vazio.
Nick deve ter descido com ela.
Tomei um banho. Procurei algo leve e confortável para vestir, e meu celular me fez pular, quando começou a tocar estridente sobre a cômoda. Caminhei até ele, puxando meu short para cima, e o número desconhecido no visor me fez recuar.
Será que era Susana?
Não. Provavelmente não. Eu tinha o contato dela salvo.
Mas ela poderia estar usando outra tática para me fazer atender a sua ligação...
Ele recomeçou a tocar, me fazendo agarra-lo com firmeza e atender com o coração aos pulos. Tomei uma longa lufada de ar e falei:

- Alô? - minha voz saiu trêmula.

- Evelyn? Oi, é o Mattew. - a voz masculina soou do outro lado, me fazendo soltar a respiração aliviada.
Perai, como ele conseguiu meu número?

- Oi... - murmurei nervosamente.

- Como está minha sobrinha preferida? - ele estava enrolando sobre o que queria falar de verdade.

- Está muito bem, obrigada.

- Que bom... Eu queria muito vê-la mas... Você sabe... - ele se referia ao Nick ou a mim?

- Ela é sua sobrinha de qualquer forma, Mattew. - decidi dizer e ele respirou forte.

- Eu sei... E você? Como está?

- Bem.

- Quero muito conversar com você, Evelyn. Será que podemos nos ver... Em outro lugar, não sei?

Oh, porcaria. O que eu digo agora?

- Eu... - minha resposta foi interrompida quando Nick entrou no quarto, com Clarissa em seus braços, e me encaravam com seus enormes olhos azuis idênticos.

- Evelyn? - Mattew chamou confuso.
Eu suspirei, tentando não ficar nervosa.

- Eu falo com você depois. Estou um pouco ocupada agora. - disse, desligando rapidamente, sem esperar por sua resposta.

Nickolas olhou para o celular, depois para mim, e franziu o cenho. Mas não perguntou nada.
Eu só me meto em problemas. Eu tinha que resolver esse assunto com o Mattew antes que tomasse proporções maiores. Eu precisava arrastar essa merda para fora o quanto antes.

- Oi. Onde se meteram? - perguntei, observando Clarissa babar o queixo de Nickolas, enquanto o mordia. Devia ser os dentes nascendo.

- Essa garota aqui estava um pouco nervosa. Fui passear com ela um pouco.

- Poderiam ter me chamado.

- Você estava dormindo tão bem. Achei melhor não atrapalhar. - fez careta, afastando a pequena mordedora do seu queixo. - Hey, calma aí garota. - ela choramingou.

- Me dá ela aqui, antes que você fique sem queixo. - ri, puxando ela pra mim.

Observei ele limpar o rosto babado com a fralda, e depois me olhou, impaciente.
Ele estava lutando internamente. Decidindo se me perguntava sobre o telefonema ou não. E eu estava torcendo para ele não perguntar. Eu não queria deixar ele irritado, e nem queria mentir. E esse assunto eu teria que resolver com o Mattew.

- Preciso passar na empresa. Provavelmente eu não venha almoçar.

- Tudo bem...

Ele se inclinou, beijando minha bochecha, e em seguida a de Clarissa, que reclamou enquanto mamava.

Respirei aliviada, quando ele cruzou a porta, nos deixando sozinhas. Encarei Clarissa, que me olhava com atenção, enquanto enchia sua barriguinha gulosa, e penteei os cabelos dela com os dedos.

- O que eu faço filha? Mamãe está tão ferrada... - ela piscou. - Eu não quero deixar o seu pai irritado. Não agora que estamos nos dando tão bem...

A porta abriu, me fazendo pular assustada, e Kate passou por ela.

- Ai, Kate, quer me matar? - segurei meu peito acelerado e ela riu.

- O que está aprontando para estar tão assustada? - se jogou na minha cama.

- Nada.

- Hum, sei...

- E o que você estava aprontando? Nunca mais apareceu. - reclamei, ajeitando Clarissa para arrotar.

- Ai, Eve... O Ben descobriu que eu dançava na boate e brigou comigo.

- E agora?

- Eu preciso achar outro emprego ou então ele nunca mais vai olhar na minha cara. - choramingou, ela era louca por aquele idiota.

Afaguei o braço dela, e ela me olhou, com olhos brilhantes de lágrimas.

- Você vai conseguir, Kate. Apesar de que o Ben não merece esse esforço todo. - ela bufou.

- O Nick também não, e no entanto você está aqui.

- Isso é diferente, Katherine.

- Diferente como? Ele agora é um ex-babaca, que você não sabe quando vai surtar novamente?

- Ele realmente mudou, Katherine! - retruquei irritada.

- Ah, mudou? Para mim ele continua sendo o babaca que cuspiu na sua cara, chamando você de vagabunda.

Ela ainda não tinha perdoado o Nickolas. E eles dois ainda não se suportavam.

- Não quero falar disso, Kate. É passado.

Ela sentou sobre a cama, me olhando irritada e com cara de choro.

- Não me diga que você... Está apaixonada por ele, Evelyn Scott?
Assenti devagar e ela grunhiu.

- Eu estou apaixonada por ele... Estou conhecendo um lado dele que acho que ninguém conhece, e isso está mexendo comigo.

- Você está louca, isso sim. - cruzou os braços. - E o Mattew, o que vai dizer pra ele?

- Eu nunca tive nenhuma relação com o Mattew. Ele era só como um... Amigo. - era exatamente o que ele era, e eu confundi as coisas por algum tempo.

- Poxa, Eve! Eu gostava dos meus rins, sabia?

- Sinto muito. - sorri, e ela apertou minha mão.

- Eu ainda prefiro o Mattew, só pra constar. - ergui a sobrancelha para ela. - E eu dei seu número pra ele... - confessou baixinho, e meu pescoço estalou quando virei rapidamente.

- Então foi você? Kate você não devia! Não sabe no problema que acabou de me meter. - reclamei aborrecida.

- Você se meteu sozinha, Evelyn! Não vem não!

Eu gemi internamente.

- Ele quer que eu o encontre em outro lugar. Quer conversar. Eu não sei o que faço...

- Vá ao encontro dele. E explique para ele que você não pode ter nada com ele porque está pegando o irmão dele, de novo. - a fuzilei com o olhar e ela riu baixinho.

- O Nickolas vai me odiar se souber disso...

- Você só vai esclarecer as coisas, Eve. Não é como se você estivesse traindo ele.

Soltei um longo suspiro cansado e voltei a olhar para ela.
Acho que ela tem razão. Eu não ia fazer nada errado. Era apenas uma conversa, num lugar público, e tudo estaria resolvido.

- É... Acho que você tem razão. Mas prefiro pensar nisso depois. - ela concordou, pegando Clarissa dos meus braços.

- Temos almoço por aqui? Estou faminta. - falou, já descendo para a cozinha.

...

Depois do almoço e de longas horas ouvindo Kate e Jocelin gritarem animadas sobre coisas de casamento, eu finalmente tive um momento de paz, quando Jocelin precisou sair e nos deixou sozinhas.

Kate atacou minha geladeira, acabando com meu sorvete, e depois brincava com Clarissa, enquanto eu me esparramava sobre minha espreguiçadeira preferida na varanda, sentindo o vento preguiçoso de fim de tarde balançar as árvores que cercavam o Central Park.

- Se você quiser eu posso falar com o Nick, sobre um emprego pra você. - ofereci e ela me lançou um olhar de nojo.

- Muito obrigada, mas trabalhar para ele é a última coisa que eu faria.

- Kate...

- Não, Eve! Sem chances. E mesmo, eu já tenho uma proposta de emprego. Só estou esperando a resposta. - beijou a barriga de Clarissa, que se agarrava nos seus cabelos com força.

- Sério?

- Sério. É como gerente de uma Starbucks, lá na Times Square. Me falaram que pagavam super bem e bom... O Ben não vai se envergonhar de mim depois disso.

- Você é incrível, Kate, e ele não deveria se envergonhar de você de jeito nenhum. - puxei seu dedo do pé e ela sorriu, me olhando com carinho.

- Eu sei né. - se gabou e eu bati com a almofada na perna dela.

Ela foi embora quando o Nick chegou. Eles se entreolharam, completamente desconfortáveis um com o outro, e Kate se despediu dele com um falso aceno que o fez bufar e dar às costas pra ela.

- Sério, Eve, como você suporta esse homem? - perguntou com desdém, eu apenas ri.
Eu também já me perguntei muito sobre isso antes. Mas agora era diferente.
Ela finalmente foi embora, depois de sussurrar no meu ouvido que eu tinha que falar com Mattew o mais rápido possível.
Voltei para a sala, observando Nickolas jogado no sofá, enquanto Clarissa brincava sobre ele.
Cada vez que eu via eles juntos meu coração saltava no peito. Eu nunca imaginei ver Nickolas tão entregue dessa maneira.
Ela me encarava com seu sorrisinho banguela, e seus enormes olhos azuis brilhavam enquanto ela batia o mordedor em forma de urso no peito do Nickolas.
Meu celular vibrou no meu bolso, e eu praguejei baixinho. Péssima hora para ele tocar.

- Vou buscar um casaco para ela. Está ficando frio. - falei, subindo a escada rapidamente.

Entrei no quarto. Peguei a droga do celular e retornei a chamada perdida. Eu estava agoniada. Eu tinha que acabar logo com isso.
Dois toques e a voz dele soa apressada.

- Evelyn...

- Onde você quer que eu te encontre? - fui direto ao ponto, sentindo um medo terrível que Nickolas pudesse interpretar mal tudo isto, se ele descobrisse.

- Você... Pode ser em algum restaurante, um café... Estou em Nova York durante toda a semana.

- Tem uma Starbucks na Times Square... Você pode estar lá, na quarta? - eu esperava que a Kate já estivesse trabalhando nesse maldito café até lá. Era melhor ter alguém de testemunha caso desse algo errado.

- Posso... Claro. Evelyn, eu...

- Até quarta, Mattew. - desliguei sem querer ouvir mais nada.

Eu esperava que eu não estivesse me ferrando ainda mais.

Continue Reading

You'll Also Like

1M 56.7K 53
Giulie Cameron e uma jovem mulher cheia de traumas. Ela sempre lidou com seus problemas sozinha,sem a ajuda de ninguém. Até que um dia ela não aguent...
264K 16.5K 47
ENEMIES TO LOVERS + MAFIA + LUTAS CLANDESTINAS Tudo muda para Charlotte quando ela descobre que seu melhor amigo está envolvido em lutas clandesti...
2.1M 41.8K 21
Katherine Forbes. Uma mulher independente que trabalha na famosa Revigore- quando tudo começa-, passa pelas melhores empresas de moda. Toda desastra...
41.8K 2.9K 30
REPOSTAGEM...tirei a estória por algum tempo para corrigir alguns erros. Há muito tempo atrás Edward Lewis torturou Christian Grey em busca de inform...