Campo de Férias

By that_girl_tyra

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Era para ser um campo de férias normal, não era? Era para nos divertirmos e passarmos duas semanas inesquecív... More

Campo de Férias
Capítulo II
Capítulo III
Capítulo IV
Capítulo VI
Capítulo VII
Capítulo VIII
Capítulo IX
Capítulo X
Capítulo XI
Capítulo XII
Capítulo XIII
Capítulo XIV
Capítulo XV
Capítulo XVI
Capítulo XVII
Capítulo XVIII
Capítulo XIX
Capítulo XX
Capítulo XXI
Capítulo XXII
Capítulo XXIII
Capítulo XXIV
Capítulo XXV
Capítulo XXVI
Capítulo XXVII
Capítulo XXVIII
Capítulo XXIX
Capítulo XXX
Capítulo XXXI
Capítulo XXXII
Capítulo XXXIII
Capítulo XXXIV
Epílogo
[ Esclarecimentos ]

Capítulo V

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By that_girl_tyra


Capítulo V

Ficámos a hora livre toda ali a conversar sobre o que acontecera. Tentámos alhear-nos e pensar noutra coisa como tinham sugerido os monitores, mas simplesmente não dava para ignorar daquela maneira a morte de uma rapariga.

- Já imaginaram os pais dela quando receberem o telefonema? - Disse a Nikki.

- Vão-se PASSAR...

- Já pensaram que podia ter sido a Gabby, ou o Kay, ou a Lyra a morrer? - Disse de repente o Alfie. - A Daiana podia ter disparado sobre vocês em vez da Christina!!

Engoli em seco. Não tinha visto as coisas daquela perspectiva. A Gabby não teria corrido perigo porque estava na equipa da Daiana mas eu e o Kay podíamos perfeitamente ter morrido em vez da Christina.

Relembrei as palavras do Michael. "Não acredito numa única palavra do que eles disseram... E tu também não."

Mas quem é que ele se achava para me conhecer tão bem?!

Eu queria acreditar no que os monitores tinham dito. Mas aquilo era tão vago... Lobos? E a sério que o Marcus tinha confundido uma arma real com uma a fingir?

Mas de resto, não havia outra explicação possível. Simplesmente não havia.

A nossa última atividade do dia, agora também com o Grupo C, era a piscina, e embora tenha servido para relaxarmos um pouco (menos a Gabby, que tem pavor de água) ninguém conseguiu aproveitar a 100%.

No Grupo C, além do Alfie e da Nikki, estavam outras pessoas como um dos gémeos, o Kevin, o Jacob, a Kristen MacMillan, o Leonardo, a Amanda e a Eleanor, a rapariga loira da equitação.

O Alfie veio ter comigo à borda da piscina, onde eu me sentara. Num dia normal estaria a nadar livremente na água, mas aquele não era um dia normal.

- Nem imaginas o susto que apanhei quando as pessoas começaram a dizer que uma rapariga do Grupo D tinha morrido. - Disse de repente o Alfie. - Estavam todos a falar ao mesmo tempo e ninguém se entendia, e eu só conseguia pensar que talvez eras tu.

- Não te livras de mim tão cedo - brinquei. - Relaxa, Alfie. Temos é de esquecer isto e aproveitar as próximas duas semanas. Estamos aqui para nos divertir e descansar da escola!

- Relaxa - repetiu ele, abanando a cabeça. - Até parece. Só relaxo com um beijinho teu.

Abanei a cabeça, divertida, e fiz-lhe a vontade. Aquilo fora um simples percalço. Sim, um percalço. A partir de agora, tudo correria sobre rodas, e íamos ter as melhores duas semanas das nossas vidas.

***

O jantar foi silencioso pois estávamos todos esfomeados.

A Lisa já saíra pelo portão num jipe para ir até à cidade mais próxima, por isso só estavam ali o Marcus, o Tyler e a Sasha a supervisionar.

No fim da comida, a Sasha disse:

- Estávamos a pensar em fazer uma fogueira nas traseiras e ficar um tempo a contar histórias de terror e assim. Também podemos cantar umas canções.

A ideia pareceu gira, pois ninguém queria ir já dormir. Enquanto o Tyler, com ajuda de mais algumas pessoas, foi buscar uns quantos ramos para o fogo, a Sasha foi buscar uma viola que tinha no seu quarto e começou a afiná-la.

Sentámo-nos numa roda e o Tyler e os ajudantes voltaram com uns quantos ramos de madeira, que puseram no meio do círculo. Depois, com um fósforo, acenderam a fogueira.

A hora seguinte foi a mais agradável do dia todo. O Harry, que sabia imensas histórias de terror, contou algumas de fazer gelar o sangue e que nos ajudaram a esquecer a Christina por um momento.

Também cantamos músicas tradicionais e outras de algumas bandas famosas. A Mel, claro, foi a estrela. Tinha uma voz fantástica, mas o engraçado é que conseguia cantar também outro tipos de música, como ópera e country.

A Gabby ainda sugeriu dançarmos algumas coreografias ao som das canções da Mel, e quem estava interessado juntou-se à volta dela para aprender alguns passos.

Eu fui das poucas pessoas que não me deixei levar pela agitação. Tenho uma voz horrível e da última vez que tentei dançar música pop quase ceguei o Alex com o cotovelo, por isso deixei-me ficar sentada ma fogueira enquanto a Gabby e a Mel arrasavam.

Vi a Daiana a um canto. Ela estava a conversar com a Amanda, mas também não fora dançar. Já parecia ter superado o choque de ter morto a Christina. Ou ao menos esperava que sim.

- Não danças, Olhos Verdes?

- Não danças, Irritante? - Não me dei ao trabalho de desviar os olhos da multidão que dançava.

O Michael sentou-se ao meu lado. Não sabia o que esperar dele: tanto podia querer irritar-me ou confundir-me ainda mais com as suas conversas misteriosas. Qualquer uma das hipóteses não me agradava.

- Estás a pensar - concluiu ele de repente.

- Ena génio. Ouviste as minhas engrenagens cerebrais trabalhar foi?

- Não. É o olhar que fazes. Fixas um ponto e depois não desvias... E agora fez um efeito giro porque as chamas da fogueira estavam a refletir nos teus olhos verdes.

- Dedica-te à poesia, Michael. Não estou com paciência.

Ele não respondeu. Ficámos em silêncio até que de repente eu não aguentei mais e disse:

- Detesto este sítio. Quem me dera ir embora.

- Porquê tanto ódio?

- Não sei... Desde o momento que cheguei não gosto disto! Há qualquer coisa no ar... Só sei que se dependesse de mim, estaria em qualquer sítio no mundo menos aqui. - E depois resmunguei: - Bolas, já pareço a Maisie a falar.

Avistei-a num canto, sozinha, a ouvir música no iPad que entretanto fora buscar ao dormitório.

- E tu? - Perguntei ao Michael.

Ele encolheu os ombros.

- Eu não fui completamente sincero nas apresentações hoje de manhã - confessou ele. - Disse que vim cá para o Campo porque queria sair da cidade e vir para o ar livre e blábláblá. Na verdade é porque não tenho assim muitos amigos.

Primeiro a Daiana, agora o Michael. Mas que história era esta?!

- Mas... Porquê?

- Pah, também não me quero armar em vítima. Óbvio que não sou um esquisitoide qualquer que nunca falou com ninguém na vida. Mas a maioria da gente lá da turma não vai muito com a minha cara - O Michael sorriu. - Deve ter algo a ver com o facto de ter tirado a melhor nota da escola nos exames e não ter estudado mais do que 20 minutos.
- Impressionante - arqueei uma sobrancelha. Mas só o disse por ser a coisa apropriada a dizer: não achava um feito impressionante. Pelo menos a matemática, acontecia-me a mesma coisa.
- Limito-me a olhar para as páginas e fico logo a sabê-las de cor. - Ele encolheu os ombros. - Suponho que é inveja ou assim, mas a maioria da malta não quer saber de mim para nada. Foi por isso que quis vir cá para o Campo. Vi o folheto de publicidade no correio e achei que seria ótimo para conhecer gente que não me julgasse por causa da memória.

De repente apercebi-me de uma coisa.

- Então... Foi por isso que antipatizaste tanto comigo?

Ele acenou que sim, um bocado reluntantemente.

- És esperta. E no entanto, parece que todos te adoram. É só meio disfuncional, porque eu sei que também não sou burro e no entanto as pessoas não me aceitam como te parecem aceitar a ti.

Abanei a cabeça. - Sabes que não é só a cabeça que conta. Aliás, é só uma pequena parte do pacote. És bem-parecido e nada parvo. Se não tentasses atirar as pessoas que acabaste de conhecer abaixo de uma altura de 25 metros, talvez as pessoas gostassem mais de ti.

Não era para ter graça, mas o Michael riu-se. - Boa dica. Hei-de pensar nisso. Boa-noite, Lyra - levantou-se, mas antes disso olhou para mim e disse: - Mais uma coisa. Tem cuidado.

E dito isto foi embora.

Cuidado?

Ter cuidado?

Eu?

Cuidado porquê?!

Porque é que o Michael tem este dom de me deixar perplexa, confusa e atordoada, tudo ao mesmo tempo?! Sentia o cérebro a andar à roda como um carrossel. Cuidado...? Eu?

Apercebi-me que pela primeira vez ele me chamara pelo meu nome.

- Vi-te a falar com o Michael - disse de repente o Alfie, sentando-se ao meu lado. - Ele estava a chatear-te?

- Ah... Não - Gaguejei. - Não. Estávamos só a ter uma conversa amigável.

- Olha, estive a falar com o Marcus, amanhã vamos fazer ténis, corrida e canoagem! - Anunciou o Alfie.

- Fixe - sentia o cérebro em dois: uma metade a ouvir o Alfie e a outra concentrada no Michael e em tudo o que ele dissera. - Esperemos que seja menos movimentado que hoje.

- Mesmo. E esperemos que na Terça o satélite já dê sinal.

- E que não aconteça mais nada.

Meia hora depois, a Sasha gritou que já era tarde e que era hora de ir dormir, porque amanhã o pequeno - almoço era às 8:30.

Despedi-me do Alfie, do Alex e do Kay, que foram para o seu dormitório, acenei à Daiana que estava tão concentrada que nem me viu, sorri à Mel, ao Jacob e à Kim e por fim lancei um olhar de esguelha ao Michael.

Não sabia o que pensar dele. Um momento odiava-o, o outro tinha pena dele, o outro ele irritava-me, depois aparecia todo simpático. E depois tudo ao mesmo tempo.

A Nikki estava toda excitada a tagarelar qualquer coisa sobre dança e a Gabby ainda estava elétrica por ter arrasado com tudo no jogo, por isso eu limitei-me a ficar calada, vestir o pijama e enfiar-me na cama.

"Porque é que estás assim, Lyra?!" pensei na minha cabeça. "Está tudo bem. A coisa da Christina foi um acidente, amanhã vai ser giríssimo andar de canoa com o Kay, a Gabby, o Alfie e a Nikki, e as próximas semanas vão ser divertidas e relaxantes. Esquece o Michael e pára de te preocupar!" - Ordenei a mim mesma.

Não tinha a certeza se o ia conseguir fazer.

***

- Lyra!! Acorda!

Resmunguei.

- Lyra!! Va lá são oito horas!! Temos meia hora para nos arranjarmos!! - Chamou-me a Nikki.

Abri os olhos e a luz encadeou-me. Afastei os lençóis a contragosto e saí da cama.

A Maisie, surpreendentemente, já estava prontíssima, penteada e a atar os atacadores dos All Star pretos. A Gabby e a Nikki estavam a vestir-se.

- Foste oficialmente intitulada "A Dorminhoca do Dormitório 2" - disse a Gabby, sorrindo.

Ri-me, abanando a cabeça. - Que posso fazer. Acordar cedo não é o meu forte.

- Despacha-te, senão não vais ter tempo para nada - avisou-me a Nikki, que depois se virou para o espelho com a escova na mão e começou a sua Batalha Matinal contra o cabelo.

Olhei-me ao espelho da casa de banho. Tinha o cabelo todo em pé e umas olheiras fundas.

- Dormiste bem, Lyra? - Perguntou-me a Gabby, preocupada.

- Nem por isso... Demasiadas coisas a passar pela cabeça.

- Agora vamos fazer ténis! Vai ser mesmo divertido. Isto da Christina foi violento, mas não dá para fazer nada, pois não? Mais vale esquecer - e acrescentou - Não é como se fosse morrer mais gente, Lyra!!

"Tem cuidado..."

Vesti à pressa uns calções quaisquer e uma t-shirt azul clara, pus os ténis de desporto e fiz o rabo de cavalo enquanto corria com a Gabby e a Nikki para o pequeno-almoço, que já estávamos atrasadas.

O barulho era enorme e estava toda a gente a comer e conversar. Os rapazes tinham-nos reservado três lugares. O Alex estava mesmo satisfeito porque o seu Grupo ia agora jogar basquete e o Harry disse que o Grupo A ia agora fazer mergulho no rio.

- Não sei se vou conseguir fazer mergulho, quando for a nossa vez -segredou-me a Gabby, de repente.

- Vais ser obrigada... - Tinha mesmo pena dela. A Gabby tem medo só de PENSAR em água, quanto mais ir lá para dentro com um tubo de oxigénio.

- Essa regra é tão ESTÚPIDA!

- Eu sei que é. Quem será que a inventou?

- Aposto que foi o Marcus. No fundo, foi ele o culpado da morte da Christina porque foi ele que trocou as espingardas.

Olhei para os três monitores que estavam a comer numa pequena mesa. Estavam a falar entre eles e pareciam um pouco tensos.

- O Marcus é aquele que gosto menos - conclui. - E a Sasha é demasiado mandona.

- A Lisa parece uma mosca morta. E o Tyler lembra-me aqueles stôres militares que treinam os cadete a enfrentar lama gelada e avalanches de neve - acrescentou a Gabby, fazendo-me rir.

No fim da comida, o grupo C e o grupo D juntámo-nos todos no pátio, onde foi ter connosco o Marcus. De repente parecia ainda mais ameaçador que ontem.

- Ok, miúdos! A atividade agora vai ser ténis. Os campos são ali ao fundo. Alguém aqui nunca jogou ténis?

Algumas pessoas levantaram a mão, como o Tom, o rapaz dos dentes alinhados amigo do Michael, a Daiana e a Jayden.

- OK. Vou-vos ensinar algumas técnicas básicas, depois vamos fazer jogos, torneio e o vencedor ganha um doce.

Lembrei-me de repente que nas apresentações, de um rapaz tinha dito que jogava ténis desde pequeno. Não me lembrava o nome dele, mas sabia que estava no Grupo A, por isso a luta para o vencedor ia ser renhida.

Eu não ia ser de certeza. Acho que JÁ mencionei que nadar e correr são os únicos desportos onde não sou uma arma de destruição em massa.

O Marcus distribui-nos raquetes a todos. Por via das dúvidas, observei-a bem para ter a certeza que o Marcus não confundira uma com uma GRANADA ou qualquer coisa do género.

As próximas duas horas foram passadas a jogar ténis. O Alfie e a Gabby jogam lindamente, o Kay também se estava a sair bem. Só eu e a Nikki é que não acertávamos numa bola.

- Olhos Verdes, acho que ainda não percebeste muito bem o jogo - disse o Michael, com um sorriso trocista. - É suposto acertar na bola, não no ar.

Ele estava de novo no Modo Irritante. Parecia agora impossível que tivesse confessado aquelas coisas na noite anterior.

Sentia a cabeça ferver e não me conseguia lembrar de uma resposta suficientemente boa, por isso limitei-me a fingir que não ouvi.

Dei graças a Deus quando o ténis, às 11 em ponto, finalmente acabou.

Estávamos todos a suar e só me apetecia partir a raquete ao meio. Não acertara uma única bola, excepto se contarmos aquela vez que a bola do Joseph veio contra mim com tanta força que caí de rabo.

A Olivia ficou em primeiro lugar, e o Marcus deu-lhe um chocolate. Vi-a observar minuciosamente o chocolate como para ter a certeza que não estava acidentalmente envenenado.

A sério. Com o Marcus, todo o cuidado é pouco.

Eu e o Kay chocámos um "dá cá mais cinco" quando o Marcus anunciou que a próxima atividade seria corrida.

99% das restantes pessoas resmungaram.

- Nunca hei-de perceber como é que gostas tanto de corrida, Lyra - desabafou o Alfie. - Quer dizer... Que piada tem ficar sem ar e quase morrer de exaustão?

- Isso, caro Alfie, chama-se estar fora de forma - gozei.

Mas claro que não é verdade. O Alfie deve ser a pessoa por aqui que está em melhor forma física.

O Marcus disse-nos que íamos fazer 100, 200, 400, 800 e 1500 metros, e depois uma corrida de dois quilómetros e meio, ou seja, uma volta e meia a todo o recinto do Campo.

Essa hora também passou a correr. Nos dois sentidos. Mas não foi muito renhido porque basicamente eu, o Kay e uma rapariga chamada Francine do grupo C ganhámos tudo.

O Kay é mais rápido do que eu, o que se notou nos 100 e nos 200, mas eu sou bem mais resistente e ganhei-lhe sem problemas nas restantes corridas. A Francine é o tipo de miúda minúscula e magrinha mas rápida como uma lebre, que apesar de não nos ter ganho, ajudou a tornar a corrida mais divertida.

Isto até era giro, pensei, enquanto observava as restantes pessoas a literalmente rastejarem até à meta depois de eu, o Kay e a Francine já termos chegado há um minuto e meio, mas nada que se comparasse ao Clube de Corta-Mato a sério...

- OK, fim de corrida - disse o Marcus. - Podem ir tomar um duche e depois almoçar no refeitório. À tarde vai ser canoagem.

Pela primeira vez em dois dias, o portão gigante rangeu e estremeceu quando o Marcus o abriu com uma chave e empurrou. Todos sabíamos que fora do recinto havia um rio, bastante grande, por sinal, daqueles que se assinalam nos mapas com uma linha azul bem visível, mas não muito conhecido. Após uma caminhada de uns 15 minutos, através dos montes circundantes, começou-se a ouvir o barulho de água a correr.

O rio era largo vários metros e corria a grande velocidade até perder de vista. Senti a Gabby agarrar-se ao meu braço com força à vista da poderosa corrente do rio que levava consigo paus, peixes e várias folhas.

- OK, miúdos, esta é a atividade do dia: canoagem. Vai-nos ocupar a tarde toda. Inicialmente era suposto vocês serem só 16, e irem em quatro grupos de quatro em quatro canoas. Mas, ao que parece, são o dobro, por isso consegui mais quatro canoas e assim vai caber toda a gente. O objetivo é remar todo o rio até a uma clareira a alguns quilómetros daqui. Lá, vamos lanchar um piquenique e depois voltar por outro caminho.

O Kevin levantou a mão.

- É muito difícil remar?

- Não há nada a saber. O rio tem sentido único, pelo menos na ida, e a corrente vai-vos acompanhar todo o caminho. Têm só de seguir a minha canoa.

- Como se vão fazer os grupos?

- Vou-vos deixar escolher. Façam-no agora porque vamos já entrar nas canoas ali, naquela margem. Venham.

Apercebi-me de repente que tínhamos um pequeno problema. Eu, o Alfie, o Kay, a Gabby e a Nikki éramos cinco.

- Um de nós vai ter de ficar de fora - disse o Alfie, desconfortável. - Alguém se oferece?

Ninguém, obviamente. Suspirei, resignada.

- Pronto, se quiserem vou eu - ofereci-me.

- Não te armes em vítima - sorriu Alfie, agarrando-me pelo braço. - Tu ficas comigo, assim se eu cair da canoa abaixo sei que tenho uma nadadora salvadora para me socorrer.

- Bem, alguém tem de ir, não é?

- Olhem, não faz mal - interrompeu a Nikki. - Sei quando estou a mais.

- A mais?! - Disse o Alex. - Não sejas parva, Nikki.

- Fico ali com a Amanda. A sério, não há problema. Nas próximas atividades ficamos juntos.

Achei muito simpático da parte da Nikki deixar-nos aos quatro, e sorri-lhe abertamente quando ela foi ter com a Amanda, a Rose e a Tessa.

A maioria dos grupos ficou pronto rapidamente. Ia perguntar à Daiana com quem ficara quando a vi a conversar com o Marcus.

Ela olhou para mim, sorriu nervosamente e continuou a falar com ele:

- ... E como pode ver, Marcus, eu estou mesmo doente... Passei a noite toda a tossir e ontem quase desmaiei. Preferia ficar de fora da canoagem porque eu canso-me imenso e...

- Tudo bem, Daiana - disse o Marcus. Fiquei mesmo surpreendida. Achei que ele ia levantar imensos problemas. - Podes ficar de fora da canoagem. Se preferires podes juntar-te ao Grupo A durante esta tarde, que está a jogar às estafetas.

A Daiana acenou, obviamente aliviada por não ter de remar durante três horas.

O Marcus subiu um bocadinho na minha consideração. Pelo menos era humano o suficiente para perceber que a Daiana estava demasiado doente para fazer aquilo.

- Viste isto?! - A Gabbrielle estava atrás de mim e também tinha ouvido a conversa entre eles. - Ele deixou a Daiana baldar-se!! Talvez também me deixe a mim!

Percebi de repente que me esquecera de contar à Gabby o que a Daiana me dissera.

- Ela está doente e eu sugeri-lhe que pedisse aos monitores que lhe dessem dispensa das atividade mais cansativas, como esta.

- Que ela está doente sei eu, ela não pára de tossir, e o seu aspeto... É tão pálida! Mas talvez o Marcus também me deixe a mim.

- Se não deixou a Olivia porque tinha vertigens, também não te deixa a ti porque não gostas de água - alvitrei. - Gabby, vamos ter coletes e se tudo correr bem não vamos sair de dentro da canoa excepto para o piquenique. Vai ser giro!!

A Gabby não parecia muito convencida, mas acabou por concordar.

- Tudo bem. Mas eu vou no meio e se eu entrar em pânico dás-me uma estalada.

- Combinado.

As canoas eram compridas e de madeira. Ao lado de cada um havia quatro remos de plástico amarelo.

- Eu vou sozinho numa canoa à frente de todos. Metam a canoa na água e depois subam. Remem atrás de mim, mas a corrente deve fazer o trabalho quase todo. Vão-se cansar mais na volta. - Avisou o Marcus. - Quem quer ir em segundo lugar?

O grupo da Nikki ofereceu-se. Devagarinho, foi-se formando uma fila com as oito canoas. Nós acabámos por ficar para último porque assim podíamos ir ao nosso ritmo sem uma canoa atrás de nós a pressionar.

À nossa frente foi o grupo do Michael: ele, o Oliver, o Joseph e a Pilar, do grupo C, que era prima do Joseph e quisera ficar com ele.

Observámos o Marcus, já dentro de água, começar a remar, a canoa da Nikki a seguir e depois todas as outras, em fila.

O Michael pôs a canoa na água e depois ele e o seu grupo entraram apressadamente e com alguma confusão.

Quando eles já estavam uns metros à frente, foi a nossa vez.

- OK, empurrem a canoa para a água - disse o Kay. - Não a virem!!

- Obrigado por avisares, Kay - disse o Alfie, que eu já reparara que não simpatizava muito com ele.

A canoa flutuou na água e eu agarrei-a para não nos fugir.

- Quem fica à frente? - Perguntei.

- Eu fico - ofereceu-se o Kay. Com agilidade saltou para dentro da canoa e sentou-se.

Eu sentei-me atrás dele e a Gabby ocupou imediatamente o outro lugar do meio, deixando ao Alfie a ingrata posição das traseiras.

- Todos têm os remos? OK, temos de manter o ritmo. Já fiz canoagem com o meu pai uma vez. Eu e a Gabby remamos para a esquerda, a Lyra e o Alfie na direita. Quando temos de virar para a esquerda remam o Alfie e a Lyra, para a direita eu e a Gabby.

- Certo, vamos experimentar. Remem!

As horas seguintes foram passadas a remar. Remar. Remar. Apesar de os primeiros quarenta minutos terem sido mesmo giros e termos visto patos e uma raposa e quase termos encalhado na margem direita numa ocasião, acabámos por ficar um pouco cansados, e quando finalmente o Marcus atracou numa margem e nos fez sinal para pararmos também, não havia ninguém que não estivesse farto.

A canoa da Rachel, da Eleanor, do Tom e da Francine tinha virado a meio do rio e eles estavam todos encharcados, o Tom inclusive com uma alga emaranhada no cabelo.

O Marcus trouxe um cesto cheio de comida como batatas fritas, sanduíches, sumos e croquetes de carne, estendeu uma toalha e ficámos ali a conversar e comer.

- Vamos fazer o mesmo caminho de volta, Marcus? - Perguntou a Gabby. Estava bem mais relaxada agora que vira que canoagem não era uma atividade suicida.

- Não, vamos dar a volta por aqui - o Marcus estendeu um mapa e apontou para um afluente do rio. - O único problema é que agora estamos contra corrente e vamos ter de remar com mais força, mas não devem ter muitos problemas.

- A que horas chegamos ao Campo?

- Por volta das seis e meia. Vão ter uma hora livre e depois vamos jantar.

O dia passara mesmo rápido e não houvera mortes, feridos nem problemas maiores. Enquanto comia um rissol, senti-me extremamente aliviada por afinal, estar tudo bem. Aquele meu mau pressentimento era eu a dramatizar. Quem sabe, isto viesse mesmo a ser melhor que a praia?

Quando acabámos de lanchar, voltámos a entrar nas canoas e adensámo-nos no rio.

O silêncio era fantástico e só era cortado pelo barulho dos remos a mover a água. Cheirava a flores silvestres e a musgo e, estranhamente, não parecíamos nada contra corrente como o Marcus dissera. Aliás, até estávamos a avançar rapidamente.

Agora, que estou a escrever isto, apercebo-me que fui muito burra. Se tivesse parado para pensar naquele momento podia ter evitado muita coisa. Mas não parei. Não prestei atenção e continuámos a remar, atrás do Michael e companhia.

Um vento começou a bater, levando-me os cabelos à cara.

- Hey, Lyra - disse o Alfie - como vai isso?

- Cabelos na boca e bolhas nas mãos. Tirando isso, tudo bem.

- Estamos a avançar rápido - notou a Gabby. - Nem estou a remar com muita força.

- Também já notei - disse, estranhando. - Acho que o Marcus se enganou. A corrente está a nosso favor.

- Vêem as outras canoas?

Inclinei-me e espreitei. A canoa do Michael, Oliver, Joseph e Pilar estava mais ao menos 50 metros à frente. As outras já tinham desaparecido na curva e só as íamos ver quando curvássemos também.

- Nem por isso. Temos de fazer a curva. - Disse o Kay. - Alfie, Lyra, remem.

Assim fizemos, mas de repente percebi que havia alguma coisa que não estava bem.

- Alfie - disse - pára de remar.

Ele olhou para mim.

- Porquê? Assim não viramos.

- Mas pára. Parem todos.

Eles pareceram um pouco admirados, mas assim fizeram. E chegaram todos à mesma conclusão que eu.

- Estamos a avançar na mesma...!

- Sou o único a achar que esta corrente está demasiado forte?

- Alfie, Lyra, remem!! Senão vamos bater na margem!!

Começámos os dois a mexer os remos rapidamente, mesmo a tempo da curva. A canoa virou para a direita e bruscamente saltou numa onda.

Saltámos e caímos de rabo na madeira. Foi violento e sem querer a Gabby largou o remo.

- Gabby!! Cuidado, olha o re... - E nesse momento o meu cérebro processou a informação.

Não havia ondas no rio.

Então notei que a Gabby, o Kay e o Alfie estavam todos a olhar para o mesmo ponto.

Virei-me bruscamente para onde eles estavam a olhar.

E quase gritei.

O meu sangue congelou e foi como se de repente a temperatura baixasse a pique.

Ouvi as pessoas nas outras canoas gritar e o Marcus, já na margem, a berrar e a chamar-nos e a ajudar-nos a sair das canoas.

Rápidos.

O rio estava cheio de rápidos.

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