24 DE JANEIRO DE 2007
Eram quase seis da manhã quando a mulher vestida com uma longa camisola bege, entrou no quarto da pequena, que dormia tranquilamente, encolhida no meio da cama. Os cachos castanhos da menina cobria todo seu rosto e baixos ruídos saiam dela. O mãe sentou na beirada do colchão e descobriu a Celeste, a menina continuou imóvel, provavelmente a criança estava cansada demais, porquê ontem à meia noite, Cristina encontrou a filha bebendo água, alegando estar ansiosa demais para conseguir deitar.
Sem saber como acordar a criança, a adulta começou a acariciar os pés dela, era pequenos e estavam tão branquinhos, que a mulher se surpreendeu, poucos segundos depois a menor mexeu o pé que a mãe segurava, provavelmente sentindo cócegas.
- Celeste? - Sussurrou e soltou o pé dela e tocou a bochecha que não estava encostada no colchão - Acorde meu amor. - A pequena afastou preguiçosamente o cabelo do rosto e apertou os olhos com força se espreguiçando. - Você tem que levantar para ir para a escola - A outra abriu e fechou os olhos - Vamos, levante - Deu um beijo na testa da menina e saiu do quarto depois que abriu a janela.
Celeste respirou fundo e virou o corpo, ficando de barriga para cima e passou a mão sobre os olhos esfregando-os. Ficou uns segundos parada na cama apenas vendo os fracos raios de sol entrar pelo quarto, e ouvindo seu coração bater em uma velocidade, que ela achava que seria impossível.
- Eu vou para escola. - Sentou-se na cama e soltou um demorado bocejo. - Pela primeira vez - Disse não acreditando e tocou o coração tentando diminuir a rapidez dos batimentos. Levantou da cama e calçou os seus chilenos indo até a janela. O sol estava nascendo, uma maravilhosa luz alaranjada cobria o topo das árvore fazendo com que ela sorrisse com a simples beleza.
Quando transcorreram uma hora desde que ela tinha acordado, a mãe arrumava o almoço da criança, na cozinha enquanto Celeste tentava comer um pão e bebia café com leite. A menina já estava devidamente arrumada, o uniforme elegante, com brasão da escola, ficara melhor do que a mãe esperava, a saia azul escuro ficou no comprimento que a mãe considerou adequado e já a camiseta branca ela achou ligeiramente apertada no corpo magro da criança mas a jaqueta da mesma cor da calça disfarçou do que ela não gostou.
- Você está bem, bebê? - Perguntou quando virou a cabeça para dar uma rápida olhada na filha, que comia em silêncio mas fazendo algumas caretas.
- Eu acho que vou morrer, mamãe - A mulher ficou assustada e foi até ela é se agachou no seu lado.
- O que você têm?
- Meu coração está batendo muito rápido, acho que ele vai saindo de mim - A expressão da mãe se suavizou - Sinta - Celeste pegou a mão de mais velho e colocou sobre o peito - Está vendo? Isso não é normal mamãe.
- Ah meu amor, você vai ficar bem, só está nervosa, quando chegar na escola passa. - Cristina sorriu e se levantou.
- Mas e se ele sair antes de eu ficar calma? - Ela riu colocando o almoço, suco na lancheira.
- Não vai. Não quero que você se preocupe com isso, ok?
- Sim.
- Sim?
- Sim senhora - A mãe sorriu satisfeita.
- Agora antes de irmos vou falar umas regras e não quero que desobedeça - Celeste levantou da afirmou com a cabeça. - Quando chegar na escola, quero que seja gentil, não converse nas aulas e faça o que a professora disser, se quiser ir no banheiro peça a professora, mas não vá muito para não perder o conteúdo e faça todas os exercícios.
- Sim senhora. - A pequena sorriu nervosa.
- Bom. Vou pegue a bolsa e a lancheira e me espere na garagem. - E assim a garota fez.
As duas percorreram o caminho de carro em silêncio, excerto pela voz baixa no locutor no rádio que falava sobre a previsão do tempo na cidade, a semana ia ser favorável e com sol mas por causa dos ventos a sensação térmica ia ser menor e tinha probabilidade de chuvas nos finais de tardes.
Assim que a mãe estacionou, Celeste passou a língua nos lábios e respirou fundos umas três vezes no mínimo, o seu coração batia mais forte agora.
- Saia do carro, bebê - A menina puxou a bolsa e lancheira e saiu olhando para baixo, estava envergonhada demais para levantar a cabeça, mesmo tendo poucos estudantes ali. A mãe dela pegou a mão Celeste e a menina apertou-a com força, então elas entraram na escola.
A criança ficou o tempo todo com a cabeça curvada olhando o chão, seus pés e os outros muitos pés entravam no seu campo de visão, ouvindo as diferentes vozes e risadas.
- Pronto, essa é sua sala de aula - A menina torceu para que não fosse sua mãe falando, não se sentia pronta para entrar em uma sala cheia de estranhos. - Tenha uma boa aula, nos vemos no almoço, tudo bem? Não, a pequena pensou em responder.
- Sim senhora - Murmurou.
- Você vai ficar bem, tchau bebê - A mãe saiu e garota continou parada na frente da sala, respirou fundo pela milésima vez naquela manhã e levantou a cabeça entrando na sala.
O lugar era bem espaçoso e tinha várias carteiras, e também crianças, muitas delas, a garota nunca tinha visto tanta assim reunidas. Algumas brincavam, conversam, dormiam e outras estava sozinhas no fundo da sala, a garota resolveu que ela lá que era deveria sentar, porque afinal, também estava sozinha. Indo para o fundo da sala de cabeça baixa percebeu que não sabia como agir, e se fizesse algo errado? Iriam brigar ou rir dela? Por isso sentou e ficou quieta apenas observando as outras crianças, que as vezes a olhava com curiosidade.
- Eu não acredito que a Maíra só colocou uma barra de chocolate na lancheira - Uma menina com cabelos negros e pele extremamente branca disse sentando na cadeira da frente de Celeste.
- Sua mãe deve ter falado para ela colocou só isso, porque açúcar muito faz mal e blá blá blá - A ruiva baixinha disse e riu acampada pela outra. - Tudo bobagem, mamãe já tentou fazer isso mas ai eu falei com papai e tudo resolvido - Se sentou na cadeira ao lado da amiga. - Tenho três barras de chocolate, posso te dar uma - Celeste fingia que olhava para um pequeno mural cheio de desenhos na sala, mas ouvia atentamente toda a conversa das duas. Ela não tinha nenhuma barra de chocolate, pensou triste.
- Pode ser. - Deu de ombros - Cadê a Sam? - Perguntou e deu uma rápida olhada na sala.
- Ela foi pra Disney, acho que daqui duas semanas ela volta.
- Nossa, ela nunca tinha ido será? - Ela virou para arrumar sua mochila rosa no traseira e percebeu a presença de Celeste. - E você é nova?
- Hm s-sim. - Gaguejou e mordeu o lábio em seguida.
- Gostei do seu cordão - Celeste abaixou o olhar pro cordão - Não é bonito, Sophie? - A ruiva sorriu e balançou a cabeça concordando.
- Obrigada - Deu o seu melhor sorriso à duas.
- Eu gosto do cabelo diferente que ela tem. Todo cacheadinho.
- Prefiro o meu - Passou as mãos sobre o cabelo liso e observou desejando um igual. - O dela é bonitinho e parecido com o da Maíra, só que o da Maíra é bem ruim e feio.
- Quem é Maíra? - Celeste perguntou.
- É só a minha babá - Revirou os olhos. - Qual é o seu nome?
- Celeste.
- Eu sou a Tessa e essa é a Sophie, estudamos desde o pré e também tem a Sam mas ela...
E antes que a criança pudesse terminar, uma mulher robusta e baixa entrou na sala com uma expressão séria. Ela se apresentou como Sra. Verando e disse que seria a professora da turma. Apesar de ser o primeiro dia de aula, a professora de meia idade começou a explicar, e a pequena ficou feliz em esta entendo apesar de em uma minoria ficar em dúvida, mas preferiu não perguntar nada e até o horário de almoço as meninas tentaram conversar com Celeste, que tentou ser o mais monótona possível, por causa da promessa da mãe, mas Tessa e Sophie não percebam os cortes da outra.
- Vem para o recreio com a gente, Celeste - Tessa disse pegando sua lancheira.
- É vamos - Sophie incentivou. Celeste até queria ir, mas os exercícios de matemática que a professora mandou fazer estavam incompletos.
- Vão na frente, assim que terminar o dever procuro vocês. - Tentou sorrir.
- Tá bom então, tchau - A moreninha puxou o braço de Sophie e saiu rindo.
Celeste olhou em volta da sala, só tinha uns dois alunos junto com ela e a professora que lia alguma coisa enquanto bebia café.
Depois que terminou o resto do exercício, a garota pegou sua lancheira e suspirou, faltava pouco tempo para o recreio acabar, então ela decidiu comer na sala mesmo não tendo lavado as mãos.
- Não empurra seu mané - Celeste ouviu a voz de Jeremy acompanhada pela sua risada misturada com outras - Me esperem aqui já volto - Ele entrou na sala e parou na frente com um olhar confuso mas logo viu Celeste um sorriso surgiu no seu rosto. - Celzinhaaa - Cantarolava.
- Oi Jeremy, como você me achou? - Ela sorriu para o maior.
- Quando estava chegando te vi entrar aqui - Mexeu no seu bolso. - Pega trouxe para você.
- Hm obrigada - Era um barra de chocolate com embalagem rosas e cheias de ursinhos. - Por quê foi não comeu o chocolate?
- Eca não, ele é de muito de menininha. O moço da cantina me deu errado, ai eu lembrei de você e da minha irmã, mas minha irmã é muito chata, então tô dando para você.
- Jeremy bestão, vai acabar o recreio. - O menino gritou e começou a entrar na sala.
- Não grite e saia da minha sala, agora. - A professora disse sem desviar os olhos do livro. O garoto moreno levantou as mãos em rendição e riu saindo da sala.
- Tchau Cel, a gente se fala depois - Sorriu e correu para fora dali. Celeste olhou para a barra e também riu. Esse é o presente que ela tinha recebido de um amigo.
xx
28/01/2007
Minha mãe me acordou com cócegas nos pés.
Meu coração bateu muito forte hoje.
Fui pela escola pela primeira vez hoje.
A escola é linda e enorme.
Fiquei nervosa.
Sentei no fundo da sala.
Conheci duas meninas da minha sala.
Sophie e Tessa.
Sophie e Tessa conversaram comigo.
Almocei na sala.
Jeremy foi até minha sala.
O cabelo dele estava todo pra trás.
Ele me deu uma barra de chocolate.
Ele disse lembrou de mim.
E que eu não era chata.
Jeremy sorriu.
Eu sorri.
Sophie e Tessa disse que eu seria amigas delas.
Tenho mais duas amigas.
Comi cookie quando cheguei em casa.
Liguei para o papai.
Ele disse que me ama.
Eu disse que amo ele.
Mamãe e eu fizemos macarrão.
Mamãe disse que eu era a melhor.
Na verdade ela é a melhor.
Quando ia deitar vi Jeremy.
Ele estava saindo de um carro.
Ele olhou.
Ele sorriu.
Eu sorri.
Celeste.xX