A Mais Bela Melodia

By CarolTeles

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A história de Lorena e Klaus se passa em Esperança, uma cidade pequena, onde vivem entre as desavenças na esc... More

Capítulo 1: Klaus
Capítulo 2: Lorena
Capítulo 3: Klaus
Capítulo 5: Klaus
Capítulo 6: Lorena
Capítulo 7: Klaus
Capítulo 8: Lorena
Capítulo 9: Klaus
Capítulo 10: Lorena
Capítulo 11: Klaus
Capítulo 12: Lorena
Capítulo 13: Klaus
Capítulo 14: Lorena
Capítulo 15: Klaus
Capítulo 16: Lorena
Capítulo 17: Klaus
Capítulo 18: Lorena
Capítulo 19: Klaus
Capítulo 20: Lorena
Capítulo 21: Klaus
Capítulo 22: Lorena
Capítulo 23: Klaus
Capítulo 24: Lorena
Capítulo 25: Klaus
Capítulo 26: Lorena
Capítulo 27: Klaus
Capítulo 28: Lorena
Capítulo 29: Klaus
Capítulo 30: Lorena
Capítulo 31: Klaus
Capítulo 32: Lorena
Capítulo 33: Klaus
Capítulo 34: Lorena
Capítulo 35: Klaus
Capítulo 36: Lorena
Capítulo 37: Adônis
Capítulo 38: Klaus
Livro 2: Entre Notas

Capítulo 4: Lorena

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By CarolTeles

— Você acredita que o idiota do diretor me colocou naquela merda de grupo de babuínos dançantes?

O novato me olhou de forma assustada, como se eu tivesse acabado de passar pelada e com um abacaxi na cabeça. Tudo bem, eu tinha jogado minha bolsa em cima da montagem da matéria de capa do próximo jornal que ele estava trabalhando meticulosamente há dois dias, sob uma pressão fervorosa e ditadora de minha parte.

Não tenho costume de dar ousadia aos novatos no meu jornal, mas eu estava com raiva e a única pessoa dentro da sala era ele, então tive que descontar em alguém.

— Oi? — Ele me perguntou apreensivo e eu peguei minha bolsa enquanto revirava os olhos, me jogando de forma dramática na minha cadeira.

— Sabe André, as coisas já foram mais fáceis nessa escola.

— Meu nome é Anderson.

Eu sabia o nome daquela criatura, mas eu gostava de ver a veia de sua testa saltar cada vez que eu usava todos os nomes com "A" que conhecia no alfabeto.

— Desculpe. – Reprimi um sorriso e tratei de ajeitar a placa de metal da minha mesa onde dizia "Lorena Sanchez – Editora chefe do Jovem Esperança". Ok, o nome não era lá dos mais originais, e até coloquei em votação para mudar esse título do jornal, mas o diretor destruiu meu abaixo-assinado resmungando que aquele nome estava lá antes mesmo dos meus pais nascerem. Não entendi qual era o argumento válido nisso. Se o nome estava lá desde o século passado, não era um bom motivo para mudar?

O novato pigarreou e eu voltei a olhar o rosto sardento do garoto do primeiro ano que tinha se inscrito e entrado nas trincheiras junto com mais cinco outros candidatos por essa vaga. Fizeram uma redação de três folhas falando sobre a importância da preservação ambiental em lugares como Esperança. Sendo sincera? Dispensei dois deles porque tinham letras horrorosas, um porque não entendia nada sobre concordância verbal e o quarto porque ficou olhando para o relógio de dois em dois minutos. Anderson me sobrou e nem podia reclamar, o garoto era bom no que eu pedia para ele fazer. E se ele passasse tranquilo pelo resto desse período de O Diabo Veste Prada, então colheria frutos interessantes de se estar ali. Como eu usar seu nome corretamente, por exemplo.

— Mas você dizia... – Ele voltou a ajeitar o jornal em frente à sua mesa de modo calculista.

— Que o diretor me colocou no grupo de música como punição pelo incêndio.

— Jura? – Perguntou depois de um tempo calado, acho que absorvendo o fato — Por quanto tempo?

— Ele não disse, mas vou ter que participar do festival e apresentar alguma porcaria qualquer sobre musicais. – bufei brincando com um globo de vidro.

O novato me encarou de boca aberta. E então ele passou a gargalhar alto e eu cheguei perto de jogar minha placa de metal pesada na cabeça dele. Eu iria fazer aquele garoto passar o dia inteiro correndo de um canto a outro hoje só por causa disso.

— Qual a graça, Antônio? – Perguntei séria e ele parou de sorrir instantaneamente. Se ele achava que podia tirar sarro de mim, era porque não me conhecia tão bem.

— Desculpe, mas acontece que não dá para imaginar você em cima de um palco cantando na chuva, Lorena.

Ele desvio o olhar, mas ainda estava sorridente.

— Não é? Tentei argumentar isso e os otários começaram a tirar onda de mim dizendo que eu não sabia cantar e que não entendia nada de música. – Fiquei revirando os olhos enquanto lembrava a forma zombeteira que alguns olharam para mim. Odiava ser provocada!

— Mas você sabe cantar?

— Fiquei toda a minha vida naquela porcaria de coro de igreja, garoto. Claro que sei cantar!

Ele me olhou e piscou algumas vezes, como se tentasse entender o que eu estava falando. Enfim comentou, voltando ao jornal.

— Você só ficava balançando no fundo, abrindo e fechando a boca.

Parei de me balançar na cadeira e o fitei ofendida. Será que todo mundo me via apenas fechar a abrir a boca? Estava tão nítido que fazia aquilo porque meu pai era a porcaria do pastor?

Peguei uma peteca decorativa que estava no armário atrás de mim e joguei na cabeça dele, que desvio com rapidez e saiu da minha mira quando levantou até a máquina de café.

— Ok, não está mais aqui quem falou. – Ele ergueu as mãos se rendendo e enchendo um copo.

Virei meu corpo para a janela do lado da minha mesa. A vista dava para a piscina. O dia hoje estava escaldante, mas as rajadas de vento que entravam por ali faziam meus cabelos do braço se arrepiarem. Levantei para fechar a janela e avistei as figuras na beira da piscina, brincando com os pés dentro da água.

O italiano boçal, o maricas filhinho da mamãe e o imbecil maior. Adônis, Samuel e Klaus.

Os três estavam de sunga e riam enquanto conversavam. Pelo visto todos faziam parte da equipe de natação também. Não me lembrava de tê-los visto por essa janela, mas provavelmente era porque não costumava ficar olhando a paisagem, apesar de ser uma senhora visão. Os pinheiros enchiam o horizonte e a planície verde dançava com o vento no caminho até a escola. O prédio chamuscado ficava depois do ginásio, ou seja, eu ainda sentia o cheiro de onde eu estava. Um calafrio me encheu quando me lembrei da madeira cedendo sobre o meu corpo e o fato de que certamente eu morreria se Klaus não tivesse chegado. Odiava dever favor a alguém, mas ele tinha sacaneado comigo no pior grau de traição, e isso me isentava de qualquer obrigação para com ele. Eu sei que ele escondeu meu machucado da turma, e o fato de que eu era quem escrevia as matérias sobre o grupo de música, mas isso não significava absolutamente nada. Não é?

Levei a mão ao pescoço e puxei com delicadeza o xale, me certificando que o murro do meu pai não apareceria para toda a escola.

Eu estava furiosa e me sentindo impotente.

Tinha incendiado um prédio e pagaria os danos do laboratório com trabalhos comunitários. Meu namorado tinha fugido por teimosia. Eu tinha apanhado e ouvido minha mãe apanhar enquanto estava ajoelhada no milho, o que me rendeu vários outros pontos, uma perna arrastando e um orgulho ferido; e finalizando eu tinha sido punida e jogada no circo dos horrores que era aquele grupo de música.

Lembrei-me do rosto apavorado de Klaus quando o Gustavo falou que eu estaria no grupo. Sorri. Ele era um babaca, mas era um babaca cômico.

E se eu provasse para eles que eu poderia fazer aquilo?

Eu iria cantar para uma multidão no Festival e isso era fato. Só que eu tinha duas opções: escolher entre ser um astro e deixar as pessoas babando por mim, ou ficar balançando no fundo esperando que a maluca do cabelo azul ou a sininho roubassem uma fama que poderia ser minha. Não fazia questão por glória artística, mas adoraria vê-los engolir o que falaram sobre mim.

Contudo ainda haviam as lembranças, e elas tiravam minha coragem. Eu não cantava desde que Diego tinha ido embora, a não ser que o chuveiro contasse.

Diego era a minha melhor memória dos momentos de criança. Ele tinha aquela facilidade de me dar sorrisos mesmo quando o mundo me dava lágrimas. Fomos ambos massacrados pelas atitudes de meu pai, mas fomos salvos das noites de tempestade nos braços um do outro.

Diego adorava cantar, e também adorava um bom desafio. Acho que ele merecia que eu me esforçasse para isso, e não por conta de nota, mas porque eu queria mostrar para Klaus e seu grupo de babuínos que eles não passariam a perna em Lorena Sanchez.

— Antenor – Falei ainda focando nos caras de sunga na beira da piscina. – Se você tivesse que arranjar alguém para te ajudar com música em tempo recorde e que fosse discreto em relação a isso, quem seria?

O novato bufou. Novamente o nome dele tinha saído errado, mas eu estava tão concentrada que nem pisquei enquanto esperava a resposta dele.

— Dominic Bezerra – Ele enfim disse.

Pensei no nome, mas nenhuma imagem me vinha na cabeça.

— E quem é esse?

— É o pianista do grupo ao qual você agora é fã de carteirinha. – ele brincou e eu não pude deixar de sorrir. – Usa óculos de grau quadrados e o cabelo partido no meio.

Lembrei-me de quem ele estava falando. Uma figura de blusa de botão fechada até o pescoço que calçava All Star, o que não combinava em nada com o resto do seu visual aprovado pelo selo de qualidade do pastor para o culto de domingo.

— Ele é bom?

O novato me olhou com incredulidade e deu de ombros de forma exagerada.

— O melhor.

— Se ele fosse o melhor, o pastor já teria atraído para ficar entre suas ovelhas. – Sorri pensando em como meu pai era fanático por ter sempre os melhores trabalhando com ele.

— Os pais são católicos e acho que não curtem muito o pensamento do pastor. – Anderson falou despreocupado. Bom, eu também não concordava com o pensamento do meu pai. — Qualquer ato de rebeldia mataria o garoto de exaustão. Ele não tocaria lá nem se um anjo descesse do céu e pedisse.

Pensei por um momento, alisando de leve meu joelho machucado. Era Dominic "cabelo-de-Batoré", ou sofrer naquela turma. Se eu tinha que enfrentar aquilo de qualquer jeito, correndo o risco de não obter notas e sujar ainda mais meu currículo para a faculdade, eu arriscaria com esse menino. O fato dele não ser muito a favor do meu pai era um super ponto positivo.

— Me leve até o garoto.

v

Meu carro era um fusca amarelo pastel com uma faixa de símbolos celtas dos dois lados. Comprei com o meu próprio trabalho na igreja, dando aula dominical na época que não usava tatuagem e não sabia o que era calcinha fio dental.

Ele era a piada da escola. Algumas pessoas perguntavam se eu tinha vindo direto de Woodstock, e eu apostava que eles não tinham ideia do que foi o Woodstock. Na certa tinham ouvido os pais se referirem a década de setenta com a palavra e absorveram de modo errôneo no curto vocabulário caipira, e usavam quando queriam se referir ao meu carro antigo.

Eu tinha o maior orgulho do fusca. Ralei tendo que aguentar birra de criança por anos e juntava cada moeda para ele. Não era novo, mas era útil e eu o adorava. Tinha revestido os bancos internos e os carpetes com couro branco. Por dentro ele parecia um carro de luxo, tirando o fato de que o som tocava à base da porrada, e que ao dar a partida nele o barulho era ouvido de muito longe.

Eu não tinha idade para dirigir, claro, mas depois do desastre que causei em um dos vinhedos dos Narcole dirigindo um carro de arado, o próprio Alessandro Narcole solicitou com à polícia de transito local uma carteira provisória atestando minha maioridade para dirigir. Fiz minha mãe assinar sem que meu pai soubesse, e ali estava eu, motorizada e feliz. Acredito que os Narcole também estavam aliviados de não me ter mais aprendendo a dirigir com carros de grande porte por cima de suas plantações.

Estava ouvindo uma música ridícula pelo rádio do telefone quando ele apitou. Olhei o visor e o nome de Matt apareceu seguido de uma careta feliz. Que fique claro que eu nunca coloquei aquela careta feliz ali.

Fiquei na dúvida se atendia ou se deixava tocar e ia me preparando para quando chegar em casa retornar. Se bem que se o pastor estivesse em casa, eu não conseguiria nem ouvir o terceiro toque do aparelho até ele marretá-lo, como tinha feito com o antigo. Então respirei fundo e estacionei em frente a um parque, pegando o telefone vibrante ao meu lado e apertando a tecla verde para já o ouvir cuspindo em cima de mim.

— Mas o que porra aconteceu na sexta? Porque o delegado me disse que quase fui culpado por um homicídio? E porque você me dedurou, Lorena?

Fechei os olhos apertados. Matt tinha problemas em controlar a raiva, e de acordo com o médico, ele precisava ser medicado com frequência, só que se recusava a ingerir coisas manipuladas. O negócio dele era maconha e até que funcionava. Mas imagino que um final de semana na delegacia e uma manhã com a avó tenham o feito ficar longe da erva, ou seja, ele estava uma pilha.

— Ei, dá para você parar de gritar e me ouvir? – Falei alto o suficiente para uma mulher com um carrinho de bebê parar ao meu lado e me olhar assustada. Sorri acenando e esperando que se afastasse. – O telhado caiu em cima de mim e fiquei presa embaixo dos destroços. O filho do delegado quem me salvou. Eu não te dedurei, só que ele e a namorada te viram.

Eu só ouvia a sua respiração forte que aos poucos ia se acalmando com o silêncio.

— E porque você não fez alguma coisa? Minha avó vai cortar a faculdade e você sabia que isso aconteceria se eu fosse pego. E o grupo? E os outros? Não saberão fazer nada sem mim.

Eu sabia de tudo aquilo e estava arrasada, mas o que eu poderia ter feito eu fiz.

— Eu tentei Matt, mas não tinha como o filho do delegado mentir para o próprio pai a favor de alguém que não conhecia. – Argumentei comendo a unha do meu dedo mindinho e começando a achar que ele estava sendo injusto comigo. – E convenhamos que você foi descuidado em se deixar ser visto.

Pude ouvir o suspiro de protesto do outro lado da linha e encolhi meus ombros, já esperando o golpe.

— O que diabos ele tinha que estar fazendo naquela hora por ali? O cara tem faro para problemas?

Senti o rosto esquentar com a raiva que vinha em lampejos perigosos.

— Se ele não estivesse lá provavelmente eu teria morrido, Matt.

— Ah, deixa de exagero Lorena! Você teria dado um jeito de sair.

Não sei se foi o tom da sua voz, ou meu cansaço do final de semana seguido por um dia infernal, mas de repente achei Matt um imbecil.

— E voltaria para casa voando, não é? Porque você saiu de lá na primeira oportunidade e nem se deu ao luxo de procurar saber se sua namorada estava viva.

O telefone ficou mudo e eu senti a hesitação dele no silêncio. Matt normalmente era feroz e decidido. Um líder invejável. Mas nos outros momentos era um cara mimado que demonstrava nitidamente que havia crescido com vó.

— Quer saber, eu deveria ter levado a Bella. Você não presta para esse tipo de missão mais séria. Esqueço que você só tem dezesseis anos e...

— Seu babaca! – Gritei batendo no volante com exasperação. – Eu quase morri porque você é um idiota, e isso poderia ter acontecido com ou sem a Isabela por lá. – Arfei antes de continuar. – E quer saber do que mais, Matt? Vai procurar a vaca e aproveita para transar com ela também, já que você acha que me ter como namorada é só ter um bibelô bonito que você subverteu do sistema religioso da cidade.

Ele parou e eu procurei o ar de volta, jogando a cabeça no encosto do carro.

— E desde quando você é um bibelô bonito, baby?

Sabe aquele momento de um relacionamento onde a pessoa diz uma única coisa que pode acabar com todo encanto e ainda te colocar para pensar o que exatamente você viu nela? Foi justamente o que aconteceu comigo ali. E não acho que tenha sido só por ele ter me dito que eu não era bonita, realmente não ligava para isso, mas porque ele estava todo errado na história e me culpava por aquilo. Porque eu passei perto de morrer incinerada e precisei de ajuda e foi Klaus quem esteve do meu lado, e não ele. Eu só queria desculpas ou uma preocupação genuína.

De repente Matt passou a não fazer sentido nenhum para mim, e até o som da respiração dele do outro lado me deu nojo.

— Vá se foder, otário!

Desliguei o telefone e joguei para o lado, ainda procurando ar.

Eu sabia controlar a dor e a tristeza muito bem. Elas vinham e iam todos os dias nos últimos seis anos. Eu poderia sangrar por horas, chorar por dias, poderia apanhar até sentir um dente balançar mantendo meu autocontrole. Mas com a raiva eu não sabia lidar. E era a sexta vez em menos de cinco dias que tinha raiva a ponto de enlouquecer.

Ela vinha pelas pontas dos dedos, fazendo uma algazarra nos glóbulos do meu corpo. Espalhava-se pelas pernas, me dando vontade de chutar as coisas. Tomava os braços me deixando ansiosa por quebrar os nós dos dedos de tanto bater, e chegava até a cabeça, e era quando eu achava que iria explodir.

Ali no meio da rua, dentro do meu carro amarelo cômico, eu era apenas mais alguém que a raiva fez questão de visitar e deixar uma marca de loucura eminente.

Será que ninguém entendia a importância de dar uma vida saudável para uma menina de dezesseis anos para que ela tivesse forças de construir uma maturidade estruturada? Os meus pais não tinham me dado isso, e acabava que todos os outros planos da minha vida assumiam uma grandiosidade que não deveriam assumir. Uma briga de namorados deveria ser apenas isso, e não a porra da bomba atômica de Hiroshima.

As palavras secas e nada explicativas de Diego no dia em que ele foi embora soaram pela minha cabeça quente e estressada:

"São nossas escolhas, Lou. São sempre nossas escolhas. Mesmo permanecer na merda é uma escolha."

A imagem de meu irmão com uma mochila nas costas descendo minha rua em direção ao entardecer doeu no meu interior, e comecei a controlar a raiva, dando lugar a saudade. Na época eu achei que ele estivesse só indo olhar estrelas no planetário, mas que voltaria para jantar.

Uma criança ficou na janela naquela noite e em mais outras nove depois daquela, esperando um irmão que jamais voltou, e suas últimas palavras tinham sido um enigma indecifrável para alguém de dez anos que brincava com soldados de guerra de plástico e bonecas de porcelana.

Quando minhas mãos pararam de tremer, eu dei a partida no carro ignorando o fato de que Matt, que era o meu ideal como ser humano, tinha se tornado um nada na minha cabeça a partir do momento em que me deixou para ser salva por outro. Não posso mentir e dizer que ele não foi importante para minha evolução enquanto pessoa no último ano. Talvez se Matt não tivesse aparecido eu teria implodido de tristeza. Ele libertou um lado negro meu, e não que seja altamente agradável de conviver, mas qualquer coisa é melhor do que nada.

O problema com a escuridão da minha alma regenerada, é que ela exigia sacrifícios, e no momento eu estava enfurecida o suficiente para buscar o alvo mais fácil para exigi-los, e talvez o menos justo deles. Alguém tinha que pagar por aquela dor, mesmo que eu sentisse lá no fundo que nem todo ouro do mundo me deixaria melhor.

Eu era podre de espírito, e pessoas assim não costumavam buscar soluções simples para problemas negros. A lama era o cenário da minha vida, e eu estava totalmente lambuzada dela. 

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