[Victoria]
17 de novembro, 2015
Alana, 8:27
Bom dia, boneca. Como estás hoje?
Vicky, 8:29
Estou melhor. E tu? Como estás?
Alana, 8:30
Ainda chocada por o que aconteceu ontem.
O Liam entra na cozinha e planta um beijo na minha testa.
- Senti a tua falta na cama. - ele diz-me enquanto abre o frigorífico e tira de lá o leite.
Dou um sorriso sem saber o que mais responder.
- Como te sentes? - o moreno indaga olhando para mim.
- Bem. Eu disse que não era nada de preocupante.- coloco mais um pedaço da minha torrada na boca e mastigo calmamente enquanto aprecio a vista.
Ele tem vestido apenas as calças de pijama que pendem na linha V. Ele está absolutamente apetecível à minha frente.
- A apreciar a vista, Miss Renner? - Liam desperta-me da minha visão repentina, contudo, maravilhosa, porém ele continua a seduzir-me quando se recosta na bancada da ilha, a beber o seu leite com café morno, mesmo ao meu lado.
- Hm, hm. - ingiro o restante do meu sumo de fruta.
O meu telemóvel apita novamente e lembro-me que não respondi à Alana.
Alana, 8:43
Ele contou-te, certo?
Levanto os olhos do telemóvel e imediatamente fico em alerta. Ele está aqui à minha frente completamente descontraído a esconder alguma coisa que aconteceu? A Alana está a falar dele, estou certa não é?
Vicky, 8:45
O que é que aconteceu ontem?
Depois de enviar a mensagem, aperto o telemóvel nervosamente na minha mão.
Daniel aparece na cozinha ainda ensonado. Ele é adorável e cada vez gosto mais dele, se é que isso é possível. Sei que mais cedo ou mais tarde irei conhecer a Miranda, e nada me faz ansiar por esse momento. Deve ser uma bruxa e eu ainda me questiono sobre o que levou o Liam a apaixonar-se por ela. Também penso muitas vezes sobre o que me levou a gostar do Barry.
Levanto-me do banco e beijo a bochecha do rapazinho loiro que está ao colo do pai. O Liam é um pai incrível.
- Vais-me levar à escola hoje, mamã? - a criança inquire depois de retribuir um beijo na minha bochecha.
Olho para o Liam e encolho os ombros. O meu telemóvel apita à chegada de uma nova mensagem.
- Vou tomar duche. - deposito um beijo nos lábios de Liam e outro nos cabelos de Daniel, e escapo da cozinha.
As minhas mãos estão a tremer enquanto desbloqueio o ecrã e abro a nova mensagem. Não sei o que devo esperar, mas sinto com as pulsações mais aceleradas do meu coração de que algo bom não é.
Alana, 8:52
Oh, boneca. Falamos quando chegares à editora.
Vicky, 8:54
Não, dizes agora!
Subo as escadas e vou até ao guarda-roupa com a intenção de escolher o que vestir hoje enquanto espero que a Alana me responda. Podia ligar-lhe, mas sou demasiado cobarde para o fazer.
Alana, 8:57
Não devia ter dito nada, pensei mesmo que o Liam te tivesse contado. Já está tudo bem, e felizmente tens um pequeno herói em casa.
Ergo a sobrancelha. O que raio isso quer dizer? Quando começo a escrever, recebo outra mensagem.
Alana, 8:58
Isto não devia ser dito por mensagens. Antes que confrontes o Liam tenta perceber o porquê de ele não te ter dito, está bem? Pronto, aqui vai... O Barry ontem ameaçou o Khan no lado de fora da editora para não ele se aproximar de ti e sobre te deixar desconfortável. O Liam conseguiu controlar a situação e deter o desgraçado do Barry.
Encosto-me à parede não acreditando no que acabei de ler. Aos poucos, o meu cérebro começa a processar a nova informação. Como é que o Barry sabia quem era o Rowdy? Como é que o Barry sabia do facto de o Khan já me ter deixado desconfortável algumas vezes? Como é que ele sabia da editora? E o Liam? Por que raio ele se arriscou assim com um animal daqueles? Estaria Rowdy bem? O mais absurdo e inacreditável desta situação toda é que quem mais me deixa desconfortável é o Barry e ele anda a ameaçar outras pessoas? A que ponto chegou a sua perturbação mental?
- Victoria? - a voz do Liam rompe o silêncio. Limpo as lágrimas que nem notara antes que tinha derramado, nas costas da mão e vou ao seu encontro.
Ele está estático a meio do quarto de braço cruzados.
- O que é que se passa? - o tom aflito e preocupado é percetível na voz dele.
Ele aproxima-se de mim, puxando-me para ele. Empurro-o e recuo.
- Há alguma coisa que queiras contar-me? - pergunto baixo.
- Não. - ele mente. Tenho que admitir que mente muito melhor do que eu.
Ficamos num silêncio incomodo por uns minutos enquanto eu vejo pela janela que começara a chover. Que fantástico.
- Quando é que estavas a pensar em contar-me sobre o que aconteceu ontem com o Barry? - continuo com o meu tom baixo numa tentativa de manter a calma.
O Liam leva uma das mãos à cabeça e puxa alguns dos seus cabelos castanhos claros.
- Eu não estava a pensar em contar-te.
O quê?
- Eu tinha o direito em saber! - levanto o meu tom de voz. - Não podias ter escondido uma coisa destas!
- Por que é que achas que tens o direito de saber? - ele faz uma tentativa de se aproximar mas mando-o permanecer no mesmo sítio com um gesto. - Para que querias que te contasse? Para ficares preocupada e exaltada?
- Alguém podia ter-se magoado por minha culpa. Devias ter-me dito! - riposto.
- Nada disto é culpa tua, amor!
- Não me chames isso! - peço. - Ele podia ter-te magoado e eu jamais me perdoaria se alguma coisa te acontecesse.
Tenho vontade de chorar, mas não agora. Não aqui. Não à frente dele.
- Eu estou bem, Victoria.
- Eu não quero que te andes aí a fazer de super herói, Liam! - isto é a sério.
Sento-me na beira da cama e olho para as minhas mãos. Sou incapaz de o olhar nos olhos. É a nossa primeira discussão e o meu coração está despedaçado.
Ele dá um suspiro pesado e então abaixa-se e fica entre as minhas pernas. Ergue o meu queixo com um dedo e inclina a minha cabeça para trás para que estejamos olhos nos olhos.
- Ouve querida, eu jamais iria arriscar-me senão soubesse o que estava a fazer.
- Ele é perigoso. Ele não te fez nada? - pergunto preocupada.
- Não, Victoria. Quando eu andava na escola sofri bullying e depois a comecei a praticar boxe, e ainda hoje pratico. - ele esfrega a minha bochecha com o polegar. - Descansada agora?
- Não! - levanto-me e o Liam faz o mesmo. - Ele podia ter-te atacado sem estares à espera.
Decido no momento que tenho que sair daqui. Saio do pequeno espaço entre nós e vou até ao armário. Pego numas leggings pretas e numa sweatshirt cinzenta com pelo por dentro. O Liam assiste a todos os meus movimentos mesmo quando estou a trocar de roupa.
- Victoria, o que estás a fazer?
- Nós não estamos bem juntos. - calço umas botas, as primeiras em que agarro. - É demasiado perigoso e eu não quero colocar ninguém em risco. A culpa disto tudo estar a acontecer é minha.
- Tu estás-te a ouvir? É absurdo o que estás a dizer.
Paro as minhas ações para o encarar. As nossas diferenças de altura agora estão mais acentuadas do que nos outros dias.
- Devíamos afastar-nos. - digo-lhe. Os meus olhos estão repletos de lágrimas não caídas.
O Liam segura-me pelo pulso e aperta a minha mão trêmula na sua.
- Ele foi detido ontem, e vai ser presente a juíz amanhã. Vai ser feita justiça, Victoria. Tu precisas disto para ultrapassares o passado. - ele tem razão. Não há humor, não há qualquer traço de um sorriso no rosto dele, e os seus olhos estão tristes e preocupados.
Sinto-me tão assim. O meu coração está em pedaços. Preferia que tivesse sido ele a dizer-me o que tinha acontecido.
- Ele magoou o Khan?
- Sim, mas não foi grave.
- Merda! Estou tão farta disto. - murmuro. - Quero desaparecer.
- Posso abraçar-te? - ele pede.
- Não, Liam. Quero sair daqui. - afasto as nossas mãos e pego no casaco no cadeirão perto da cama.
Desço as escadas a correr e ouço-o vir atrás de mim.
- Não desças a porra das escadas a correr, merda! - ele vocifera. - Espera!
Pego nas chaves do meu carro e vou até à porta de entrada.
- Victoria, espera! - ele continua a gritar e consegue segurar-me pelo braço. - Aonde é que vais?
- Papá? - Daniel surge atrás de nós. Ambos olhamos para a criança e então o Liam solta o meu braço, num ato involuntário.
Consigo escapar de casa com o meu coração desfeito. Todos à minha volta podem estar em risco e é tudo culpa minha. Não quero esta com a Alana, não com a Paige, não com o Thomas, não com ninguém, e por isso decido conduzir sem rumo e ver onde me leva.