[Liam]
Quando abro a porta de casa e ouço as vozes da Victoria e de Daniel vindas da cozinha. Eles estão a cantar uma música de uns desenhos animados que Dan vê. É de admirar a forma como Dan aceitou a Vicky aqui em casa e como se dá com ela.
Pouso as minhas coisas no escritório, dispo o casaco e paro na ombreira da porta da cozinha. Surpreende-me que a minha mãe aqui esteja também e não me tenha dito nada.
- Olá, querido! - a minha mãe levanta o olhar e encontra-me à porta, fazendo a Vicky e Daniel olharem para mim também.
Aproximo-me e ela beija a minha bochecha.
- Olá, mãe. - retribuo. Depois de lhe dar um beijo, segue-se o meu filho que está sentado num dos bancos altos e a Victoria que está mais longe, o que não me impede de dar a volta à ilha e de lhe dar um beijo nos lábios. Claro, Daniel tinha que reclamar, o que nos faz rir aos três.
- Eu ia para te encontrar na escola do Daniel, mas fui apanhada de surpresa pela Victoria e aceitei o convite para lanchar. - a minha mãe esclarece.
Sorrio. Parece que se estão a dar bem. Tinha planeado em apresentar a minha linda noiva, ainda sem anel, porém por pouco tempo, à minha família num almoço, mas os planos saiem mais uma vez furados.
- A avó já adora a Vicky, papá. - Dan comenta metendo mais um biscoito na boca.
Victoria encolhe os ombros claramente envergonhada e ela não sabe o quanto isso é sexy.
- Ela é encantadora. - a minha mãe diz e olha para ela. - Estou contente por vocês estarem juntos.
Daniel está todo satisfeito ao meu lado, agora que me sentei no outro banco ao seu lado. A minha mãe está super maravilhada e a Victoria apesar de envergonhada, está feliz. Se eu tinha alguma intenção de falar à Victoria sobre o que aconteceu hoje, essa miníma vontade perdeu-se totalmente quando entrei na cozinha e vi a minha família descontraída e feliz. Não posso simplesmente estragar isso.
[Victoria]
Karen, a mãe de Liam, abandona-nos lá perto das seis e meia. Fico contente por o Liam me dar esta confiança e permitir que me dê tão bem com o seu filho, e ao ligar para a escola de Daniel a informar que seria eu a ir busca-lo. Foi sem dúvida um grande gesto de confiança.
O meu coração transborda de amor quando a criança me chama de "mamã". Não tive o meu bebé e penso muitas vezes que Daniel pode estar a ocupar um bocadinho esse vazio, porém nunca será meu, e isso dói. Tenho medo de sugerir a Liam para tentarmos. Estamos juntos há tão pouco tempo, mas já somos tanto um do outro.
Atiro-me para trás no sofá, ficando deitada numa almofada.
- Em que estás a pensar? - abro os olhos e encontro os de Liam. Ele deita-se sobre o meu corpo e dá pequenos toques no meu nariz com o seu, faz uma trilha de pequenos beijos no meu rosto até chegar ao meu queixo, onde chupa ligeiramente. Filho da mãe!
Uma pequena chama acede-se entre nós e ele continua. Sobe a sua boca e os seus lábios insinuam-se à volta dos meus. Por que raio não me beija logo?
Quando os nossos lábios se colam, os movimentos são demorados e perfeitos.
- Estava a pensar em ti. - respondo quando os nossos lábios se afastam ligeiramente.
- Adoro quando sou o teu pensamento. - ele beija de novo os meus lábios e depois consegue ajeitar-se de forma a deitar-se ao meu lado. - Como foi com a minha mãe?
Levo a minha mão ao seu peito e massajo-o lenta e cuidadosamente. Ele parece apreciar a minha ação e eu derreto por dentro.
- Gostei muito da tua mãe. Deve ser uma mulher fantástica. - respondo.
- Ela é. - ele sorri. - Ela é enfermeira no berçário no hospital.
- Que coisa mais fofinha. - devolvo-lhe o sorriso.
Fechamos os olhos e fico a massajar o peito do meu homem em silêncio. Ambos em silêncio.
- O que é que precisavas de falar comigo? - Liam questiona de repente.
- Eu disse para não te preocupares... - murmuro.
- Eu sei, mas quero saber o que querias falar comigo.
Levanto-me e puxo o meu caderno para mostrar ao Liam. Sento-me no sofá ao lado dele e dou-lhe os meus rascunhos.
- O que é isto? - ele inquire.
- Abre e vê.
Ele olha para mim desconfiado e então abre o meu caderno. O que era para ser apenas alguns esboços de vestidos de noiva, transformaram-se em muitos.
Quando eu era pequena, desenhava os vestidos das minhas bonecas e a minha mãe costurava-os. Nunca nenhuma outra rapariga tinha roupas iguais às das minhas bonecas, mas nunca pensei em desenhar roupas a sério, e de repente, surgem imensas ideias para vestidos de noiva.
Apercebo-me que estou a morder o meu lábio inferior com um certo nervosismo. Ele está a folhear o meu caderno e o meu coração bate cada vez mais forte. Ao final do que pareceu uma eternidade, o moreno desvia o olhar do papel e encara-me, abrindo um sorriso.
- Vais falar alguma coisa? - pergunto ansiosa.
- Sim. - ele ri.
- E?
- Qual vai ser o teu? - ele tem estampado um sorriso no seu maldito rosto bonito.
- O quê? - quem ri agora sou eu.
- Estão todos incríveis, amor.
Sem eu querer, as minhas bochechas adquirem um tom avermelhado.
- Obrigada. - murmuro envergonhada.
- Estou a sério, Victoria. Estão todos incríveis. - ele volta a olhar para o caderno. - Qual é o da Paige?
- Não sei, dei asas à minha imaginação e depois ela escolhe. - encolho os ombros.
- Seja lá o que for que ela escolha, vai adorar. - o moreno diz, fazendo-me sorrir.
- Achas mesmo?
- Acho. Acho até que podias trabalhar com a minha irmã.
Arqueio o cenho.
- Trabalhar com a tua irmã? - estou confusa. Como assim com a irmã dele?
Liam fecha o meu caderno e pousa-o ao seu lado, pega nas minhas pernas e coloca-as no colo dele.
- A Ruth tem uma empresa de organização de eventos e tu podias desenhar os vestidos para as noivas dela. - o moreno diz apanhando-me de surpresa. Mas como? Eu não tenho formação para isso.
- Trabalho na editora. - relembro-o.
- Sei disso, mas e daí?
- Queres que enumere as razões do porquê de não puder trabalhar com a tua irmã?
Ele para de massajar os meus pés e olha para mim.
- Por favor. - Liam pede, voltando a massajar os meus pés. Que sensação boa.
Eu fico completamente absorvida pelo seu toque, contudo, tenho que me concentrar naquilo que tenho a dizer.
- Em primeiro lugar, não tenho formação nessa área; em segundo, trabalho na editora; terceiro, só estive uma vez com a tua irmã; quarto, não sei se quero fazer isto. - a minha voz parece insegura, tal como eu me sinto.
Ele para a sua ação e encara-me.
- Meu amor - o meu coração palpita. - ,todas essas coisas são facilmente resolvidas, exceto a última. Tens que pensar bem, mas sabes que terás sempre o teu lugar na editora. - ele diz calmamente.
Aproximo-me mais dele e beijo o canto da sua boca, descendo as minhas mãos pelo seu peito, abrindo alguns botões da sua camisa branca.
- O que estás a fazer, babe? - ele faz uma aspiração profunda antes de perguntar.
Eu sorrio.
- Estou a fazer aquilo que estás a ver. - respondo. Beijo e chupo a pele do seu pescoço.
O moreno arrepia-se e envolve o seu braço à volta da minha cintura. Chupo o suficiente a sua pele, de forma a deixar uma pequena marca. Ele geme.
Sou deitada no sofá e dou-lhe um beijo rápido nos lábios, no entanto, não é suficiente. Levo de novo os meus lábios aos dele. Ambas as nossas bocas se abrem ao mesmo tempo e ele coloca a sua língua dentro da minha boca. Puxo os seus cabelos e no segundo seguinte estou por cima dele, segurando-me ele pelas ancas, enquanto a sua língua massaja a minha. Começo a mover as minhas ancas, porém sou detida por ele.
- Não. - Liam diz firme.
Deito a minha cabeça no seu peito e ele envolve os seus braços à volta das minhas costas.
- Tenho algo que te quero mostrar. - ele morde o seu lábio inferior e olha para mim.
Franzo o sobrolho e abro a boca para perguntar o que é, mas estamos num instante a subir as escadas para ir para o quarto. Para o quarto? Porquê? Um friozinho surge no final da minha barriga por antecipação.
O moreno deixa a minha mão quando estamos parados em frente ao armário. Não consigo esconder a confusão no meu rosto, mesmo assim, ele não me esclarece.
Hunter desvia algumas roupas da sua parte do armário e desvenda um cofre. Um cofre? Por que haveria ele de querer mostrar-me o cofre ou seja lá o que estiver dentro dele?
- Liam... - começo, mas sou rapidamente interrompida por ele.
- Abre. - encoraja-me. Estou cada vez mais confusa.
Como vou abrir o cofre se nem sei o código?
- 1611. - ele responde como se adivinhasse os meus pensamentos.
- Porquê 1611? - pergunto ao mesmo tempo que me abaixo, ficado ele atrás de mim.
- É o dia de hoje, mas acredito que mais tarde irás querer alterá-lo. - ele explica com um sorriso nervoso. O que é que ele tem?
Levo a mão ao cofre para marcar o código, mas não consigo. A minha mão começa a tremer e eu levanto-me.
- Não consigo. - exponho o meu medo. Não sei o que vou encontrar dentro do cofre.
Ele abaixa-se comigo e esfrega as minhas costas cautelosamente, encorajando-me.
- O que é suposto eu encontrar ali dentro? - inquiro com os dedos já a marcar os dois primeiros números.
- Abre e vê. - reviro os olhos e ele levanta-se quando o cofre se abre.
Levo a minha mão à boca e suspiro. Há uma pequena caixa azulada com uma borda em ouro na parte de baixo. Wow! Isto é aquilo que estou a pensar que é?
Olho para trás e o Liam está a morder severamente o seu lábio inferior com as mãos metidas nos bolsos das suas calças pretas.
Pego na caixinha azul e levanto-me, ficando de frente para o moreno, que me observa atentamente. É um silêncio estranho.
Mordo o meu lábio inferior também e com as minhas mãos trêmulas, abro a pequena caixa, revelando um anel de estilo romântico, absolutamente magistral, com um diamante em formato de quadrado no centro. A pedra é impressionantemente brilhante e incolor e as suas facetas são incrivelmente simétricas. O anel em si é puro ouro entrelaçado, embelezado por pequeníssimas pedras redondas brilhantes.
Levanto o olhar do anel e encaro Liam que se encontra na mesma posição de há pouco. Estou sem palavras. É tão bonito e perfeito, discreto mas brilhante. Não poderia haver outro anel que eu fosse gostar mais.
Estendo o meu braço para a frente e Hunter pega na pequena caixa, compreendendo exatamente o que eu pretendia. Coloca o anel na minha mão esquerda e é impossível não apreciar o quão fica bem no meu dedo. Sinto as minhas bochechas corarem e tenho a certeza que os meus olhos azuis estão mais vibrantes do que o normal.
É então que vejo um grande sorriso no seu rosto. Eu e o Liam estamos noivos oficialmente. O que vai pensar toda a gente?
- Vai haver mais algum pedido de casamento? - inquiro.
O espaço entre nós diminui e ele segura-me pela cintura.
- Não, este é o último e oficial. No entanto, posso relembrar-te todos os dias de como te quero como minha mulher. - ele responde, passando o seu polegar pela minha bochecha. - Gostaste mesmo do anel? - assinto. Liam pega na minha mão e sorri. - Achei que ias gostar assim que o vi.
- Eu não gostei, eu amei. - rio e beijo o seu queixo. - Como sabias o meu tamanho?
Ele ri.
- Fácil. Levei um dos teus e eles usaram-no como medida.
- É perfeito. Obrigada. - abraço-o.
Quando estamos a descer as escadas, paro a meio do corredor e o moreno para também, encarando-me.
- O que foi?
- Por que não me disseste do livro? Eu fiz a capa sem saber que o livro era teu. - digo. Quando vi o livro, o assunto foi esquecido temporariamente assim que vi o pedido de casamento.
- A intenção era essa, babe. - ele ri.
- Mas podias ter-me dito. É só que... - ele corta-me.
- Eu quero é saber o que achaste.
- Acho incrível que tenhas escrito uma história de amor em tempo de guerra. Faz-me acreditar que não existem impossíveis. - coloco as minhas mãos na sua cintura e olho para ele.
- Não existem impossíveis, de todo. Acho que a história transmite isso mesmo: que devemos amar sempre, até ao último segundo; que não devemos ter medo de amar; e que flores nascem de tempestades. O que tiver que acontecer, acontece. Nada na vida devia ter reticências, Victoria. Tenho tentado mostrar-te isso desde que te conheci.
O meu coração para literalmente com as palavras dele. Ele leva as suas mãos ao meu rosto e limpa as lágrimas que eu nem notara que tinha.
- Todos nós passamos por tempos de guerra e sabes uma coisa? Passamos parte da vida a adiar coisas e eu estou farto de adiá-las. Quero viver o agora sem reticências. - lágrimas caiem dos seus olhos também. - Não quero saber daquilo que os outros pensam sobre mim, sobre ti ou sobre nós, porque tu és a minha flor de tempestade e nada me irá separar de ti, nem no inferno, querida. - limpo as lágrimas que teimam em cair do meu rosto e num impulso, beijo o homem à minha frente.
Ele é também a minha flor de tempestade. Já não existem dúvidas. Não existem medos. Não existem reticências entre mim e ele. Hoje estamos em paz, mas amanhã podemos acordar em guerra e nunca será suficiente dizer o quanto nos amamos. É preciso adormecer e acordar com a consciência tranquila de que não existem pontos ou vírgulas ou barreiras. Podemos estar em campos diferentes, e ainda assim vou lembrar-me do quanto amei e do quanto fui amada, saber a quem pertenço e essa pessoa é e sempre será o Liam, porque nem mesmo o inferno nos irá conseguir separar.