Sam
Amigos são pra isso.
Hoje já é quarta. Metade da semana, e a porcaria das palavras do Tyler ainda flutuam em minha mente. Como disse não tocou no assunto virgindade, mas ficou em silêncio o tempo todo me lançando olhares, achando que eu não percebia. Depois de recusar seu convite para dormir com ele fui para casa, apenas para encontrar Molly e Peter pelados dormindo no sofá, deixando sua nudez de lado fui até o quarto da minha prima e apanhei um cobertor que usei para cobri-los. Também deixei uma nota, pedindo encarecidamente que usassem o quarto na próxima vez. Molly como sempre fez pouco caso, mas, Peter até ontem me pedia desculpa. No entanto, hoje de manhã os encontrei pelados novamente.
Voltando a tona, saio da sala de aula para minha próxima aula, em outro bloco da faculdade. Até sentir braços me tirarem do chão quando pego a direita.
- Me solta – grito, me debatendo para me liberar dos braços cobertos por jaqueta de couro que seguram minha cintura – Por favor, não me machuca – imploro me debatendo mais.
- Sam? – Molly me chama, aparecendo em meu campo de visão quando abro os olhos – Somos nós. - diz rindo. Tenho vontade de matá-la.
- Calma, Sam - matá-los quando ouço a voz do Jake.
Ficando quieta e regularizando minha respiração, tomo nota que não é um assaltante ou estuprador, ou ambos que me tem em volta de seus braços. Jake me solta. Olho para os dois. Jake é uma figura alta, esguia, pálida, de olhos grandes - coisa de família – e cabelos negros escondidos debaixo do gorro, deixando apenas algumas mechas escapulirem propositadamente para fora, completamente vestido de preto, em um luto eterno. Mesmo com aparência de doente, o que de uma forma sombria e doentia só contribui para que se torne ainda mais bonito.
Molly fica para trás apenas por serem poucos centímetros menores, além de ser curvilínea e ter um lindo bronzeado. Mesmo que Jake e eu morássemos em uma máquina de bronzeamento artificial continuaríamos desprovidos de cor. Mas, sem dúvidas Jake é pior que eu.
- Droga! - esbravejo - O que deu em vocês? - pergunto ainda assustada com suas brincadeiras de mau gosto.
- Só queríamos te dá um susto – Molly responde sorrindo, como se eles não fossem capazes de me provocar um infarto.
- Somos apenas nós, magrela – Jake diz, jogando seu braço esquerdo em meus ombros.
- Olha quem fala – debocho.
Pegando minha mão desliza por cima de sua camisa por todo seu abdômen. Não que se compare ao Tyler ou Peter, mas ele realmente tem alguns músculos definidos. Eu realmente preciso rever meu conceito sobre ele.
- Então, o que você dizia? – pergunta debochado.
- Não é como se eu reparasse em você – digo dando de ombros.
- Claro que não, Jake – Molly diz sorrindo – Ela só tem olhos pro Tyler. – os dois riem.
- Vocês são maldosos – esbravejo – Somos apenas amigos.
- Você caiu mesmo na zona da amizade, gata – Molly diz sem sorrir. Quase com pena.
- Tenho que ir. – digo e me ponho a andar.
- Nos vemos no refeitório – Jake grita.
Zona da amizade!, realmente cai nela. Enquanto me ponho a entrar na sala, e sentar em meu lugar de sempre – terceiro lugar da mesa do canto, á direita – volto a repassar sobre as palavras do Tyler e a cara de pena da Molly. Se possível, foi ela quem me deu o pontapé inicial sobre sentir alguma coisa em relação ao meu amigo, que sem dúvidas amigos normais não sentem um sobre o outro. No fim me convenci que é apenas uma grande atração. Mas qualquer uma se sentiria atraída por Tyler Black. Até mesmo a Molly já peguei dando uma boa olhada nele, sem contar suas habilidades sexuais bastantes aprovadas e divulgadas pelas garotas no campus. Ele é o tipo de homem que sabe o que faz.
- Oi... É – Briana, minha colega de Matemática avançada me cumprimenta. Ou tenta, já que não lembra meu nome – Sam. É Sam, não é?
- Sim – respondo, encarando-a imaginando o que será que quer de mim. Minhas respostas provavelmente não são. Só inclui matemática, a matéria extra por ser a única com vagas.
- Perfeito – sorri falsamente – Entrega isso ao, Tyler pra mim – diz, estendendo-me um papel com seu número, sem dúvidas. Nada de, por favor, ou obrigada – É que saímos antes dele ir pra Chicago, e não tive a oportunidade de entregar meu número a ele.
Gostaria de dizer em sua cara que Tyler nunca vai ligar, e que sua falta de oportunidade se deve ao fato dele ter se esgueirado porta a fora, assim que conseguiu o que queria.
- Claro – respondo, também com um falso sorriso.
- Obrigada, fofa – agradece metida – É tão bom estudar com a amiguinha dele – ela deixa bastante claro a amiguinha. Cadela!
- Mal completamos um mês que as aulas iniciaram, e já foram quantas? Seis garotas te fazendo de pombo correio? – Isaac, acho, pergunta sentando-se ao meu lado. Nunca nos falamos antes.
- Oito na verdade. Uma no banheiro e outra na saída – respondo sorrindo. Ele sorri de volta revelando lindos dentes brancos, como os do Tyler. Ele é um garoto bonito. Cabelos escuros e cacheados, e os olhos azuis. Sei que garotos não gostam desse tipo de elogio, mas ele é bastante fofo.
- Isaac Hoover – apresenta-se.
- Sam Lancaster – aperto sua mão. Que sua.
- Só Sam? – pergunta curioso.
- Só Sam. – respondo. E, logo lembro a minha mãe, foi ela quem escolheu meu nome.
- Fiz alguma coisa que te aborreceu? – pergunta preocupado.
- Nada de mais – respondo dando-lhe outro sorriso.
Tyler vai ter que despachar alguns de seus encontros para me ajudar com a matemática. Passo toda a aula conversando com Isaac que me revelou que não entende porcaria nenhuma da matéria. Ele contou de maneira tão dramática e nervosa quando disse que precisava me revelar uma coisa que cai no riso chamando a atenção do professor e de todos os outros. Ele é diferente dos caras que conheço. Sempre na dele, diferente dos amigos do Tyler, Molly e Peter, e bem mais alcançável que eles também. Em especial ao Tyler.
- Você vai ao refeitório? – pergunta quando nos emaranhamos em meio a multidão que foge da sala como se a própria pegasse fogo.
- Sim, meus primos e amigos estão me esperando. – respondo – Quer vir comigo? – ofereço.
- Quase me esqueci que você e o Tyler... Bem o que vocês são de fato? – pergunta confuso.
Quando comecei ano passado as pessoas mal me enxergavam. Então Tyler Black me notou. O que foi ruim e difícil para me acostumar, ninguém acreditava muito quando dizíamos que éramos apenas amigos, as garotas me olhavam torto, e os caras achavam que ao estalar os dedos me teriam pra que pudessem me consolar por Tyler estar saindo com outras. Então aos poucos, passei a ser sua protegida. A sua amiguinha. Não melhor amiga ou amiga, mas, sim amiguinha.
- Você pode não acreditar, mas somos apenas amigos. – conto. Ele me olha por segundos antes de abrir um lindo sorriso.
- Eu acredito. – diz por fim.
Sorrio.
Tyler
Encaro com vontade de socar a cara do Andy, enquanto fala sobre a próxima luta na sexta, no porão da antiga academia do campus – mais uma fora da liga -, ele divaga sobre como as apostas estão em altas ao meu favor. Mas a única coisa que importa é que já estou atrasado para pegar a Sam para irmos juntos para o refeitório. Peter olha para mim com os olhos negros dançando de felicidades por minha irritação.
- Andy, passa os detalhes para o Peter – corto-o.
- Ei, não sou seu secretário, porra – diz me irritando. Ele adora fazê-lo, ainda mais se isso envolve a Sam. – Além do mais – levo meu olhar para onde aponta.
Sam está sendo acompanhada por um cara de cabelos cacheados, que sorri como um babaca para ela. Ela também está toda sorridente. Quem ele pensa que é para ficar tão perto dela?
- Merda! – Peter e eu praguejamos assim que Sam vai ao chão.
O babaca está ajoelhado ao seu lado, enquanto ela ri de sua própria queda. Ele a acompanha.
- Você deveria ajudá-la e não ri, babaca – digo assim que me aproximo ajudando-a se levantar.
- Pega leve, cara – Peter diz.
- Você está bem? – ignoro-o.
- Sim – responde – E você não pode falar assim com o Isaac – defende o babaca.
- Tudo bem, Sam – responde sorrindo sem graça – Nos vemos depois, tchau.
- Não, não está tudo bem – diz, olhando feio para mim. – Você não quer mesmo se sentar com a gente? – ela convida. Que merda é essa?
Quando abro a boca para protestar, ela e Peter me olham feio. Me calo.
- Fica pra próxima.
- Então, tchau – se despede.
- Você mal o conhece e já está toda sorrisos pra ele? – solto irritado. Sam só se soltou comigo quase um mês depois que joguei água suja em cima dela, e sugeri que fossemos amigos.
- Ele foi legal comigo depois de uma das suas DST's ambulantes me entregar isso – estende um pedaço de papel que nem me dou o trabalho de checar, pois o amasso e jogo-o no chão. – E não é como seu eu fosse pra cama com ele. Só o convidei pra sentar com a gente.
- Não gosto dele – digo.
- Você não gosta de ninguém que possa – fica vermelha – Transar – Peter ri. E, na maioria das vezes me faz sentir sujo, o merda sabe disso. De alguma forma acho que percebe, pois parte pro amigo da onça.
- Oi, Peter, é bom te ver vestido pra variar. – diz, deixando-o envergonhado e engolindo os risos.
- Você é a melhor! – digo, puxando-a para mim.
- Eu sei.
Assim seguimos para o refeitório esquecendo nossa pequena discussão.
Votem, gente ☺️