No outro dia, a voz do rapaz mascarado ecoou pela casa e acordou a todos.
– Acordem, jogadores! Está na hora de jogar!
Todos pegaram suas Fardas e foram para o portão do próximo local. Uma tela acendeu e o Chefe dos Jogos apareceu.
– Esse desafio será complicado. O local está inundado de um lado a outro, cheio de animais e monstros marinhos, além de peixes elétricos que um simples toque já mataria qualquer um de vocês.
Eles empurraram o portão e viram um enorme espaço cheio d'água, com uma parede no meio do lugar, por cima d'água, provavelmente para não passarem por cima. O único local seco era a entrada por onde chegaram.
– Vamos ter que nadar. – Wave ativou sua Grand Chariot e se pôs a frente. – Tatsumi e eu cuidamos dos monstros enquanto vocês passam.
– Mas... – Mine parecia preocupada, mas logo mudou sua expressão. – Se vocês querem morrer, enfiem uma espada no peito, mas ficar detonando consigo mesmos aos poucos é sacanagem.
Tatsumi ativou sua Incursio e ficou ao lado de Wave.
– Nós não morreríamos tão facilmente.
Eles entraram na frente e cada um ficou de um lado. Os outros foram pelo meio, sendo que Coro não parava quieto e ia atrás dos monstros do lugar. Nem foi preciso Tatsumi e Wave fazerem tanta coisa.
Quando chegaram à parede na água, viram que era bem grossa. Wave e Tatsumi olharam um para o outro e assentiram.
– Prendam bem a respiração.
Wave segurou Kurome e Seryu, Tatsumi pegou Akame e Sheele nos braços enquanto Mine se segurava nas costas dele. Os dois as deixaram do outro lado num piscar de olhos.
– Droga! – Mine foi colocada fora da água por Tatsumi. – Eu quase me afoguei!
Wave deixou as duas que trouxe com Tatsumi.
– Eu vou buscar o senhor Bols e o Coro. Você cuida delas por enquanto.
Wave saiu por alguns segundos e voltou com os dois. Todos saíram da água, se secaram com algumas toalhas que haviam no local e esperaram a aparição do rapaz mascarado.
– Vocês fizeram mais rápido do que eu pensava. Nem consegui preparar o último ainda e vocês já terminaram o penúltimo.
– O próximo é o último? – os olhos de Mine brilharam. – Quando sair daqui, você terá que pagar minhas próximas compras, seu idiota!
– Tudo bem, eu pago. Só peço que esperem por mais meia hora, porque o próximo inimigo ainda está sendo preparado e ele é meio... Complicado...
A tela desligou e os oito ficaram lá, esperando aquela meia hora passar.
Quando eles já não aguentavam esperar, a tela acendeu novamente.
– Bem, terminei os preparativos. Vocês podem entrar.
O portão abriu e os oito entraram. O lugar era um salão circular enorme, com dezenas de metros de altura e centenas de circunferência. Dos dois lados do portão por onde passaram havia portas, uma de cada lado.
Da porta da direita saíram algumas pessoas já esperadas: Najenda, Run, Chelsea, Leone, Dr. Stylish, Lubbock, Susanoo e...
– Tatsumi! – Esdeath correu em direção do rapaz e o abraçou.
– Esdeath! – o rapaz tentava se soltar dela, mas não conseguia. Ela era uma força imparável.
Mine observou a cena com os punhos cerados.
– Tatsumi, você poderia, por favor, solta-la? – a garota parecia pronta para atirar.
– Mas não sou eu, é ela!
Esdeath soltou o rapaz assim que a terceira porta abriu. Somente três pessoas saíram da porta, sendo eles um homem grande usando armadura negra com capacete de dragão e uma dupla de mascarados, um garoto e uma garota.
– Quem são vocês? – Tatsumi apontou sua espada para eles, sério.
– Usando minha Farda contra mim? – Bulat tirou o capacete e sorriu. Carregava uma enorme espada negra em suas costas.
– Irmão! – Tatsumi foi até ele, seguido pelo resto do pessoal.
Os outros dois mascarados traziam armas consigo: a garota trazia um arco branco decorado de penas azuis e o garoto trazia um machado de dois gumes com o cabo entalhado com uma cabeça de touro.
– E vocês seriam? – Chelsea perguntou aos dois.
– Ninguém em especial, né, Tatsumi?
O rapaz tirou a sua máscara, mostrando ser...
– Ieayasu! – Tatsumi se virou para a garota. – E essa é...
– Eu mesma. – Sayo tirou sua máscara.
Tatsumi não conseguia segurar suas lágrimas. Ele sorria e chorava de alegria. Todos no lugar tinham as marcas de penas em seus braços.
– Como isso aconteceu? – ele limpou o rosto.
– Da mesma forma que vocês. – Sayo olhou para o telão que acendeu no teto. – Aquele cara.
O Chefe dos Jogos estava lá, olhando para todos eles.
– Vejo que vocês conseguiram se encontrar. Muito bom. – ele batia palmas para eles. – Vocês mereceram cada instante de vida pelo qual lutaram até então. Agora, será sua última luta pela vida aqui dentro.
No centro do lugar, uma plataforma saiu do chão e um ser de cinco metros estava em cima. Tinha corpo humano e era extremamente musculoso, mas seu rosto, pernas, mãos e pelugem eram de leão.
Ele estava preso em correntes ao chão e parecia bem raivoso.
– Este é Spelaea, o Leosomem. – disse o mascarado. – Ele é um ser muito perigoso e de extrema violência. Foi encontrado por meu bisavô e se mostrou uma grande fonte de informações.
– Legal, mas? – Leone parecia com muita vontade de lutar.
– Bem, ele será seu próximo oponente. – o rapaz soltou as correntes do monstro e riu. – E só pra avisar, ele é imortal.
Spelaea foi em direção do grupo em uma velocidade enorme. Mine apontou Pumpkin para ele e atirou, perfurando o coração do monstro. Ele parou, imóvel.
– Imortal? Que nada...
O peito de Spelaea se regenerou e ele continuou o ataque. Deu a volta neles em questão de segundos e pegou Chelsea.
– Droga!
Ela usou sua Farda, se tornando uma cobra e escorregando pela mão do monstro. Depois, se transformou o mais rápido o possível e se tornou um pássaro, ficando fora da área de ataque de Spelaea.
– Pessoal, preparem-se! – Najenda ordenou. – A luta vai ser complicada.
Eles lutavam em turnos, revezando sempre e procurando falhas na defesa do monstro. Todos os cortes e danos causados a ele se regeneravam em segundos como se aquilo fosse normal.
– Vocês são fracos... – Spelaea sorriu, lambendo os lábios.
– Ele fala também... – Mine apontou para a cabeça dele e atirou.
O grandão desviou com facilidade e foi em direção a Mine. Leone logo o pegou por trás e quebrou seu fêmur com um soco.
Ele caiu de joelhos, mas logo depois levantou.
– Muito boa.
Ele surgiu atrás de Leone e chutou-a longe.
– Leone! – Tatsumi prestou atenção nela e não viu Spelaea chegando perto.
– Cuidado! – Leone gritou para ele.
Ele também saiu voando e acertou a parede. Alguns deles, como o Dr. Stylish, não podiam fazer nada na luta e tentavam somente fugir. Outros atiravam o que tinham contra o monstro e atacavam com suas armas.
Já Bulat, Sayo e Ieyasu demonstravam ótima interação. Bulat distraia e segurava os ataques do Leosomem enquanto Sayo atacava a distância, lançando flechas nos olhos e outros pontos, e Ieyasu atacava com investidas rápidas e machadadas certeiras.
Bols, Mine e Seryu também faziam seus ataques a distância, com Coro suprindo os armamentos de Seryu.
– Coro, me desculpe por isso, mas... Modo Berserker!
Coro ficou gigantesco e vermelho, indo pra cima de Spelaea com toda sua fúria e devorando a metade de cima de seu corpo. As pernas do humanoide caíram no chão, mas logo um corpo cresceu novamente delas.
– Muito legal isso. – ele pegou Coro e quebrou, torcendo-o em vários pontos.
– Coro! – Seryu começou a atirar mais ainda contra o leão, mas ele desviou dos ataques.
Sayo atirou duas flechas envoltas em chamas azuis e acertou os olhos do monstro. Ieyasu aproveitou e acertou o machado de lado na cabeça dele, afundando-a com força no chão e ainda emitiu eletricidade por todo o corpo dele. Bulat pegou sua espada, envolta em sombras, e partiu o monstro na vertical.
Com todo o seu corpo acabado, ele se juntou novamente e se levantou. Mesmo assim, Susanoo acertou seu joelho direito pela frente e o afundou para trás, tombando-o novamente. Najenda jogou seu punho mecânico no ângulo certo e acertou novamente o olho do monstro.
– Vocês já estão de sacanagem, né? – Spelaea gritou. – Atacar meus olhos não vai me deixar cego!
Enquanto isso, os outros mal podiam entrar na luta. Tatsumi e Leone conseguiram voltar para junto dos outros, mas estavam bem cansados.
– Mana, posso? – perguntou Kurome para Akame.
– Se acha necessário. – respondeu Akame.
Kurome sorriu, depois invocou uma das últimas aquisições de seus brinquedos: Uma armadura da mesma altura do monstrengo com uma lança e escudo.
– Mate. – ela apontou para Spelaea.
Quando ele se virou para a armadura, Esdeath aproveitou e congelou o felino.
– Vamos fazer aquilo? – Lubba perguntou para Run.
– Claro.
O soldado armadura enfiou a lança no gelo, partindo Spelaea em dezenas de pedaços. Mesmo assim, ele se reuniu novamente.
– Isso está ficando chato. – disse.
Neste momento, Run e Lubba colocaram seu plano em pratica. Run jogou suas penas amaradas com os fios de Lubba, que guiava as penas. Eles enrolaram o felino gigante, abrindo chance para os outros.
Sheele foi até o pescoço do grandão e cortou a cabeça dele fora, enquanto Susanoo e Bulat arrancavam as pernas dele. Esdeath, por sua vez, congelou-o novamente.
A armadura gigante carregou Spelaea o mais rápido possível para o centro do lugar. Lá, Wave e Tatsumi prenderam uma de suas mãos com as correntes enquanto Susanoo e Leone prenderam a outra, já que ele já estava voltando a se recuperar.
Quando Spelaea percebeu o que tinha acontecido, começou a gritar.
– Trapaceiros! Malditos! Desgraçados! Bastardos! Filhos de hienas! Comedores de folhas e capim! Lanche de tigre!
Ele continuou a gritar esses xingamentos enquanto a plataforma onde estava abaixava lentamente. Ao mesmo tempo, outra descia do alto no mesmo local.
Quando ela terminou de descer, lá estava ele, o Chefe dos Jogos. Usava uma calça e botas pretas e camisa branca.
– Muito bem, jogadores. Vocês zeraram meu jogo e provaram que podem voltar a suas vidas. Surpreenderam até a mim, o Grande Chefe dos Jogos.
Akame, Kurome, Mine e todos os outros apontaram suas armas para ele. Ainda assim, Sayo e Ieyasu ficaram ao lado do estranho rapaz. Mesmo querendo atacar, não conseguiam.
– O que vocês estão fazendo? – perguntou Tatsumi aos amigos.
– Não vamos deixar que matem quem nos deu essa segunda chance. – disse Sayo.
O rapaz saiu de trás deles e ficou de braços abertos para eles.
– Me matem! Tentem! Vocês não poderiam mesmo se quisessem. Eu os modifiquei para não faze-lo.
Eles tentaram ataca-lo, mas não conseguiram. Suas armas paravam antes de acertar seu corpo. Nem Mine conseguia atirar nele, mesmo cheia de raiva.
– Como você fez isso? – Akame ficou cutucando o ar perto do rapaz com Murasame.
– Longa história. É melhor eu explicar lá em cima. – ele apontou para o alto, de onde desceu a plataforma.
Eles estavam com um pé atrás, mas seguiram o rapaz. Subiram até um salão repleto de telas daquelas que ele usava e muitas outras menores. Haviam imagens de tudo: a capital, a base da Night Raid, o espaço lá embaixo, etc.
O rapaz seguiu para uma porta, a qual dava para uma sala de reuniões cheia de cadeiras.
– Sentem-se. – ele se sentou na cabeceira.
Os outros também se sentaram.
– Bem, eu sei que devo muitas explicações para vocês. Mas antes, vou tirar essa máscara.
Após tirar a máscara, seus cabelos meio longos e brancos ficaram expostos, além de seus olhos roxos escuros. Parecia ter 16 anos no máximo.
– Eu sou Lion, o Criador dos Jogos. Fiz tudo isso para me divertir, já que não tinha nada para fazer.
– Para se divertir? – Leone parecia com raiva. – Nada para fazer? Você estava brincando com nossas vidas!
– Eu sei. Sou meio sem noção na hora de brincar.
Ele suspirou.
– Alguém quer uma bebida ou algo para comer antes de eu começar? A história será longa.
Todos assentiram.
– Tauren, traga algo para eles.
O minotauro trouxe algumas bebidas e salgadinhos para eles. O rapaz se posicionou e se preparou para falar.
– Bem, tudo começou quando vocês morreram.