George tinha conseguido dançar duas valsas com Charlotte, mas não podia abusar disso. Quando acabou a segunda valsa, trocou os pares, e Jade foi dançar com ele, e quando procurou por Charlotte no salão, ela estava com Alejandro. Não podia negar que aquilo o incomodou. Não gostava de ver outro homem dançando com Charlotte, ainda mais quando se tratava de Alejandro.
— Aprenda a disfarçar seu olhar. — Jade interrompeu seus pensamentos.
— Em momento algum eu disse que queria disfarçar algo. — colocou a mão na cintura de Jade e segurou sua mão.
— Achei uma ofensa eu não ter sido convidada para a primeira dança.
— Em outros tempos, teria sido você. — ele a girou. — Mas agora as coisas mudaram, não concorda? — colocou a mão na cintura dela novamente. — Eu lhe diria que é melhor me esquecer.
— Acha que é fácil? — riu debochadamente. — Você é a pior pessoa do mundo.
— Sou? — perguntou espantado.
— Você me iludiu. Bastou conhecer essa órfã e se apaixonou.
— Jamais volte chamar Charlotte de órfã. Você sabe o quão deve ser difícil não ter uma mãe?
— Graças à Deus eu não matei minha mãe no parto.
— Eu não largo você no meio desse salão agora, por causa dos convidados e seus pais. É simplesmente maldosa. — ele fechou os olhos por um momento.
— Eu não era assim. — retrucou. — Eu estou amargurada e magoada. Acha que não me dói ver como olha para ela? Você me olhava assim, quero dizer, não com a intensidade que olha para ela. Eu deveria estar feliz por ter sido trocada?
— Éramos uma paixão, Jade. Se eu realmente amasse você, eu não teria nem olhado para Charlotte.
— Diz isso com tanta tranquilidade, como se meu coração não fosse nada.
— Lamento dizer essas coisas para você. — falou mais calmo. — Tenho certeza que prefere a minha sinceridade.
— Não me importa sua maldita sinceridade. — mordeu o lábio inferior. — Só estou pedindo para ir com mais calma com suas palavras. Cada uma que você pronunciou, foi uma facada.
— Perdoe-me. — ele disse com sinceridade olhando nos olhos de Jade. — Eu jamais quis magoá-la.
— Mas magoou. E muito.
— Eu não posso fazer nada quanto a isso. Eu não posso continuar alimentado falsas esperanças em você, sendo que meu coração pertence à outra pessoa.
— Eu acho que já deixou isso bem claro.
— E por que insiste no assunto?
— Eu não suporto vê-la com você! — alguns casais se viraram para eles. — Simplesmente não consigo. — falou com o tom de voz mais baixo.
— Eu acho que aqueles casais ali não ouviram você. — George disse com ironia.
— Você é impossível. — revirou os olhos. — Meu pai vem me perguntando sobre nós.
— Ao menos disse a verdade para ele?
— Não...
— Está mentindo para seu próprio pai?
— Estou. Eu ainda tenho esperança.
— Acho melhor não continuar alimentando essa esperança, eu já falei isso.
— Ela é a única coisa que sobrou da caixa de Pandora.
— Eu não gosto de mitologia grega.
— Prefere matemática, eu sei disso.
— Uma coisa não interfere na outra. Eu apenas não gosto de mitologia grega.
— A valsa está acabando. — ela notou. — Vai querer dançar novamente?
— Eu pensei que eram os cavalheiros que chamavam as damas para dançar.
— Eu quis ser ousada. — sorriu presunçosamente.
— Lamento recusar, mas agora eu preciso dançar com aquela que me colocou no mundo.
George beijou sua mão e a deixou sozinha, indo em direção a sua mãe que bebia champanhe em uma bela taça de cristal. Ela conversava com a mulher do seu tio, a duquesa de Kent.
Sua mãe estava com um lindo vestido azul, ela sempre gostava de usar azul para refletir a cor dos olhos dela, mas naquele dia os olhos dela brilhavam de felicidade, o que fez o coração de George se alegrar ainda mais. Seu pai sempre trazia muitas lágrimas para sua mãe, ele odiava ver aquele belo rosto triste.
— Duas senhoras tão lindas sozinhas. — George beijou o rosto da mãe e beijou a mão da duquesa. — Uma injustiça.
— George não seja galanteador conosco, e sim com quem importa. — ela inclinou a cabeça para Charlotte que ainda dançava com Alejandro.
— Ela ainda está dançando com ele?
— Não seja tão ciumento, George. É apenas uma dança. — disse Helena sorrindo.
— Não conhece Alejandro...
— Mas conhece Charlotte. Sabe que ela não é uma pessoa muito fácil. — a mãe riu. — Segundo você mesmo disse, pois comigo ela sempre foi um doce de pessoa.
— Ela sempre é um doce com a senhora e Millie. — resmungou. — Agora ela está mais dócil comigo.
— Me pergunto qual será o motivo da mudança. — a mãe deu um sorriso discreto.
— Falam de lady Charlotte Harrison? — perguntou Helena.
— Ela mesma. — respondeu a rainha com um sorriso impecável e um brilho no olhar.
— A senhora gosta muito de Charlotte, não é mesmo? — perguntou George.
— Ela é adorável, sempre sabe falar no momento certo.
— O que a senhora quer dizer com isso? — George arqueou a sobrancelha.
— O seu mal é a curiosidade. — a mãe apontou o dedo para ele. — E você não vai saber do que se trata.
— Posso perguntar a ela. — sugeriu.
— Ela é mais fechada que um túmulo.
— Golpe baixo. — resmungou.
— Vocês são divertidos. — a duquesa bebeu um pouco da limonada que estava em seu copo. — Espero que eu e meu filho tenhamos um relacionamento bom.
— O amor é a base de um bom relacionamento com qualquer pessoa. — a rainha piscou para Helena. — Embora... — sua expressão ficou triste de repente.
— Mamãe, a senhora está tão bela e feliz. O que eu acho muito importante é a sua felicidade. — acariciou o rosto da mãe. — Você está tão linda quanto à noite, não percebe?
— Ora, George. Você sempre diz que estou linda. — ficou ruborizada com o elogio do filho.
— E eu estou errado? — fez uma expressão de ofendido. — Por acaso a senhora está insinuando que sou um mentiroso? Que só elogio a senhora porque é minha mãe?
— Jamais faria tão insinuação. — sorriu e apertou a mão dele. — Eu amo você.
— Eu também amo você. — e depositou um beijo na testa da mãe.
— Vocês são tão lindos. — Helena começou a chorar. — Desculpem-me, estou sensível esses tempos.
— É a gravidez. — disse Lauren sorrindo.
— Cadê meu tio?
— Está dançando com alguém.
— E você não? — perguntou com indignação.
— Eu estou muito indisposta, só estou aqui para me divertir um pouco.
— Oh sim, pensei que meu tio estivesse ficando retardado.
— George! — repreendeu Lauren.
— Está bem mamãe. — ele olhou para Helena. — Um tolo talvez.
— George!
— A senhora quer dançar comigo?
— Você primeiro tem que cumprimentar o resto dos convidados. Depois você pensa na diversão.
— Mas mãe...
— Se comporte como um príncipe.
E ele se comportou.
♕♛♛♛
Dançar com Alejandro não foi algo muito agradável para Charlotte, apesar dele dançar muito bem. Mas havia algo que lhe incomodava, e provavelmente era o fato dele ser irmão de Jade. Alejandro tinha os mesmos olhos de Jade, porém eram mais intensos e não continha ódio ao vê-la, muito pelo contrário, tinha satisfação.
— Dança muito bem, senhorita Harrison.
— Obrigada, devo dizer o mesmo de Vossa Alteza.
— A senhorita não parece muito presente na dança. Por onde anda seus pensamentos?
— Sinto dizer que não interessa a Vossa Alteza, pois não temos nenhum grau de intimidade para eu revelar o que penso ou o que deixo de pensar.
— Touché! A senhorita tem uma língua muito ferina.
— Vossa Alteza não é a primeira pessoa que diz isso, acredite. — ela deu uma risada irônica.
— Não fui alertado sobre sua pessoa, uma lástima.
— E deveria ser alarmado? Ora, eu não mordo ninguém.
— Mas suas palavras são mais afiadas que espadas.
— Isso não foi nada. — deu um sorriso malicioso. — Fui até um gentil com Vossa Alteza.
— Depois da sua gentileza, pode me chamar de Alejandro.
— Charlotte. E nada de Lottie, pois você não é íntimo.
— Santo Deus, a senhorita é impossível.
— Vossa Alteza começou a conversa, estávamos dançando normalmente sem falar.
— Não gosto de ficar muito tempo calado.
— Isso não me interessa nem um pouco.
— Poderia deixar sua espada de lado e mantermos uma conversa normal?
— Talvez, se não falar mais asneiras...
— A senhorita não tem jeito. — sorriu.
— Eu nunca disse que tive. — deu um pequeno sorriso.
— George vive olhando para cá, estou me perguntando por quê.
— Ele deve ter os motivos dele. — sorriu ao lembrar-se do amado.
— Vocês tem alguma coisa?
— Isso realmente lhe interessa?
— Estou apenas curioso.
— Curiosidade demais é falta de educação.
— Não seja tão rabugenta. — respondeu frustrado.
— Eu não sou rabugenta, o senhor que só fala besteira.
Charlotte notou que a valsa havia acabado, e se distanciou de Alejandro fazendo uma reverência. Ela precisava de uma bebida, estava com sede. E também precisava de alguma coisa para comer, seu estômago já estava reclamando.
— Posso acompanhá-la? — Alejandro perguntou estendendo o braço.
— Não vou deixar o senhor passar vergonha, deixarei que me acompanhe.
— Não considerou meu pedido de deixar a espada de lado?
— Eu fingi que não ouvi seu pedido.
— Vai me deixar maluco.
— Lamento. — sorriu com satisfação.
— É assim com todos?
— Quase todos.
Quando eles chegaram à mesa, ela se serviu de limonada e pegou uma bomba de chocolate para comer. Estava divino o doce, e resolveu comer outro, antes que bebesse a limonada, pois a limonada sempre acabava com o gosto dos doces.
— Gosta muito de doce?
— Gosto.
— As mulheres costumam não comer muitos doces.
— Elas têm medo de engordar.
— Jade raramente come doce.
— Ela não sabe aproveitar a vida.
Charlotte percebeu que George vinha na direção deles, e com uma expressão nada boa. Aquilo seria ciúme? Ela riu, pois nunca imaginava que ele teria ciúmes dela. Mas um homem chegou totalmente transtornado, várias pessoas começaram a olhar na direção deles. Charlotte começou a ir em direção a George, para saber o que aquele homem queria com ele. De repente, o rosto de George se contorceu completamente e começou a chorar. O que aquele homem havia dito, ela não sabia o que era, mas devia ser algo muito grave.
Conseguiu ficar ao lado dele, e para sua completa surpresa, ele a abraçou fortemente na frente de todos, como se ela fosse seu porto seguro.
— O que aconteceu? — sussurrou em seu ouvido.
— Meu pai...
— O rei está morto. — respondeu o homem.