Um Único Passo |DEGUSTAÇÃO|

By DannySantosFS

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|COMPLETO NA AMAZON| |Vencedor The Wattys 2018| Nitalia Pimentel era feliz quando tinha sua família perfeita... More

n/a
P r ó l o g o
1- v a z i a
3- i m p r e v i s t o
4- c o r a z ó n
SPIN-OFF

2- b ê b a d a

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By DannySantosFS

Prenda-me em seus grandes braços
Bêbada e vendo estrelas
Isto é tudo o que penso
Lana Del Rey (Video Game)

⚜️

DEPOIS DE UM LONGO TEMPO DE CAMINHADA, dei sinal a um táxi assim que reparei que havia ido tão longe, que eu mesma não sabia onde estava. Dentro do aconchego do veículo, não evitei deixar de pensar em como fui imprudente por ter caminhado por horas sem rumo. Sozinha na noite, numa calçada qualquer e com os pensamentos em outro mundo, eu estava sendo alvo fácil para assaltantes ou coisa pior. Estremeci diante da hipótese, mas meu momento de sensatez se foi no instante que olhei pela janela e avistei pessoas animadas em frente a um bar de beira de estrada.

Sem que eu pudesse fugir do sentimento, invejei-as. Invejei o sorriso fácil em seus lábios, invejei a aura leve que os rodeava, invejei o quanto pareciam estar se divertindo.

Havia muito tempo que eu não sabia o que era diversão e eu quis o mesmo para mim. Por essa razão, pedi ao taxista que me deixasse naquele ambiente tão fora da minha realidade. Eu podia contar nos dedos de uma mão quantas vezes tinha ido a um bar e garantir que em nenhuma das vezes eu fui por vontade própria. Todavia, daquela vez eu queria ser superficialmente alegre como aquelas pessoas.

Felicidade frívola parecia melhor do que uma tristeza completa.

— Se cuida, senhorita. — O taxista desejou compadecido quando me deixou em frente ao bar.

Aquilo me fez franzir a testa. Entretanto, no fim, somente assenti e paguei a corrida.

Entrei no local de modo cauteloso, como um bichinho num habitat novo. O lugar era incomum com a decoração cheia de texturas e cores vibrantes. A música que tocava ao fundo com certeza era música latina. No lounge do bar tinha várias pessoas jogadas de qualquer jeito pelos sofás brancos distribuídos pelo local. Cactos, plantas do deserto, bandeirinhas e mais enfeites diferenciais se destacavam pelo ambiente. Embora eu não fosse adepta àquele tipo de lugar, graças aos filmes eu sabia que aquele bar não era convencional. Parecia um bar mexicano. Sendo localizado em Los Angeles, não deveria ter me surpreendido tanto já que era comum por ali a mistura de culturas.

Sorri de modo fraco, mas com sinceridade, enquanto continuava passeando os olhos pelo local.

Até as pessoas dali pareciam ser de outro mundo, e não de um modo ruim. O jeito como elas pareciam estar se divertindo que era cativante. Pela segunda vez na noite, eu desejei parecer mais com aquelas pessoas.

Então eu fechei os olhos e me deixei guiar pelo clima do lugar. Meu corpo passou a se movimentar no ritmo da música latina desconhecida por mim, porém totalmente inebriante. Abri os olhos e caminhei até a pista de dança improvisada, onde eu me soltei e dancei como se não houvesse amanhã.

Eu sabia que ao menos nisso era boa, em dançar. Apesar de ballet ser minha grande paixão, eu gostava de todo tipo de dança.

A música sensual parecia ter se conectado comigo de forma íntima, e eu mexia o corpo como se estivesse sendo acariciada pelo ritmo. Movendo os quadris de um lado para o outro e alisando meu corpo de forma desinibida, da melhor forma que dava com meus pertences em mãos, eu rebolava com sensualidade no meio daqueles estranhos. Entretanto, não estava dando a mínima para isso. Parecia tão certo simplesmente se entregar ao momento que eu desliguei a mente das preocupações para me concentrar apenas na dança.

No entanto, assim que a música acabou foi embora junto minha vontade de continuar protagonizando um espetáculo. O ânimo inicial se foi juntamente com a energia que gastei na pista. Meu momento sem preocupações durou pouco e, no fim, eu era a Nitalia melancólica outra vez.

Soltei o ar pela boca de forma lenta. De repente comecei a me sentir patética por ter achado, por míseros minutos, que tentar ser feliz como as outras pessoas ao meu redor funcionaria e arrancaria a dor do meu peito.

Arrastei meu corpo até o balcão do bar e me joguei em um dos bancos de madeira com o estofado quadriculado colorido. Apesar de tudo, eu ainda não queria ir embora, ainda estava com a esperança de que se eu ficasse mais um pouco no ambiente exótico, de alguma forma aquilo iria me fazer bem.

Se dançar não havia resolvido o impasse, talvez beber fosse à solução.

— Uma dose de whisky sem gelo, por favor — pedi ao barman quando ele veio me atender.

Em poucos segundos, um copo com líquido marrom foi posto na minha frente. Peguei o mesmo e ergui um pouco, encarando o conteúdo com atenção demais.

Uma vozinha, talvez a da razão, ecoou na minha mente alertando-me que, por eu não ser uma pessoa de ingerir bebida alcoólica, não era uma boa ideia fazê-lo num momento onde eu não estava nada bem. Ignorei a voz e, sem hesitar, ingeri todo o álcool.

O líquido desceu queimando pela minha garganta e eu tossi. Fiz uma careta e passei as costas da mão na boca.

Mas, para minha própria surpresa, no fim bati o copo vazio no balcão e murmurei:

— Outra.

O barman me observou assustado, entretanto, por obrigação, ele encheu meu copo novamente.

Quantas vezes eu repeti outra? Havia perdido as contas e eu não estava me importando com minha irracionalidade. Quanto mais o álcool entrava no meu sistema, mais as coisas pareciam toleráveis.

Principalmente a dor, a tristeza e o sabor amargo da vida. Nada disso estava me incomodando do jeito que incomodava quando eu estava sóbria, por isso continuei bebendo.

Contudo, a mente é traiçoeira.

Em certo momento da noite, onde minha visão já não observava nada com nitidez e minhas mágoas se afogaram nas doses de whisky, recordações boas passaram na minha mente como um filme e meus olhos automaticamente ficaram úmidos por isso.

Mordi o lábio, nervosa, mas não fui capaz de conter a enxurrada de lembranças.

Minhas memórias com meus pais, meu ex-namorado, com a minha família, fizeram-me ofegar em meio à dor. Uma vontade incontrolável de chorar atingiu-me e eu não sei se era resultado da minha tristeza ou da bebedeira. Talvez os dois. Eu só sei que estava machucando demais lembrar-me dos beijos, dos abraços, do carinho, das palavras de zelo trocadas, sabendo que tudo não passava de momentos que ficariam guardados comigo, mas que não voltariam mais.

Uma lágrima e outra escaparam. Limpei rapidamente para não passar vexame. Não queria ser mais uma pessoa num bar chorando sua dor. Entretanto, estava quase impossível.

Era muito difícil pensar em como um dia fui feliz sabendo que não era mais. Era horrível numa hora se sentir a pessoa mais amada, por ter pessoas que te idolatravam do seu lado, e no minuto seguinte perder tudo isso.

Um segundo é o suficiente para destruir uma vida inteira.

— O que uma belezinha como você faz sozinha num ambiente como esse?

Olhei para o lado apenas para ver quem falava comigo, mas não respondi.

Eu não queria e nem estava em condições de falar com ninguém. Além do mais, algo me dizia que se eu abrisse a boca começaria a chorar descontroladamente.

O rapaz pareceu não se importar e me lançou um sorriso sedutor. Ele era bonito, não irei negar. Loiro de olhos verdes, alto e musculoso, com certeza conseguiria levar com facilidade uma mulher para cama.

Mas eu não, por isso continuei ignorando-o.

— O que foi princesa? O gato comeu sua língua?

Suspirei de modo impaciente, paguei o que devia e me levantei para ir embora.

Sendo abraçada outra vez pelo amargor, só queria voltar a me isolar. Não queria e nem estava com disposição para socializar. Principalmente com o sexo oposto. Não queria acabar agindo por impulso novamente e fazer algo ao qual me arrependeria depois.

Já havia ultrapassado todas as cotas da noite.

Meu estado era tão deplorável que as pessoas, ao notarem que eu não conseguia caminhar em linha reta, abriram espaço para eu passar. Ainda assim, acabei esbarrando em um e outro e fui xingada por isso.

Do lado de fora, arregalei um pouco os olhos numa tentativa de enxergar melhor, todavia, obviamente que não funcionou.

Amaldiçoei-me por ter bebido ao ponto da minha cabeça girar e meus passos serem vacilantes. Praticamente arrastei meu corpo pela calçada enquanto tentava enxergar com nitidez.

Como eu iria para casa assim se todos os carros passando pela pista pareciam meros borrões? Nem em condições de identificar um táxi eu estava.

Choraminguei e saí de perto do meio-fio, tanto para evitar um acidente quanto para me situar. Encostei meu corpo na parede de uma propriedade qualquer e nem eu sabia como havia conseguido chegar ao lugar sem cair no processo. Puxei ar para os meus pulmões como se tivesse caminhado por horas.

Breanna iria me matar, mas eu precisava ligar para ela para a mesma vir me socorrer.

Pesquei meu celular no bolso da calça jeans. Ao acender a tela, o brilho da mesma me fez cerrar os olhos. Com certa dificuldade, disquei o número da minha amiga. Todavia, antes que eu apertasse o botão de chamada, meu corpo foi bruscamente puxado, fazendo com que tudo que estava em minhas mãos caísse.

Do mesmo modo que fui agressivamente puxada, fui colocada contra uma parede. Meu grito de susto, medo e dor foi abafado por uma mão grande. Pisquei algumas vezes tentando entender o que estava acontecendo.

Meu coração passou a palpitar forte, como se quisesse fazer um buraco no meu peito, quando vi o mesmo homem do bar de modo embaçado. Parecia haver dois dele na minha frente.

Pavor subiu pelo meu corpo em um nível imensurável.

— Nem me deixou conhecer você direito. Foi embora sem me dar seu número. — Sua voz saiu baixa.

Embora sua mão grande cobrisse minha boca e meu nariz, tornando assim o ato de respirar meio difícil, seu rosto estava tão próximo que fui capaz de sentir o cheiro de álcool no seu hálito.

Algo em seus olhos fez com que meu pavor se tornasse uma coisa quase palpável.

Estava bêbada, não burra.

Alertas soavam sem parar na minha cabeça avisando-me que aquilo não iria terminar bem.

Lágrimas deslizaram pelo meu rosto quando o homem loiro sorriu de maneira maliciosa e psicótica, somente confirmando o que eu mesma suspeitava. Ele deslizou sua mão livre pelo meu braço, após colou seu corpo no meu. Foi naquele instante que saí do colapso de medo ao qual me encontrava.

Debati-me histérica e, mesmo sem força, tentei inutilmente empurrá-lo para longe de mim.

— Me solta! — gritei, mas obviamente que o grito saiu abafado por sua mão ainda estar sobre minha boca.

— Ah não, princesa! Quero me divertir com você. Se não resistir, será prazeroso para nós dois. — Sorriu perigosamente mordaz.

Suas palavras foram como um soco no estômago e eu senti vontade de vomitar. Um soluço contido escapou quando senti sua ereção em minha barriga.

— Você é uma mulher muito bonita. Qual é o seu nome? — questionou, dando um passo para trás para me avaliar.

No instante que ele tirou sua mão de cima de mim, e seu peso também, reuni o pouco de força que ainda tinha para empurrá-lo. Mas, como a vida não andava sorrindo para mim, eu mal corri e fui puxada para trás pelos cabelos. Meu couro cabeludo ardeu, me fazendo gritar.

O homem loiro riu e murmurou:

— Não dificulte as coisas, princesa. Como eu disse: se não resistir, será bom para você também.

— Me larga, seu doente! — choraminguei, me debatendo.

Fui novamente posta contra a parede, só que, daquela vez, ele acertou um tapa em meu rosto. Após acariciou o local.

— Pare de gritar, guarde sua voz para gemer quando eu me enterrar fundo dentro de você. Agora, se será de dor ou prazer, a escolha é somente sua — disse frio.

Claramente não obedeci, continuei me debatendo e gritando por socorro. Às cegas, eu o arranhava em desespero, porém ele ria como se achasse minha luta patética um espetáculo.

— Chega! — o rapaz berrou impaciente. — Cale a sua boca! — ameaçou num sussurro.

Ele jogou novamente o peso do seu corpo para cima do meu, usou uma mão para me silenciar, a outra subiu até o meu pescoço e apertou.

Fiquei sem ar por uns segundos.

— Se gritar, mato você sem pensar duas vezes — informou, apertando mais o meu pescoço.

Senti meus olhos salpicar com mais lágrimas.

Seria isso? Eu bêbada sendo violentada por outro bêbado maluco só porque resolvi sair de casa? O que fiz para merecer todo esse sofrimento?

Meu choro fez meu corpo tremer.

— Não chore princesa — pediu e limpou, de forma doentia, o rastro de umidade no meu rosto com a mesma mão que antes usava para abafar meus gritos.

— Por favor, me deixe ir. — Minha voz saiu falhada e mais branda.

Ele riu sem vontade.

Fraca, eu tentava pensar em um jeito de sair inteira daquela situação.

— Vejo que ficou mais mansinha — murmurou rouco e tentou me beijar, mas eu virei o rosto. 

Minha negação o fez ficar furioso. Recebi um tapa forte no rosto.

Fiquei zonza. O álcool junto com o tapa me fez perder os sentidos por alguns minutos.

— Me beija, porra! — ordenou irradiando fúria.

Pressionou novamente seus lábios nos meus e outra vez não retribui, o que acendeu mais uma fagulha de ira nele.

Puxando-me bruscamente pelos cabelos, ele deu com minha cabeça na parede. Gemi de dor e pedi novamente para ele me deixar em paz. Estava tão tonta que algumas coisas não passavam de um borrão. Outra vez ele tentou me beijar, mordi sua boca até sentir o gosto de sangue. Minha cabeça foi contra a parede pela segunda vez.

— Último aviso! — Sua voz saiu mais zangada.

Soluços escaparam. Continuei lutando mesmo sabendo que eu não tinha forças contra ele. A cada tapa que eu dava, o aperto no meu pescoço se tornava mais forte. Até que chegou um momento que fiquei imóvel contra a minha vontade, pois eu mal conseguia respirar. Lutava para manter os olhos abertos, entretanto a escuridão parecia querer me abraçar.

Minhas esperanças foram embora.

Eu seria violentada em um lugar sujo e ninguém me salvaria.

O homem nojento a minha frente começou a se esfregar em mim, ignorando completamente meus pedidos para parar e minhas mãos tentando afastá-lo. Na verdade, acho que quanto mais eu chorava, quanto mais suplicava, quanto mais tentava tirá-lo de cima de mim, mais excitado aquele monstro ficava.

Ele rasgou a alça da minha blusa e beijou a pele exposta, logo em seguida abaixou meu sutiã e sugou meu seio com brutalidade.

Fechei os olhos.

Mais soluços escaparam.

Meu estômago embrulhou e não era pela bebida.

Quando o último fio de esperança que eu tinha evaporou, senti o homem sair de cima de mim com certa brusquidão. A princípio pensei que ele apenas tinha se afastado para fazer algo, porém, enquanto tentava me manter de pé, encontrei outro homem desferindo socos no rapaz que quase me violentou.

Demorou uns segundos para eu entender que estava sendo salva. Quando isso ocorreu, eu escorreguei para o chão e tapei meus ouvidos para não ouvir o barulho da briga.

Eu queria acordar e sentir que tudo tinha sido apenas um pesadelo, porém, infelizmente, não era. E por lembrar exatamente disso, obriguei-me a ficar de pé para correr.

Mais uma vez eu mal corri quando fui puxada para aquele beco de novo, só que não pelos cabelos. Um soluço alto meu rompeu pela noite quando o medo triplicou.

— Por favor, me deixe em paz — pedi, tentando me afastar das mãos que me seguravam com certa suavidade.

Contudo, depois do que acabei de passar, qualquer tipo de toque estava me causando repulsa.

— Não vou fazer mal a você, Nitalia. — Uma voz grave, com um sotaque diferente, proferiu de modo calmo.

Espanto foi o que senti por o homem estranho saber meu nome.

Talvez fosse burrice não ter corrido ainda, no entanto, antes que eu pensasse bem, virei para encarar o dono da voz.

Olhos escuros, num rosto que parecia ter sido esculpido pelos deuses, me observavam de volta com preocupação e compaixão. Se fosse outra ocasião, eu não me importaria em me perder no breu daquele olhar.

Só que não era.

O medo ainda estava impregnado em mim.

Mesmo assim, me senti estranha, assustada e protegida com os olhos do desconhecido a me observar. Algo se revolvia no meu interior de forma profunda.

Fiquei abalada, confusa.

Era no mínimo bizarro.

— Quem é você? — indaguei trêmula.

— Alguém que vai tirar você daqui. É melhor irmos antes que ele acorde.

Encarei o homem que tentou me machucar desacordado no chão, do que identifiquei como um beco sujo, após encarei o que supostamente me salvou.

Algo no olhar do rapaz desconhecido fez um sentimento de proteção estalar dentro de mim. Foi singular, porém me aliviou e todos os meus sentimentos conflitantes quis sair de dentro de mim. Meu corpo sacudiu quando um choro forte me abateu.

Chorei por quase ter sido violentada, chorei porque estava me sentindo suja, chorei e me amaldiçoei por ter ido parar em um bar quando deveria ter ficado em casa.

Chorei porque minha vida havia virado um inferno.

O homem que me salvou tentou me tocar. Eu me afastei por reflexo.

— Obrigada por me salvar — sussurrei fraca.

Antes que ele dissesse algo, me virei desesperada para ir embora.

Tudo que passei desde que perdi meus pais até o quase abuso rodou na minha mente fazendo minha cabeça girar. Tentei me manter sã, porém não consegui.

Apoiei-me na parede enquanto tentava sair do beco, mas meu corpo não queria colaborar. Praticamente me arrastei pela parede até perder as forças. Lutei para me manter acordada, porém foi em vão.

Minha mente cheia se apagou presenteando-me com uma escuridão sem fim.

^

Acordei com uma dor de cabeça insuportável. Parecia que várias bandas de heavy metal estavam fazendo um show no meu cérebro. Forcei meu corpo a se levantar. Fiquei tonta por uns segundos e forcei minha mente a trabalhar para lembrar-me o porquê da tontura. A mesma latejou, porém recordações da noite passada vieram.

Lembrei só até o momento em que entrei em um bar, onde dancei e bebi. Após isso parecia que havia um buraco nas memórias, no entanto, foi o suficiente para eu saber que agi de modo imprudente e por isso minha cabeça estava doendo tanto.

A dor era tanta que dava vontade de chorar.

Gemi baixinho em lamúria.

Meu corpo estava pesado, mesmo assim obriguei-me a ir até o banheiro. Assim que me olhei no espelho, levei um susto.

Eu parecia uma bruxa.

Meus olhos estavam vermelhos e inchados, meus cachos escuros parecia um ninho. Tinha uma marca vermelha no meu pescoço, similar a marca de dedos; aquilo me assustou. Tentei lembrar o que aconteceu para aquela marca ter surgido e ter ficado tão nítida na minha pele amarronzada, mas só fiquei ainda mais apavorada por não conseguir.

Numa tentativa de me acalmar, abri a torneira e joguei água no rosto. Mais uma vez tentei preencher o buraco em minha memória e quando não consegui, desisti.

Talvez fosse melhor não lembrar.

Suspirei derrotada enquanto me virava para sair do banheiro.

Assim que pus um pé para fora, voltei.

Observei, de olhos arregalados, o lugar que eu estava.

"Mas que merda?!"

Aquele não era o meu banheiro.

Levei outro susto quando vi meu reflexo novamente no espelho. A roupa que eu estava usando também não era minha.

Com a respiração arfante, voltei para o quarto. Fechei os olhos, me impedindo de ver o que eu tanto temia, mas, minutos depois, abri.

Levei ambas as mãos à boca para abafar meu grito. Pisquei várias vezes, belisquei-me, e não, eu não estava sonhando.

"Droga, inferno, merda!" O que foi que eu fiz?

Olhei, horrorizada, o homem moreno dormindo na enorme cama do ambiente.

Eu... Ele... Nós... Fize-zemos aquilo? Nós transamos? Eu não conseguia lembrar e fiquei mais horrorizada ainda com esse fato.

Eu não me lembrava de boa parte da noite anterior, no entanto, talvez não fosse necessário. A julgar pela condição que me encontrava, só poderia ter acontecido uma coisa.

Aproximei-me da cama com passos cautelosos e observei o estranho dormindo serenamente.

Ele tinha braços fortes e um estava sobre o rosto, deixando visível apenas a boca bem desenhada e o queixo forte. Sua respiração saía chiando fracamente demonstrando cansaço. Ele era grande! Mesmo com o lençol cobrindo-o da cintura para baixo, apostava que tinha coxas grossas para emparelhar bem com os ombros largos e os braços musculosos. Ele simplesmente se destacava no meio da cama, lençóis e travesseiros negros.

O estranho se mexeu, fazendo-me dar um salto de susto. Senti todo o meu rosto esquentar de constrangimento.

Desesperada, e com receio do rapaz acordar, rapidamente vesti minha calça ao encontrá-la sobre a mesa de cabeceira. Não achei minha blusa, então continuei com a dele. Procurei o resto das minhas coisas e, em seguida, saí daquela casa como se ela estivesse pegando fogo.

E enquanto eu fugia, apenas desejei não ver aquele homem nunca mais.

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