O Pecado de Summer O'Hare ✔️

By ClaraAvelino

12.8K 1K 393

Ela é ateia. Ele é um padre. Ela quer a prova da existência de Deus. Ele tem essa missão. Mas será que até me... More

Apresentação - Summer O'Hare
Apresentação - Thomas Levit
Two
Three
NOVA HISTÓRIA - Seven Devils
Four
Five
End not happy as all

One

2K 165 56
By ClaraAvelino


Segunda-feira. Todo mundo odeia as segundas, elas são insuportáveis, não é? Parece aquele tipo de garota, nojentinha e que faz questão de jogar algo na sua cara pelo resto da vida. A segunda-feira faz isso, joga na sua cara que seu fim de semana maravilhoso, havia acabado. E bem, eu fazia o papel da garota.

Oh, céus. A filha mais nova dos O'Hare... seria ela a enviada do próprio Lúcifer?

Essas coisas sempre me faziam rir. Não era nada anormal ouvir uma asneira dessas, na verdade, era bem comunal.

"Como você pode questionar a existência de Deus? "

"Você deveria queimar na fogueira. "

"Ela deve ser uma bruxa. "

"Ela é só uma mimada que quer atenção. "

De todas as frases mundanas de meu dia, a que sempre me incomodou fora a sobre chamar atenção. Eu não precisava de nada disso para poder realmente chamar atenção de alguém. Se você espera alguém que fica tímida com elogios ou cora com qualquer comentário, esse alguém não sou eu. Sei que sou bonita, sei que eu sou gostosa, sei que meus cabelos fazem inveja a muita gente e minha bunda é maravilhosa. Aliás, tenho ótimos peitos.

Sim, como podem ver, também sou muito humilde.

Hahá.

Desci as escadas lentamente, brincando com os cachos de meu cabelo para manter minha atenção em algo, minha mãe não estava em casa e minhas irmãs provavelmente estavam fazendo algo inútil da vida delas, para variar só um pouquinho. Fui até a cozinha e enchi meu copo de leite, bebericando um pouco e indo procurar o achocolatado em algum armário. Vamos as novidades de uma linda segunda-feira, não tinha achocolatado.

– Muito esperto, Sum. – Murmurei para mim mesma, lambendo meus lábios e bebendo todo o resto do leite de uma vez só. Peguei uma balinha de menta na minha bolsa, porque eu não ia subir somente para escovar os dentes por um achocolatado mal tomado.

Saí de casa faltando alguns minutos para o horário que minha mãe havia marcado para mim na igreja. A cidade não era tão pequena, mas infelizmente, eu morava bem próxima daquele local.

A igreja não era tão ostentadora, era bem simples para falar a verdade, e até um prédio bonito, nunca havia me incomodado de forma real, meu problema era com as pessoas que estavam nela. Empurrei a porta central e adentrei o local, examinando as colunas tão conhecidas que fizeram parte dos maiores pesadelos de minha infância. Não ouvi barulho algum de movimento, então apenas encostei meu corpo numa das colunas e comecei a mexer em meu celular, abri uma rede social qualquer e fiquei passando os olhos pela vida dos outros, tentando buscar distração.

– Não pode usar esse tipo de roupa aqui. – Ouvi uma voz atrás de mim e arqueei a sobrancelha, virando o rosto lentamente para encarar o ser que havia me enviado aquela frase.

– Com licença? – Falei num tom óbvio, analisando a sombra dos pés a cabeça.

– Esse tipo de roupa é inapropriado para o local. – A sombra deu mais um passo e um sorriso malicioso se formou em meus lábios ao perceber o formato do rosto e corpo desta... e que sombra ein.

Os olhos do homem eram azuis como um céu claro, tinha um quê profundo e misterioso nesses olhos. Sua barba era alguns centímetros acima do meu quesito de apropriado, mas dava para o gasto. O cabelo era longo e castanho, batia no ombro, dava até um ar mais puro para aquela perdição. Só depois disso, que eu percebi verdadeiramente a roupa que ele estava usando. Uma blusa social, azul, dobrada até o cotovelo. Uma calça também social, escura e com uma bainha perto dos pés, estes estavam, ironicamente, vazios, tocando o chão frio de forma direta.

– Você é cego? – Perguntei, sorrindo da mesma forma cínica de antes e virando meu corpo por completo, cruzando meus braços abaixo dos seios para levanta-los um pouco mais.

– Não. – Ele respondeu, sem sequer fazer menção de abaixar os olhos e dar uma olhada rapidinha no decote da blusa.

– Ótimo, então se faça de cego. – Dei de ombros – Não vou trocar a roupa.

O homem franziu o cenho, analisando meu rosto e passando os olhos rapidamente por todo meu corpo, eu esperei uma reação, mas nada aconteceu. Ele não moveu um único músculo depois de fazer a análise em mim e aquilo me irritou de certa forma. Tudo bem, eu estava com um short relativamente curto e apertado, sapatos dourados com um salto não tão grande e uma blusa branca, com as mangas um tantinho caídas. Eu não tinha culpa se a maioria das minhas roupas já estavam na cidade para qual eu iria me mudar.

– Summer O'Hare, suponho eu. – Ele estendeu a mão para mim e eu apertei, sorrindo da mesma forma de antes – Falaram muito bem de você para mim.

– Estranho, porque eu sou uma vadia. – Tombei a cabeça, recolhendo minha mão e me afastando um pouco – Thomas Levit?

– Padre Thomas. – Ele me corrigiu.

– Então, Thomas, não quero ocupar muito do seu tempo, nem do meu, se formos mais rápidos, conseguiremos sair daqui o mais rápido possível e os dois podem fingir que algo deu certo. Okay?

Não houve reação de sua parte, eu quis apenas rir e ficar daquele jeito, rindo da sua cara. Mas o pouco respeito que existia dentro de mim resolveu dar as caras e eu assim o fiz, sorri de forma irônica e esperei alguma resposta de Thomas.

– Vai ser mais difícil do que você pensou? – Ergui a sobrancelha, passando a língua pelos dentes.

– Não é como se eu não gostasse do desafio, aceitei isso por algum motivo, não é?

Touché.

O padrezinho sabia responder.

– Bem, podemos começar com algo simples... pode me dizer porque não acredita em Deus? – Sua voz era baixa e controlada, me fazendo querer achar seu ponto de paciência e testá-lo até o limite.

– Pode me dizer porque acredita? – Rebati, arqueando a sobrancelha e rindo baixo. Thomas apontou para um dos bancos e eu segui até lá. – Não sinto necessidade de acreditar. Tudo é complexo demais para vocês darem todos os créditos a um nome. Depositar tanta fé num nome... mas sabe qual meu maior problema? As pessoas. Sabe como é, Deus parece ser um cara legal, o problema é o fandom dele.

– Fandom? – Ao ouvir a pergunta de Thomas, me permiti gargalhar baixo e revirar os olhos – Falei algo errado?

– Não, só é estranho... – Dei de ombros – Fã-clube. Meu problema é com o fã-clube dele.

– Então, você não odeia Deus?

– Não é como se ele significasse alguma coisa para mim. Ódio é um sentimento forte demais. – Expliquei para Thomas, tombando minha cabeça e o analisando mais uma vez – Mas a mente humana é poderosa demais para ser comandada por um livro que foi escrito por outros homens. Não se pode dar créditos a Deus por todo bem. Da mesma maneira que não se pode culpar a Lúcifer pelas coisas ruins.

– E qual o motivo disso?

– É a mente humana. Isso é pura psicologia, sabia? Uma vez eu li que muitos consideram o estupro e pedofilia, doenças mentais. Se é uma doença mental, porque diabos atinge pelo menos 92,3% da população masculina? Não é uma doença mental, é uma desculpa que acham para fazer parecer menos horrível do que já é. Do mesmo jeito que se eu quiser ajudar um cego a atravessar a faixa de pedestre, não será uma obra de Deus em minha vida, será porque eu quis fazer. O mesmo serve caso eu queira colocar o pé para ele cair. São apenas desculpas. Vocês usam esse livro maldito como desculpa para tudo! Odeie os gays, pois é isso. Não aborte, pois é aquilo. É muito mimimi, não acha? Que tal escrever um novo livro? Uma única página e cuidem de suas vidas bem lindo lá? – Suspirei longamente, percebendo quanto aquele assunto me estressava – E sabe ainda mais? Me tratam como se eu fosse Lúcifer. Olha, ela é ateia, vamos olhar para ela com uma cara feia para ver se ela tem contato com a palavra de Deus. As pessoas são ridículas.

– Ser ateu ou cristão não torna você melhor que outra pessoa. O significado de quem você é está presente em sua alma ou em suas ações.

– Eu falo isso sempre, mas você carrega um Padre em seu nome e eu não. – Estralei a língua, olhando arisca em sua direção e checando o horário no visor do meu celular – Já passei tempo demais aqui, minha cristofobia vai amenizar se eu for menos chata. Céus... – rolei os olhos, levantando e ajeitando minha roupa – Até qualquer dia desses, Thomas.

Levantei e antes que ele pudesse falar algo, eu já tinha ganhado meu caminho para longe daquela igreja. Todos os dias seguintes aquele, eu estava lá fazendo o bom papel de filha, cumprindo a porcaria de um acordo que nem era do meu interesse... ah, mamãe, você me deve uma viagem a Paris.

Continue Reading

You'll Also Like

35.9K 1.8K 8
Versão completa do livro em breve na Amazon 🏆 Vencedor do Prêmio Wattys 2021 🏆 A busca pela perfeição e o aumento da população mundial a níveis crí...
(sobre)viva By Erika S. Maso

Mystery / Thriller

23.1K 2.8K 58
🏅VENCEDOR DOS PREMIOS WATTYS 2021 EM SUSPENSE 🥇lugar em suspense no Concurso Relâmpago de Natal 🥉Lugar na segunda edição do concurso Mestres Pokém...
367K 36.8K 53
"Quando ele morrer, Pegue-o e corte-o em pequenas estrelas, E ele vai fazer a face do céu tão bem Que todo o mundo vai estar apaixonado pela noit...