Jogo de Máscaras

By AliceHAlamo

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Não era para ser difícil ou perigoso, era para ser relaxante e prazeroso, apenas isso. Que ironia... Como se... More

Capítulo 1 - Vista sua Máscara
Capítulo 2 - Tire sua máscara de inocente
Capítulo 3 - Tire sua máscara de puritano
Capítulo 5 - Vista sua máscara de bom partido
Capítulo 6 - Tire sua máscara de cara paciente
Capítulo 7 - Vista sua verdadeira máscara
Capítulo 8 - Vista sua máscara de felicidade
Capítulo 9 - Tire sua máscara de insegurança
Capítulo 10 - Vista sua primeira máscara
Capítulo 11 - Tire a máscara dos outros
Capítulo 12 - Vista sua máscara de enfermeiro
Capítulo 13 - Tire sua máscara de frieza
Capítulo 14 - Vista sua máscara de Mentiroso
Capítulo 15 - Vista sua máscara de protetor
Capítulo 16 - Vista sua máscara de Sasuke
Capítulo 17 - Vista sua máscara de honestidade
Capítulo 18 - Tire a máscara do seu adversário
Capítulo 19 - Vista sua máscara de Apaix-..., quer dizer, de viciado
Capítulo 20 - Vista sua máscara de cumplicidade
Capítulo 21 - Tire sua máscara de sob controle
Capítulo 22 - Tirem suas máscaras sociais
Capítulo 23 - Vista sua máscara de traído
Capítulo 24 - Tirem suas máscaras de protegidos
Capítulo 25 - Vista sua máscara de bom entendedor
Capítulo 26 - Vista sua máscara de ingênuo
Capítulo 27 - Vistam suas máscaras de aliados
Capítulo 28 - Tire sua máscara de encurralado, ainda há saída
Capítulo 29 - Vista sua máscara de John Dillinger
Capítulo 30 - Tire sua máscara de amigo leal
Capítulo 31 - Vista sua máscara de desespero
Capítulo 32 - Vista sua máscara de Giselle
Capítulo 33 - Vista sua máscara de precaução
Capítulo 34 - O cair das máscaras

Capítulo 4 - Vista sua máscara de bom amigo

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By AliceHAlamo


Sasuke bagunçou os cabelos negros mais uma vez antes de subir na moto e ligá-la. Acelerou, sem se importar em fechar a viseira do capacete ou com o velocímetro que indicava as multas a chegar no final do mês. Apenas acelerou de modo que o vento a bater contra seu corpo arrastasse o desejo de suas veias e clareasse sua mente. Não podia chegar em casa irritado com Sakura, não era culpa dela a casa ter sido invadida justamente quando ele havia conseguido uma noite para relaxar.

Viu as luzes das sirenes assim que virou a moto em sua rua. Duas viaturas. Sakura estava sentada na calçada, abraçando os joelhos enquanto mantinha a cabeça baixa. Estacionou a moto, desligando-a rapidamente e retirando o capacete. Ignorou o policial que sinalizou algo e tentou o parar e continuou caminhando até onde a amiga estava.

Não seja rude. Não seja rude. Não seja rude.

Foi o que repetiu quando viu os olhos verdes marejados o olharem. Retirou o casaco que vestia, abaixando-se e o jogando por cima dos ombros de Sakura ao notar que ela apenas vestia um pijama fino.

— Te machucaram? — perguntou quando ela levantou.

As mãos dela se fecharam no tecido do casaco, apertando com força enquanto ela mordia o lábio inferior e negava.

— Ótimo. Fique aqui. Vou falar com os policiais e te levo para casa.

Sakura segurou o braço dele quando Sasuke tencionou se virar.

A expressão dele estava irritada, ela sabia disso. Conhecia-o bem, podia ver o esforço que ele fazia para manter a compostura, a calma, o papel de bom amigo. Sentiu o toque da mão dele em sua cabeça antes dos lábios em sua testa.

— Eles levaram ela... A polícia... — sussurrou, mantendo-o perto.

Sasuke franziu o cenho sem entender.

— Eu estava no quarto. Ouvi invadirem e entrei em pânico — pausou, respirando fundo. — Corri para o banheiro e me escondi no armário debaixo da pia. E liguei para a polícia. Eu... Eu fiquei... com tanto medo e eles... Eles reviraram tudo! Todas as gavetas, todos os móveis, tudo!

— Sakura...

— Eles atiraram — ela o cortou rapidamente, soluçando. — Quando eu saí do armário para ver se Pandora estava no quarto e escondê-la, eles atiraram! Eles atiraram nela! E eu não tive coragem de sair do armário... não consegui... não consegui abrir a porta para ver, para tentar ir até ela, para... Quando eles saíram, eu corri até a sala. Ela chorava tanto, tanto, tanto. E tinha sangue — ela escondeu o rosto. — Não sabia o que fazer. Tentei segurar, pressionar o lugar onde a bala tinha atingido e... meu Deus...

Sasuke fechou os olhos, segurando a cabeça de Sakura contra seu peito, só então reparando no sangue no pijama que ela vestia.

— Onde ela está?

— A polícia levou. Para o veterinário, não sei, eles levaram e não deixaram eu ir junto — Sakura se afastou sem fôlego. — Me perdoa, me perdoa, eu devia tê-la buscado, devia ter saído e...

— Para levar um tiro também? — ele ironizou. — Não. Fez bem em se esconder. Vou falar com a polícia, quer vir junto?

Sakura assentiu em silêncio, agradecendo quando ele passou o braço pelo ombro dela e a manteve perto enquanto andavam. Via Sasuke ouvir com atenção cada palavra que os policiais falavam, respondendo brevemente a cada pergunta, calmo como sempre. Mas não era verdade. A mão dele em seu ombro a segurava com força desnecessária, chegava a tremer levemente, e ela sabia que não era de medo. Era raiva, era ódio. Sabia que era. E nada do que dissesse mudaria aquilo.

Queria sair daquele lugar, queria descobrir logo onde Pandora estava, certificar-se de que ela estava viva. E tinha certeza que Sasuke pensava igual. Uma das coisas que os dois anos de convivência haviam lhe ensinado sobre ele era que, apesar de não demonstrar, Sasuke era uma pessoa extremamente passional e perdia a paciência rápido quando se colocavam entre ele e aqueles com quem se importava. Por isso, não estranhou quando o ouviu cortar o relatório policial e dizer:

— Amanhã, eu vejo se sumiu alguma coisa e continuamos essa conversa. Para onde levaram minha cachorra?

O policial suspirou e tentou desviar o assunto, mas, depois da terceira vez que Sasuke o interrompeu, foi praticamente obrigado a passar o endereço do veterinário.

— Sua casa ficará interditada pelo resto da noite, senhor.

— Não me importo — Sasuke deu de ombros, colocando o capacete de novo. — Vem Sakura, vou te deixar em casa.

— Não, quero ir junto. Por favor...

Sasuke suspirou. Viu-a juntar as mãos a frente do corpo, olhando-o com aquela mesma expressão culpada. Gesticulou com a cabeça e esperou até sentir os braços dela em volta de sua cintura, segurando-se nele com força. Tocou as mãos dela e as acariciou rapidamente antes de ligar a moto.

Aproveitou-se para fechar a viseira e permitiu-se chorar em silêncio enquanto dirigia. Não podia culpar Sakura. É claro que não. Agradecia ao fato de ela ter se escondido durante a invasão, protegendo-se. Não saberia como lidar se a amiga tivesse se ferido. Porém, ao mesmo tempo, lá dentro, desejava não ter saído de casa, ter permanecido, imaginava que as coisas seriam diferentes se fosse ele e não Sakura na hora da invasão.

Sim, seria. Ele provavelmente não teria se escondido e estaria ou no hospital ou no necrotério.

Parou a moto em frente ao veterinário, e Sakura desceu tão rapidamente quanto ele. As pessoas a olhavam, assustadas pelo sangue nas roupas dela e pelo modo afoito como ela interrogava a recepcionista. Massageou as têmporas, olhando para o relógio e verificando o quão tarde da madrugada já era antes de parar atrás de Sakura.

— O que ela quer dizer — pronunciou-se, tocando o ombro de Sakura para a tranquilizar. — É que não vamos sair daqui sem notícias e sem ver minha cachorra. Então, ou vocês me dão alguma explicação do que está acontecendo ou terão que chamar os seguranças porque eu vou entrar em cada sala desse lugar atrás dela.

Duas horas. Já haviam se passado duas horas desde que tinham chego ao veterinário e sido postos sentados em cadeiras simples na frente da porta onde a operação de Pandora acontecia. Sasuke bufou ao ver a cabeça de Sakura pender para frente pela quinta vez, indicando o sono e o cansaço que ela sentia. Sem que ela pudesse protestar, passou um dos braços por baixo das pernas dela e o outro em torno da cintura, puxando-a para que se sentasse em seu colo.

— Não — enfatizou quando Sakura acordou e tentou se levantar. — Durma. Eu te acordo — reforçou, apoiando a cabeça dela na curvatura de seu pescoço.

Ela se ajeitou em si e soltou o ar pela boca lentamente enquanto voltava a cair no sono. Sentiu o celular vibrar no bolso e o atendeu antes que o toque acordasse Sakura.

— Sasuke?

— Sakura te ligou?

Sim. Quando você estava indo para casa provavelmente. Onde você está?

Veterinário. Atiraram em Pandora.

Está viva?

Em cirurgia. Não tenho notícias desde que cheguei aqui com Sakura.

Sakura está bem? Ela me ligou extremamente em pânico.

Em choque. Preocupada. Assustada. Mas vou tentar te imitar e ser um bom amigo.

Seja gentil.

Está pedindo muito. Só o fato de eu não ter xingado, batido, ofendido ou gritado com alguém já é muita gentileza minha, Aniki. Não me peça mais do que isso — resmungou entredentes, ouvindo o irmão rir.

Sasuke — A voz saiu séria. —, o que houve exatamente?

A polícia não sabe. Aparentemente, nada sumiu. Meus móveis estão meio que destruídos, mas nada foi roubado. Quem entrou lá parecia estar procurando algo. Sakura disse que os ouviu revirando as gavetas.

Com o que você está metido dessa vez, otouto? — Itachi suspirou, cansado. — Não está investigando nada perigoso, está?

— Não que eu saiba — mentiu. — Passarei a noite na casa de Sakura. Pela manhã, vou até a casa para verificar se algo está faltando.

Seu notebook?

Não. Está comigo. Eu saí do trabalho e fui direto para... o centro. O notebook estava comigo.

Tome cuidado, Sasuke. Você irritou muita gente o ano passado com suas matérias. Lembra do que houve com seu carro?

Aquilo não foi nada.

Nada? Sasuke, eles atearam fogo no seu carro dentro do estacionamento do jornal onde você trabalha. E ainda deixaram um bilhete sutil dizendo que "mentirosos têm vida curta" — Itachi pontuou irritado. — Por favor, tome cuidado. E, se precisar de ajuda...

Eu sei — Sasuke o cortou. — Te ligo. Não se preocupe comigo. Assim, seus pacientes vão ficar com ciúmes de toda essa atenção — sorriu cansado. — Acho que a cirurgia acabou. Te ligo amanhã.

Ligue mesmo. Quero que me ligue amanhã de manhã e à noite. Se não me mantiver atualizado do que está acontecendo, eu volto para casa só para ter certeza de que está inteiro, ouviu, otouto?

Sasuke sorriu, fechando os olhos e deixando a cabeça se apoiar na de Sakura.

— Sim, aniki, ouvi. Boa noite.

Boa noite.

Ouvir a voz do irmão era reconfortante. O peso e a tensão acumulados sobre os ombros diminuíam e a situação deixava de parecer tão ruim quanto antes. Estranho admitir que se sentia mais seguro por saber que Itachi sempre o socorreria se precisasse. Porque precisaria... Porque, quando soubesse quem havia atirado em sua cachorra, precisaria sim da ajuda de Itachi para pagar sua fiança caso fosse preso por agressão ou algo pior.

— Senhor Sasuke Uchiha?

Sasuke levantou os olhos, vendo um homem de jaleco branco parado a sua frente com uma prancheta.

— Preciso que assine esses documentos. São os gastos médicos, incluindo exames, bolsas de sangue, cirurgia e internação.

Sasuke estendeu a mão, pegando os papéis para ler rapidamente.

— Como ela está? — perguntou seco, sem interromper a leitura.

— Viva. Pitbull é uma raça forte, graças a isso ela sobreviveu até chegar. Tivemos que a castrar. Parte do útero e do ovário foram comprometidos, então não tivemos outra escolha senão os remover. Mas, em uma semana, ela terá alta se responder bem à cirurgia e aos medicamentos. Foi uma cirurgia bem delicada. Temos uma semana para ver se ela aguentará. Depois disso, estará fora de risco e o senhor pode leva-la para casa. É importante que ela seja bem observada durante esse mês.

— Quero vê-la. E, antes que diga algo, não vou sair daqui sem ver minha cachorra.

O veterinário pegou os papéis assinados e concordou, sinalizando para que Sasuke o seguisse.

Não foi preciso chamar Sakura mais do que duas vezes para que ela acordasse e já se colocasse de pé. Seguiram o veterinário até a sala indicada e Sasuke ignorou completamente a ordem de se manter afastado. Não obedeceria! Não vendo o estado do pequeno filhote de pitbull. Foi até a maca, vendo as suturas no corpo e o abajur que era preso à cabeça a fim de impedir que Pandora mordesse ou lambesse as feridas.

Ela estava sedada. Sasuke passou a mão pela cabeça dela, demorando-se nas orelhas enquanto o coração bombeava a raiva e a distribuía a cada célula de seu corpo. Sentiu a mão de Sakura em seu ombro e pode vê-la segurar uma das patas em um carinho delicado.

— Ela vai ficar bem, não vai? — Sakura perguntou em um fio de voz.

— Vai — respondeu, afastando-se para esperar por Sakura do lado de fora da sala.

Sakura se arrastou contra a vontade até a saída, quase sendo expulsa pelos veterinários.

— Vamos, Saky. Terei que passar a noite em sua casa, tem algum problema?

Ela negou, abatida.

O caminho foi silencioso. Tanto na moto quanto no elevador que levava ao apartamento de Sakura, a ausência de conversa foi marcante. Sasuke, de vez em quando, olhava para a amiga. Frágil. Ela, que sempre parecera tão forte e radiante, parecia que se quebraria a qualquer instante. Mesmo assim, preferiu não falar nada. Todos precisam de um tempo a sós com os próprios pensamentos, e Sakura precisava do dela. Deixou-a seguir para o banheiro e ouviu o som do chuveiro sendo ligado. Permaneceu na sala, utilizando-se desse tempo sozinho para vasculhar a geladeira e preparar um lanche rápido que enganasse seu estômago. Fez um a mais e preparou leite quente com chocolate, deixando-os sobre a mesa de centro na sala.

Quarenta e cinco minutos.

Bateu na porta do banheiro e ouviu o girar da chave. Abriu a porta e se encostou no batente, observando Sakura envolta pelo roupão com os cabelos molhados. Estendeu os braços, deixando que ela o abraçasse e ficasse assim por alguns minutos antes de a levar para a sala e se sentarem.

— Me ouça — pediu, entregando o copo com achocolatado e o prato com o lanche. — Não foi sua culpa. Você não tinha como fazer nada. E, provavelmente, graças a sua ligação rápida e ao que tenha feito para conter o sangramento, salvou Pandora. Não estou com raiva de você ou te culpando se é isso que está pensando. Vamos, coma.

Não adiantava muito ouvir aquilo. Por mais que as palavras de Sasuke soassem calmas, Sakura conseguia enxergar por trás daquela máscara de controle, podia ver que ele só estava esperando-a dormir para colocar a frustração para fora. Comeu em silêncio, tentando aquietar a mente, confortá-la por saber que Pandora estava viva, porém não era tão fácil. Levantou-se, indo buscar cobertas e um travesseiro para Sasuke.

— Itachi pediu para que ligasse para ele de manhã. Ele quer saber como você está — Sasuke disse quando ela voltou e ficou satisfeito com o sorriso discreto que arrancou com a pequena mentira.

— Durma bem. Amanhã, eu aviso Pain do motivo da sua falta.

— Falta? — Sasuke arqueou a sobrancelha. — Não faltarei. Avise apenas que vou chegar atrasado. Mas ficarei no jornal no período da tarde.

Sakura assentiu embora discordasse da ideia. Acenou brevemente antes de sair da sala e entrar no quarto, deitando-se na cama e abraçando o travesseiro contra o corpo. Não... Não dormiria tão cedo...

* * *

Naruto saiu do banho quente com mais preguiça do que quando entrara. Verdade seja dita, mesmo não tendo concluído sua noite como desejava, seu corpo ainda exigia por repouso. O que, é óbvio, seu despertador não lhe permitia.

— Que merda você está fazendo aqui? — resmungou, virando-se para o lado oposto do novo despertador que não sabia que havia arrumado.

— Vai passar o dia inteiro na cama? — Gaara questionou calmo. — Nossa, suas costas estão uma obra de arte.

Naruto não respondeu, apenas colocou o travesseiro sobre a cabeça, fingindo não ouvir o amigo.

— Hinata está aqui também. Ela quer saber sobre o cara que pagou cinquenta mil por você.

Naruto virou-se para Gaara, franzindo o cenho. Não. Tinha ouvido errado. Ninguém pagaria cinquenta mil por uma noite. Sério, ninguém. Aquilo era um absurdo, era fora da realidade.

— Estamos na sala. Vem logo.

Resignado, Naruto se obrigou a colocar os pés no chão e se sentar na cama. Dez da manhã. Por que Hinata sempre o visitava de manhã? Ela também deveria ter passado a noite trabalhando em algum evento importante! Como conseguia estar de pé àquele horário?

Não se importou em vestir uma camisa ou qualquer coisa. Sua vó não estava em casa, então não havia o menor problema e andar com as marcas que, agora que se olhava no espelho do banheiro, percebia serem não só muitas como também escuras, indicando que demorariam a sair. Abriu a torneira da pia, lavando o rosto três vezes para espantar o cansaço. Bagunçou os cabelos loiros, espreguiçando-se e respirando profundamente.

Ao sair do quarto, sorriu com o cheiro maravilhoso de café.

— Bom dia! — animou-se, vendo Gaara servir uma xícara do café recém passado a Hinata.

— Bom dia — ela sorriu antes de arregalar os olhos e corar ao virar a cabeça em sua direção. — Isso são...?

— O cara gostava de marcar — coçou a nuca antes de se sentar à mesa.

— Ele pagou cinquenta mil, fico feliz que marcar tenha sido a única coisa que ele tenha feito — Gaara ironizou, entregando-lhe uma xícara de café antes de também se sentar.

— Gaara! — Hinata o repreendeu constrangida. — Não é hora para falar disso. Não no café da manhã...

Naruto e Gaara se olharam e soltaram uma risada. Era sempre assim. Mesmo depois de tanto tempo, Hinata se recusava a ouvir detalhes das noites deles enquanto estivessem fazendo alguma refeição. Parecia uma adolescente. Sim, Hinata nunca iria perder aquele ar ingênuo que a rondava. Chegava a ser irônico. Mas era assim mesmo. A mulher com vestido azul claro rodado com laços, voz gentil e jeito meigo. Como ela tinha parado em um lugar como Akatsuki?

— Mas ficamos preocupados — ela tocou a mão de Naruto. — Jiraya mesmo pediu para que seguranças ficassem à porta do quarto para garantir que, ao menor sinal seu de perigo, nós intervíssemos. Como não tive evento algum noite passada, fiquei com Jiraya supervisionando a Akatsuki e vimos a hora que o cliente saiu apressado. Ele parecia bem irritado. Achei que os seguranças tivessem interrompido, mas eles negaram. Foi tudo bem?

Naruto franziu o cenho, tomando mais um gole de café enquanto processava as informações.

— Ele pagou cinquenta mil? — questionou ainda incrédulo.

Gaara sorriu, balançando a cabeça em negação.

— Você só ouviu essa parte?

— Não. Mas ainda estou tentando entender.

— Aconteceu alguma coisa, Naruto? Sabe que clientes que pagam altas quantias assim sempre quebram as regras — Hinata comentou preocupada, passando os olhos pelas marcas no corpo dele, tentando procurar algum sinal de violência.

Clientes com muito dinheiro significavam lucro, mas também problemas. Por pagar altos valores, achavam estar em outra categoria, a que é salva de qualquer regra e proibição. Não eram raros os casos de abuso, violência ou de drogas relatados pelos acompanhantes quando muito dinheiro estava envolvido. Por isso, a Akatsuki havia desenvolvido pequenos botões de segurança. Na cama, no banheiro, no bar. Apertando aquele botão, os seguranças do prédio rapidamente eram acionados e interrompiam o que quer que estivesse acontecendo no quarto. E, sendo assim, era por esse motivo que o fato de Naruto não ter acionado o botão, tendo uma quantia de cinquenta mil em jogo, chamava atenção e era digno de preocupação.

— Aconteceu — ele falou sério, baixando os olhos azuis para o prato de frutas a sua frente. —Aconteceu que um cara extremamente gostoso e bom de cama apareceu ontem para me foder e não terminou o serviço porque ligaram avisando o desgraçado que a casa dele tinha sido invadida — bufou indignado, rindo da cara de desaprovação de Gaara pela brincadeira. — Não se preocupe, Hina, não aconteceu nada demais ontem.

— Invadiram a casa dele? — ela perguntou mais aliviada. — Explica o motivo de ele sair daquele jeito.

— Pelo menos, ele não foi um imbecil com você na saída, Hinata — Gaara pontuou.

Naruto viu Hinata desviar o olhar e voltar a comer a salada de frutas que Gaara havia preparado. Percebeu a tensão que tinha caído sobre eles e franziu o cenho ao olhar para Gaara.

— Como assim?

— Não é nada — ela sorriu. — Gaara exagera às vezes.

— Exagero? — ele perguntou, arqueando a sobrancelha.

Naruto o viu limpar a boca no guardanapo antes de se levantar e dar a volta na mesa, parando ao lado de Hinata e o chamando com a mão. Levantou-se, parando ao lado dele e o vendo apontar para Hinata.

— Eu não me lembro desse vestido ter esse detalhe no braço. Você lembra, Naruto?

Hinata desviou o olhar quando Naruto tocou a fita que ela usava no braço. Uma fita azul que não fazia parte do vestido e que parecia um enfeite, amarrada um palmo acima do cotovelo com um bonito laço. Ele desfez o laço, desenrolando a fita com cuidado enquanto ouvia os dedos de Gaara tamborilarem na mesa.

— Quem fez isso? — perguntou surpreso.

Deslizou os dedos pela marca avermelhada na pele clara. Parecia que alguém havia segurado Hinata com força ali, puxando-a talvez, mas com força o suficiente para deixar uma marca no lugar. Inconscientemente, fez com que Hinata se levantasse e deslizou os olhos rapidamente por ela em uma rápida avaliação, procurando outro sinal de agressão.

— Um cliente estava nervoso. Eu fui perguntar se estava tudo bem, e ele não reagiu como o esperado — ela explicou, pegando a fita de volta. — Só isso.

— Não foi só isso, Hinata — Gaara estalou a língua no céu da boca, pegando a faixa da mão dela. — Não precisa esconder isso aqui dentro. Estamos entre amigos, não?

— Foi um cliente seu, Hinata? — Naruto perguntou, sério, cruzando os braços.

— Não — Gaara respondeu. — Foi um seu, Naruto. E eu agradeceria se você deixasse claro a Neji que ele não pode mais nem se aproximar dela.

— Neji? Ele foi ontem?

— Aparentemente sim — Hinata suspirou. — Ele ficou nervoso com alguma coisa e saiu apressado. Achei que tivesse acontecido algo grave com algum dos acompanhantes e fui falar com ele. Mas, então, ele agarrou meu braço e disse que era melhor eu cuidar dos meus problemas.

— Das suas fodas. Foi isso que ele disse, Hinata. Sasori me contou que estava com você e que Neji mandou que você cuidasse das suas fodas — Gaara estreitou o olhar. — Não é porque esse maldito nos ajudou uma vez que você tem que relevar esse tipo de atitude. Deveria ter falado para Jiraya.

— Ele nos ajudou, Gaara. Ajudou você. Não posso o denunciar a Jiraya. Ele podia apenas estar em um dia ruim.

— Todo mundo tem seus dramas pessoais — Naruto se pronunciou. — Ele mesmo diz isso então ter um dia ruim não justifica te agredir, Hinata. Falarei com ele. E você deveria, sim, avisar Jiraya.

— Não se preocupe. Eu sabia que ela não ia fazer isso, então arrastei Sasori e contamos para ele já.

Naruto concordou ao passo que Hinata mordia o lábio, preocupada. Abraçou-a, beijando o topo da cabeça dela. Gaara girou o piercing na língua em um gesto de descontentamento que não passou despercebido por Naruto. Era um "depois vamos conversar mais sobre isso" a qual Naruto apenas concordou antes de soltar Hinata e volta a puxar a cadeira para que ela se sentasse.

— Falarei com Neji. Não se preocupe, Hina. Duvido que ele tenha feito por mal, mas, mesmo assim, não é algo banal para ser ignorado — sorriu encorajador. — Agora, vamos voltar a comer que eu estou morto de fome!

— Vocês vão, eu já comi — Gaara se levantou. — Tenho que trabalhar. Aproveitem o café da manhã, vejo vocês à noite.

— É sábado, Gaara, não trabalhamos aos sábados — Hinata estranhou.

— Uma cliente tem ligado a duas semanas para Jiraya pedindo para que eu passe cinco horas com ela. Ele disse não, óbvio. Porém a insistência dela, e alguns contatos provavelmente, fizeram ele me ligar ontem à noite com a proposta. Vou receber um acréscimo generoso se ir.

— E você precisa de dinheiro? Pensei que ficaríamos os três em casa — Naruto resmungou desgostoso.

Gaara sorriu de canto, pegando o celular e o destravando para então mostrar a Naruto.

— Não é bem pelo dinheiro.

Naruto passou o celular para Hinata após ver a foto da mulher. Jiraya havia mandado a foto propositalmente. Todos sabiam que Gaara tinha certa preferência por mulheres loiras e dificilmente recusaria um trabalho para uma tão bela quanto aquela.

— Vejo vocês lá pelas seis — despediu-se.

Não demorou muito. Sabia que se Naruto e Hinata se juntassem para o fazer mudar de ideia, iria acabar ligando para Jiraya e recusando o trabalho. E não queria isso. Mesmo se não houvesse recebido a foto, iria. Estava intrigado há um mês já com aquela mulher. Primeiro, tinha a visto durante a tarde quando estava trabalhando como modelo. Ela passava a tarde inteira naquela sala de observação, sempre concentrada, sempre atenta, sempre aparecendo quando ele começaria a se exibir e indo embora quando ele se retirava.

Devido sua semelhança física com Sasori, ela havia participado de um leilão e erroneamente pagara pelo outro. Sasori havia lhe dito que a decepção dela havia sido evidente e que ela tinha feito perguntas sobre os horários em que "o outro ruivo" trabalhava. Desde então, Jiraya estava sendo contatado por ela para marcar um horário exclusivo sem que ela tivesse que perder tempo em leilões.

Loira, máscara roxa, pernas dobradas sobre a cadeira, caderno apoiado nos joelhos, lápis na mão. Era sempre assim que ela aparecia nas salas de observação. Sempre tão atenta a cada movimento seu que sua vontade era se exibir somente para ela por saber que a agradava.

Estranho, mas intrigante.

Como era sábado, aqueles que permaneciam no prédio da Akatsuki eram os que ainda não haviam comprado ou alugado outro lugar para morar ou então os que, por algum motivo, não queriam voltar para casa ou sair na rua. Gaara os ignorou, sem qualquer intenção de ser cortês. Hinata não estava ali e, portanto, não tinha obrigação nenhuma de fingir ser educado com pessoas desconhecidas.

Dirigiu-se a sua sala individual para escolher a roupa que usaria. Tentou puxar da memória alguma que ainda não havia mostrado à mulher e girou o piercing na língua indeciso.

Delicada. A mulher parecia delicada e jovem. Estudante? Talvez. Mas alguma coisa no olhar dela, no modo como ela o analisava deixava-o em dúvida quanto à personalidade dela. Muitos dos clientes eram fáceis de se ler. Gaara havia aprendido isso com Hinata quando treinava para acompanhante social. Ela o mostrara como perceber pequenas características do cliente através de alguns gestos como o modo como se senta, como olha as horas, como se senta, como olha para os outros, como fala, como age diante de situações inesperadas. Mas aquela cliente em específico não facilitava essa leitura. Enquanto tudo gritava para uma personalidade doce, quase como Hinata, os olhos azuis, tão bem destacados pelo contorno roxo forte da máscara, pareciam rir do julgamento prévio.

Acabou escolhendo uma calça larga escura e uma regata clara. Não se daria ao trabalho de tentar impressionar alguém que já parecia estava ali por ele. Aproximou-se da penteadeira com espelho e se sentou de frente a ele. Bagunçou os cabelos ruivos, já não raspados como antes devido à perda de uma aposta com Naruto, e se mudou a pedra em seu piercing para uma de cor roxa. Trocou o brinco arredondado que usava por um mais pontiagudo e se levantou quando o celular apitou marcando o horário combinado.

Dirigiu-se ao quarto que estava reservado e bateu na porta. Sem resposta, entrou.

— Atrasada — resmungou desgostoso.

Entrou no cômodo e se deitou na cama, olhando para o dossel acima de si. A noite anterior, assim como as outras, haviam sido um tédio. Claro, salvava um cliente ou outro, mas, no geral, estava cansado de entreter mulheres adúlteras ou políticos corruptos. Ah, os políticos... Era impressão sua ou o número deles havia aumentado no último mês? Não, não era impressão. Estavam em campanha eleitoral, provavelmente algum político maior estava pagando aquelas noites para os políticos menores, garantindo votos, subornando-os com algo tão superficial quanto sexo. Era sempre assim quando época de eleição se aproximava.

Na noite anterior mesmo, havia caído com um maldito deputado que não sabia calar a boca. Riu-se. Havia embebedado tanto o cara que ele havia dormido sem nem ao menos terem feito nada. Deixara ele lá, dormindo, e decidira falar com Hinata. E havia sido naquele momento que vira Neji simplesmente bater a porta do estabelecimento e Sasori se aproximar de Hinata para ver-lhe o braço.

Neji estava passando dos limites. Só Naruto não via o quão inconveniente aquele homem era. Políticos. Todos iguais. Sabia que era furada quando Naruto aceitara aquele acordo anos atrás...

Ouviu o barulho de chave na porta e se sentou, apoiando os cotovelos nos joelhos enquanto esperava.

Linda. Linda e estranha.

A mulher que entrava era, com certeza, tão bonita quanto Hinata. O cabelo loiro, liso e comprido, chegava um pouco abaixo da cintura, quase na linha dos quadris. A saia verde até um pouco acima dos joelhos, o salto baixo branco, a camisa social de manga curta branca com detalhes em rosa, tudo isso contribuía em muito para ressaltar não só a beleza facial que ela possuía quanto também a corpórea. Viu-a olhá-lo e sorrir abertamente antes de dizer alguma coisa para alguém do lado de fora do quarto.

E então vem a parte estranha.

Dois homens entraram, trazendo instrumentos que Gaara logo reconheceu, mas não conseguiu fazer ligação alguma do motivo para estarem ali.

— Obrigada — ela disse, alegre.

A face delicada, os lábios rosados e os olhos azuis piscina atrás da máscara roxa. Sem pensar, girou o piercing em sua língua em um gesto involuntário. Ela parou na frente dos objetos que trouxera consigo e Gaara se permitiu observá-la naquele momento. Os olhos dela eram quase da mesma cor que os de Naruto, mas diferentes com toda certeza. Os de Naruto mostravam uma animação desafiadora, uma alegria um tanto quanto maliciosa. Os dela não. Brilhavam como os de uma criança em frente ao presente de natal. Eram quase que infantil o modo como ela sorria para o material e retirava os saltos, pegando, da bolsa, um par de chinelos rosa claro.

— Bom dia! — ela sorriu, aproximando-se. — Agradeço muito ter concordado em vir hoje.

Gaara não respondeu. Pendeu a cabeça para a direita, observando sem muito pudor a mulher dos pés à cabeça. Ela corou, arregalando os olhos e, depois, sorrindo sem jeito. Levantou-se, andando até ela e parando próximo, ou era o que faria se ela não começasse a recuar. Continuou, vendo-a olhar para os lados e engolir em seco quando a parede anunciou o fim.

— Ei, pera... eu... — ela tentou dizer quando sentiu o corpo de Gaara tocar o seu, e as mãos dele pousarem em sua cintura.

Ela prendeu a respiração, vendo-o aproximar o rosto do dela. A respiração quente tocava-lhe a face, causando uma sensação morna em seu corpo. Sentiu as mãos descerem por seus quadris e pararem nas coxas, forçando-a para cima e a obrigando a cruzar as pernas na cintura dele. Ok. Não era assim que tinha planejado a manhã.

Colocou as mãos no peito dele e o empurrou quando os lábios quase se tocaram.

— É... Não foi bem para isso que te chamei hoje — explicou, constrangida.

Gaara a olhou, desconfiado. O rubor no rosto dela e as mãos o afastando deixavam claro que ele devia a soltar. Não queria que Jiraya recebesse uma reclamação dizendo que ele havia assediado uma cliente por mais estranho que esse tipo de reclamação soasse naquele tipo de lugar.

Desceu-a com cuidado, afastando-se um pouco.

— Não? — perguntou, descrente.

Ela negou, voltando a sorrir enquanto saía de entre ele e a parede.

— O que tem em mente então? — perguntou com um suspiro.

— Primeiro, apresentações — ela riu suave. — Sou Ino. Seu nome é Gaara mesmo ou inventou?

Ino. Ino. Ino? Onde já havia ouvido aquele nome. Não sabia, mas parecia tão familiar que cruzou os braços, pensativo. Ino... Ah, não...

— Ino Yamanaka? ­

Ela sorriu ainda mais, retirando a máscara roxa.

— Me conhece? Que honra!

— Não são muitas as pintoras que fazem sucesso nesse país atualmente, não é? — ironizou, voltando a se sentar na cama enquanto via a mulher não se abalar e apenas caminhar até si, sentando-se ao seu lado.

Ela cruzou as pernas, encarando-o animada.

— Infelizmente — fez um bico, contrariada. — Mas não vim falar de arte ou do mercado artístico com você.

— Claro que não — resmungou e ela fingiu não ouvir.

— Quero te desenhar.

Gaara permaneceu indiferente, olhando-a sem expressão alguma por alguns segundos antes de soltar um riso anasalado e se levantar.

— Não, obrigado. Se era isso, lamento te decepcionar. Aposto que Jiraya te devolverá o dinheiro.

Ino se levantou apressada, correndo para bloquear a porta.

— Só me ouve — ela pediu. — Por favor, só ouve a proposta primeiro.

Gaara cruzou os braços, impaciente. Não havia concordado perder seu sábado para aquilo.

— Eu só quero te desenhar. Vou fazer uns esboços hoje e talvez escolher algumas cores... Calma, por favor — tornou a pedir ao vê-lo revirar os olhos e descruzar os braços. — Vou ter uma exposição em outro estado nos próximos meses, e eu demorei meses para encontrar um modelo ideal. Mas toda vez que tento te desenhar naquelas salas de observação, o esboço sai incompleto porque não consigo que fique parado. E não dá para manter uma imagem fixa de você na cabeça para desenhar fora daqui.

— Não tenho nada a ver com isso — cortou-a, seco.

— Pode, por gentileza, me ouvir — ela falou um pouco mais nervosa. — Você provavelmente vai receber pelo horário que passar comigo e terá parte do lucro da venda dos quadros. Eu já tenho até o contrato redigido. Basta você assinar. Passar horas aqui sem precisar transar com ninguém contra sua vontade não deve ser tão mal assim!

— É chato.

— O que? — Ino franziu o cenho.

— Ficar parado por cinco horas enquanto alguém só te olha é chato. Tenho formas melhores de gastar meu tempo.

Ino engoliu em seco. Não havia insistido tanto para poder ficar a sós com aquele homem para então ouvir um não! Sem contar na quantia exorbitante que havia pago para aquilo. Respirou fundo, sentindo a falta de educação dele começar a irritá-la. Fez um sinal com a mão para que ele esperasse e saiu da frente da porta, correndo até o caderno de folhas A5 dentro de sua maleta de desenhos.

Retirou o caderno e o colocou sobre a cama, esperando Gaara se aproximar. Ele fez sem muito ânimo e abriu o caderno.

— Vê? Todos estão incompletos — Ela mordeu o lábio apreensiva.

Gaara a observou pelo canto do olho antes de prestar atenção nos esboços. Ino Yamanaka era conhecida por ter tido uma rápida e inesperada ascensão no mundo da arte. Lembrava-se de já ter trabalhado como acompanhante social em uma das exposições dela no centro da cidade. Reconhecia: ela tinha talento. Eram traços mais realistas, contrastando e ignorando a tendência moderna. Poucos quadros eram coloridos. A maioria ficava em preto, branco e escalas de cinza, parecendo que eram todos rascunhos, mas não... Para quem entendia de arte ou para os que já conviviam um pouco naquele meio, era fácil distinguir uma obra inacabada de uma perfeita. Apesar de parecerem rascunhos, nenhum dos quadros que havia visto possuía linhas desnecessárias, traços errados ou tons que quebrassem a harmonia do geral. Habilidosa de fato.

Os rascunhos eram muito bons. Admitia. Reconhecia-se em cada um deles. A maioria deles só conseguia retratar os traços da coluna, cintura, às vezes pescoço, às vezes o contorno do rosto. Mas não havia um único completo.

Massageou os músculos do pescoço enquanto sentia o olhar ansioso sobre si. Odiava ficar parado por muito tempo. E mais do que meia hora já era considerado tempo demais, imagine cinco horas!

— Se eu concordar — começou, vendo-a já sorrir. —, como será feito?

Ino suspirou aliviada.

— Você posa, eu começo a rascunhar. Podemos fazer intervalos a cada uma hora ou uma hora e meia e...

— Sem essa — ele negou. — Não vou ficar parado por uma hora e meia. Quando eu quiser me mexer, vai ser o que vou fazer.

— Assim posso demorar mais para terminar — Ino o olhou alarmada.

— Não farei de outro modo.

E era exatamente por isso que Ino odiava trabalhar com modelos que não eram modelos de fato. Quando contratava um modelo, ele já sabia que teria que seguir suas regras, sabia como era importante o trabalho não ser pausado várias e várias vezes. Era essencial que ela pudesse deixar os traços fluírem sem se preocupar com o tempo, que o carvão deslizasse pela tela sem que ela tivesse medo que o modelo tivesse se mexido naquele breve intervalo em que ela desviara os olhos dele para encarar a tela. Pausas eram como cortes em seu ânimo. Era como se alguém a arrancasse à força de seu quadro, trazendo-a para a realidade, quebrando sua linha de pensamento e a fazendo se esquecer do modo como desenhava, da pressão que utilizava, da direção e do sentido com que traçava, da força que impunha ao segurar o carvão.

— Uma hora. Pode ficar parado por uma hora? — ela perguntou esperançosa. — Depois, podemos fazer intervalos, você pode sair para tomar um ar e voltar, qualquer coisa.

Gaara parou em um desenho. Ah... Ela viera na noite passada também. Conseguia distinguir seus traços e os de Naruto no esboço.

— Consegue terminar esse aqui? — perguntou.

— Não sem os modelos. Por isso que vim.

— Ok. Poso por uma hora. Intervalos de vinte minutos. Uma hora em ponto almoçamos. Voltamos para cá e continuamos. Eu assino o contrato, mas quero uma coisa a mais. Se eu trouxer Naruto, você conclui esse aqui — Apontou o rascunho. — para mim.

— Feito — Ino sorriu. — Mas só depois que os seus estiverem prontos.

Gaara concordou e sorriu discreto ao vê-la pular animada. É... pelo menos alguém estaria animado naquele lugar porque ele, com sorte, dormiria de tanto tédio.

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