O Guardião

By JaqueBastos

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Quarenta dias após a morte de seu marido, Julie Barenson recebe uma encomenda deixada por ele. Dentro da caix... More

Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 12
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37

Capítulo 15

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By JaqueBastos

Na manhã seguinte, em seu escritório, Henry pôs o copo descartável de café sobre a escrivaninha.

- Então  foi só isso? - perguntou.

Mike coçou a nuca.

- Sim.

- Você simplesmente foi embora?

- Fui.

Henry uniu as mãos e apoiou o queixo nelas. O normal seria ele implicar com Mike por não ter aproveitado a chance de convidar Julie para sair, mas aquele não era o momento para isso.

- Então deixe-me ver se entendi direito: você ouviu um comentário enigmático de Jake Blansen sobre Richard que poderia não significar nada, mas lhe pareceu um pouco estranho, principalmente por que Jake se desviou do assunto. Depois descobriu que Richard se aproximou da casa dela no meio da noite e ficou por lá Deus sabe por quanto tempo. E mesmo assim decidiu não dizer a ela que achou isso um pouco suspeito? Nem mencionar o fato de que talvez houvesse algo com que se preocupar?

- Foi Julie que me contou que Richard esteve lá. Então ela já sabia.

- A questão não é essa e você sabe.

Mike balançou a cabeça.

- Não aconteceu nada, Henry.

- Mesmo assim você deveria ter dito alguma coisa.

- Como?

Henry se recostou na cadeira.

- Exatamente como acabei de dizer: falando o que pensava.

- Você pode dizer isso assim, mas eu não - observou Mike, sustentando o olhar do irmão. - Você é e sempre será amigo dela, mesmo que aconteça algo entre vocês. Eu também sou amigo de Julie, certo? E não me agrada a ideia desse sujeito rondando a casa dela no meio da noite. Isso é assustador e não importa o motivo que ele possa alegar. Richard podia ter deixado o bilhete de manhã, telefonado ou deixado um recado no trabalho... Que tipo de homem se veste, pega o carro e atravessa a cidade para deixar um bilhete às duas da manhã? Você não disse que Singer a manteve acordada durante horas? E se Richard estivesse escondido por lá durante todo o tempo em que Singer ficou agitado? E se Blansen estivesse tentando de algum modo avisá-lo? Você não pensou em nada disso?

- É claro que pensei. Também não gostei dessa história.

- Então deveria ter dito alguma coisa.

Mike fechou os olhos. Tinha sido uma noite ótima até ele saber daquilo.

- Você não estava lá, Henry. Além do mais, ela não pareceu achar aquilo nem um pouco estranho, portanto não torne isso algo maior do que deveria ser. Tudo o que Richard fez foi deixar um bilhete.

- Como você sabe que foi só isso?

Mike começou a responder, mas a expressão no rosto de Henry o fez parar.

- Olhe, em geral eu o deixo fazer as coisas a sua maneira, mesmo quando você se estrepa, mas há limite para tudo. Essa não é  a hora para começar a ter segredos com ela, principalmente desse tipo. Concorda?

Mike baixou o queixo na direção do peito.

- Sim.


                                                                             ***

- Bem, parece que vocês dois se divertiram - disse Mabel.

- Sim - confirmou Julie. - Você sabe como Mike é. Sempre muito engraçado.

Mabel girou a cadeira vazia enquanto elas conversavam. Só havia clientes marcados dali a alguns minutos e as duas estavam sozinhas.

-  A  torneira ficou boa?

Julie estava ocupada arrumando sua estação de trabalho e assentiu.

- Ele a trocou por uma nova.

- Fez isso parecer tão fácil que você ficou se perguntando por que precisou chamá-lo, certo?

- Sim.

- E você não detesta isso?

- Sempre.

Mabel riu.

- Ele é mesmo um homem incrível, não é?

Julie hesitou. Pelo canto do olho, viu Singer sentado perto da porta da frente, olhando pela janela, como se pedisse que o deixasse sair.

Embora a pergunta de Mabel não exigisse resposta, havia algo de sério no que Julie poderia responder, algo em que não poderia parar de pensar desde a noite anterior. Não sabia bem por que os acontecimentos da véspera não lhe saíam da mente. A noite não fora excitante nem mesmo memorável. Mas, com o luar entrando pela janela e a mariposa batendo na vidraça, Mike tinha sido não só a única pessoa em que pensou antes de adormecer como também a primeira em quem pensou pela manhã, ao abrir os olhos.

A resposta de Julie veio naturalmente quando ela se dirigiu à porta para deixar Singer sair.

- Sim - disse. - É.


                                                                         ***

- Mike - chamou Henry. - Você tem visita.

Mike pôs a cabeça para fora do almoxarifado.

- Quem?

- Adivinha?

Antes que pudesse responder, Singer veio trotando para o seu lado.


                                                                    ***

A tarde estava quase no fim quando Julie entrou na oficina. De mãos na cintura, olhou para Singer.

- Se eu não o conhecesse, diria que isso tudo foi um plano para me fazer vir aqui - falou.

Assim que Julie disse isso, Mike fez o possível para transmitir seus agradecimentos para Singer por telepatia.


- Talvez ele esteja tentando lhe dizer alguma coisa.

- Como o quê?

- Não sei. Talvez não esteja recebendo muita atenção ultimamente.

- Ah, ele recebe muita atenção. Não se deixe enganar. Singer é muito mimado.

Sentado, o cão começou a se coçar com a pata traseira, como se demonstrando sua indiferença ao que eles diziam. Enquanto conversavam, Mike abriu o botões de pressão do seu macacão.

- Espero que não se importe - disse -, mas caiu um pouco de fluido de transmissão nele e estou sentindo esse cheiro o dia todo.

- Deve ter dado onda, não é?

- Não, só dor de cabeça. Não tenho tanta sorte.

Julie mo observou puxar o macacão para baixo, tirar uma perna de cada vez, e depois atirar a roupa num canto. De jeans e camisa vermelha, ele parecia mais jovem do que era.

- Então, qual é seu programa para esta noite?

- O de sempre. Salvar o mundo, alimentar os famintos e promover a paz mundial.

- É impressionante quantas coisas uma pessoa pode fazer em uma noite, se estiver disposta.

- Essa é uma grande verdade.

Mike lhe deu um sorriso travesso. Mas quando Julie passou as mãos pelos cabelos, ficou paralisado pelo mesmo nervosismo que sentira na noite anterior quando entrou na cozinha.

- E você? Tem algo empolgante em mente?

- Não. Preciso limpar um pouco a casa e pagar algumas contas. Ao contrário de você, tenho que fazer pequenas coisas antes de tentar tornar o universo perfeito.

Mike viu Henry encostado no batente da porta, examinando uma pilha de papéis e fingindo não prestar atenção neles, mas fazendo o possível para sua presença ser notada e o irmão não se esquecer do que lhe tinha dito. Mike enfiou as mãos nos bolsos. Ele não queria fazer isso. Sabia que era preciso, mas não queria. Respirou fundo.

- Você tem alguns minutos? - perguntou a Julie. - Há uma coisa sobre a qual gostaria de lhe falar.

- Claro. O que é?

- Podemos ir à outro lugar? Acho que preciso tomar uma cerveja antes.

Intrigada com a súbita seriedade de Mike, Julie não pôde negar que ficou feliz com o convite.

- Uma cerveja parece uma ótima ideia.


                                                                                ***

A uma curta caminhada, perto do centro da cidade, ficava o Tizzy's, entre uma pet shop e uma lavanderia. Assim como o Sailing Clipper, não era limpo nem particularmente confortável. Havia uma televisão ligada com o volume alto no canto do bar, as janelas  estavam esbranquiçadas de poeira e o ar, cheio da fumaça que subia em espirais das mesas. Para os frequentadores do lugar, nada disso tinha importância e meia dúzia deles quase moravam ali. Segundo Tizzy Welborn, o dono, o bar era popular porque "tinha personalidade". Mike presumia que isso significava bebida barata.

O lado positivo era que Tizzy não ligava muito para regras. Os clientes não precisavam estar com sapatos e camisa para serem servidos. Tampouco se importava com o que traziam com eles. Ao longo dos anos, tudo, de espadas de samurai a bonecas infláveis, havia cruzado aquelas portas e, apesar dos rigorosos protestos de Julie, era nessa categoria que Singer se encaixava.

Mike e Julie se sentaram em dois bancos na ponta do bar e Singer deu uma volta antes de se deitar.

Tizzy anotou os pedidos e logo em seguida pôs duas cervejas na frente deles. Apesar de não estarem tão geladas, não estavam quentes, e Mike ficou grato por isso. Não se podia esperar muito daquele lugar.

Julie olhou ao redor.

- Isto é uma espelunca.  Sempre acho que vou pegar algo contagioso se ficar aqui por mais de uma hora.

- Mas tem personalidade - observou Mike.

- É claro que sim. Então, o que é tão importante para que me arrastasse para cá?

Mike pôs as duas mãos ao redor da garrafa.

- É algo que Henry disse que eu deveria fazer.

-  Henry?

- Sim. - Mike fez uma pausa. - Ele achou que eu deveria ter falado algo ontem. Quero dizer, para você.

- Sobre o quê?

- Richard.

- O que tem ele?

Mike se aprumou no banco.

- Sobre ele ter deixado a quele bilhete na outra noite.

- O que tem isso.

- Henry achou um pouco estranho ele aparecer no meio da noite para deixar o bilhete.

Julie lançou-lhe um olhar cético.

- Henry estava preocupado com isso?

- Sim, está.

- Hum... mas você não?

- Não - disse Mike.

Julie tomou um gole de sua cerveja.

- Por que Henry está tão preocupado? Richard não estava espionando pelas janelas. Se estivesse, Singer teria atravessado o vidro. E o bilhete dizia que era uma emergência, por isso talvez tivesse ido logo embora.

- Bem... também houve outra coisa. um dia desses uma pessoa que trabalha na ponte foi à oficina e disse algo estranho.

- O quê?

Enquanto passava os dedos pelos entalhes gravados no bar, Mike lhe contou o que Jake Blansen dissera e entrou em mais detalhes sobre os comentários do irmão. Quando terminou, Julie pôs a mão no ombro dele e seus lábios se curvaram lentamente em um sorriso.

- É muito gentil da parte de Henry se preocupar comigo.

Mike precisou de um momento para digerir a resposta.

- Espere, você não está zangada?

- É claro que não. Fico feliz em saber que tenho bons amigos como ele, que se preocupam comigo.

- Mas...

- Mas o quê?

- Bem... humm...

Julie riu, cutucando gentilmente o ombro de Mike.

- Ora, vamos. Admita que você também se preocupou. Não foi só o Henry, foi?

Mike engoliu em seco.

- Não.

- Então por que não me disse isso desde o início?

- Eu não queria que você ficasse zangada comigo.

- Por que eu ficaria?

- Porque... bem, você sabe... está saindo com Richard.

- E daí?

- Não queria que pensasse... bem, não tinha certeza de que você iria...

Mike se retraiu, sem vontade de prosseguir.

- Você não queria que eu pensasse que só estava dizendo isso para que eu deixasse de sair com ele? - perguntou Julie.

- Isso mesmo.

Julie pareceu estudá-lo.

- Você realmente acredita tão pouco na nossa amizade? Acha que eu ignoraria os últimos doze anos?

Mike não respondeu.

- Você me conhece como ninguém e é meu melhor amigo. Nada que me dissesse me faria achar que era apenas para me magoar. Se aprendi algo sobre você é que não é capaz de fazer algo assim. por que acha que gosto tanto da sua companhia? Porque você é um homem bom. Um homem gentil.

Mike virou o rosto para o outro lado, pensando que só faltava ela chamá-lo de eunuco.

- Os homens bons ficam em último lugar. Não é isso que dizem?

Julie usou seu dedo para virar o rosto dele de novo para ela, e o encarou.

- Algumas pessoas. mas eu não.

- E enquanto a Richard?

- O que tem ele?

- Vocês têm passado muito tempo juntos ultimamente.

Julie se inclinou para trás no banco, como se tentasse vê-lo melhor.

- Puxa, se eu não o conhecesse bem, diria que está com ciúmes. - brincou.

Mike tomou um gole de cerveja, ignorando o comentário dela.

- Não sinta. Nós só saímos umas poucas vezes e demos algumas risadas. E daí? não é nada importante. Não pretendo me casar com ele.

- Não?

Julie riu.

- Está brincando, não está? - Ela fez uma pausa, mas a expressão de Mike foi suficiente. - Não, não está.  Achou que eu estivesse apaixonada por ele?

- Eu não fazia ideia.

- Bem, não estou. Nem sei se sairia com ele de novo. E não é pelo que você acabou de me dizer. O último fim de semana foi ótimo e divertido, mas faltou alguma coisa, entende? E então ele pareceu um pouco distante na segunda-feira e decidi que não valia apena.

- É mesmo?

Ela sorriu.

- É.

- Uau! - Foi tudo o que Mike conseguiu dizer.

- É, uau!

Tizzy passou por eles e pôs a televisão no canal ESPN antes de perguntar se queriam outra bebida. Ambos fizeram um sinal negativo com a cabeça.

- E então, o que você vai fazer agora? - perguntou Mike. - Voltar a se encontrar com o velho Bob?

- Espero não precisar disso.

Mike assentiu. Naquele ambiente sombrio, Julie estava radiante e ele sentiu a garganta seca. Tomou outro gole de cerveja.

- Bem, talvez surja outra pessoa - arriscou.

- Talvez.

Julie pousou o queixo na mão, sustentando o olhar dele.

- Não vai demorar muito - continuou Mike. - Tenho certeza de que há uma dúzia de homens esperando uma chance de convidá-la para sair.

- Só preciso de um. - Ela deu um sorriso largo.

- Ele está em algum lugar - declarou Mike. - Eu não me preocuparia com isso.

- Não estou preocupada. Acho que agora sei bem o que procuro num homem. Agora que tive alguns encontros, as coisas estão um pouco mais claras. Quero um homem bom. Um homem gentil.

- Bem, você merece um.

Julie não pôde evitar pensar que  Mike às vezes era burro como  uma porta. Tentou outra tática.

- E quanto a você? Quando vai encontrar alguém especial?

- Quem sabe?

- Com certeza vai. Isto é, se procurar. Às vezes a pessoa certa está bem debaixo do seu nariz.

Mike puxou a frente da sua camisa. Não havia percebido como estava quente, mas tinha a sensação de que poderia começar a suar se não saísse logo dali.

- Espero que você esteja certa.

Eles voltaram a ficar em silêncio.

- Então... - disse Julie, esperando que ele dissesse alguma coisa.

- Então... - repetiu Mike, olhando ao redor.

Finalmente, Julie suspirou. Acho que eu terei que tomar a iniciativa, pensou. Se esperar por este Casanova, ficarei tão velha que ele terá de me acompanhar de bengala.

- O que você vai fazer amanhã à noite?

- Ainda não pensei nisso.

- Eu estava pensando que poderíamos sair.

- Sair?

- Sim. Há um lugar lindo na ilha. Fica bem na praia  e ouvi dizer que a comida é ótima.

- Devo perguntar se Henry e Emma querem ir?

Julie levou um dedo ao queixo.

- Hum... que tal se fôssemos apenas nós dois?

- Você e eu? - Mike sentiu seu coração batendo acelerado.

- Claro. Por que não? A menos que você não queira.

- Não, eu quero - respondeu Mike um pouco rápido demais.

Respirando profundamente, obrigou-se a ficar calmo. Fique frio, pensou. Ele lhe lançou seu olhar de James Dean.

- Isto é, acho que vou poder.

Julie conteve o riso.

- Que bom! Fico muito grata.


                                                                                      ***

- Então você a convidou para sair? - perguntou Henry.

Mike estava posicionado como um caubói de um velho filme de faroeste, com um joelho dobrado, o pé apoiado na parede e a cabeça abaixada. Observava suas unhas, como se nada daquilo tivesse importância.

- Estava na hora. - Mike deu de ombros, de um modo bem calculado.

- Bem... ótimo. E tem certeza de que é um encontro amoroso?

Mike ergueu os olhos, como se a pergunta de Henry estivesse testando sua paciência.

- Absoluta.

- Como você fez isso? Quero dizer, como aconteceu?

- Eu fiz com que acontecesse. Devagar. Só deixei a conversa tomar o rumo  certo e aconteceu.

- Assim, sem mais nem menos?

- Sim.

- Hum - murmurou Henry.

Sabia que Mike estava mentindo, mas não em que ponto. Afinal, parecia que eles realmente teriam um encontro.

- E o que ela disse sobre Richard?

Mike esfregou as unhas na camisa e as examinou.

- Acho que é um caso encerrado.

- Ela disse isso?

- Ah, sim.

- Hum...

Henry tentava ganhar tempo para pensar no que dizer em seguida. Não poderia zombar dele, dar conselhos nem fazer nada antes de descobrir por que toda a sequência dos acontecimentos parecia um pouco improvável.

- Bem, acho que tudo que posso dizer é que estou orgulhoso de você. Estava na hora de vocês darem o pontapé inicial.

- Obrigado, Henry.

- Não há de quê. - Ele olhou por cima do ombro. - Ainda tenho trabalho a fazer e não quero ir para casa muito tarde, portanto tenho que voltar para o escritório.

- Vá em frente.

Sentindo-se melhor do que nunca, Mike pousou o pé no chão e, logo depois, dirigiu-se à oficina. Henry o observou se afastando e foi para o escritório, fechando a porta atrás de si. Pegou o telefone, discou um número e um instante depois ouviu a voz de Emma do outro lado da linha.

- Você não vai acreditar no que acabei de ouvir - disse.

- O que foi?

Henry deixou-a a par dos acontecimentos.

- Bem, já estava na hora - comentou Emma alegremente.

- Eu sei. Falei a mesma coisa. mas, escute, será que você consegue checar a versão de Julie para essa história?

- Achei que Mike tivesse lhe contado tudo.

- Acho que ele está escondendo alguma coisa.

Emma fez uma pausa.

- Você não está planejando nada, está? Sabotar o encontro?

- De jeito nenhum. só quero saber o que realmente aconteceu.

- Para quê? Para implicar com ele?

- É claro que não.

- Henry...

- Ora, vamos querida. Você me conhece. Eu não faria nada assim. Só quero saber o que está se passando na cabeça de Julie, o.k.? Mike está levando isso muito a sério e não quero que se magoe.

Emma ficou quieta, e Henry sabia que ela estava pensando se devia acreditar nele ou não.

- Bem, já faz algum tempo que não almoço com ela.

Henry concordou com a cabeça, pensando: essa é a minha garota.


                                                                       ***

Segurando uma sacola de compras e a correspondência, Julie abriu a porta da frente e andou com dificuldade até a cozinha. Sem quase nada em casa, havia parado na mercearia na esperança de comprar algo saudável, mas, em vez disso, escolhera uma porção individual de lasanha congelada.

Singer não a seguiu para dentro da casa. Assim que Julie estacionara, ele pulou do jipe e correu para os lotes arborizados que se estendiam até a Intracoastal Waterway. Demoraria alguns minutos para voltar.

Julie pôs a lasanha no micro-ondas, foi para o quarto  trocar de roupa e voltou para a cozinha. Examinou a correspondência -contas, vários folhetos de propaganda, alguns catálogos de venda por correio - e então deixou a pilha de lado. Naquele momento não estava disposto a lidar com aquelas coisas.

Ia sair com Mike, pensou. Mike.

Murmurou o nome dele, vendo se aquilo soava tão inacreditável quanto parecia.

Soava.

Enquanto pensava sobre isso, olhou para a secretária eletrônica e viu a luz piscando. Acionou a tecla "play" e ouviu a voz de Emma, perguntando-lhe se gostaria de almoçar com ela na sexta-feira. " Nos encontraremos na delicatéssen, o.k.? Se não puder, me avise."

Por mim está bom, pensou Julie. Um momento depois, a secretária eletrônica apitou e ela ouviu a voz de Richard. Ele parecia cansado, como se tivesse martelado coisas o dia inteiro.

"Oi Julie. Só estou ligando para saber como você está, mas acho que não está em casa, não é? Ficarei fora durante a maior parte da tarde, mas estarei em casa à noite. " Ele fez uma pausa e Julie pôde ouvi-lo respirar fundo. "Você  não imagina como estou sentindo a sua falta."

Julie ouviu o clique quando ele desligou. Viu um passarinho saltitar duas vezes no peitoril da janela antes de ir embora voando.

Ah, meu Deus!, pensou ela de repente. Por que tenho a sensação de que ele não vai aceitar isso muito bem?


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