Mind Of Mine | ZIAM (Oneshots)

By ziamindofmine

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Cada música, uma história. Vários autores. Várias percepções. Vários enredos. Vários sentimentos. Mas um só... More

Projeto MOM
O1. MiNd Of MiNdd (Intro)
O2. PiLlOwT4lK
O3. iTs YoU
O4. BeFoUr
O5. sHe
O6. dRuNk
O7. INTERMISSION:fLoWer
O8. rEaR vIeW
O9. wRoNg FEAT. KEHLANI
1O. fOoL fOr YoU
11. BoRdErZ
13. lUcOzAdE
14. TiO
15. BLUE
16. BRIGHT
17. LIKE I WOULD
18. SHE DON'T LOVE ME
19. DO SOMETHING GOOD
2O. GOLDEN

12. tRuTh

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By ziamindofmine

Por: Kanade_Angel587

Avisos: Alterações na estrutura padrão do curso de direito em Harvard, é necessário graduação em outra faculdade antes de se candidatar ao curso de Direito (ou medicina) nesta universidade ou entrar nela e fazer quatro anos de undergraduate (para lhe considararem pronto para a graduação), em meu conto fictício, não terá tal exigência.

Espero não decepcionar :x


x


Zayn encarou a carta em sua mão. Ele estava nervoso, seus lábios haviam sido castigados pelo tanto que os mordeu. Ele respirou fundo e leu novamente as palavras no papel, que faziam todo o seu mundo mudar por completo.

Uma de suas mãos detinha a carta; na outra, estava seu celular com um contato prestes a ser chamado.

— Alô? — o moreno foi atendido no segundo toque.

— Zain Jawadd Malik está qualificado em todos os aspectos para sua admissão como candidato de graduação no curso de Direito pela Harvard Law School — Zayn leu as letras negras que eram a causa de seus tremores.

— Você foi aceito! — Liam gritou. — Vamos para Harvard.

— Eu nem posso acreditar — Zayn balbuciou.

— É tão bom que não vamos nos separar, isso vai ser ótimo, temos de comemorar — Liam falou animado. — Vamos ao Soho, tem um restaurante ótimo que quero lhe mostrar, nada muito chique.

— Liam, não dá, tenho de conversar com meus pais sobre isso, afinal, seria uma mudança para os Estados Unidos, eu nem queria sair da Inglaterra, imagina ir para o outro lado do oceano.

— Você vai me deixar sozinho nessa, Zayn? — Liam perguntou com a voz baixa.

O moreno sabia exatamente que, do outro lado da linha, o amigo deveria estar franzindo as sobrancelhas por ser contrariado. Liam sempre conseguia o que desejava e talvez fosse por esta razão que Zayn acreditava que ele seria um brilhante profissional na escolha de direito como seu curso de graduação.

— Vamos, por favor, não posso sem você — pediu Liam.

E não era preciso muito mais, Zayn se odiava por tal defeito, ele simplesmente não conseguia dizer não aos pedidos de Liam.

— Que horas você passa aqui? — Zayn cedeu com um suspiro.

— Às sete da noite, te mando uma mensagem quando chegar, até mais — o castanho despediu-se, desligando.

Zayn deixou seu corpo cair contra o colchão macio de sua cama e fechou seus olhos, puxando uma longa lufada de ar e deixando sua mente vagar.

— O que eu estou fazendo? — foi um sussurro quase inaudível para si mesmo.

Tudo aquilo parecia surreal demais, Zayn nem ao menos acreditava que havia feito toda aquela loucura, mas a carta, que comprovava sua admissão em Harvard, ainda estava em sua mão esquerda, então era um material físico de que sua loucura havia passado de todos os limites.

Direito? Harvard? Onde ele estava com a cabeça ao pensar nesta escolha?

Era esse o debate interno pelo qual a mente do moreno passava, mas ele sabia exatamente a resposta para aquelas perguntas.

Era por Liam. Se fazer faculdade de Direito o fizesse permanecer junto do amigo, era o que Zayn faria, até que pudesse ter coragem de revelar ou Liam finalmente perceber os verdadeiros sentimentos de Zayn por ele.

Lembrou-se de como havia conhecido Liam, quando passou a estudar em uma escola particular aos catorze anos, graças a uma promoção recebida por seu pai no trabalho, isso rendeu a possibilidade de dar ao único filho uma melhora em seus estudos. A química entre Liam e Zayn foi instantânea, pois o moreno havia pensado no quão terrível seria ser um aluno novo que não podia se dar ao luxo de ter um carro esportivo, cartões de crédito ilimitado ou esbanjar com mimos caríssimos, mas Liam se mostrou ser diferente de tudo que imaginou, ele era rico, mas não um esnobe de nariz arrebitado.

Talvez tenha sido a gentileza de Liam, seu charme ou até mesmo o modo como seus olhos ganhavam ruguinhas quando sorria abertamente, um pouco de tudo isso resultou no fato de que Zayn acabou se apaixonando por seu melhor amigo e não poderia se encontrar em problema maior que esse.

Então, quando Liam contou seus planos sobre Harvard, Zayn os ouviu atentamente, prestando ainda mais atenção na seguinte frase dita pelo castanho: "Seria ótimo ter você lá comigo", foram estas palavras que provocaram a perdição de Zayn. Ele havia desejado uma faculdade de Artes, mas, por Liam, ele poderia colocar sua opção em segundo plano, foi assim que

começou a estudar ainda mais e dar tudo de si durante dois anos para ter sua candidatura admitida. Agora que havia sido aceito, seu peito lhe apertava sobre o que fazer a seguir, não poderia continuar assim para sempre, ele estava decidido a contar para Liam em algum momento sobre seus sentimentos.

— Querido, você está bem? — sua mãe perguntou, dando leves batidas na porta do quarto.

— Eu estou, mãe. Pode entrar.

Trisha abriu a porta de forma lenta e colocou somente sua cabeça para o lado de dentro, visualizando se estava tudo realmente bem, antes de entrar totalmente no quarto.

— Seu pai disse que você chegou em casa e subiu correndo. — Trisha comentou se aproximando.

Quando a mãe se sentou ao seu lado, Zayn agarrou a mão dela e apertou, como se buscasse coragem.

— Acho que vamos ter de conversar sobre minha mudança para os Estados Unidos — Zayn disse tudo de uma vez, sem pausa.

— Zayn! Você está falando sério? Você entrou? Você conseguiu, filho? — Trisha perguntou com os olhos já marejados.

— Eu serei um calouro em Harvard em agosto — Zayn deu um meio sorriso.

— Que orgulho do meu bebê. — Trisha agarrou Zayn em um abraço apertado, antes do filho lhe mostrar a carta de admissão, que foi pega por ela. — Seu pai precisa ver isso. Yaser, nosso filho vai para Harvard!

Zayn observou sua mãe sair do quarto e balançou a cabeça, sorrindo com a atitude. Sabia que havia deixado seus pais orgulhosos por ter sido selecionado, mas agora começava a pensar nos gastos, ainda que tivesse ganhado a bolsa de estudos completa, sabia que ainda havia as despesas da mudança para outro país e a vida universitária. Ele estava entrando na faculdade, saindo da casa dos pais e continuaria a causar dívidas para eles, mas, ao descer as escadas e assistir seus pais sorrindo ao admirarem a carta de admissão, Zayn soube que ambos gastariam todo o dinheiro que pudessem se fosse para ele estar na faculdade.

Seu peito se encheu de carinho por seus pais, mas um lado de sua mente lhe considerou injusto: ele estava trazendo dívida aos pais por seu amor não correspondido em Liam, prometendo que daria tudo de si para não desperdiçar o esforço de seus pais. Zayn foi até eles, e Yaser lhe deu um abraço de urso, não se esquecendo de dizer o quanto estava orgulhoso de seu filho por ter entrado em Harvard.

Zayn se esforçou para sorrir e se demonstrar animado para seus pais, então logo usou a desculpa de que iria sair para comemorar com Liam, e os pais permitiram que subisse para se arrumar.

Olhando para o relógio, Zayn se surpreendeu com o quanto estava tarde e teve de se apressar para estar pronto quando Liam chegasse.

Com uma pontualidade digna de se questionar, sete em ponto, Zayn recebeu uma mensagem em seu celular com o amigo lhe avisando que já esperava por ele. Dando uma última olhada em sua aparência no espelho, considerou-se pronto para ir e agarrando seu celular, saiu de seu quarto e desceu as escadas.

— Liam chegou — sua mãe avisou assim que entrou na sala.

— Sim, ele me enviou mensagem, estou indo — o moreno deu um beijo na testa de sua mãe e seguiu ao hall de entrada.

Pegou suas chaves reservas, já que era costume de seus pais dormirem cedo e Zayn acabava ficando trancado para o lado de fora caso esquecesse suas chaves. Saindo de casa, visualizou Liam batucando no volante de seu carro. O Audi R8 era a paixão de Liam, ele cuidava melhor do carro do que de si mesmo e havia o ganhado de seus pais em seu aniversário passado.

Zayn olhou para baixo, começando a ter dúvidas se realmente estava bom o suficiente. Ele não sabia ao certo para que tipo de restaurante Liam o levaria, então ficou receoso quanto às suas roupas. Ele usava calças jeans escura, uma camiseta branca e acabou colocando uma jaqueta jeans, dobrando suas mangas até o cotovelo; calçou seus coturnos pretos e pensou estar "ok" para sair, mas agora estava indeciso sobre isso. Suas preocupações foram extintas quando entrou no carro.

— Sinto como se estivesse vestindo saco de batatas, perto de você, cara — Liam falou, e Zayn sorriu diante da maneira estranha de ser elogiado.

— Você não está nada mal também — Zayn disse, quando o outro deu partida no carro.

— Harvard, estamos indo para Harvard!

— Isso ainda parece surreal demais — Zayn murmurou.

— Eu sabia que você conseguiria, não esperava que escolhesse direito, mas você tem talento para qualquer coisa — Liam falou.

Zayn segurou uma resposta na ponta da língua sobre sua escolha de curso. Ele poderia dizer a Liam que fez isso para não se afastar dele, mas quão estúpido isso soaria?

— Direito parece bastante atrativo, eu posso me sair bem no mercado de trabalho e estarei feito pela vida — Zayn forçou um sorriso, esperando que Liam acreditasse nele.

O castanho era muito observador e, por diversas vezes, sabia notar quando Zayn estava mentindo, mas aquele não era um desses momentos, já que Liam deixou passar despercebido.

Eles conversaram um pouco sobre Harvard até alcançarem o destino de sua noite.

— Nada muito chique, hein — Zayn resmungou, quando Liam estacionou o carro.

— O Inamo não é grande coisa, ele é bem reservado e confortável, serve a melhor comida japonesa de Londres — Liam disse, saindo do carro.

— Você me ganhou em comida japonesa.

— Sabia que ia gostar.

Os dois entraram no restaurante e foram conduzidos até a mesa reservada por Liam, o ambiente calmo e de aparência acolhedora agradou Zayn e ele teve de ceder sobre o fato de que Liam havia feito uma boa escolha. Um garçom chegou para atendê-los, e eles fizeram seus pedidos, com Liam se demorando a escolher o saquê.

— Você já contou aos seus pais? — Zayn perguntou, virando-se para Liam.

— Eu liguei para eles, quando recebi minha carta, somente minha mãe atendeu. Ela está muito animada, ficou contente em saber que você também irá para Harvard — Liam respondeu em voz baixa.

— E quanto ao seu pai? — Zayn questionou.

— Ele está muito ocupado em sua campanha de eleição no senado, ele almeja uma posição ainda maior.

— Bem, sua mãe deve ter dito para ele, tenho certeza de que ele está orgulhoso de você — Zayn falou.

— Meu pai não se importa com isso, ele não acredita que eu possa ser bom... como ele é — a voz de Liam falhou.

— Não diga isso, eu sei que você pode.

— Sim, eu sei que sim, vou provar para ele, serei tão bom quanto ele — Liam afirmou confiante.

— É assim que se fala — Zayn apreciou a convicção de Liam.

Os pais do amigo moravam nos Estados Unidos. Geoff Payne, o pai de Liam era um influente senador do partido Democrata, representando o estado de Louisiana no senado. Zayn nunca o conheceu pessoalmente, mas já havia o visto na televisão, e o homem sempre parecia sério e arrogante, do tipo que não tinha tempo livre para gastar com afazeres banais. Zayn só torcia para que ele não considerasse o próprio filho algo que não merecesse sua atenção.

A mãe de Liam, Karen Payne, era um completo oposto da figura paterna, ela poderia representar uma mulher de classe e estar em nível de socialite americana, mas era uma mulher amorosa e que não se impedia de demonstrar o quanto amava o filho e a saudade que sentia dele, Zayn já havia conversado com a mãe de Liam antes, e ela foi muito atenciosa com ele, pedindo-lhe para cuidar de Liam e não deixá-lo se envolver em problemas, o castanho considerou que a mãe queria envergonhá-lo, mas Zayn achou adorável a preocupação de Karen.

Liam havia nascido na Inglaterra, na cidade de Wolverhampton, seu pai era americano e a mãe inglesa. Ele nem havia saído das fraudas quando foi morar nos Estados Unidos e sempre estudou nas melhores escolas que o dinheiro poderia pagar. Quando fez doze anos, foi enviado para a Inglaterra, onde passou a receber ensinos mais rígidos. Como os ingleses eram reconhecidos por seus bons métodos na educação, sua vida era monótona no colégio e, depois ter de ir para casa lidar com um tutor que foi designado por seu pai para cuidar dele ali, ele agradeceu quando conheceu Zayn. Foi somente após isso que Liam realmente passou a ter gosto por sua vida e se esforçar ainda mais pelos estudos.

— Você está animado para voltar aos Estados Unidos? — Zayn perguntou para Liam após o garçom deixar seus pratos e o saquê.

— Bem, eu sinto saudades de lá, saudades da minha mãe e de muitas outras coisas, mas é bom viver na Inglaterra — Liam respondeu, pegando seu hashi. — E você? Está ansioso para ir?

— Eu nunca pensei que fosse me arriscar tanto, mas acho que pode ser o melhor para mim — Zayn falou.

Ele desejou morder sua língua após dizer aquelas palavras, ele queria chorar com o quanto teve de se esforçar somente para transformar sua ficha de candidatura em algo impecável para ser aceito. Qualquer pessoa, que soubesse de tudo o que estava fazendo, lhe consideraria um louco. Ele também duvidava de sua atual sanidade, mas se Zayn fosse louco, era louco por Liam.

— Eu pensava que você escolheria algo que envolvesse artes... Não que eu não esteja feliz de você também estar indo para Harvard.

— Acho que não era para mim. — Zayn disse ao levar um Nigiri à sua boca.

Ele se deliciou com o sabor e não deixou de sentir os olhos de Liam sobre si, ele não estava convencendo-o.

— Seja sincero comigo. — Liam pediu. — Você por acaso aplicou em alguma universidade de artes?

A comida, de repente, não parecia tão saborosa quanto antes na boca de Zayn, mas ele ainda se demorou nela para pensar em algo para responder a Liam.

— Não o fiz. — Zayn respondeu, optando pela sinceridade.

O moreno ergueu seus olhos, que se travaram aos de Liam, foi uma troca de olhares intensa, e Zayn temeu que todos os seus segredos pudessem ser expostos. Ele sempre se sentia desta maneira quando Liam o olhava assim.

— Bom, se você pensa que foi melhor assim, não irei lhe questionar. — Liam deu de ombros, tomando um gole de saquê.

— Eu vou sentir falta daqui. — Zayn confessou.

— Nós dois iremos, mas vou me encarregar de fazê-lo se sentir bem acomodado lá. — Liam prometeu.

— Eu vou cobrar por isso. — Zayn disse, antes de beber seu saquê.

O jantar prosseguiu com ambos conversando e fazendo planos para a nova etapa de suas vidas, que seria em Harvard.

*

— Eu sou Harry Styles, presidente da Gamma Phi Beta, é um prazer estar recebendo você aqui. — o garoto de olhos verdes agarrou a mão de Zayn, cumprimentando-o com um aperto.

Zayn teve de se esforçar para conseguir segurar sua caixa com uma só mão, até que pôde voltar a equilibrá-la com as duas. Ele quase gritou por dentro, desejando voltar para a sua mãe, para sua casa e para a Inglaterra. Dois meses haviam se passado desde que recebeu a carta que lhe informou ter tido sua candidatura aprovada em Harvard e agora ali estava ele, ingressando em uma fraternidade. Por ideia de Liam, o amigo havia tentado lhe convencer a entrar na mesma fraternidade que ele, a Omega Chi Delta, Zayn tinha certeza que nunca seria aprovado para conviver em meios a todos aqueles garotos mimados, então recusou de imediato. Liam o ajudou a procurar por outra fraternidade, após descartar a Kappa Tau Gamma sem pensar duas vezes, dizendo que eles não poderiam estar em fraternidades rivais, a possibilidade final ficou sendo Gamma Phi Beta.

— Olá, eu sou o... — ele tentou se apresentar.

— Zayn Jawadd Malik, veio da Inglaterra, candidatura impecável e é uma grande atribuição para nossa fraternidade. — o garoto de cabelos encaracolados acenou e se virou, subindo as escadas.

Zayn o seguiu de perto, sem saber o que mais fazer.

— Seu quarto já está reservado, terá um colega para dividir com você o espaço, suas malas foram deixadas aqui no começo da manhã. — Harry informou. — Temos regras específicas nesta fraternidade, vamos repassá-las a você, mas o vital é que nunca deve iniciar brigas com outros membros e nem provocar rivalidade com outras fraternidades. Aqui temos um local próspero aos estudiosos e àqueles que querem carreiras bem-sucedidas, também nos orgulhamos pela diversidade em áreas de cursos de nossos membros.

Escutando tudo atentamente, Zayn seguiu Harry pelo terceiro andar até a última porta no fim do corredor. O cacheado a abriu e deu passagem para Zayn entrar. Ele avistou uma cama de solteiro com um criado-mudo próximo, um abajur acima deste, paredes brancas, cortinas pesadas nas janelas e um guarda-roupa, suas malas estavam pousadas ao redor da cama.

— Seu colega se chama Troye Sivan, ele é australiano, cursa fotografia, estará aqui em breve e pode questioná-lo sobre qualquer possível dúvida, assim como me procurar — Harry ajeitou os óculos no rosto.

— Obrigado, eu irei me lembrar. — Zayn disse, pousando sua caixa na cama.

— A Omega e a Kappa estarão realizando festas esta noite, a Omega tem uma lista de convidadados bem seletiva de acordo com as fraternidades, mas a Kappa está pronta para receber qualquer um que queira participar, nós não realizamos tais eventos, mas, se desejar participar destas festas, procure não arranjar problema. — o cacheado avisou.

— Estou bem aqui, sem festas para mim.

— Vou deixar você se acomodar sozinho — Harry falou e deu um aceno, saindo do quarto, fechando a porta.

Zayn suspirou, olhando ao redor e vendo o guarda-roupa. Teria muito que fazer ali. Ele arrancou os tênis, querendo o mais apressadamente ter seus pés livres descansados no piso gélido e tirou a jaqueta, ficando com sua camiseta dos Minnions e a calça jeans.

Abriu suas malas e começou a organizar parte de suas roupas nas gavetas do guarda-roupa. Estava ocupado com este afazer quando a porta de seu quarto foi aberta.

— Moreno? Bonito? Deixe-me adivinhar. Você é o Zayn? — um garoto de cabelos castanhos entrou sorridente.

— Este sou eu. Você é meu colega de quarto? — Zayn perguntou.

— Sou Troye Sivan, é um prazer conhecê-lo. — o garoto disse animado e se sentou em sua cama. — Então, onde foi que arranjou o bonitinho?

— Perdão? — Zayn encarou confuso o colega.

— Bem, eu me questionei rapidamente, havia um garoto no lado de fora, procurando por um Zayn, este era o nome do meu colega de quarto, então eu decidi ajudá-lo, ele é uma graça. — Troye falou. — Só ainda não entendi o porquê dele não ter entrado no quarto.

Os olhos de Zayn se voltaram para a porta como um chicote, ao ver Liam entrar e fechar a porta atrás de si, ele lhe deu um sorriso e coçou a nuca parecendo nervoso.

— Eu terminei de arrumar minhas coisas e pensei que você iria querer ajuda aqui. — Liam murmurou.

Zayn sorriu pela atitude de Liam e acenou agradecido, deixando que o amigo passasse a lhe ajudar a desempacotar e arrumar tudo.

— Então, Liam, há quanto tempo você e Zayn namoram? — Troye perguntou esticado em sua cama com as mãos sustentando o queixo.

Os outros congelaram no mesmo instante, olhando perplexos para o garoto de olhos azuis. Zayn tinha seu coração palpitante pela insinuação da pergunta, era algo que desejava e não podia ter. Liam estava surpreso, ele nunca esperou por tal suposição.

— Nós não namoramos. — Liam disse para Troye.

— Que pecado, vocês dariam um ótimo casal.

Este foi o momento em que Zayn engasgou e teve um acesso de tosse enquanto ficava vermelho pela falta de ar e Liam tentava lhe ajudar.

— Eu sou hétero. — Liam falou quando Zayn voltou a ficar bem.

— Jura? É uma pena. — Troye fez um pequeno bico com os lábios, mas voltou a sorrir imediatamente. — E quanto a você, Zayn?

— Ele também é hétero. — Liam respondeu pelo amigo.

— Interessante, dois héteros bonitinhos que mais parecem um casal, vai ser bom sermos amigos. — Troye se virou, ficando de cabeça para baixo e encarando Zayn e Liam assim.

Os dois franziram o cenho para ele, antes de voltarem ao que faziam e levaram mais algum tempo até terminarem de organizar todas as coisas de Zayn.

— Obrigada pela ajuda, Liam. — o moreno agradeceu.

— Sem problemas. Eu queria saber o que fará esta noite?

— Tudo que eu planejava era arrumar minhas coisas, um longo banho e cama — Zayn contou.

— Cogitaria ir a uma festa na minha fraternidade? — Liam arriscou.

— Festa com muitos esnobes? — Zayn perguntou. — Me desculpe Liam, você é minha única exceção para pessoas de nariz arrebitado, eu não posso lidar com uma fraternidade inteira assim.

— Eu não sou esnobe — Liam se defendeu ofendido.

— Mas o resto de sua casa de fraternidade é. — Zayn deu de ombros.

— Fique tranquilo, bonito, eu vou cuidar do Zayn, nós vamos à festa da Kappa, eles sim sabem como dar uma festa. — Troye se ergueu na cama feliz.

— A Kappa não. — Liam balançou a cabeça, não gostando da ideia.

— A rivalidade boba é entre vocês, Zayn é da Gamma Phi Beta, temos liberdade de escolha.

— Uma festa na Kappa? — Zayn perguntou interessado.

— Sim, começa às nove, temos tempo de sobra — Troye disse tranquilamente. — Você pode vir, senhor Omega, se quiser.

— Não acho que seja uma boa ideia. — Liam recusou.

— Você que sabe. — Troye caminhou até Zayn. — Eu vou sair agora, volto em breve, esteja pronto e te levarei para uma das melhores festas de todas.

O moreno não teve chance de responder, já que o colega saiu como um foguete do quarto enquanto cantarolava.

— Você vai mesmo nisso? — Liam perguntou, sentando-se na cama de Zayn.

— É só uma festa, Lee.

— Uma festa na Kappa Tau Gamma — o amigo frisou.

— E o que tem de mais? — Zayn arqueou a sobrancelha. — Eu não vou ficar bêbado, só quero relaxar um pouco.

Liam agarrou um cachorrinho de pelúcia na cama que ele havia dado de presente para Zayn e o apertou em seus braços, ficando pensativo.

— Tudo bem, se quer desta maneira. — Liam disse após algum tempo. — Vejo você depois.

Ele se levantou e deu um aceno para Zayn, saindo do quarto e deixando o moreno confuso atrás de si.

— Qual o problema dele? — Zayn perguntou a si mesmo.

— O que há entre vocês? — Troye quis saber, entrando novamente no quarto.

— Você não ia sair? — Zayn rebateu.

— Eu quis deixar vocês conversarem, parecem ser bem reservados para os outros e se sentem mais confortáveis estando somente os dois. — Troye falou. — Então, ele sempre pensou que você fosse hétero? Você não me parece ser um bom ator, e ele é um jovem bastante atraente para se resistir, deve-se fazer um grande esforço.

— Por que você acha que eu vou te dizer algo? — Zayn perguntou, cruzando os braços.

— Porque eu serei seu colega de quarto durante um ano todo. — Troye sorriu ao dizer seu argumento.

Zayn lhe lançou um olhar fulminante antes de dar um suspiro e se sentar em sua cama, agarrando a mesma pelúcia que Liam havia segurado pouco antes.

— Eu nunca consegui contar para ele, temi que se afastasse de mim. — Zayn confessou em voz baixa.

— Qual a história dos dois? — Troye perguntou curioso.

— Ele é filho de um senador americano, estudou os últimos anos na Inglaterra, me conheceu, me tem como seu melhor amigo e eu fiz a loucura de me candidatar a Harvard para não perdê-lo. — Zayn resumiu.

— Você fez o quê? — os olhos azuis de Troye se arregalaram.

— Vim para Harvard, porque Liam estaria aqui. — Zayn mumurou.

O silêncio do outro fez com que Zayn o encarasse nervoso, esperando que ele fosse dizer algo.

— Não é todo dia que se houve sobre isso, eu sempre posso me surpreender com os humanos.

— Foi algo impensado, eu não imaginei que seria aceito. — Zayn mordeu com força seu próprio lábio.

— Você planeja contar a ele em algum momento? — Troye questionou.

— Antes das férias no verão. — o moreno respondeu.

— Isso é daqui quase um ano. — o colega bufou.

— Eu preciso de um tempo, isso pode fazer com que eu o perca em definitivo.

— Tudo ao seu tempo, sempre com calma, siga em frente então, mais tarde temos uma grande festa para ir. — Troye sorriu para ele, antes de sair do quarto.

Zayn se deixou cair na cama, estava tendo emoções demais para um só dia, dormir parecia a melhor escolha no momento e isso foi o que ele fez: adormeceu pacificamente, deixando de lado toda a preocupação com sua nova vida universitária, gostando de entrar nos devaneios de como seria estar junto de Liam como tanto desejava.

Algumas horas se passaram até que Zayn sentiu-se ser atacado com força por um travesseiro. Ele acordou desesperado para ver Troye parado ao lado de sua cama.

— Você é louco? — Zayn perguntou ofegante.

— Vá se arrumar, a festa já começou. — Troye se virou e foi para o seu lado do quarto.

— Eu desisto da ideia, não quero mais ir em festa. — Zayn disse, enrolando-se no edredom.

— Te dou cinco segundos para estar fora desta cama ou te arrasto para o chão.

Zayn semicerrou seus olhos, encarando Troye e grunhiu.

— Você me conhece há algumas horas. De onde está tirando toda essa intimidade? — Zayn perguntou.

— Sou seu colega de quarto, poderia ser íntimo o bastante até para te matar dormindo. — Troye disse com um sorriso.

No instante seguinte, Zayn estava se firmando sobre seus pés e se espreguiçando, tentando espantar os últimos vestígios de sono em seu corpo.

— Eu vou me arrumar. — o moreno murmurou.

— Que bom que nos entendemos. — o colega de olhos azuis falou radiante.

Zayn lhe enviou um olhar sombrio, mas não teve efeito nenhum sobre Troye, então acabou desistindo e indo tomar banho. Agradeceu, naquele momento, por ter sido aceito em uma fraternidade, cada quarto possuía um banheiro e isso era uma dádiva em comparação aos banheiros compartilhados dos dormitórios.

Quando Zayn terminou de se arrumar, ele usava uma calça jeans justa, uma camisa branca de mangas com gola em V e uma camisa xadrez vermelha. Calçou um par de tênis e tentou ajeitar os cabelos, deixando de lado seus óculos de grau. Ele nunca arriscaria seus fiéis companheiros de estudo em uma festa turbulenta, não era míope ou coisa do tipo, mas precisava usar os óculos para ler, caso contrário suas vistas podiam ficar doloridas.

Um assobio chamou a atenção de Zayn, e ele se virou para olhar Troye, que lhe encarou de cima a baixo.

— Querido, por que você tenta se esconder atrás de moletons? É gostoso por natureza e tenta se renegar, nunca entenderia tal coisa. — Troye balançou a cabeça contrariado.

Zayn corou com as palavras do colega de quarto e puxou a camisa xadrez para esconder mais de si.

— Eu não quero ser bonito — Zayn murmurou.

— Desculpe contrariar seu mundinho depressivo, sua genética tornou impossível teu querer. — Troye riu, estapeando as mãos de Zayn para longe. — Pare com isso, dobre as mangas da camisa, dobre a gola também e o cabelo bagunçado.

— Mas fica caindo nos meus olhos. — o moreno reclamou, como uma criança.

— É um sacríficio para deixá-lo ainda mais sexy. Se quer tanto conquistar o Liam, é só investir em si mesmo dessa forma que ele vai estar de quatro por você logo — Troye afirmou.

— Tenho vênus em peixes, a vida me quis trouxa.

— Olha que bonitinho, ele dá importância para a astrologia. — o garoto de madeixas castanhas apertou as bochechas de Zayn até este reclamar.

— Você está pronto? — Zayn perguntou, esfregando suas bochechas doloridas.

— Eu nasci pronto. — Troye deu uma piscadela para Zayn e agarrou sua jaqueta jeans na cama. — Vamos lá.

— Eu espero que essa festa realmente faça valer a pena ter que aguentar você. — Zayn grunhiu, seguindo o colega.

— É para eu fingir que estou ofendido? — Troye perguntou divertido.

— Cale a boca e me mostre o caminho. — Zayn revirou os olhos e empurrou o outro.

Eles caminharam pelo corredor e desceram as escadas até o primeiro andar da casa de fraternidade. O lugar estava silencioso, com apenas dois ou três alunos lendo na sala de estar, pelo que Zayn pôde notar, suas cabeças abaixadas e suas concentrações todas voltadas para a leitura dos livros ao invés de reparar nele e em Troye deixando a casa.

— Harry não irá dizer nada? — Zayn perguntou em um sussurro.

— O presidente é um amorzinho, ele só tenta passar uma imagem mais séria aos novatos, mas é bem descontraído no geral e gay assumido. — Troye contou para o moreno.

— Todo mundo aqui é gay? — Zayn arqueou a sobrancelha com mais uma surpresa.

— Claro que não, imbecil. Aqui é Harvard, um dos lugares onde forma idiotas conservadores que, infelizmente, vão carregar o nome da universidade, ao espalharem blasfêmias como ser contra o casamento gay ou a igualdade socioecônomica e lutar pelos valores de uma família tradicional. — Troye franziu o nariz.

Zayn apertou seus lábios, não sabendo o que dizer sobre as palavras do de olhos azuis, mas quem acabou tomando a fala foi Troye novamente:

— Mas, por outras partes, os alunos gays ainda que possam enfrentar certa discriminação por aqui, vieram conseguindo cada vez mais destaque em nível acadêmico, Harry é um bom exemplo, ele é um estudante de ouro.

— Ele namora? — Zayn perguntou e quase foi ao chão ao tropeçar em uma elevação da calçada, mas Troye o segurou.

— Isso é segredo de estado, ninguém sabe, mas vários fazem suas teorias, mas, caso ele esteja solteiro, eu vi primeiro.

— Não, eu não... Argh, você entendeu. — o moreno bufou.

— Sim, eu sei, você tem o... Liam! — Troye disse espantado.

Zayn se virou e seus olhos se arregalaram ao se deparar com Liam, logo à frente deles. Ele estava com as mãos nos bolsos da calça jeans escura e

remexendo os pés calçados com tênis pretos e com uma camiseta de mangas curtas com o símbolo de sua fraternidade.

— O que faz aqui? — Zayn perguntou surpreso, aproximando-se do amigo.

— A festa na Omega não estava tão animada sem você lá. — Liam deu de ombros.

Zayn sabia que estava sorrindo de maneira boba, então tentou se conter.

— Vamos, então. — Zayn gesticulou para a mansão toda iluminada com música alta e muita gente chegando por todos os lados, copos de bebidas já se espalhavam pela grama.

— Parado aí! — Troye disse, entrando na frente de Liam.

— O que foi? — ele questionou confuso.

— Como você consegue se aprontar para ser barrado em uma festa em que ninguém deveria ser barrado?

— O quê? — Zayn e Liam perguntaram em uníssono.

— A camiseta da Omega. A Kappa Tau Gamma aceita de tudo, menos acessórios que identifiquem você como sendo da fraternidade rival — Troye explicou.

— Eles realmente levam essa rivalidade à sério? — Zayn tinha a voz repleta por descrença.

— Você nem imagina o quanto — foi Liam quem respondeu.

— Então o Liam não entra?

— Claro que entra, só precisamos nos livrar desta camiseta dele. — Troye deu um sorriso carregado em malícia.

— E eu vou vestir o quê? — Liam franziu o cenho.

— Zayn, dá a sua camisa para ele. — Troye apontou.

O moreno ficou meio perdido para ouvir realmente o que Troye dizia, já que Liam tirou a camisa naquele exato momento, então Zayn só voltou a si quando Troye lhe empurrou e arrancou sua camisa xadrez. O colega de quarto de Zayn pegou a camisa da fraternidade de Liam e jogou atrás de um arbusto.

— Ela não pode ficar aí. — Liam reclamou.

— Prefere entrar segurando ela lá dentro? — Troye perguntou, apontando para a casa.

Liam se calou, e Troye sorriu vencedor, enquanto arrastava Zayn e Liam para dentro da casa. A atmosfera do lugar era carregada, o som parecia atingir cada um dos cômodos sem hesitação, as pessoas bebendo, dançando suadas em uma pista de dança improvisada no meio da sala ou sobre algum móvel, como no caso de duas garotas que estavam dançando sobre uma mesa com os corpos colados um no da outra. Havia uma grande gritaria ao redor de uma mesa de sinuca, onde apostas estavam sendo feitas e. mais a fundo, uma mesa de pôquer com alguns garotos e garotas já despidos de algumas peças de roupas.

— Venham, irei pegar bebidas para vocês. — Troye gritou para eles, tentando ser ouvido acima da música alta.

Zayn viu uma porta de vidro aberta que dava para os fundos, o lugar estava iluminado e tinha uma grande piscina com muita gente ao redor e outros dentro da água. Eles foram para a cozinha, e o local tinha o balcão com uma variedade espetacular de garrafas de bebidas. Havia algumas pessoas paradas ali, sentadas no balcão e outro grande fluxo de entrada e saída para que tivessem seus copos reabastecidos. Troye pegou três copos de plástico vermelho e passou a olhar os litros, procurando por algo específico.

— Olá, você é novo aqui? — uma voz grave perguntou ao lado de Zayn, assustando-o um pouco.

Ele se virou para ver um grande cara moreno musculoso, com o cabelo cortado em estilo militar e com grandes olhos verdes, usava uma calça jeans e uma camiseta preta que ficava colada em seus músculos, Zayn não tinha dúvidas de que este era um atleta, mas ele parecia meio deslocado para pertencer à Kappa, não que já fosse conhecedor dos membros da fraternidade.

— Cai fora, Jax. Ele não é para o seu bico. — Troye apareceu ao lado de Zayn, empurrando-lhe um copo de bebida e o puxando para longe do cara musculoso.

— Não guarde toda a diversão para você, docinho. — o tal Jax gritou para Troye.

— Vá caçar outro alguém para foder. — o colega de Zayn devolveu como resposta.

— Quem era aquele? — Liam perguntou para Troye, dando um gole em sua bebida.

— Jax é quarteback do time de futebol da universidade. Um imbecil por completo, fode qualquer coisa sobre duas pernas — Troye disse aos dois quando os levou para fora da casa.

Para a surpresa de Zayn, ali do lado de fora a música estava ainda mais ensurdecedora, os gritos e barulhos de água se misturavam a isso e faziam um lugar completamente delirante. Zayn sorriu para toda a bagunça e tomou um gole de sua bebida, engasgando no instante seguinte ao que o líquido desceu, queimando por sua garganta.

— O que é isso? — ele questionou encarando seu copo.

— Minha especialidade ainda sem nome, uma mistura de rum branco, curaçau blue e vodca com um toque de limão e menta — Troye respondeu.

— É bom. — Liam elogiou.

Zayn assistiu o amigo terminar o restante de sua bebida em um único gole. Ele suspirou ao sorriso bobo que Liam lhe deu.

Alguém estava afim de ficar embriagado naquela festa, e este definitivamente não era Zayn.

— Dança comigo. — Troye chamou, puxando Zayn pela mão quando Liam foi para a cozinha.

— Eu não danço. — Zayn negou, tentando se soltar.

— Troye. — uma garota de cabelos curtos e azuis gritou pelo garoto arrastando Zayn.

— Halsey. — Troye deixou de insistir em puxar o moreno para que pudesse abraçar a amiga.

E aproveitando esta oportunidade, Zayn escapou para longe deles, não querendo que houvesse uma nova tentativa de fazê-lo dançar. Ele não sabia dançar e não fazia questão de aprender tal coisa.

Voltando para a cozinha, Zayn se deparou com Liam ali, agora ele estava rodeado de outros jovens e algumas garotas com sorrisos maliciosos e os cabelos sendo enrolados nos dedos enquanto seus braços apertavam seus lados e faziam seus peitos parecerem maiores. Era engraçado Zayn ser capaz de notar o que muitas garotas se obrigavam a passar somente para conseguirem atenção dos rapazes.

O moreno cruzou os braços e revirou os olhos quando Liam virou um shot de tequila e bateu-o no balcão, arrancando gritos que o incentivavam a beber mais. Zayn apertou seus olhos quando viu uma loira se aproximar de Liam.

— Ela é nojenta. — uma garota disse parando ao lado de Zayn, seu olhar fixo na loira que estava com Liam.

— Sabe quem é ela? — Zayn tentou soar desinteressado.

— Você é novato aqui? — a morena perguntou finalmente, virando-se para Zayn.

A garota era da mesma altura que Zayn, tinha os olhos pretos que eram realçados pelo delineador e pela maquiagem esfumaçada, os lábios cheios pintados com um batom preto. Ela tinha longos cabelos pretos ondulados e estava usando uma blusa de mangas longas, que deixava seus ombros nus. Dali Zayn podia visualizar longas linhas negras de tatuagens saindo da linha de sua clavícula e se ladeando em seus ombros, parecia uma tatuagem grande e bem complexa, então ele imaginou que a garota desconhecida deveria apreciá-las; vestia uma calça jeans justa e um par de coturnos pretos.

— Fica tão evidente assim? — Zayn arqueou a sobrancelha.

— Somente novatos não conhecem a piranha-mor. — a garota deu de ombros.

— Ela é tão terrível assim?

— Uma das piores, é líder de uma das duas maiores fraternidades femininas do campus, a Zeta Beta Zeta, sua presidente é America Robinson.

— Você parece não gostar dela. — Zayn fez a observação, olhando para a garota ao seu lado.

— A vadia é minha meia-irmã, que dormiu com o meu namorado na minha cama. Nosso relacionamento sempre será um mar de rosas. Sou Harmony, só para constar, não deixe meu nome de patricinha influenciar qualquer merda que pense sobre mim — ela pediu a Zayn.

Ele deu um sorriso culpado, não sabendo o que dizer para consolar a situação pela qual a garota havia enfrentado, Zayn nunca tinha passado por nada do gênero, mas imaginava o quão terrível deveria ser ter que dividir o mesmo teto que uma pessoa que se odiava.

— Eu sou Zayn. — o moreno fez sua apresentação para Harmony.

— É um prazer conhecê-lo, agora poderia levar sua paquera para bem longe daquela imbecil? Eu detestaria vê-la conseguindo mais uma presa.

— Não sei como tirá-lo de lá — Zayn suspirou resignado.

— A festa já rendeu para ele, acho melhor levá-lo de volta ao dormitório. — Harmony orientou e um estrondo fez Zayn se assustar.

Ele se virou para ver se estava tudo bem com Liam, mas o amigo estava caído no chão, em meio de cacos de garrafas de bebidas e xingando com a voz embriagada.

— Me ajude a tirá-lo dali. — Zayn pediu para Harmony, quando se aproximou de Liam.

Os dois agarram e deram apoio para Liam quando ele tentou se erguer com suas próprias forças, mas falhou miseravelmente.

— Eu ia levá-lo ao dormitório dele. — a loira, que Zayn havia sido informado se chamar America, falou com um grunhido.

— Você pode fazer um esforço e achar no campus alguém que ainda não tenha transado. — foi Harmony quem respondeu em tom rude.

Todos que estavam ao redor começaram a rir da garota loira, que se virou e saiu irritada da cozinha.

— Zayn... — Liam balbucionou, quando o moreno lhe fez apoiar em si.

— Fique quieto, não acredito que você conseguiu ficar bêbado tão rápido. — Zayn grunhiu bravo.

— Ei, espere aí. — uma voz masculina chamou atrás dele.

Zayn e Harmony se viraram com Liam apoiado no meio dos dois, quando um rapaz ruivo se aproximou deles.

— Christian? — Harmony parecia conhecer o garoto.

— O amigo de vocês — o ruivo indicou Liam enquanto balançou um maço de notas em mãos — era um desafio pelo início das aulas, cada shot virado garantia cinquenta dólares, ele virou os vinte.

— Seu estúpido, entrar em coma alcoólico não é maneira de se começar. — Zayn censurou Liam, que soltou nada mais que sons incoerentes.

Zayn agarrou o maço de notas. Liam havia faturado mil dólares, logo no primeiro dia ali, e isso era algo grande, porém estúpido ao ver como ficou o resultado disto.

— Veja pelo lado bom, ele deve ter esvaziado as carteiras do time de futebol inteiro. — Harmony zombou.

— Então, eles sempre dão festas assim? — Zayn perguntou para a morena.

— Eles são a fraternidade mais festeira do campus. Quando surge vontade, eles fazem as festas, inclusive durante as semanas de aula. — Harmony respondeu quando eles saíram da casa.

— E quanto às outras fraternidades? — Zayn perguntou curioso.

— A Omega só dá festas exclusivas, eles selecionam você, a Zeta Beta Zeta é parceira deles, mas muitas garotas, como a própria presidente, às vezes aparecem nas festas da Kappa, e a Gamma não oferece nenhuma festa, eles são bastante estudiosos. — a morena explicou de modo paciente.

Zayn ditou o caminho de volta à sua casa de fraternidade. Não sabia se conseguiria levar Liam para a sua própria fraternidade, então escolheu a opção mais fácil, poderia arranjar uma cama no chão para ele.

— E qual fraternidade é a sua? — Zayn perguntou.

— Eu era das Barbies, a ZBZ, até que minha meia-irmã decidiu mostrar o quão fraternal poderia ser com meu namorado, agora eu estou nos dormitórios, sou aluna do terceiro ano de Ciências Políticas.

— Parece ser um bom curso, eu me sinto aventurando às cegas por Direito — Zayn murmurou.

— Não era o que desejava fazer? — Harmony perguntou.

— É complicada toda a situação, agi por impulsividade.

— Ser impulsivo lhe fez entrar na Harvard Law School, uma das melhores faculdades de direito do mundo, use bem este fato — a garota aconselhou.

Zayn lhe deu um sorriso agradecido e eles seguiram o caminho em silêncio, com Liam sendo carregado entre eles, dando passos desequilibrados.

— Vocês são da Gamma? — Harmony questionou quando chegaram diante da casa de fraternidade ao qual o moreno pertencia.

— Eu sou, ele é da Omega. — Zayn abriu a porta da frente e eles levaram Liam para dentro.

— Um Omega em uma festa da Kappa, isso é difícil de ver.

— Tudo aqui tem de seguir rótulos? — Zayn perguntou frustrado.

— A elite decidiu que é o modo mais fácil de não se misturar com qualquer um. — Harmony deu de ombros.

Eles tentaram não fazer barulho nas escadas, e Zayn guiou o caminho até chegar a seu quarto. Ele já imaginava que Troye não estaria ali, então não houve surpresa quando entraram no quarto vazio. Zayn acendeu as luzes e, com a ajuda de Harmony, eles deixaram Liam em sua cama.

— Obrigado pela ajuda. — Zayn agradeceu em voz baixa.

— Sem problemas, nos vemos por aí. — Harmony deu um aceno e fechou a porta quando saiu.

Zayn se livrou dos seus tênis e andou até Liam, erguendo-o de sua posição deitada. Ele gemeu inquieto e sua cabeça pendeu para frente.

— Liam, você tem que tomar um banho, está fedendo a bebida.

— Não... quero — o castanho balbuciou.

A atenção de Zayn desceu para as mãos de Liam e ele se assustou ao ver os cortes e o sangue ali. Foi quando se lembrou do barulho e da queda de Liam na cozinha, ele deveria ter se machucado naquele momento. Suspirando audivelmente, Zayn deitou Liam novamente e saiu à procura de algum kit de primeiros-socorros, tendo sucesso em encontrar um nos armários embaixo da pia do banheiro.

Voltando para Liam, Zayn sentou na cama, deixando o amigo deitado e começou a limpar o sangue dos cortes. Gemidos doloridos saíam dos lábios de Liam, e seus olhos se abriram para focar no teto.

— Por que você não me ama, Zayn? — Liam perguntou de repente e o moreno, assustado, acabou apertando suas mãos machucadas.

— O quê?

— Eu sempre tentei que você me notasse, eu fiz tudo errado? Ou você sempre me quis como amigo? Porque eu nunca quis ser somente isso — Liam terminou suas palavras com um soluço e Zayn viu finalmente as lágrimas.

Seu coração se apertou em seu peito e sua mente nublou, ele não sabia o que fazer, não esperava nunca ouvir tais palavras de Liam. Respirou fundo, tentando se concentrar no que fazia e fez os curativos nas mãos do amigo.

— Zayn... — Liam choramingou.

Não foi algo premeditado, era tudo por impulso, mas o moreno nunca poderia negar que não queria, então, desta maneira, ele fez seus lábios descerem sobre os de Liam, selando-os em um toque suave e dali iniciando um beijo calmo e delicado. Os braços de Liam se envolveram ao redor do pescoço de Zayn, os lábios do castanho se abriram, dando passagem para que o outro aprofundasse o beijo e foi isso que Zayn fez. Não tendo mais limitações que o impedissem, ele beijou Liam como sempre quis fazer, os lábios em um movimento compassado enquanto suas línguas se tocavam em uma dança sensual nunca vista. Era o primeiro beijo de ambos os jovens, que carregavam um sentimento oculto e irrefreável por tanto tempo, agora finalmente sendo demonstrados.

Quando eles se separaram, Zayn encostou sua testa à de Liam e suspirou de olhos fechados com um sorriso em seus lábios. Tudo que desejava vindo para

Harvard, agora estava ali junto dele, naquela cama e ele não podia deixar de se sentir mais feliz.

— Eu não quero tomar banho — Liam murmurou, ainda sem soltar seus braços do pescoço de Zayn.

— Tudo bem, mas deixe-me pegar um moletom para você.

— Você vai voltar? — Liam perguntou hesitante.

— Eu só vou até o meu guarda-roupa, não sairei da sua linha de visão. — Zayn lhe respondeu.

Quando Liam o soltou, Zayn se afastou pensativo. Parte de sua mente querendo saber o motivo de não ter embriagado o amigo antes, tudo teria sido mais fácil. Os dedos de Zayn foram aos seus lábios e os tocou vagarosamente, querendo ter certeza de que tudo aquilo era real e não apenas um sonho. Um barulho vindo atrás de Zayn o deixou alarmado e ele se virou assustado.

Liam estava de pé, ou melhor, tentava se equilibrar em pé e empurrava suas calças jeans para baixo de seus joelhos, tentando tirá-las.

— O que está fazendo? — Zayn perguntou surpreso.

— Eu não durmo de calças. — Liam disse com a voz abafada.

Ele caiu sentado no chão, mas conseguiu empurrar a calça para longe de si. Zayn se moveu para ajudar a levantá-lo e o colocar na cama novamente e se assustou quando as mãos de Liam foram para suas calças.

— Você não... — Zayn começou, mas Liam o beliscou. — Ai!

— Não pode dormir de calça jeans.

— Eu não durmo, mas me deixe tirá-las. — Zayn pediu com a voz em pânico.

As mãos de Liam caíram sem ação em seu colo, e ele começou a balançar seus pés, encarando-os fixamente. Zayn voltou ao guarda-roupa, tirando sua camiseta e a calça jeans, substituindo-a por uma calça de moletom e pegou outra calça e uma camiseta de mangas para Liam.

— Aqui estão — ele estendeu as peças para Liam.

O castanho não deu atenção à calça, pegando a camiseta e colocando-a antes de entrar embaixo dos cobertores na cama.

— Liam, a calça — Zayn lembrou, balançando a peça no ar.

— Eu não durmo de calças. — Liam voltou a repetir.

Zayn deixou passar, não ia começar a discutir. Caminhou para o banheiro, indo escovar os dentes, ele estava enxaguando sua boca quando Liam entrou ali.

— Quer escovar os dentes? Eu devo ter uma escova reserva aqui embaixo. — Zayn ofereceu e Liam acenou aceitando.

O moreno se abaixou para pegar a escova nova e entregar para Liam.

— Nós vamos dormir juntos? — Liam perguntou em um sussurro.

— Eu ia fazer uma cama no chão, poderia dormir nela caso você quisesse a cama. — Zayn respondeu.

— Por que não podemos dormir juntos?

O moreno aproveitou que Liam havia começado a escovar os dentes para pensar em motivos para recusar.

— Porque somos amigos, porque somos dois homens. — Zayn citou.

— Nós dormíamos juntos, quando você ia para a minha casa, éramos amigos e sempre fomos homens. — o castanho rebateu, após enxaguar a boca.

— A cama é de solteiro. — Zayn tentou seu último recurso em recusar.

— Eu não me importo. — Liam deu de ombros.

Zayn ficou sem mais nenhuma saída e então acabou concordando. Os dois saíram do banheiro e foram para a cama, que parecia ter ficado ainda menor quando o moreno se deitou ali e logo o corpo de Liam estava colado ao seu.

— Você vai se arrepender disto pela manhã. — Zayn falou.

— Eu estou bêbado, irei esquecer tudo pela manhã. — Liam murmurou e se colou às costas desnudas de Zayn, que estava sem camisa.

Logo Liam estava ressonando atrás do moreno, mas Zayn demorou muito mais tempo para finalmente ser vencido pelo sono. Quando adormeceu, sua mente pensava no que havia feito e o quão grande poderia ser o estrago em sua amizade com Liam após o que aconteceu.

*

Zayn acordou com um barulho abafado vindo do banheiro, e seus olhos se abriram lentamente. Quando se focaram, ele encarou olhos azuis diante de si e gritou, afastando-se assustado.

— Bom dia, flor do dia. — Troye cumprimentou sorridente.

— Qual o seu problema? — Zayn perguntou com a mão sobre o peito.

— Meu colega de quarto é um grande mentiroso, esse é o meu problema. — Troye cruzou os braços.

— O quê?

— Você e o namoradinho estavam dormindo agarrados quando eu cheguei e ainda querem dizer que não estão juntos. — Troye revirou os olhos.

— Cadê o Liam? — Zayn perguntou, ignorando as outras reclamações do colega.

— Está vomitando todos os órgãos dele na privada. — Troye disse, enrugando o nariz.

— Eu sabia que isso ia acontecer. — Zayn se levantou da cama.

— Acho que não irão para o refeitório, não é?

— Ele não vai querer comer nada agora, então vamos nos arrumar e ir para as aulas, nos encontramos no almoço. — Zayn falou e Troye concordou, saindo do quarto.

O moreno foi para o banheiro e encontrou Liam caído de joelhos. Não estava mais usando a camiseta que Zayn havia lhe dado na noite anterior, tudo que vestia agora era sua boxer preta. As mãos de Liam se apoiavam em suas coxas, e ele tomava respirações profundas.

— Você está bem? — Zayn perguntou preocupado.

— Eu não quero que me veja assim. — Liam abaixou a cabeça.

— Liam, eu sou seu amigo, quero ajudar você. — Zayn falou se aproximando.

O castanho ergueu sua mão no ar, fazendo Zayn parar seus passos.

— Isso é constrangedor, Zayn.

— Eu não me importo, quer algum remédio? Acha que vai vomitar mais?

— Já acabei, minha boca está com um gosto horrível — Liam fez careta ao se levantar.

— Escove os dentes, eu acho que tenho algumas pastilhas aqui também, vai querer comer algo? — Zayn perguntou a Liam.

— Definitivamente não, eu vou ter que ir até o meu quarto, tomar um banho e pegar minha grade de horários das aulas. — Liam disse com a voz rouca. — Será que teremos alguma aula juntos?

— Eu não sei, me mande mensagem quando estiver pronto, podemos ir juntos para as aulas. — Zayn sugeriu.

Liam acenou e foi para o quarto. Vestiu sua calça jeans e pegou a camiseta com que havia dormido, ele caminhou até a porta, mas pausou seus passos.

— Zayn? — Liam chamou.

— Sim?

— Eu fiz algo estranho ontem? — o castanho perguntou com a voz distante.

— Você se lembra de algo? — Zayn sentiu seu peito apertado.

— É tudo um borrão na minha cabeça, eu me lembro de beber por causa de dinheiro e de você me tirar de lá, depois só quando acordei aqui e corri para o banheiro.

— Você não fez nada de estranho. — Zayn afirmou com um suspiro.

Liam lhe deu um sorriso cansado.

— Obrigado por cuidar de mim. — ele agradeceu antes de sair do quarto.

Zayn socou a parede por impulso assim que a porta se fechou. Sua mão esquerda latejou com a dor assim que o choque se reverberou por si r ele grunhiu irritado. Amaldiçoando a si mesmo por ser tão estúpido, havia se iludido pensando que algo poderia mudar, mas se ele não tivesse mentido para Liam, talvez pudesse estragar tudo.

O moreno já não sabia o que estava fazendo. Quantas mentiras mais teria de contar?

*

— O que houve com sua mão? — Troye perguntou quando encontrou Zayn do lado de fora da Gamma Phi Beta, esperando por Liam.

— Eu em um momento idiota.

— Você socou a parede? — o colega de Zayn questionou divertido.

— Me recuso a responder isso — o moreno ajeitou a touca cinza sobre os cabelos.

— Você não vai para a aula?

— Estou esperando o Liam. — Zayn respondeu.

— Tudo bem, eu vou pegar meu material e vejo vocês no almoço. — Troye falou e entrou na casa de fraternidade.

Zayn apertou sua jaqueta mais firme ao seu redor, os termômetros apontavam seis graus, e ele não queria ficar muito tempo ali fora, sua respiração era vista no ar. Ele escutou passos e se virou, vendo Liam correndo em sua direção.

— Já não era sem tempo. — Zayn revirou os olhos e começou a caminhar.

— Desculpe, não encontrava meus horários. — Liam soou arrependido.

— Eu estava pensando que podemos não ter aulas juntas, eu faço Law and Social Changes, e você Law and Government. — Zayn disse pensativo.

— Cadê seus horários? — Liam perguntou.

O moreno abriu sua bolsa, afastando o notebook e pegou o papel dos horários, entregando para Liam. Ele comparou os dois papéis e depois sorriu, devolvendo o de Zayn.

— Temos aulas juntos?

— Claro que sim. — Liam afirmou.

— Quantas? — Zayn perguntou interessado.

— Isso é surpresa, agora vamos depressa, chegar atrasado no primeiro dia, é começar mal.

Os dois seguiram até o prédio que Liam indicou, o Harvard Law School, onde teriam suas aulas.

— Eu tenho leis indígenas americanas. — Zayn murmurou olhando para o seu horário.

— Já eu tenho Tribunais federais e o Sistema federal. — Liam suspirou. — Eu vejo você no almoço?

— Tudo bem, até lá e boa sorte.

Liam acenou para Zayn, seguindo para sua sala e o moreno uniu o máximo de coragem que podia para entrar na sua.

O quão longe Zayn iria por seu amor ao melhor amigo?

*

— Eu estou exausto. — Liam grunhiu, quando se sentou à mesa, trazendo sua bandeja com o almoço.

Ele estava no refeitório e, diante dele, estava Zayn, Troye e uma garota de cabelos curtos pintados de azuis, que se apresentou como Halsey.

— Vocês que optaram pela HLS, meus pesâmes. — Troye debochou.

— É um curso legal, porém é puxado demais. — Halsey opinou.

— Acho que todos os professores me odeiam. — Zayn falou cabisbaixo.

— Como isso é possível? É só o primeiro dia, eles olham feio para todos os calouros, principalmente os do curso de direito. — Troye tentou tranquilizar Zayn.

— Foram tantas anotações que eu não sinto minhas mãos. — Liam murmurou.

Zayn massageou as têmporas, sentia-se exausto e já desejoso de sua cama, acompanhado de um longo período de sono.

— Vocês terminaram agora pela manhã ou ainda terão algo na parte da tarde? — Halsey perguntou com curiosidade.

— Terminamos por hoje. — Liam respondeu por ele e Zayn.

— Eu quero minha cama agora. — o moreno choramingou baixinho.

— Ia chamar vocês para saírem. — Halsey soltou um muxoxo.

— Devo me acostumar com os horários antes de pensar em qualquer outra coisa. — Zayn falou.

— Acho que posso considerar sobre isso. — Liam afirmou.

— E sua fraternidade não vai achar ruim? — Troye questionou.

— Por que acharia? — Liam perguntou confuso.

— O presidente está fuzilando nossa mesa com o olhar, talvez Louis ache que não somos bons o suficiente para ser sua companhia. — Troye falou para Liam.

— Ele só acha estranho que eu tenha recusado a oferta de sentar com eles — o castanho murmurou.

— Que coisa clichê, não me diga que seremos a mesa dos excluídos? — uma nova voz questionou da ponta da mesa.

Todos se viraram para encarar Harmony se sentando ali.

— Definitivamente, somos os excluídos. — Troye bufou.

— Devo me sentir ofendida? — Harmony perguntou com ironia.

O estudante de fotografia semicerrou seus olhos azuis e grunhiu para a garota, mostrando língua para a mesma em uma atitude infantil.

— Eu esperava que você mal fosse se levantar pela ressaca. — Harmony comentou, olhando para Liam.

Ele a encarou de forma confusa, deixando evidente que não se lembrava dela na noite anterior.

— Harmony me ajudou a tirá-lo da festa. — Zayn explicou para o amigo.

— Ora, ora, então o bonitinho encheu a cara? — Troye apoiou a mão no queixo com um grande sorriso.

Antes que mais alguma resposta pudesse ser ouvida, duas bandejas pousaram na mesa e um casal se sentou junto ali.

— Essa mesa se tornou badalada e ninguém me contou? — Halsey perguntou, encarando um rapaz loiro e a garota de cabelos castanhos que o acompanhava.

— Tem alguma restrição sobre sentarmos aqui? — o loiro arqueou a sobrancelha e seu sotaque foi o que mais chamou a atenção.

— A mesa é toda sua, Niall — Troye revirou os olhos. — Não vou lhe expulsar, senão irá levar Barbara embora.

— Você é um Kappa? — Liam perguntou, seus olhos pousando na camiseta com a sigla da fraternidade abaixo da jaqueta do loiro.

— Yeah, sou o presidente da fraternidade, Niall Horan. — o loiro abriu um grande sorriso ao contar todo orgulhoso. — Não conheço vocês dois, são calouros?

Os olhos azuis do loiro pareciam brilhar pela curiosidade, quando ele olhou interrogativamente para Zayn e Liam.

— Primeiro ano em Direito. — o moreno respondeu pelos dois.

— Qual a fraternidade de vocês? — Niall perguntou.

— Zayn é o meu colega de quarto. — Troye respondeu, mordendo seu lanche natural.

— Jura? — a namorada de Niall se voltou interessada para a conversa.

— Ele se mudou ontem de manhã. — Troye confirmou.

— Eu sou Barbara Palvin, estudante de Arquitetura, sou da Gamma também. — a garota estendeu a mão para cumprimentar Zayn.

Ela acenou para Liam também de forma educada.

— E você? É de qual fraternidade? — Niall perguntou para Liam.

— Melhor nem perguntar — Halsey aconselhou.

— Por quê? Vai me dizer que ele é da Omega? — Niall gargalhou como se tivesse dito uma piada.

— Isso seria muito ruim? — Liam questionou, cruzando os braços.

— Não, apenas responderia o fato de que Louis Tomlinson pensa que pode matar com o olhar. — Niall deu de ombros. — Ao invés do que eles falam, não somos completamente hostis com membros da Omega Chi Delta, somente com os idiotas.

— Este não é o caso dele. — Zayn afirmou.

O loiro voltou sua atenção para sua própria comida por um momento antes de se voltar para Liam.

— Você já pensou em alguma atividade extracurricular?

— Eles me perguntaram sobre isso na fraternidade, mas não tenho nada em mente. — o castanho disse com sinceridade.

— Você tem opções: o futebol americano, a equipe de remo, o teatro, o basquete e tem a banda também. — Niall citou. — Tem o futebol também, Louis é o capitão.

— Não sei jogar futebol. — Liam disse, coçando a nuca envergonhado.

— Eu sou da equipe de remo, por que não tenta a sorte?

— Você acha que eu consigo? — Liam perguntou hesitante.

— Cara, você tem músculos, não os desperdice em coisas desnecessárias, exceto a punheta. — o loiro falou e Liam engasgou com seu refrigerante.

— Niall! — Barbara censurou o namorado.

— Amor, aprenda a lidar com a verdade. Todo homem faz isso, até o Troye.

— Faço pensando em você, lindo. — Troye zombou.

Niall enrugou o nariz como se não precisasse de tal informação, e Barbara caiu na gargalhada ao olhar a reação do namorado.

— Eu irei pensar sobre isso. — Liam afirmou.

— E você, Zayn? Fará alguma atividade? — Harmony questionou o moreno.

— Eu não sou bom com nada em específico. — Zayn murmurou.

— Cala a boca. — Liam empurrou o ombro do amigo de leve. — Ele é ótimo desenhista, pode usar qualquer coisa, não entendo como deu preferência ao Direito.

— Ser formado em Artes não iria me render um sustento bom. — Zayn deu de ombros.

— O que acha de teatro? — Troye perguntou pensativo.

— Eu fiz algumas peças quando era mais novo.

— No papel principal. — Liam acrescentou.

Zayn deu um meio sorriso quando levou sua mão próxima do braço de Liam, dando-lhe um beliscão para se calar, o castanho fez uma careta e soltou um resmungo ao esfregar o braço dolorido.

— Ótimo, irei levá-lo comigo para o teatro. — Troye decidiu, não dando chances para recusas.

O almoço seguiu com Zayn e Liam se inteirando melhor com os novos colegas universitários e, assim que o horário acabou, o moreno, que só gostaria de dormir, foi arrastado por Liam para um passeio na cidade com a desculpa de que deveriam explorar melhor os arredores.

*

Sete meses depois.

Zayn entrou exausto no quarto, deixou a alça da bolsa cair de seu ombro enquanto caminhava para a cama e se jogou nela.

— Você está péssimo, cara — a voz de Troye veio de algum lugar próximo.

— Obrigado. — Zayn disse com a cara enterrada no travesseiro.

— Foi bem na prova?

O moreno ergueu seu rosto, com seus olhos vasculhando o quarto, procurando por Troye e o encontrou encostado no batente da porta do banheiro.

— Eu a gabaritei. — Zayn murmurou.

— Então por que não parece feliz?

— Estou há duas noites sem dormir por causa desta prova, acho que pode ser motivo suficiente.

— E onde está Liam? — Troye questionou.

— Eu deveria saber?

— Ele esteve aqui mais cedo, estava nervoso e querendo falar com você. — o colega contou para Zayn.

Os olhos do moreno se arregalaram no mesmo instante, com ele se sentando na cama.

— Oh, droga. Os pais do Liam estão na cidade, eles iriam jantar hoje. — Zayn falou, dando um tapa em sua testa por ter esquecido.

— E isso é ruim?

— Esqueceu que o pai do Liam é um senador, arrogante e que não perde muito de seu tempo se lembrando que tem um filho? — Zayn estava nervoso.

Troye apertou seus lábios em uma linha fina.

— Então esse encontro pode ser catastrófico.

— Eu espero que nada saia errado, ele se importa com a opinião do pai. — Zayn murmurou.

*

Liam apertava o volante de seu carro ansiosamente. O encontro com seus pais não foi algo esperado, ele havia recebido a ligação de sua mãe na manhã anterior, não sabia como reagir a notícia, mas tentou ficar feliz por poder revê-la. A hesitação de Liam sobre o encontro era rever seu pai. Não queria que ele desmerecesse os seus estudos em Harvard ainda em seu primeiro ano, mas o modo era arriscar.

Ele gostaria de ter conversado com Zayn antes de sair, mas o outro estava ocupado com seus estudos, o amigo sempre sabia como acalmá-lo.

Quando entrou no estacionamento do restaurante, o nervosismo em Liam parecia borbulhar. Era um lugar bem reservado com a vizinhança calma e sem perturbações. Respirando fundo, ele seguiu para dentro do restaurante.

— Boa noite, senhor. Em que posso ajudá-lo? — a maître lhe perguntou com cortesia.

— Reserva para Geoff Payne, mesa para três — Liam informou.

— Por aqui, eles já o aguardam.

Liam seguiu a mulher, que lhe guiou até a mesa onde seus pais estavam. Sua mãe se levantou sorridente para recebê-lo com um abraço carinhoso e o pai de Liam lhe deu um aceno com a cabeça.

— Eu estava com tantas saudades. — Karen disse, quando Liam se sentou.

— Eu também estava, mamãe.

— Meu menino com quase 21 anos e eu mal o vejo há anos. Duas visitas anualmente não são o suficiente, Liam — a mãe reclamou.

— A faculdade ocupa todo o meu tempo fora dos feriados. — Liam disse culpado.

— Harvard é difícil demais para você? — Geoff perguntou em um tom profundo.

— Eu estou aprendendo muito, não vejo dificuldades.

— Então, por que não há somente notas perfeitas? Eu tive acesso à sua pasta e seu desempenho não me agradou — o pai de Liam falou com dureza.

— Geoff! — Karen censurou surpresa.

— Eu estou tentando, pai. Ainda me tornarei melhor do que você foi e garantirei uma carreira política bem-sucedida. — Liam afirmou.

— Com este desempenho, acho pouco provável. — Geoff disse. — Você não possui maturidade para a política, nem um relacionamento consegue manter.

Liam ficou sem fala com as palavras do pai, ele não esperava que fosse tratado de maneira tão fria e não soube como reagir. Seus olhos arderam em lágrimas, mas ele se impediu de perder a compostura naquele momento.

— Acho melhor não monopolizar nosso jantar com estes assuntos, sei que você se sairá maravilhosamente bem, querido. — Karen sorriu dando um aperto na mão de Liam.

— Eu estou namorando. — Liam falou.

E quando os olhares de seus pais focaram nele, sabia que não poderia voltar atrás naquela mentira e, em sua mente, gritava, perguntando-se o que estava fazendo.

— Uma namorada? Por que não nos contou antes? Por que não a trouxe ao jantar? — o pai questionou e Liam sabia que ele duvidava de si.

— Zayn estava ocupado com uma prova importante. — Liam disse e observou seu pai engasgar.

— Um garoto? Você está namorando um garoto? Perdeu o juízo, Liam? — o pai tentou controlar seu tom de voz.

— Vai me deserdar e bancar o homofóbico? Não é você quem planeja ser reeleito pregando o apoio à comunidade LGBT e agora renega o próprio filho? — Liam questionou com frieza.

Geoff se calou após as palavras de Liam alcançarem seus ouvidos, ele encarou o filho, examinando-o com cautela.

— Você está querendo aparecer com a invenção disso? — Geoff perguntou. — Pois, se for, desista, Liam...

— Não é uma invenção. Se fosse mais interessado em saber da minha vida, teria conhecimento de que estou namorando há dez meses. — o castanho estava se aprofundando ainda mais na mentira.

— Então espero que não se incomode de levá-lo aos Hamptons em julho. — o pai propôs.

— Férias nos Hamptons? Mas não temos férias na praia desde que eu era adolescente.

— As coisas mudam. — Geoff falou.

— Ou o ano de sua reeleição está acontecendo. — Liam revirou os olhos.

— Venha conosco, Liam, vai ser uma boa viagem. Poderei conhecer Zayn e ainda iremos esquiar na Suiça antes das férias terminarem. — Karen contou com expectativa.

Liam mordeu o interior de suas bochechas. Agora estava completamente ferrado com suas mentiras, teria de dizer aos pais, mas se o fizesse, seu pai nunca seria capaz de vê-lo como um homem maduro, e sua mãe ficaria decepcionada com a mentira.

— Eu posso pedir a ele para mudar seus planos nas férias – Liam falou, encolhendo os ombros.

— Perfeito, essas férias serão inesquecíveis. — Karen disse com um largo sorriso.

— Tirou as palavras da minha boca, querida. — Geoff falou, encarando o filho de forma avaliadora.

Os pratos foram servidos, e a mãe de Liam assumiu o comando dos assuntos da conversa, fazendo o clima da mesa mais suportável. O castanho passou a se sentir desconfortável com o olhar de seu pai diversas vezes sobre si, como se procurasse por um deslize na mentira de Liam. Foi assim que todo o jantar se passou.

O jovem não poderia estar mais aliviado ao se despedir dos pais e ir para o seu carro, seu coração parecia que lhe renderia uma parada cardíaca, e suas mãos suavam com o nervosismo enquanto ele dirigia como um louco até a casa de fraternidade. Muitos dos membros estavam reunidos na sala quando Liam passou apressado, atraindo olhares surpresos.

Indo direto para o seu quarto, Liam se jogou na cama e enterrou o rosto no travesseiro para abafar o seu grito.

— Que merda estou fazendo? — ele balbuciou para si mesmo.

Tirando o celular de seu bolso, Liam desbloqueou a tela do aparelho e a encarou pensativo durante alguns segundos antes que começasse a digitar a mensagem. Quando a confirmação de envio apitou, o estomago de Liam pareceu estar repleto de borboletas, e sua garganta áspera como lixa.

— Tudo vai dar certo. — ele murmurou como um incentivo.

*

Zayn estava com sono, havia tido de tomar banho na água gelada e queria matar Troye por ter quebrado seu despertador, ele nem sequer fazia ideia se estava atrasado até finalmente encontrar seu celular e descobrir que faltava quase duas horas para sua primeira aula.

Ele havia enviado uma mensagem para Liam, o amigo havia lhe assustado com a mensagem na noite passada.

"Precisamos conversar com urgência."

Eram poucas palavras, mas soava como uma tragédia que atingiria em longa escala. Zayn estava nervoso para saber do que se tratava, então pediu que Liam o encontrasse na cafeteria, sua principal tarefa no momento era seu reabastecimento de cafeína.

— Um flat white, por favor. — Zayn fez seu pedido e pagou por este.

Ele estava à espera de seu café quando Liam entrou no ambiente aquecido e o visualizou de imediato.

— E um expresso macchiato. — Zayn acrescentou.

Liam não caminhou até ele; ao invés disso, foi para uma mesa ao fundo e sentou, encarando o lado de fora através da janela. Zayn estranhou o comportamento do amigo e, assim que teve os pedidos entregues, ele foi se juntar a Liam.

— Foi tão terrível assim? — Zayn tentou soar animado para descontrair o ânimo de Liam.

— Pior do que isso. — o castanho murmurou aceitando seu café.

— Você não está exagerando um pouco?

— Eu disse aos meus pais que estou namorando. — Liam contou.

— Isso é mal. — Zayn falou.

— E eles querem que eu leve aos Hamptons, nas férias.

— Não há como piorar. — Zayn deduziu. — Onde vai arranjar a felizarda?

— Tenho de apresentar meu namorado a eles. — Liam disse em voz baixa, mas o suficiente para Zayn ouvir.

Os olhos do moreno se arregalaram, e o café quente espirrou de seu copo, respingando o líquido sobre seu colo. Ele não se importou com a ardência, as palavras de Liam tinha sua total atenção.

— Um namorado? Como assim um namorado? — Zayn perguntou com a voz trêmula.

Ele não gostaria de ver Liam com alguém, muito menos com outro homem que não fosse ele. Era capaz do peito de Zayn se dilacerar ao imaginar tal dor e, mesmo que fosse apenas uma armação de Liam, ainda doeria em Zayn vê-lo com outro.

— É sobre isso que preciso conversar com você. — Liam falou hesitante.

— O quê?

— Foi você, Zayn. Eu disse aos meus pais que estávamos namorando, preciso que finja ser meu namorado até o fim das férias.

De todas as milhares de vezes que Zayn imaginou estar em um romance com Liam, nenhuma delas, por menor que fosse a possibilidade, poderia dizer que Zayn acabaria ouvindo as palavras tão desejadas ditas de tal maneira.

Se Zayn antes pensava ser um louco, agora estava tudo explicado, ele se apaixonou até mesmo pela parte insana de Liam.

Um louco tende a ser atraído por outro?

Esta era uma questão sem resposta para a mente de Zayn, mas seu coração estava ali para balancear a guerra que acontecia em sua cabeça.

— Você estará encrencado se tudo isso for descoberto, não é? — Zayn questionou.

— Melhor arriscar do que perder.

— Ir aos Hamptons? Parece tudo luxuoso demais.

— Você vai aceitar? — Liam perguntou esperançoso.

— É muita coisa para digerir. Isso é uma mentira, Liam. — Zayn murmurou. — Você já pensou se seus pais descobrirem a verdade?

— Eles não irão. — Liam afirmou convicto.

— Como sabe?

— Nós podemos garantir que não vão. Sempre fomos amigos, somos tão entrosados que já nos confundiram com um casal, vamos conseguir.

Zayn suspirou, seus dedos contornaram traços imaginários pela superfície de seu copo de café enquanto sua mente vagava ao longe.

Ele não podia se sentir mais tolo, mas seu coração batia de forma acelerada no peito ao que ele imaginava ter Liam para chamar de seu, mesmo que fosse uma total mentira; Zayn imaginou o romance por tantos anos que sua mente poderia levar a crer que tudo seria real.

Quão cego ele estava por suas emoções?

Ele não sabia dizer, sua mente e coração se encontravam em uma batalha sem fim, nunca tendo um vencedor e o desenrolar se tornando ainda mais complicado para o moreno.

Liam seria seu, foi o que parte de si parecia gritar, não seria mais do que um falso namoro em que somente os seus sentimentos eram reais, a outra parte ponderava tal pensamento.

A indecisão e o breve momento alheio de Zayn ao que acontecia fizeram com que o garoto castanho diante dele apertasse seu copo de café nas mãos, temendo por ter ido longe demais e exigido mais do que a amizade com Zayn poderia lidar.

— Eu preciso de um tempo para pensar — o moreno falou com a voz fraca.

— Tenha todo o tempo que precisar. — Liam soltou o ar que nem notou que prendia.

O clima entre os dois ficou estranho, Zayn estava em silêncio e Liam se comportava de forma nervosa sobre o que dizer ao outro. Agindo impulsivamente, ele colocou sua mão sobre a de Zayn e viu o amigo arregalar os olhos.

— Sei que posso estar pedindo por algo muito além dos limites da amizade, mas eu entenderei qual for sua decisão e ainda estarei com você. — Liam disse para Zayn.

Aquelas palavras ceifaram todas as dúvidas existentes na mente de Zayn, ele iria concordar, só não estava pronto para dizer que sim ainda.

*

A proposta feita por Liam no dia anterior ainda estava na cabeça quando ele caminhou pelo campus na manhã seguinte. Era meados de abril, e a primavera trazia um clima bom, fazendo com que o dia fosse mais suportável. A primeira aula do moreno eram Leis de Imigração, e ele entrou na sala quase vazia ainda pelo horário.

Zayn não conseguia se focar ao seu redor, seus pensamentos se voltavam constantemente para as palavras de Liam e para o falso namoro que estava prestes a aceitar. Em sua mente, ele se questionava o quão machucado poderia sair disso, mas era uma chance como nenhuma outra, ele estava indo fingir algo que sempre desejou ter com Liam: um relacionamento.

O sino para a aula tocou dali a pouco, e logo a sala se encheu e o professor entrou, iniciando sobre sua explicação sobre algo que Zayn não dava muita atenção.

O que ele realmente pensava era sobre a hesitação de ter o "sim" na ponta de sua língua, mas sua amizade com Liam poderia ser arruinada para sempre após isso, e Zayn se perguntava o que faria sobre seus sentimentos. Eles certamente ficariam mais evidentes, mesmo que por parte do amigo de cabelos castanhos tudo não fosse mais que um fingimento.

Zayn sentiu um cutucão em seu braço, mas tentou ignorar e, quando aconteceu novamente, ele se virou irritado para o garoto ao seu lado, que gesticulou para Zayn olhar para frente. Quando o fez, arrependeu-se de imediato, o professor lhe encarava como se houvesse dito algo e esperasse por uma resposta.

— Senhor Malik, espero não estar atrapalhando seus momentos de sonhar acordado — o professor falou com ironia.

— Sinto muito, senhor Neuman — Zayn desculpou-se.

— Agora, meu caro, eu deveria ordenar que você se retirasse de minha classe ou permanecesse e me entregasse na aula de amanhã um trabalho escrito de dez páginas sobre o assunto que tínhamos em debate nesta aula? — o professor questionou.

— O trabalho estará em sua mesa pela manhã. — Zayn respondeu de forma controlada.

Ele queria amaldiçoar, chorar e dizer muitos palavrões a Liam, porque a falta de atenção de Zayn era culpa do outro e, mesmo que tivesse um grande trabalho para lidar, não havia questionamentos para sua decisão sobre a proposta do amigo.

Zayn faria isso, mesmo temendo por como terminaria seu coração ao final deste tempo.

Um caderno foi estendido e colocado sobre o seu e Zayn ergueu os olhos confusos, indo olhar para o garoto de cabelos pretos que havia lhe chamado atenção para o professor pouco antes.

— São as anotações sobre a aula. — o garoto disse em voz baixa.

— Isso não vai prejudicar você? — Zayn o olhou surpreso.

— Já passei tudo para o meu notebook, pode usar esses. — o garoto deu de ombros.

— Obrigado... — Zayn agradeceu, não sabendo o nome do colega.

— Derick Miller.

— Obrigado por ajudar, eu sou...

— Zayn. — Derick completou. — Sim, eu sei.

O moreno encarou o colega por alguns instantes e este lhe enviou um sorriso tímido antes de se virar para acompanhar a aula. Zayn se perguntou como ele saberia seu nome, sempre esteve tão alheio aos seus colegas que nunca havia notado Derick antes, mas agradeceu ainda mais pela ajuda.

*

Liam conseguiu entrar na Gamma quando o garoto de cabelos cacheados e olhos verdes, que sabia ser o presidente da fraternidade, saiu para correr. Este lhe lançou um olhar estranho, mas não impediu sua entrada, digitando o código na porta e deixando seguir.

Ele subiu as escadas, já conhecendo bem o caminho para o quarto de Zayn e, antes que sua mão girasse a maçaneta, a porta se abriu.

— Liam. — Troye arregalou seus olhos azuis.

— Olá. Zayn, ele está aí?

— Espero que esteja preparado para o ataque. — o outro murmurou, passando por Liam.

— O que está acontecendo?

— O professor lhe puniu com um trabalho pela sua falta de atenção. — Troye resumiu.

— Zayn desatento? — Liam questionou incrédulo.

— Eu também fiquei assim quando ele me disse. — Troye falou. — Boa sorte aí, irei sair com Halsey.

Liam mordeu o lábio, hesitando e empurrou a porta do quarto com lentidão. Ele viu Zayn debruçado sobre uma mesa com o notebook, livros e cadernos espalhados sobre ela. Engolindo em seco, deu suaves batidas na madeira da porta para chamar a atenção de que estava ali.

— Acha que eu posso te ajudar? — ele se ofereceu quando os olhos do moreno se viraram para encontrá-lo.

— Me mate. — Zayn pediu em tom de lamúria.

— Talvez algo que não seja isso. — Liam contornou. — Como está indo? Troye me falou o que aconteceu.

— Eu me distraí. — Zayn deu de ombros, voltando sua atenção para seu material.

— Eu vejo.

O silêncio se abateu sobre os dois quase que de maneira desconfortável. Liam sentou na cama de Zayn, estava indeciso sobre o que falar e tentou escolher suas palavras com cuidado.

— Eu estava pensando sobre o que me propôs.

— E?

— Foi muito para digerir, isso pode soar estranho como o inferno, mas eu vou ajudar você.

— Obrigado. — Liam suspirou agradecido.

— Mas se tudo der errado, não me culpe, toda essa mentira de falso namoro não é o meu cenário.

— Eu acredito que você possa ser um bom ator.

Eu estive lhe escondendo meus reais sentimentos por anos, Zayn pensou em dizer, ele certamente poderia ganhar um Oscar em seu desempenho se isso não fosse feito de maneira árdua para si mesmo.

— Não penso assim — foi tudo o que Zayn respondeu.

— Eu vou ficar devendo a você toda garantia para o meu futuro. — Liam afirmou.

— Não irei cobrar nada. — Zayn balançou a cabeça.

— Eu sei, e isso te faz ser o melhor amigo.

Ouvir aquele título, trazia uma recordação dolorosa ao peito de Zayn: a certeza própria de que nunca poderia ser mais do que isso para Liam, sua única chance era o agora e ele aproveitaria, sejam quais fossem suas consequências.

*

— Explica isso direito. — Troye pediu afobado.

— O que mais devo dizer? — Zayn arqueou a sobrancelha.

— Eu achei que você houvesse dito que estava namorando Liam, mas isso não é possível, pois ele afirma que é hétero e você finge ser também.

— Eu estou em um namoro falso com Liam. — Zayn corrigiu.

— Você sabe que isso não acabará bem, não é?

— Sei, mas o que posso fazer? Eu o amo.

— Cara, eu agradeço por não ter a sua vida.

Zayn bufou e balançou a cabeça para o colega.

— Conseguiu fazer seu trabalho?

— Com muito esforço, e já o entreguei ao professor Neuman, foi bom vê-lo surpreso por eu ter feito tudo a tempo, as anotações de Derick ajudaram.

— Derick? Derick Miller?

— Este mesmo. — Zayn acenou.

— Você tem aula com ele? Como eu não sabia disso? — Troye perguntou.

— Nem eu sabia até ontem.

— Ele é tão quente, se ao menos me notasse... Ele é gay, sei que sim, mas nunca o vi namorando e estou de olho nele desde que ele chegou.

— Você já falou com ele?

— Nunca tive coragem. — Troye murmurou, desviando os olhos.

— Você é tímido, que fofo.

— Cala a boca — o colega jogou um travesseiro em Zayn. — Espere, é isso!

— Isso o quê?

— Você vai me ajudar a sair com Derick.

— Nem venha, eu não sou cupido. — Zayn negou a ideia.

— Vai mesmo estragar a minha chance de encontrar o amor? — Troye perguntou, fazendo bico e caindo de joelhos perto do moreno.

— Agora eu sei por que escolheu teatro. — Zayn revirou os olhos. — Eu vou tentar.

— Obrigado. — Troye disse batendo palminhas, animado.

— Podemos começar com isso amanhã.

— Não mesmo, vamos agora, ele sempre está pelo campus durante os intervalos de aula à tarde. — Troye falou, puxando Zayn.

— Mas eu nem sei o que falar a ele.

— Apenas use a desculpa de devolver o caderno e me apresente a ele.

— Você faz parecer muito fácil. — Zayn grunhiu.

Ele se deixou ser arrastado por Troye para fora da casa da Gamma, e eles saíram do campus onde ficavam as fraternidades e se encaminharam para o campus principal. Zayn estava nervoso, apertando o caderno dentro de seus braços e seguindo Troye, que parecia que iria hiperventilar.

— Lá está ele. — o garoto de olhos azuis apontou para um moreno de porte atlético sentado com um livro no colo pouco adiante deles. — Faça-me parecer legal.

— Quer que eu minta?

— Haha engraçadinho. — Troye revirou os olhos, e Zayn sorriu para o nervosismo do colega.

— Você parece um pirralho que nunca interagiu com alguém antes.

— Zayn, só cala a boca e siga em frente.

Dando de ombros, Zayn caminhou para rumo onde Derick estava, sentindo Troye em seu encalço. Quando chegaram perto do garoto, este pausou sua leitura e ergueu seu olhar para eles.

— Hey. — ele deu um rápido aceno para o outro sentado. — Vim devolver seu caderno.

— Olá, Zayn. — Derick abriu um sorriso.

— Este é Troye, meu colega de quarto. — Zayn apresentou.

— Muito prazer, Troye. Eu sou Derick Miller.

Antes que o colega de Zayn pudesse dizer algo, eles foram interrompidos.

— Zayn? — a voz de Liam soou grave.

O moreno se virou para vê-lo vindo em sua direção.

— Hey, Lee.

— Você esqueceu que íamos sair? — Liam questionou.

— Não, só vim devolveu o caderno para Derick.

— Então, agora podemos ir.

Liam pegou a mão de Zayn e o mesmo teve seu coração disparando pelo ato, não se importando de ser arrastado por Liam daquela maneira.

— Você nem me deu a chance de apresentá-los.

— Eu o conheço, Zayn, ele é da minha fraternidade. — Liam disse e sua voz pareceu estranha.

Havia algo errado, Liam não agia desta maneira.

— Você... Você está com ciúmes? — Zayn arregalou os olhos.

— Mas é claro que não, somente não gosto de tê-lo por perto. — Liam resmungou, e Zayn tentou esconder seu sorriso.

— Você está levando nosso namoro fictício ao pé da letra. — Zayn disse e quando Liam paralisou, o moreno continuou a arrastá-lo por meio de seus dedos entrelaçados.

Era perceptível que haveria olhares sobre eles, nenhum dos dois garotos passavam despercebidos para as estudantes de Harvard, então muitos destes olhares eram raivosos.

— Desculpe-me por isso, meu pai ficou tão desconfiado, ele provavelmente terá alguém nos observando aqui. — Liam murmurou.

— Você não se sente estranho andando de mãos dadas comigo? — Zayn perguntou hesitante.

— Eu e você sempre dormimos juntos, quando um ia para a casa do outro, por que estranhar isso? — o castanho retrucou.

— Touché. Agora, poderia me dizer para onde estamos indo?

— Teremos de compensar dez meses de namoro em apenas dois.

— E isso é possível? Vamos realmente conseguir parecer um casal? — Zayn questionou preocupado.

— Iremos tentar — Liam falou, tirando as chaves de seu carro do bolso.

Ele soltou a mão de Zayn para que este pudesse entrar no carro e o contornou, entrando no lado do motorista. Partiu com carro do estacionamento e, quando adentrou o trânsito leve daquele horário da manhã, Zayn voltou a falar.

— Por que quer tanto ficar com este namoro falso? Se seu pai descobrir, não irá piorar tudo?

— Ele quer uma prova de maturidade, diz que um relacionamento pode dar isso a ele.

— Um relacionamento que seja real. — Zayn argumentou.

— Nós faremos com que o nosso seja aos olhos dele.

— E se estragarmos tudo? O que vai acontecer com você?

— Nada preocupante, ele não dará mais atenção para mim, nunca deu mesmo. — Liam murmurou.

— Quanto tempo ficaremos nos Hamptons?

— Três semanas, fora viagens planejadas por minha mãe. — Liam respondeu. — Eu sinto muito por estragar suas férias, podemos ir para a Inglaterra quando voltarmos.

— Você vai também? — Zayn se virou surpreso para Liam.

— É claro que sim, darei a chance de sua mãe se vingar por eu roubar você por esse tempo.

— Idiota. — Zayn bufou, tentando esconder seu agrado com a notícia.

— Se eu fosse um idiota, não estaria te trazendo às compras. — Liam disse. — Agora vamos aproveitar o dia livre e gastar uma boa quantia no meu cartão.

— Você é louco? Nem pensar, eu não irei fazer isso. — Zayn negou.

— Dinheiro é algo com que meu pai nunca se preocupará, acredite. — Liam afirmou. — E você poderia comprar algum presente aos seus pais.

— O que minha mãe vai pensar que estou fazendo com o dinheiro deles, ao ver presentes da Balmain ou Gucci? — o moreno falou o nome das lojas de grife quando Liam estacionou próximo.

— Que você tem bom gosto?

— Você está tão engraçadinho.

Liam saiu do carro sorrindo e se apressou para ir abrir a porta do carro.

— Virei Cinderela? — Zayn perguntou sem graça.

— Me diz você, vai perder o sapatinho?

— Cara, estamos agindo tão gays.

— Então, estamos fazendo certo o nosso papel. — Liam disse para Zayn.

O moreno não lhe respondeu mais nada, pois, naquele instante, Liam adentrou com um caminhar tranquilo para dentro de uma loja da Burberry, um local que não diria que era um de seus lugares frequentes para compras. Quando alcançou Liam, ele já estava falando com uma vendedora, e os olhos da mulher pousaram em Zayn conforme as palavras de Liam vinham.

— Dinheiro não é problema, quero tudo do bom e do melhor para ele, mas que o deixe confortável. — Foi tudo o que Zayn ouviu da fala de Liam.

— Por aqui, senhores. Temos as peças dos mais variados gostos, certamente seremos capazes de deixá-lo impecável. — a vendedora falou enquanto caminhou para perto de algumas araras de roupas.

— Ela vai cuidar de você, vai lá. — Liam incentivou Zayn.

O moreno seguiu a mulher com um olhar perdido enquanto Liam ia para trás com um sorriso. Ele sabia que o que Zayn estava fazendo por ele era algo inimaginável e que nem todas as pessoas no mundo fariam por um amigo, então era agradecido por ter Zayn em sua vida.

E eles ficaram nesta tarefa com compras durante horas, indo de loja em loja e cada vez saindo com mais sacolas até que Zayn se recusou a continuar, e Liam cedeu.

— Podemos parar para almoçar, o que acha? — Liam propôs.

— Parece bom para mim, estou morrendo de fome, não sinto minhas pernas direito. — Zayn disse com manha.

— Me diga que odiou tudo isso, então?

— Não foi tão ruim, eu sobrevivi, afinal de tudo.

— E onde que sua vida correria risco em uma loja?

— Ao ver o valor gasto. — Zayn respondeu com uma pose dramática.

— Eu lidei com isso, então sua vida esteve fácil.

Liam parou o carro diante de um bistrô, que parecia estar calmo mesmo durante o horário do almoço. Ele e Zayn entraram no lugar e foram para uma mesa desocupada, próxima à janela de vidro sombreado.

Um garçom chegou para levar seus pedidos quase que de imediato.

— Os aromas parecem deliciosos. — Zayn disse, aspirando profundamente.

— Quando a pessoa sente fome, qualquer coisa parece atraente.

— Não seja tão chato.

Um silêncio caiu entre eles por um momento até que um dos lados decidisse falar algo:

— Zayn? — Liam chamou.

— O que foi?

— Eu... Obrigado por estar fazendo isso.

— Achei que já houvesse agradecido o suficiente. — Zayn suspirou.

— Nunca será suficiente.

Os dois ficaram em meio de uma conversa animada, enquanto aguardavam pela comida e, após o almoço juntos, voltaram para as fraternidades, tendo muito com que lidar, já que a rotina como casal não parecia ser tão difícil para os dois.

*

Os dois meses para as férias de verão se passaram de maneira tão rápida que os surpreendeu. Em um momento, Liam e Zayn falavam sobre os planos, fazer as malas e tantas outras coisas; em outro, ambos desembarcavam no aeroporto JFK em Nova York e seguiam para encontrar um motorista designado para levá-los aos Hamptons, onde os pais de Liam já os esperavam.

Liam ajudou Zayn a entrar na SUV e fez o mesmo em seguida, o motorista indicou que, em questão de pouco mais de uma hora, estariam em seu destino.

As mãos de Zayn estavam tremendo em seu colo. Quanto mais perto estava de conhecer os pais de Liam, seu nervosismo só aumentava, temia que não os agradasse ou algo do tipo, que seus modos fossem simples diante do glamour presente nos Hamptons.

— Acalme-se. — a voz de Liam chegou em um sussurro suave.

O castanho cobriu as mãos de Zayn com as suas e deixou que o outro se aconchegasse mais contra si.

— Eu tenho medo de estragar tudo. — Zayn sussurrou, deitando sua cabeça contra Liam.

— Não se desespere, vai tudo ficar bem, eu estou com você. — Liam o tranquilizou.

Zayn puxou uma longa respiração e acenou, aceitando as palavras de Liam. Suas pálpebras não demoraram a se tornarem pesadas demais.

— Pode descansar um pouco, ainda levará algum tempo para chegarmos. — Liam disse baixinho ao outro.

O moreno se aconchegou mais contra o peito de Liam e o usou como travesseiro para adormecer, o outro velou pelo sono de Zayn com carinho e o segurou, permanecendo acordado para notar o olhar do motorista sobre os dois. Liam suspirou internamente, sabia que, assim que deixassem o conforto de Cambridge e a vida universitária em Harvard, teriam de encenar mais do que nunca a mentira do namoro, pois, onde estivessem, estariam sendo observados.

O tempo se passou com rapidez ao que a mente de Liam vagou em pensamentos. Quando deu por si, entraram na área de vilas luxuosas tão bem vista por todos e que era conhecida como os Hamptons, lugar que Liam não dava a mínima em visitar.

— Zayn, chegamos. Acorde. — Liam chamou, e o mais velho grunhiu em seus braços ao se esticar sonolento. — Você pode descansar mais depois.

Zayn aceitou a ideia e saiu do carro junto de Liam, coçando seus olhos antes de ajeitar os óculos de sol no rosto. Ele entrelaçou seus dedos aos de Liam e juntos subiram os degraus de entrada, que os levaram para as portas duplas de madeira branca. Elas foram abertas antes que tocassem a maçaneta, e eles entraram na mansão.

— Liam. — o nome do castanho saiu em um soluço de sua mãe, que foi direto para os seus braços. — Como senti sua falta, filho.

— Também senti saudades, mamãe. — Liam abraçou a mãe e deixou um beijo sobre seus cabelos. — Este é Zayn.

Liam apresentou para a mãe o moreno que estava alguns passos atrás de si, e um sorriso imediatamente tomou os lábios de Karen.

— Zayn, como você é bonito, meu rapaz. Meu filho fez uma ótima escolha. — Karen falou alegre. — É um prazer conhecê-lo.

Zayn ficou surpreso ao ser puxado para o abraço, mas não hesitou em retribuir. A mãe de Liam transmitia uma sensação de paz e conforto com um simples abraço, ele não pôde negar que gostou disso.

— Onde está meu pai? — Liam perguntou, não vendo sinais de Geoff por ali.

— Seu pai é um caso perdido, ele está jogando golfe com Bradley e outros amigos, tentei fazê-lo ficar para recepcioná-los, mas sabe quão irredutível ele é. — a voz de Karen tinha uma nota evidente de desculpas.

— Tudo bem, mamãe. Nós vamos subir e descansar um pouco, podemos nos ver no jantar?

— Seria perfeito, mandarei preparar algo especial para você, Liam. Tem algo que goste, Zayn? — Karen perguntou. — Dessa maneira poderia pedir que façam um prato especial a você.

— Não se incomode com isso. — Zayn disse. — O que fizer para Liam irei gostar também.

— Tudo bem, querido. Mas não se incomode de pedir qualquer coisa. — Karen sorriu para ele. — Agora irei organizar o jantar com Madeline.

Os dois assistiram a mãe de Liam se encaminhar para a cozinha e sorriram.

— Ela é sempre tão vibrante assim? — Zayn perguntou ao subirem as escadas.

— Mamãe é a alma que nos une. Sem sua alegria, seria impossível suportar a família. — Liam respondeu.

Suas malas já haviam sido levadas para o quarto, então, quando Liam abriu a porta, não foi surpresa vê-las próximas da cama.

Zayn entrou, seus olhos se passaram por todo o quarto, admirado com o nível preciso de detalhes trabalhados no ambiente que o transformava em algo tão lindo. A decoração fazia aquele ser um lugar calmo e de aparência suave, algo muito bom na opinião de Zayn, ele olhou por um tempo tudo ali até que teve de pousar suas vistas sobre a grande cama king size no centro do quarto com lençóis brancos e uma colcha azul turquesa.

— Se estiver desconfortável dormir comigo, eu posso ficar com o sofá. — Liam indicou o móvel de dois lugares.

— Está tudo bem, não é grande coisa, podemos partilhar uma cama.

— Isso está ficando tão estranho quanto parece?

— Eu me sinto estranho. — Zayn confessou.

— Você pode querer um banho, antes de descansar.

— Isso seria bom.

— O banheiro fica ali, eu vou começar a desfazer as malas. — Liam falou e Zayn concordou.

Assim que a porta do banheiro se fechou, Liam levou as malas para o closet e se ocupou as esvaziando, organizando suas roupas no lado esquerdo e deixando a outra parte para Zayn. Aextensão do longo corredor, que formava o closet, ainda tinha uma parte compacta ao fundo, que se abria para mostrar o compartimento em que deveriam ficar relógios, gravatas e joias, todo o lugar bem planejado em sua construção. Terminando sua mala, Liam não soube se Zayn iria querer que desfizesse suas malas também ou deixasse para si mesmo lidar com elas.

Ele saiu do closet e parou diante da porta do banheiro e deu leves batidas nesta, querendo a atenção de Zayn. Sobressaltou-se quando a mesma foi aberta, e o outro saiu com os cabelos pingando gotículas de água, muitas ainda espalhadas sobre sua pele, com uma toalha enrolada na cintura.

— O que foi? — Zayn perguntou, usando uma toalha que tinha em mãos para secar os cabelos.

— Eu queria saber se poderia desfazer suas malas ou se você mesmo queria fazer isso. — Liam disse em um fio de voz.

— Pode deixar comigo, eu as organizo, você pode ir para o banho agora.

— Tudo bem, o lado direito do closet é seu.

Zayn acenou que havia entendido e entrou no closet espaçoso. Quando a porta do banheiro se fechou, ele abriu suas malas e tirou roupas confortáveis para si, já que planejava dormir assim que possível.

Voltando a atenção para suas coisas, após ter se vestido, ele começou a arrumar suas roupas nas gavetas e cabides disponíveis ali. Estava exausto. Antes que percebesse, terminou de arrumar tudo e agradeceu mentalmente ao fazê-lo. Já havia se jogado na cama quando Liam saiu do banheiro, mas não deu atenção para isso, seus olhos pesavam muito para querer se manter acordado, então estava dormindo antes que notasse o castanho se deitar com ele na cama.

Naquela noite, eles tiveram o jantar em que Zayn foi apresentado para Geoff. Ainda que parecesse desconfiado sobre o relacionamento duvidoso, o pai de Liam agiu de maneira polida, tratando Zayn educadamente.

Quando Liam e Zayn subiram para o quarto, após o jantar, sua conversa era por meio de sussurros.

— Você acha que ele acreditou? — Zayn perguntou baixinho, sentando-se na cama.

— Não tenho certeza, mas pode ser que esteja no caminho.

— Eu ainda me sinto tão cansado.

— Descanse, amanhã a praia estará maravilhosa. Um bom dia de sol pode ser necessário após tanto tempo vivendo sob um céu nublado.

Zayn se deitou e se virou para olhar Liam.

— Desta maneira posso me acostumar mal. — murmurou para o castanho.

— Somos jovens, um pouco disso não nos fará mal. — Liam falou.

— Isso soa como um grande teatro, esse mundo, todo esse luxo, parece algo irreal. — Zayn observou.

— Nada aqui realmente existe, é uma falsa felicidade projetada, aqui eles tendem a imaginar que estão próximos da perfeição.

— Uma ilusão?

— Entende o motivo de eu ficar feliz com você na Inglaterra?

— Se era feliz lá, então por que tentou seguir os passos do seu pai e entrar nisso? — Zayn perguntou sem entender.

— Sempre quis que ele se orgulhasse de mim, nunca planejei outra opção. — Liam suspirou.

— Faça o que o seu coração diz. — Zayn aconselhou.

— A lógica sempre foi minha fiel companheira.

— E quantos erros já cometeu por conta disso? Quantas chances negou a si mesmo?

— Incontáveis — Liam sussurrou com a voz fraca.

— A verdade pode causar dor, mas ela sempre será a melhor escolha. — Zayn disse sonolento.

O sono chegou tão rápido para o moreno que logo ele ressonava ao lado de Liam, que se manteve pensativo.

— A verdade dói. — Liam moveu seus lábios, tentando não emitir som. — A verdade é que acho que amo você.

O segredo confidenciado pelo castanho, não chegou a ser ouvido por Zayn, e Liam adormeceu estando ciente de que seu amor poderia afastar o amigo para sempre. Isso era o que menos desejava. Se ele ao menos soubesse do sentimento que era retribuído com tanto esmero por Zayn.

No dia seguinte, após um delicioso café da manhã, Liam conduziu Zayn para a praia. O moreno usando uma bermuda cargo clara e uma camisa branca social com os botões desabotoados, as tatuagens em sua pele eram visíveis pela abertura, mas o moreno tentou não se importar, mesmo com o olhar avaliador do pai de Liam sobre suas tatuagens.

— Sério que você vai vir até aqui e não entrar no mar? — Liam perguntou ao emergir fora da água.

Zayn sentou-se na areia com um sorriso e balançou a cabeça.

— Eu não sei nadar.

— Você não vai entrar sozinho. — Liam incentivou.

— Talvez outro dia.

— Sabe que não escapará disso, não é?

— Como se você fosse me deixar esquecer. — Zayn revirou os olhos e riu.

Liam mergulhou na água, e Zayn inclinou seu corpo para trás, sentindo o sol tocar sobre sua pele, o calor lhe fazendo sentir bem. Era algo bom.

O barulho da água trouxe a atenção do moreno, ele voltou seus olhos para o mar para acompanhar a saída de Liam dali, que balançou os cabelos molhados enquanto caminhava para se ajoelhar diante de Zayn.

— Lembra quando disse que teríamos que encenar bem? — Liam soltou de repente.

— O quê? — Zayn perguntou confuso.

Não houve resposta de Liam, somente sua aproximação até que cobriu os lábios do moreno com o seu, dando-lhe um selinho e deixando Zayn completamente surpreso.

— Meu pai está nos olhando da varanda. — Liam explicou baixinho e, quando se afastou, levou as mãos para ajeitar os fios rebeldes de Zayn.

A explicação fez o outro entender o motivo do selinho, mas não deixou Zayn feliz. O modo como ambos estavam agindo antes parecia tão certo que era quase difícil lembrar que era tudo uma mentira.

Liam se secou com uma toalha e vestiu uma bermuda antes de sentar-se ao lado de Zayn.

— Gostaria de fazer algo específico? — Liam perguntou.

— Seria muito ruim eu desejar sorvete? Muito, mais muito sorvete.

— Com este calor, é válido.

— Sabe... — Zayn começou hesitante, ao ouvir o barulho do mar e das gaivotas. — Esse lugar é tão maravilhoso, eu poderia me acostumar a viver aqui, mas não consigo entender.

— O que quer dizer? — Liam questionou.

— Somos os únicos na praia por quilômetros até onde a vista alcança, todas as casas próximas estão ocupadas, então por que ninguém mais está aproveitando isso?

Liam suspirou, ele entendia a pergunta de Zayn, havia se perguntado a mesma questão durante anos quando mais novo.

— As pessoas que moram aqui não se importam com a paisagem, tudo que querem mostrar é o glamour de suas casas de luxo. — Liam respondeu, erguendo-se e estendendo sua mão para ajudar Zayn.

— Nosso namoro parece mais real do que muita coisa neste lugar.

— Você está certo sobre isso. — Liam sorriu para Zayn. — Vou arranjar uma camisa e logo podemos ir em busca de sorvete, há um lugar muito bom aqui.

— Eu espero você. — Zayn disse quando Liam correu na frente.

Zayn esfregou seus braços pensativos enquanto continuava em passos lentos seu caminho até a casa. A amizade dele e Liam estava completamente mudada, o falso relacionamento parecia tão bem que até mesmo estava se deixando enganar por isso.

Ele só esperava que pudesse reunir os cacos de seu coração no fim do verão.

Estava perdido em pensamentos quando subiu as escadas e se assustou ao erguer seu olhar e dar de cara com Geoff o observando.

— Uh, olá. — Zayn cumprimentou-o

O homem lhe acenou sem dizer nada mais, e Zayn ficou indeciso sobre entrar para procurar Liam ou esperá-lo ali.

— Eu nunca imaginei algo assim, vindo do meu filho. — Geoff falou, apoiando-se no peitoril da varanda.

— Perdão? — Zayn piscou sem entender o que o outro queria dizer.

— Ter um namorado... Eu planejei tanto para Liam, quando foi que você decidiu entrar em sua vida e estragar tudo? — Geoff perguntou, encarando Zayn.

O moreno teve certeza que sua boca caiu aberta ao escutar tamanha afronta contra si, sua língua picou para dizer tudo que havia entalado em sua garganta sobre o pai de Liam.

— O certo seria quando foi que decidi amá-lo. Eu estou fazendo o que você se esqueceu de oferecer ao seu filho quanto tornou este pedaço de homem hipócrita e arrogante. — Zayn disse, cruzando os braços.

Geoff não deveria estar preparado para uma resposta como aquela, pois ficou sem palavras para retrucar antes que Liam retornasse. Quando o outro apareceu ali, seu olhar foi de Zayn para o seu pai, ficando com uma expressão ligeiramente confusa.

— O que foi que eu perdi? — Liam perguntou.

— Seu pai só estava perguntando se íamos sair. — Zayn respondeu com um sorriso, com um aceno a contragosto para Geoff, ele levou Liam consigo.

Eles foram para a garagem da casa onde havia vagas para cinco carros, todas ocupadas, e Liam desativou o alarme de um deles. Para a surpresa de Zayn era um belíssimo Audi Spyder R8, aquele pelo qual sempre se enamorou por imagens.

— Meu pai foi desagradável com você, não foi? — Liam perguntou assim que deu partida no carro e deixou a garagem para trás.

— Acho que ele poderia ter sido pior. — Zayn falou despreocupado.

— Sinto muito por isso.

— Está tudo bem, eu sabia que não ia ser fácil quando aceitei te ajudar. Se quiser me recompensar, me dê uma beleza como este conversível. — Zayn brincou.

Liam freou o carro de forma súbita e o corpo do moreno foi mandado com brutalidade para frente.

— É todo seu. — Liam falou saindo do carro e correndo para dar a volta, ao lado do passageiro.

— Você está falando sério? — Zayn perguntou quando Liam abriu a porta do seu lado.

— Vá em frente e me deixe entrar, estamos impedindo o trânsito assim. — Liam incentivou Zayn a pular para o outro banco, passando por cima do câmbio.

— Eu nunca dirigi deste lado. — Zayn murmurou nervoso.

— É o mesmo de sempre, só terá de mudar os comandos com a mão direita. — Liam orientou. — E quando estiver pronto...

Zayn pisou no acelerador, fazendo o carro disparar antes que Liam pudesse terminar sua fala.

— Isso é fácil. — Zayn riu, fazendo uma curva fechada.

— Só não nos mate. — Liam grunhiu, apertando seu cinto de segurança.

O passeio não demorou a acabar, ao que Liam indicou onde Zayn deveria estacionar, e o moreno fez de maneira correta, surpreendendo tanto o outro quanto a si mesmo.

— Sorte de principiante. — Liam afirmou, saindo carro.

— Eu poderia te responder à altura, mas você está indo me pagar sorvete, irei relevar. — Zayn deu de ombros.

Era o primeiro dia nos Hamptons, e os dois não poderiam estar agindo melhor com suas representações.

*

Com quase duas semanas passadas nos Hamptons, Zayn não poderia estar mais assustado. Após o primeiro dia, ele e Liam quase não ficaram mais sozinhos, foram à praia com outros filhos de políticos ou celebridades que moravam por ali e faziam parte do círculo social dos pais de Liam, tiveram jantares e mais jantares, partidas de golfe, passeios de iate e até mesmo luau, se a festa com uma grande tenda e garçons servindo canapés e drinks pudesse ser considerada um luau. O único momento que restava para Liam e Zayn estarem a sós era no quarto, mas ambos estavam tão cansados que nem gastavam tempo se falando. Já não era mais incomum Liam acordar com as pernas de Zayn entre as suas e ele encolhido ao seu lado, ou o moreno acordar para se deparar com Liam agarrado contra si e com a cabeça deitada em seu peito.

Eles não tinham o que dizer sobre isso, então acabava sendo algo ignorado por eles, mas o momento de silêncio estava para acabar, já que, dentro de poucas horas, embarcariam para a Suíça.

— É uma ideia saudável em pleno verão estarmos indo esquiar? — Zayn findou o silêncio.

— Mamãe sempre planeja grandes aventuras: andar com elefantes na Indonésia, safari na África, até a peregrinação nos caminhos de Santiago na Espanha, nadar com peixes-bois no Brasil, foi uma ideia bem criativa. — Liam contou.

— Então a desta vez é enfrentar temperaturas negativas e muita neve?

— Com esqui, chalés, lareira, vinho ou chocolate quente. — Liam adicionou.

— É um argumento válido. — Zayn cedeu, fechando sua mala. — Agora entendo o motivo de comprar tantos casacos, botas e tudo mais.

— Um dos motivos era para gastar com meu namorado. — Liam falou, e o coração de Zayn pareceu falhar por instantes. — E o outro era evitar que você congelasse até a morte.

— Eu não acredito na minha sorte em arranjar um companheiro tão cavalheiro — Zayn revirou os olhos, antes de sorrir.

— Você vai amar tudo lá. — Liam garantiu.

— Que escolha eu tenho senão confiar?

— Isso é verdade. — Liam riu, terminado de organizar sua mala.

Tendo suas coisas organizadas, eles levaram suas malas para baixo e resolveram esperar na sala pela chegada dos pais de Liam, que não demoraram a aparecer. Havia duas SUV com motoristas, que os levariam ao Aeroporto JFK.

— Nós não deveríamos... — Zayn começou a dizer, apontando para a fila do check-in.

Liam sorriu, balançando a cabeça e apertando a mão do moreno entrelaçada à sua.

— Nós voaremos em um voo particular, o jato está à nossa espera, por isso temos de nos apressar.

Zayn sentia-se embasbacado, mas ele não deixou de seguir Liam enquanto seguiam até o jato reservado. Eles foram recepcionados por uma comissária de bordo que sorriu para ambos e indicou onde podiam se sentar. Os bancos de

couro branco refletiam o luxo que a família de Liam poderia bancar para suas regalias. Zayn se sentou ao lado de Liam, com os dois afivelando seus cintos quando o piloto os avisou que iriam decolar.

— Vamos chegar amanhã lá? — Zayn questionou.

— Teremos de fazer uma parada antes de pousar em Berna e, de lá, seguiremos o percurso de trem pelas montanhas. — Liam explicou.

— Parece exaustivo.

— Mas tudo vale a pena diante daquele cenário, você verá.

— Eu imagino que sim.

O voo se passou calmo e, dentro de pouco tempo, os dois adormeceram, acordando somente horas depois, quando já haviam atravessado o Atlântico e chegado à Europa. A parada foi feita em Barcelona antes que eles pudessem levantar voo e cumprir sua rota de destino.

Quando Zayn acordou com Liam o chamando, ele sentia sua boca com um gosto horrível. Estava com sede e precisava se agasalhar com o frio repentino que sentia, seu suéter não parecia ser o suficiente.

— Bem-vindo à Suíça, Zayn. — Liam sorriu em pé diante dele.

O moreno não resistiu em sorrir por reflexo junto a Liam, era algo tão certo esta atitude. Fechando seu casaco mais apertado, ele aceitou a mão estendida de Liam quando os dois saíram do avião, o céu nublado e o ar gelado deixaram Zayn bastante ciente da baixa temperatura. Eles entraram em um carro que os aguardava ali, e o motorista os levou para a estação de trem. Liam comprou a passagem para os dois, e logo eles entraram no trem, indo procurar seus respectivos lugares, que, de modo quase indesejável, era diante dos assentos dos pais de Liam.

Zayn tentou não se incomodar com o olhar carrancudo que Geoff carregava em sua face, então sua atenção se voltou para os traços que Liam desenhava em sua mão para distraí-lo. Logo os dois estavam apreciando a vista da região dos Alpes da Suíça, era algo tão belo, capaz de tirar o fôlego. Em pouco tempo, eles chegaram a Interlaken Ost e tomaram o trem que os levaria para sua próxima parada em Brig. As paisagens eram tão preciosas que Zayn não se conteve em registrá-las com a câmera de seu celular, ele acabou deixando uma risada escapar ao que Liam rodeou sua cintura e mudou para a câmera frontal. A foto capturou o momento em que o castanho pousou seu queixo no ombro de Zayn e deu um sorriso que fez pequenas ruguinhas surgirem no canto de seus olhos.

Aquele sorriso era um dos motivos de Zayn ter se apaixonado pelo amigo.

Os dois se encontravam em uma espécie de bolha de paz, pois não notavam o olhar reprovador que o pai de Liam dava a eles e nem o sorriso genuíno que Karen tinha em seus lábios por ver seu filho tão tranquilo e relaxado, ela sabia que não havia mentira na forma amorosa que Liam olhava para Zayn, só esperava que os dois fossem capazes de ver esta verdade.

Ao chegarem a Brig, eles tiveram de ir para outro trem, que tinha como destino Visp. O único modo de alcançar Zermatt era por trens, visto que a cidade era isolada no cerco de montanhas nos Alpes.

Quando fizeram a parada final, alcançando o que desejavam, eles estavam cansados, e tudo que desejavam era ter uma cama, uma lareira próxima e bebidas quentes, e isso não demorou em se concretizar quando Liam abriu a porta do chalé que ele e Zayn compartilhariam. O moreno esteve deslumbrado com a aparência rústica e confortável do lugar, o sofá com mantas quentes, o chão diante da lareira coberto por um tapete. Era somente um cômodo, fora o banheiro, mas tudo era tão bem organizado em seu próprio lugar.

A cama queen size estava repleta de travesseiros e cobertores grossos, a cozinha se mostrava reabastecida recentemente.

— Isso é tudo tão lindo. — Zayn disse em um sussurro.

— E temos toda a semana para aproveitar.

— Me sinto tão cansado, meu corpo implora por um banho e chocolate quente. — o moreno choramingou.

— Eu posso cuidar do chocolate quente enquanto se banha.

— Isso é música para os meus ouvidos.

Liam sorriu quando Zayn despiu-se do casaco e começou a desabotoar a calça ao entrar no banheiro e fechar a porta. Enquanto o moreno estava na cozinha, ele tratou de se apressar em preparar a bebida quente, achando tudo o que precisava para fazer.

Quando o banho de Zayn terminou, ele saiu tremendo, tentando secar os cabelos e arrumar as roupas vestidas às pressas para se aquecer. Os aromas que o envolveram de imediato fizeram seu estomâgo roncar, finalmente percebendo o quão faminto estava. Ele quase chorou diante da visão de Liam cozinhando e xícaras fumegantes sobre um balcão que separava a área da cozinha das demais. Zayn tomou lugar sobre uma banqueta alta e segurou a xícara trazendo-a mais próxima de seu rosto, deixando o aroma delicioso da bebida tomar suas narinas.

— Você é um anjo. — Zayn afirmou, após ter seu primeiro gole do chocolate quente.

— Tudo isso para eu elevar meu ego?

— Tudo isso, porque você é a nossa salvação, eu só posso fazer macarrão instantâneo.

— Você sabe que isso quase não pode ser considerado saber cozinhar.

— Não queira desmerecer minhas habilidades. — Zayn bufou.

— Quer fazer sua própria comida? — Liam lhe lançou um olhar sobre o ombro.

— Você tem seu ponto. — o moreno cedeu. — O que está fazendo? Tem um cheiro maravilhoso.

— É uma surpresa. — Liam piscou.

Zayn franziu as sobrancelhas, mas não forçou para descobrir, ficou se deliciando com sua bebida enquanto assistia Liam lidar com maestria com a cozinha.

— Por que nunca cozinhou antes para mim?

— Estamos na faculdade, e você nunca quis tomar café da manhã na minha fraternidade. — Liam respondeu.

— Você nunca disse que era você quem cozinhava. — Zayn acusou.

— Você também nunca perguntou. — Liam retrucou.

— Touché.

Zayn contornou a boca de sua xícara com seu dedo, adquirindo uma expressão pensativa.

— O que foi? — Liam questionou.

— E como será quando isso acabar? Quando nós acabarmos?

Liam suspirou, diminuindo o fogo e se virando para ficar de frente para Zayn.

— Eu não sei ao certo. — Liam confessou.

— Nossa amizade ficará abalada? Não é como se todo o amigo pudesse fingir ser gay e depois agir como se nada tivesse acontecido.

— Nós não iremos nos afastar, Zayn. Eu jamais iria querer isso na minha vida, cara. Quão gay isso soou? — Liam perguntou com um meio sorriso.

— Muito gay, mas vou fingir que não me importo. — Zayn riu, bebendo mais de seu chocolate quente.

— Isso, vamos viver o agora e pensar no resto depois, não quero imaginar tudo estranho e não gostaria que isso acontecesse agora.

— Eu não lembro se você não lembrar. — Zayn falou.

— Combinado. — Liam estendeu a mão, e Zayn apertou com um sorriso.

Liam foi se banhar enquanto Zayn pegava pratos no armário e os ajeitava no balcão junto com talheres. Ele serviu-se com mais uma xícara de chocolate quente, não se contendo em resistir antes que o castanho deixasse o banheiro vestindo um par de calças de moletom e usando uma blusa de mangas longas preta.

— Você demorou. — Zayn reclamou.

— E eu acho que você é oco por dentro. — Liam zombou.

— Engraçadinho.

Servindo-se, eles comeram em meio a uma conversa sobre assuntos banais e, após colocarem tudo na lava-louça, foram para o espaçoso sofá perto da lareira.

— Eu estou surpreso que aqui tenha uma televisão.

— Não acho que o sinal seja bom, mas, neste caso, sempre há os DVDs. — Liam apontou para a estante do lado da lareira.

— Um vinho para acompanhar?

— Você escolhe o filme, eu pego o vinho.

— É justo.

Os dois passaram um bom tempo ali, bebendo vinho e gastando sua atenção com um filme qualquer que Zayn havia selecionado quando o sono se abateu sobre eles. Os dois não demoraram em ir para a cama.

O dia seguinte parecia lhes reservar grandes atividades, então deveriam estar preparados. Zayn dormiu com o rosto enterrado contra o peito de Liam, o outro lhe envolveu dentro de seus braços e puxou os cobertores sobre eles.

Quando o dia amanheceu, eles nem ao mesmo notaram, acordaram com batidas na porta do chalé, e Liam se desvencilhou de Zayn, para ir atender a porta, tremendo quando foi atingido pelo ar frio. Ele não pôde esconder sua surpresa ao ver sua mãe ali.

— Achei que iria me deixar congelando aqui fora. — Karen falou, entrando no chalé.

Ela tirou o cachecol e se virou para o filho, parado como uma estátua, próximo da porta, e o movimento de Zayn se sentando na cama chamou sua atenção.

— Vocês estão se levantando agora? — ela perguntou em descrença.

— Isso é ruim? — Zayn perguntou com a voz rouca quando Liam fechou a porta.

— Em menos de uma hora, temos de partir no teleférico, seu pai está irritado, mas subiremos para a estação de esqui. — Karen avisou.

— Zayn pode ir se arrumar primeiro. — Liam disse ao outro, que acenou e entrou no banheiro.

— E você pode me fazer um café e um chocolate quente, querido. — Karen abriu um sorriso ao mesmo tempo em que Liam fez uma careta.

— Eu devo ter cara de Starbucks. — Liam resmungou, indo para a cozinha.

— Ora, isso são modos de falar comigo? Eu ainda sei como dar bons puxões de orelha.

— Mamãe, eu vou completar vinte e um. — Liam bufou

— Enquanto eu ainda viver, tenho todo direito de lhe dar puxões de orelha.

— Não posso dizer que concordo com isso.

Liam preparou o chocolate quente e também o café, ficando feliz por ter uma cafeteira no chalé. Quando serviu uma xícara de café para sua mãe, Zayn apareceu, terminando de se arrumar, vestindo agasalhos grossos e segurando sua jaqueta térmica nas mãos.

— Café da manhã? — Zayn perguntou quando tomou lugar ao lado de Karen.

— Café e chocolate quente. — Liam indicou, servindo uma xícara de chocolate para o moreno e ficando com uma de café para si.

— Vamos deixar Liam. Ele pode ir se arrumar e eu preparo algo para vocês comerem. — Karen disse se levando e indo para o outro lado do balcão.

— Tem certeza disso? — Liam perguntou.

— Não é porque sou uma socialite que me tornei uma inválida na cozinha. — a mãe de Liam revirou os olhos. — Agora, quanto a você, James. Se apresse para o banho.

Zayn riu ao ver a reação de Liam por ser chamado por seu nome do meio. Enquanto o castanho se afastou, o outro ficou fazendo companhia para Karen e bebericando seu chocolate quente.

— Algum desejo especial para o café da manhã? — Karen perguntou para Zayn.

— Não se incomode com isso, aprecio tudo se tratando de comida.

A mulher mais velha sorriu para Zayn e se virou, começando a preparar o café da manhã.

— Nunca vi meu filho dessa maneira. — Karen falou. — Você definitivamente o faz feliz.

— Ele faz o mesmo comigo. — Zayn confessou.

— Não sabe o quão feliz fiquei após Liam me contar sobre o novo amigo que havia feito na escola. Geoff manteve o pulso firme, sobre mandá-lo para a Inglaterra, mas uma mãe nunca ficará bem vendo o filho ir para tão longe.

— Liam foi ótimo para mim, eu era um novato e não estava com paciência para aguentar exibicionismo de bens materiais, nossa química acabou sendo imediata.

— Eu vejo isso, reconheço aquele olhar, está repleto de paixão e carinho. — Karen sorriu de forma doce, e Zayn soube de imediato de quem Liam havia herdado o sorriso. — Ele o ama, por isso vejo-os tão bem, como um casal.

Zayn não pôde deixar de sorrir, mas sabia que o que a mãe de Liam visualizava era a máscara criada para o falso relacionamento, o próprio moreno gostaria que o sentimento descrito por Karen estivesse realmente em Liam.

— Acho que tirei a sorte grande. — Zayn deu um pequeno sorriso antes de terminar sua bebida quente.

— Sem dúvida, não quero me gabar, mas meu filho é a escolha certa para você, ele o fará muito feliz, Zayn.

Sem poder responder, Zayn somente concordou com um aceno e deixou sua expressão suave e pensativa enquanto observava Karen preparar torradas, panquecas e ovos mexidos.

— Isso foi rápido. — Zayn olhou para tudo com água na boca.

— Ao menos não perdi a experiência.

— O cheiro está maravilhoso. — Liam afirmou, vindo se juntar a eles.

— Achei que havia desfalecido naquele banheiro. — Karen zombou.

— Nem se passou tanto tempo assim. — Liam bufou.

— Sente-se e comam, vocês precisam estar saciados para nossa manhã programada.

— Você não vai comer? — Zayn questionou.

— Oh, não. Já fiz meu desjejum, estou satisfeita. — Karen afirmou.

Os dois rapazes passaram a se deliciar com a comida feita pela mãe de Liam enquanto esta conversava com eles e tomava com gosto uma xícara de café.

Quando terminaram de comer, colocaram os pratos na lava-louça e pegaram suas coisas, prontos para deixarem o chalé.

— Papai deve estar furioso por ter de esperar. — Liam murmurou.

— Provavelmente está, mas ele irá sobreviver. — Karen disse, colocando seu cachecol e suas luvas novamente.

Os três saíram do chalé e caminharam, seguindo Karen até onde Geoff os esperava. Eles pegaram seus equipamentos de esqui e foram à estação do teleférico, que os levaria para o topo da montanha.

— Você já esquiou? — Liam perguntou ao ver a tranquilidade de Zayn.

— Um ou duas vezes, posso estar meio enferrujado.

— Vai se sair bem.

Geoff pigarreou, trazendo a atenção dos dois para si.

— Reservei um almoço para nós em um bom restaurante por aqui, repleto de iguarias locais, espero que estejam dispostos. — o pai de Liam falou.

— Não vejo problemas. — o castanhou disse.

A ida ao teleférico foi feita em silêncio, com Zayn admirando a grande extensão branca de neve, que parecia como um travesseiro fofo. Eles alcançaram o topo e levaram seus equipamentos junto a si. Zayn ficou perplexo, quando assistiu Karen prender sua bota à prancha do esqui, ela abaixou os óculos para cobrir os olhos e ergueu o tecido quente sobre sua boca e nariz, ela acenou para eles antes de tomar impulso com os bastões e começar sua descida, Geoff não demorou a seguir a esposa.

— Okay... Sua mãe sabe esquiar... Muito bem, por sinal. — Zayn estava boquiaberto.

— Ela sempre amou esquiar, ama visitar o Canadá. — Liam explicou.

— Eu deveria me sentir um inútil aqui, ela parece tão... tão foda.

— Puxei este meu lado dela.

— Aposto que a humildade veio toda do seu pai. — Zayn revirou os olhos.

Liam lhe empurrou para desequilibrá-lo, mas não obteve sucesso, então os dois riram um do outro quando se impulsionaram para iniciar a descida. Zayn logo foi deixado para trás, ele não podia negar que Liam era muito bom e seu sorriso estava oculto quando viu que o outro tentava impressioná-lo. Foi por conta disto que Liam se precipitou contra uma rampa formada mais adiante, planejando concretizar sua manobra, Zayn assistiu animado antes que seu

coração disparasse e ele encarasse horrorizado quando a queda de Liam aconteceu. Ele se moveu rápido para alcançá-lo, desafivelando com pressa seus pés das pranchas de esqui, arrancando os óculos fora de seu rosto. Jogou-se de joelhos ao lado de Liam e ficou assustado sobre se devia tocá-lo.

— Lee? Por favor, Liam! Fale comigo, Liam! — Zayn gritou em desespero. — Liam, eu não estou brincando. Não faça isso comigo. Por favor, acorda.

Mas não aconteceu nenhum movimento por parte de Liam como Zayn esperava, e o pavor se espalhou por seu corpo, suas mãos tremendo quando tocou no rosto de Liam, tirando os óculos de seus olhos e abaixando a proteção que usava na face.

— Não me deixe, por favor, Liam. Eu te amo. — Zayn pediu, ele já podia sentir suas lágrimas. — Socorro!

O grito de Zayn foi a plenos pulmões e doeu suas cordas vocais, mas ele não hesitou em gritar novamente por ajuda, e seu choro aumentou quando assistiu dois esquiadores parando próximo. Um veio para ajudar e o outro se apressou em continuar sua descida para buscar ajuda.

— O que aconteceu com ele? — o desconhecido perguntou, Zayn agradeceu internamente por falar inglês.

— Ele tentou... tentou um mortal e caiu. — Zayn contou, soluçando.

— Acalme-se, ele tem pulso e não consegui ver nenhuma fratura. Geralmente vítimas de quedas assim quebram o pescoço ou ficam com seus ossos para fora em fraturas expostas.

Zayn sentiu-se doente só de imaginar algo horrível assim e apertou a mão enluvada de Liam na sua. A ajuda os alcançou por meio de um helicóptero. A maca foi abaixada e o castanho foi transportado para ela. Zayn assistiu o helicóptero seguir montanha abaixo e não perdeu tempo em se prender às pranchas de esqui novamente e seguir para a estação. Ele encontrou Karen lá e contou tudo para ela, a mãe de Liam tinha a calma que Zayn não conseguiu ter quando eles se dirigiram ao ponto de atendimento da estação.

O coração de Zayn só recebeu alívio quando ouviu a notícia de que Liam estava bem, ele só havia desmaiado por conta do impacto da queda, mas não detinha nenhuma fratura ou colapso algum na cabeça. Ele não estava totalmente consciente quando o levaram para o chalé que dividia com o moreno e o colocaram na cama.

— Se houver qualquer coisa, por menor que seja, não hesite em nos chamar. — Karen falou para Zayn.

— Ele deve dormir por longas horas agora, mesmo que tenha sido somente um susto. — Zayn disse em voz baixa. — O médico afirmou que estará bem pela manhã, então pode vir até se desejar.

Karen acenou, concordando e deu um abraço em Zayn, despedindo-se antes que saísse e ele fechasse a porta. Ele olhou para Liam e deu um suspiro pesado, tudo que desejava era um banho quente antes de também ir para a cama.

Despiu-se sem pressa e foi para o banheiro, sua pele se arrepiando pela variação de temperatura comparada a quando esteve vestido. Ligou a torneira da banheira e se deliciou ao ver o vapor subindo da água quente que estava enchendo a banheira. Zayn entrou ali e suspirou ao sentir seus músculos relaxarem, esteve em suspenso sobre qualquer pensamento em si mesmo antes, sua mente voltou-se por completo para Liam, doendo-se em preocupação, e agora que estava tudo bem e o amado repousava na cama, era como se a pedra que pressionava seu peito fosse retirada.

Ele finalmente deixou seus pensamentos tomarem conta enquanto se banhava. Ele havia sentido que iria perder Liam, mas algo o deixava mais inquieto do que a possibilidade de não ter mais o outro: era vê-lo partir sem saber dos sentimentos de Zayn por si. E era finalmente a hora de contar, estava cansado de guardar para si mesmo; Liam podia rejeitá-lo, mas ao menos ele ficaria ciente do amor de Zayn por si.

O moreno deixou o banheiro com uma toalha enrolada na cintura e segurava outra, secando seus cabelos, que logo foi descartada antes que pudesse procurar algo para vestir, seus olhos se fixaram no olhar confuso que Liam dava a ele.

— Zayn... — o mais novo chamou com a voz fraca. — O que aconteceu?... Como cheguei aqui?

Zayn se aproximou da cama com lentidão e se sentou na beirada, deixando Liam com a vista de suas costas.

— Você não lembra o que houve? — Zayn não olhou para Liam.

— Parece tudo um borrão antes de eu apagar.

— Você sofreu um acidente, desmaiou por conta da queda.

O entendimento alcançou o rosto de Liam, era por conta disso que suas costas estavam doloridas, mas isso não explicou o fato de Zayn não olhar para ele.

— Aconteceu alguma coisa? Eu fiz algo para você? — Liam perguntou com a voz preocupada.

O silêncio que prosseguiu foi tão grande que Liam achou que ficaria sem uma resposta, mas ele a recebeu:

— Se fez algo para mim? — Zayn repetiu seco. — Talvez quase morrer na minha frente tenha algo com isso.

Zayn se virou irritado, e Liam não estava preparado para o conflito de emoções que foi capaz de visualizar no olhar do outro.

— Eu...

— Cala a boca, agora você vai escutar. — Zayn grunhiu. — Será que pode ser tão cego assim, Liam? Amigo nenhum faria o que estou fazendo por você.

— Sei que pedi demais, mas...

— Eu fiz, porque amo você, muito mais do que a porra de uma amizade, amo você por completo em cada mínima faceta ou defeito.

Liam não era alguém de quem se tirava as palavras facilmente, mas Zayn tinha o dom para obter isso e ali estava ele fazendo novamente.

— Me... ama?

— Desde quando tínhamos quatorze anos. Como foi possível não notar? — Zayn suspirou, amargurado.

— Como foi que você não notou que lhe amo também? — Liam rebateu.

Desta vez, foram os olhos arregalados cor de âmbar que encontraram os de Liam.

— O quê?

— O sentimento sempre foi mútuo, sendo assim. Se eu soubesse o que sentia, tudo poderia ter sido diferente. — Liam sussurrou.

— Você me ama? — Zayn perguntou em um fio de voz.

— Muito mais do que a mim mesmo.

O moreno fechou a distância entre eles, voltando a deitar Liam na cama e tomando seus lábios de maneira faminta, como se não pudesse ter o suficiente dele ou não acreditasse que tudo o que vivenciava era real. No fundo, Zayn temia que estava sonhando na banheira, mas os dedos de Liam puxando com força os cabelos em sua nuca foram a comprovação de que não era imaginação, era real e ele tinha Liam para si como sempre desejou.

Um beijo tão envolvente, em que cada um carregava grande vontade de provar mais do outro, a dança impecável de suas línguas uma contra a outra, a

sincronia sedutora de seus lábios colados, os gemidos que deixavam escapar sendo silenciados pela união daqueles lábios que, por muito encenarem, tal encontro, agora poderiam aproveitar.

A toalha caiu, as cobertas foram empurradas para longe e a calça de moletom que Liam usava foi retirada às pressas. Suas peles se tocaram de forma eletrizante, compartilharam seu calor e não findaram seus beijos, a vontade imensa de que queriam fundir seus corpos para nunca mais estarem separados.

Na mente de Liam, ele jurava poder ver um céu estrelado acima deles, mas sua atenção estava em Zayn, que parecia ser tão atraente como a luz tão acolhedora que pertencia ao sol. Ele se sentiu amado, pois era capaz de encontrar esse sentimento no modo como o outro olhava para si, e Liam queria permitir que Zayn o amasse, preenchê-lo com seu amor, em cada e a cada ápice extasiante e foi isso que fez.

A boca do moreno caiu para espalhar beijos e suaves mordidas em seu pescoço quando o castanho jogou a cabeça para trás com um gemido. Zayn estava o amando e ele o sentia em cada terminação nervosa de seu corpo, como se fossem um só e, naquele momento, eles eram.

Liam puxou o corpo do outro mais para si enquanto Zayn bombeava dentro de si, e o quarto se tornou repleto de uma harmonia escaldante de gemidos, ofegos, grunhidos e o som que os corpos faziam ao se chocar um com o outro, uma sinfonia impressionante, digna de deixar Beethoven e Mozart invejosos.

Os dois se amaram em uma intensidade profunda, sem medo e com os sentimentos finalmente sob suas peles.

E dali, seguiu-se da mesma maneira. Enquanto sua estadia em Zermatt prosseguiu, eles nunca estiveram de forma mais firme juntos, eram um casal real agora, sem temores sobre seus beijos ou noites de amor. Cada um quis permitir ao outro, o direito de amar cada partícula sua.

Quando retornaram aos Hamptons, Zayn tinha a felicidade estampada em seus olhos e sorriso, ele poderia chorar com o quão feliz estava e nunca mais parar, Liam estava com ele, juntos, e eles se amavam, o mundo não importava mais.

Era tudo perfeito. Mas o que se começou com um cenário recheado em mentiras poderia ter um futuro sem complicações?

E foi isso que Zayn encontrou em seu último dia com Liam nos Hamptons. Naquela noite, retornariam para Cambridge, um passeio pela praia com Karen não era o que planejava, mas foi exatamente o que saiu para fazer. Trilharam um longo caminho pela praia, conversando e compartilhando um momento.

Karen estava agradecida por ter o jovem precioso como genro, e Zayn não podia estar mais feliz em conquistar uma quase segunda mãe.

Ele e Karen retornaram do passeio com Zayn decidindo ir procurar por Liam, não o encontrando no quarto, nem em lugar algum que pensou que estaria, ele quase desistia antes de ouvir a voz de Liam vindo da biblioteca e caminhou até lá com um grande sorriso.

— Estou cansado de ver você com essa coisa fingida, pare de ser infantil, Liam. — a voz de Geoff fez Zayn paralisar.

— Eu não sou infantil. — Liam defendeu-se.

— Pensei que tivesse grandes planos na política. — Geoff falou.

— E eu os tenho.

— Então batalhe por eles, não pense que esse falso relacionamento vai lhe render alguma coisa. — Geoff disse, e a garganta de Zayn se fechou. — Desfaça com este rapaz e arranja uma boa moça em Harvard, você precisará de uma companheira de pulso firme ao seu lado...

Zayn não precisou ouvir mais antes de se afastar correndo e subir para o quarto, suas malas estavam prontas já e então tudo que precisou foi chamar por um táxi. Só precisava sair daquele lugar. O que antes lhe parecia um paraíso, agora era algo sujo e inflamado por mentiras. Ele levou suas malas para baixo e tentou sair sem ser notado, ele obteve sucesso em grande parte, só gostaria de ter alcançado o táxi de maneira mais rápida.

— Zayn? — a voz de Liam chamou atrás dele.

O moreno respirou fundo, entregando suas malas ao motorista do táxi antes de se virar para encarar Liam.

— Ei, o que está fazendo? Nós só partiríamos esta noite.

— Eu devo voltar. — Zayn tentou manter sua voz contida, ele se controlava para não gritar e jogar tudo o que tinha preso em sua garganta.

— Por quê? Quer que eu tente pegar outro voo para nós? Acho que dá para fazer isso. — Liam falou tirando o celular do bolso.

— Eu vou voltar sozinho... Liam.

O olhar do castanho estava confuso quando ele ergueu seus olhos para estudar o rosto de Zayn.

— Aconteceu alguma coisa? — Liam questionou se aproximando.

— Não toque em mim. — Zayn não se conteve em gritar.

— Zayn...

— Não, só... Estou cansado, não dá mais... Eu confiei em você, eu amei você, eu entrei nisso por você... Eu não vou apontar você como o único culpado... Não vou dizer que foi você. — Zayn tentou afastar a dor de sua voz. – Eu também sou culpado.

— Eu não estou entendendo. — Liam tentou se aproximar, mas parou seus passos quando encarou as lágrimas de Zayn.

— Mentiras, tantas mentiras, você nos sufocou com elas, eu entrei em seu cenário perfeito, segui um sonho que não era meu. — Zayn falou. — Fiz porque te amo, mas agora a verdade aparece e, no fim, mesmo ela sendo a melhor opção, a verdade dói como o caralho.

— Zayn...

— Eu tentei esconder o quanto te amava, tentei esconder tudo, mas de que adiantou? A verdade apareceu sobre suas mentiras, e você me dilacerou.

— Zayn, me explica o que está acontecendo. — Liam pediu com urgência.

— O que está acontecendo? Eu me prendi no seu jogo, deixe que me controlasse e agora espero que esteja feliz, porque sinceramente eu não estou.

Zayn deu as costas a Liam e escutou os passos vindo atrás de si.

— Não se aproxime de mim, eu ouvi você e seu pai. — o moreno gritou, enraivecido. — Se encare em um espelho, Liam. Veja a verdade que você mesmo tenta negar.

Foi com estas palavras que Zayn abandonou um Liam estático e entrou no táxi, que começou a se afastar enquanto o castanho se deixou cair no chão e começou a chorar.

Zayn soluçava quando puxou o celular de seu bolso e discou um número do qual sabia que a ajuda viria.

— Alô? — uma voz alegre atendeu.

— Troye, preciso de sua ajuda. — Zayn sabia o que estava fazendo, não importava o quanto seu coração doesse em seu peito, ele estava fazendo a coisa certa. — Arrume minhas coisas, por favor. Eu irei voltar para a Inglaterra.

*

5 anos depois.

Zayn leu enojado o artigo do The Mirror.

"Na última quinta (24), Conrad Whinterscott (25) parece ter exagerado com suas ideias de diversão. O jovem filho do senador italiano Lorenzo Whinterscott foi fotografado com um rapaz em cenas depravadas próximo de um pub famoso de Londres.

A razão para toda comoção é que Conrad nada mais é do que noivo de Zayn Malik (26), o britânico em ascensão que tem conquistado a todos os apreciadores de arte pelo mundo inteiro."

Zayn não se dignou a ler mais da matéria, pegou seu celular e o jogou para longe de si, querendo distância de tudo aquilo. Tentou focar sua mente em outro lado, respirou fundo e buscou a concentração. Sua exposição na Gladstone, era este seu maior objetivo, sua vinda a Nova York por esta razão ou nunca colocaria seus pés nos Estados Unidos novamente.

Ele puxou uma longa lufada de ar, inflando seus pulmões quando se postou diante do espelho no quarto de hotel. Visualizou sua aparência: os cabelos rebeldes que, caíam em sua testa, precisavam de um corte que o moreno não se preocupava em fazr, as calças jeans pretas, os coturnos, a camisa pretas com as mangas dobradas até o cotovelo e o colete preto, dando-lhe um ar despojado e irreverente, era este o seu modo de ser, não ia se ocultar sobre um terno e sorrisos falsos. Isso era o que Zayn mais conseguia odiar.

Considerando-se pronto, ele pegou seu celular e a chave do quarto, saindo dali. Seguiu para o elevador, esperando que este o levasse ao andar térreo. Um motorista aguardava para levá-lo até a galeria. Ele estava em êxtase por ter a chance de expor na Gladstone, uma das mais reconhecidas galerias de arte de Nova York.

Seu nervosismo era justificável, mas ele iria fazer algo que amava, então nada o impediria de demonstrar o amor que colocava em seu trabalho.

*

— Isso é tão frustrante. — Liam murmurou para a mãe.

— Não fale assim, tente sentir o que a tela quer transmitir a você, toda a emoção, sinta.

— Eu não queria estar aqui, você sabe.

— Você não pode fugir para sempre, Liam.

— Eu não fugi. — Liam defendeu-se.

— Oh, você o deixou fugir. — Karen se corrigiu, e Liam fez uma careta.

— Foi um mal entendido.

— Que você não tentou explicar. — a mãe alfinetou.

— Eu tentei, mas ele tinha ido para a Inglaterra, e Troye me chutou para fora da Gamma Phi Beta.

— Isso foi há cinco anos, é tempo de superar. Olhe só para você agora, um belo advogado, montando sua própria sociedade com um grande escritório americano. — Karen relembrou orgulhoso.

— A política, em definitivo, não era para mim. — Liam balançou a cabeça.

— Se seu pai não fosse tão cabeça dura, ainda estaríamos casados, mas a vida segue, e eu espero que ele esteja feliz com sua reeleição fracassada. — Karen encolheu os ombros. — Ao menos, me sinto recompensada por ter levado metade do patrimônio dele.

Ela e Geoff assinaram os papeis do divórcio um ano após Liam ter mudado seu curso de direito, querendo agir em outra área na profissão. Ele finalmente viu a verdade que Zayn tentou apontar, Liam estava tentando ser a personificação do pai e se tornou tão cego sobre isso que nem ao mesmo enxergou suas ações, mas pôde mudar a tempo e transformar sua vida, isso lhe deu a dor de perder Zayn.

— Eu... — Liam começou a dizer, mas o olhar de sua mãe não focava mais em si. — Ele está atrás de mim, não é?

Sua mãe afirmou com a cabeça, e Liam se virou lentamente, seus olhos se embebedando com a vista que era Zayn há alguns passos de distância, distraído conversando com uma mulher mais velha, mas o moreno pareceu pressentir que era observado, pois seu olhar desviou da mulher e foi pousar direto sobre Liam. As respirações ficaram em suspenso, e os olhos travados um no outro, foi quase uma eternidade quando finalmente o contato se quebrou e Zayn desviou o olhar, Liam soltou o ar que prendia e se virou, precisava se afastar dali e foi o que fez.

Liam caminhou para mais afundo na galeria, deixando sua mãe para trás, querendo se afastar da dor, a dor que sabia que havia colocado no olhar de Zayn. Ele notou que a iluminação diminuiu onde estava e parou diante de um quadro solitário que estava ali. Ele reconhecia este quadro, já o havia visto em fotos antes.

Os olhos de Liam varreram pelo tom de cinza de aparência tão profunda no quadro, o preto e o branco apareciam como uma linha divisória tão marcante, Liam era capaz de sentir o que aquela pintura queria mostrar, seu significado era doloroso.

— Foi meu primeiro quadro. — Uma voz rouca soou atrás de Liam, ele não precisava se virar, estava ciente de quem era. — The Liar. Está será sua última vez em exposição, foi vendido por 12 milhões de libra.

— Eu sei. — Liam sussurrou encarando o quadro. — Foi eu que o comprei.

Ele pôde sentir o olhar surpreso de Zayn sobre ele, quando este parou ao seu lado.

— Em anônimo?

— Agora não mais, não é? — Liam não atreveu a desviar o olhar do quadro. — Você realmente quis me retratar?

— Eu estava tão magoado, quebrado, era doloroso demais, precisava me expressar, meu professor me aconselhou a isso. — Zayn contou.

— Você havia sido aceito em uma Universidade de Artes italiana. — Liam lembrou-se do fato. — Por que não me contou na época?

— Eu não sabia que ia ser aceito, depois usei como fuga.

— Você não me deixou explicar.

— Agora é meio tarde para isso, não? — Zayn questionou.

Liam pensou em responder, mas foi interrompido pela voz de sua mãe:

— Liam... Oh, eu não quis atrapalhar vocês dois. — ela passou a se desculpar ao ver Zayn ao lado do filho.

— Está tudo bem, nós já acabamos nossa conversa. — o moreno deu um sorriso para Karen.

— Zayn. — a mãe de Liam agarrou o ex-genro em um abraço apertado. — Isso está tão maravilhoso, seus quadros são incríveis, não tenho palavras para lhe elogiar. Quão apaixonada estou pela sua arte e por você como artista.

— Obrigado, você não sabe o quão grato fico por ouvir isso, ainda mais vindo de você. — Zayn agradeceu.

— Sinto ter que me retirar tão cedo, mas pela manhã devo ir a Los Angeles, os negócios sempre criam problemas sem a chefe por perto. — Karen disse com uma piscadela. — Você vem, Liam?

Zayn e Karen fitaram o castanho, esperando que ele respondesse.

— Preciso falar com Zayn, nossa conversa definitivamente não acabou.

— Tudo bem, ajam pacificamente. Boa sorte aos dois. — Karen deu um beijo no filho e um abraço em Zayn antes de se afastar.

— Conversar comigo? Não vejo motivo disso. — o moreno franziu as sobrancelhas.

— Jante comigo esta noite.

— Eu não tenho tempo, é minha exposição de artes, ainda gastarei algumas horas aqui. — Zayn falou.

— Eu não tenho pressa. — Liam retrucou.

O mais velho revirou os olhos diante da teimosia do castanho.

— Sairei às dez, não vejo nenhum jantar acontecendo a esta hora.

— Conheço um bom lugar. — Liam afirmou.

Zayn lhe encarou com cautela antes de suspirar, cedendo à proposta de Liam. Os dois se separam naquele momento e só voltaram a se falar novamente quando Liam abriu a porta do seu carro para que Zayn entrasse.

— Seus gostos não mudaram nada. — o moreno balançou a cabeça, referindo-se a Lamborghini.

— Eu sempre tive bom gosto. — Liam falou. — Ao menos, mudei minhas ideias quanto à política e me afastei por completo deste meio.

Zayn se surpreendeu mais uma vez na noite com as palavras de Liam, ele nunca esperou que o outro estivesse tão diferente do que imaginou que se transformaria.

— Sério?

— Sim, eu estou trabalhando com meu próprio escritório de advocacia, junto de um sócio.

— E o seu pai não se incomodou?

— Não é como se ele tivesse direito de opinar. Mamãe e ele se divorciaram, então não o vejo há anos. — Liam deu de ombros.

Ele estacionou o carro e Zayn olhou para fora, vendo que era um local mais afastado do centro conturbado de Manhattan, com clima mais reservado e discreto, ele sorriu ao ver que Liam o levava para um bistrô.

— É um bom lugar. — Zayn elogiou quando sentou-se, e Liam tomou lugar à sua frente.

— Achei-o por acaso, pode ter se tornado meu lugar favorito em toda a cidade.

— Eu não tiro sua razão. — o moreno suspirou diante da suavidade do local e da melodia calma que tocava pelo lugar.

Eles fizeram seu pedido para um garçom e se encararam por alguns instantes.

— Você disse que queria conversar. — Zayn lembrou, tentando fazer Liam desviar seu olhar.

— Sim, quero me explicar sobre o que aconteceu da maneira correta.

— Liam, isso é passado.

— Foi tudo um mal-entendido que me fez perder você, não é algo que eu possa simplesmente esquecer.

Zayn mordeu o lábio e massageou as têmporas.

— Tudo bem, eu te ouvirei.

O moreno visualizou o pomo de adão de Liam descer quando ele engoliu em seco.

— Você disse que ouviu eu e meu pai conversando, até que ponto exatamente?

Zayn suspirou, não gostando de reviver tais lembranças dolorosas, mas ainda assim as fazendo.

— Dizendo que você deveria me deixar e arrumar uma mulher para se ter ao seu lado. — Zayn falou em voz baixa.

Liam comprimiu seus lábios e balbuciou algo inaudível.

— Se você tivesse ficado mais alguns segundos, teria me ouvido dizer que jamais faria tal coisa, porque estava completamente apaixonado por você.

O peito de Zayn se comprimiu, e sua respiração ficou entrecortada enquanto ele encarou Liam.

— Você teria ouvido isso, teria me ouvido dizer o quanto o amava. Imagine o quão doloroso foi assistir, após dizer aquilo ao meu pai, ver você partir. — Liam continuou.

— Disse a ele que me amava? — Zayn perguntou com a voz falha.

— Com todas as letras.

O moreno respirou fundo e fechou seus olhos, agora estando ciente de que toda a dor que enfrentou foi em vão e poderia ter sido evitada.

— Isso poderia ter mudado tudo. — Zayn murmurou.

— Ainda poderia? — Liam perguntou em tom esperançoso, cobrindo a mão direita de Zayn com a sua.

Liam sentiu, antes que Zayn pudesse explicar, sua mão se erguer e seu olhar caiu para onde a do outro estava pousada, seus olhos focaram sobre o pesado aro de ouro decorando o dedo anelar do moreno.

— Outro fez o pedido, Liam. — Zayn confessou.

— Está noivo. — o castanho falou mais para si mesmo do que para o outro, como se sua voz fosse afirmar a realidade de tudo.

— Devo me casar em dois meses, os convites já foram enviados. — Zayn falou, desviando o olhar para qualquer lugar que não fosse Liam.

O garçom escolheu o momento ideal para trazer seus pedidos, e Zayn sentiu-se agradecido pela interrupção. Eles comeram em silêncio, com isso tornando a sensação por completo desagradável, então nada mais foi dito e, logo que saíram do bistrô, Liam levou Zayn até o seu hotel. E antes que o moreno saísse do carro, ele foi impedido, pelos lábios de Liam tomando os seus.

— Não se case, fique comigo. — Liam pediu, colando sua testa à de Zayn.

Os olhos dos dois permaneceram fechados, somente suas respirações sendo ouvidas e as batidas de seus corações sendo sentidas.

— Eu não posso. — Zayn disse de maneira dolorosa.

Zayn se afastou do toque de Liam e se virou para abrir a porta do carro.

— Você o ama? — Liam fez sua última pergunta.

O moreno hesitou em responder, não se virando para encarar Liam.

— Adeus, Liam. Foi bom rever você, afinal. — Zayn despediu-se e saiu do carro.

O rosto de Liam foi direto contra o volante enquanto ele se amaldiçoou, e lágrimas vieram aos seus olhos, somente mais aquela vez, se permitiria chorar por perder a pessoa que tanto amava.

Desiludido de uma vida amorosa e com o coração em frangalhos, Liam acelerou o carro para longe do hotel, querendo esquecer tudo e desejando apagar a ferida recente que seu peito recebeu com a notícia do noivado de Zayn.

*

Os golpes incessantes fizeram Liam acordar assustado, ele coçou seus olhos ainda sonolento e acendeu o abajur em sua cabeceira para poder identificar no relógio que se passava das duas da manhã. Ele poderia ser considerado um louco, por se levantar e ir atender a porta, até mesmo um homem morto, por abri-la, sem nem espiar pelo olho mágico quem o atormentava naquele horário.

Zayn.

A resposta veio assim que abriu a porta, e seus olhos identificaram s silhueta de Zayn com a mão paralisada no ar, pronto para voltar a bater. Suas mãos logo se moveram para se esconder nos bolsos da calça jeans.

— Sabe o quão difícil pode ser achar o número da sua mãe? Ou conseguir seu endereço aqui? Ou até mesmo um britânico arranjar um táxi em NY em plena madrugada? — Zayn começou a falar, e Liam piscou, tentando espantar seu sono para compreender melhor o que ele falava. — Acho que ainda pior é noticiar ao noivo às sete da manhã em Londres, que você está cancelando o casamento. Tem ideia do quão difícil está sendo minha madrugada, Liam?

— Você... você cancelou seu casamento?

Zayn deu de ombros e tirou sua mão do bolso, arrancou a aliança do dedo anelar e caminhou para trás, fechando os olhos e a jogando o mais longe que conseguiu, sem se importar.

— Como posso me casar? Tive a confirmação que meu coração sempre pertencerá a você. — Zayn disse.

— Mesmo? — Liam perguntou com um sorriso bobo.

— Espero que tenha uma cama quente e muito carinho para me recepcionar, porque este clima de Nova York é uma droga. — Zayn grunhiu.

— Eu tenho. — Liam o puxou para dentro e fechou a porta atrás deles, importando-se ao máximo em levar Zayn para cama e garantir que nunca mais se afastasse dela e nem de sua vida.

De forma dura, a verdade foi mostrada, grandes consequências resultaram em razão dela, mas, para Zayn e Liam, sempre houve uma verdade nua e crua, que nenhuma mentira ou dúvida poderia vedar.

O amor de um pelo o outro.


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Nalu


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