O Guardião

By JaqueBastos

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Quarenta dias após a morte de seu marido, Julie Barenson recebe uma encomenda deixada por ele. Dentro da caix... More

Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 12
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37

Capítulo 5

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By JaqueBastos


No sábado à noite, durante o jantar, Richard olhou para Julie, do outro lado da mesa, com um leve sorriso brincando em seus lábios.

- Por que você está sorrindo? - perguntou ela.

Richard pareceu voltar ao presente, com uma expressão encabulada.

- Desculpe. Eu só estava sonhado acordado por um segundo.

- Estou sendo tão entediante assim?

- De jeito nenhum. Só estou feliz por você estar comigo esta noite. - Levando o guardanapo ao canto da boca, ele a olhou. - Eu já disse que você está linda hoje?

- Um monte de vezes.

- Quer que eu pare de repetir?

- Não. Pode achar estranho, mas gosto que me coloquem num pedestal.

Richard riu.

- Farei o possível para mantê-lo nele.

Eles estavam no Pagini's, um restaurante aconchegante em Morehead City, com cheiro de temperos frescos e manteiga derretida. O tipo de lugar em que os funcionários vestiam uniformes preto e branco e a comida muitas vezes era preparada ao lado da mesa. Havia uma garrafa de chardonnay num balde de gelo sobre a mesa e o garçom lhe servira duas taças que produziam um brilho amarelo à luz suave. Richard havia aparecido à porta usando um paletó de linho, segurando um buquê de rosas e com um cheiro discreto de água-de-colônia.

- Então, como foi sua semana? - perguntou ele. - Que coisas empolgantes aconteceram na minha ausência?

- Quer dizer, no trabalho?

- No trabalho, na vida, no que for. Quero saber de tudo.

- Provavelmente eu é que deveria estar lhe fazendo esta pergunta.

- Por quê?

- Por que minha vida não é nem um pouco excitante - respondeu ela. - Trabalho num salão de beleza numa cidade pequena, lembra? - Julie disse isso de um modo alegre e bem humorado, não como se quisesse inspirar compaixão. - Além disso, acabei de perceber que não sei muito sobre você.

- É claro que sabe.

- Não sei, não. Você ainda não me falou muito sobre si mesmo. Nem sei direito o que faz.

- Mas eu não lhe disse que sou consultor?

- Sim, mas não entrou em detalhes.

- Porque meu trabalho é entediante.

Ela fingiu ceticismo, e Richard pensou por um momento.

- Está bem... o que eu faço... - Ele fez uma pausa. - Bem, trabalho nos bastidores, certificando-me de que nada desmorone.

- Isso não é entediante.

- É apenas um modo elegante de dizer que trabalho com números o dia inteiro. Nesse sentido, sou o que a maioria das pessoas considerariam um nerd.

Ela o olhou, pensando: duvido.

- A reunião era sobre isso?

- Que reunião?

- Aquela em Cleveland.

- Ah... não - respondeu ele, balançando a cabeça. - A empresa está com outro projeto, preparando-se para participar de uma licitação na Flórida, e há muita pesquisa para fazer: projeções de custos, estimativas de tráfego, cargas esperadas, esse tipo de coisa. Eles têm uma equipe própria, é claro, mas chamam consultores para se certificarem d que tudo estará de acordo com as normas governamentais. Você ficaria surpresa com a quantidade de trabalho a fazer antes de se iniciar um projeto. Sozinho, sou o responsável pela destruição de grandes áreas florestais só para produzir a papelada exigida pelo governo, e neste momento estou com pouco pessoal.

Julie o observou à luz pálida do restaurante. Seu rosto anguloso, ao mesmo tempo rude e jovial, fez com que ela se lembrasse dos homens que ganhavam a vida fazendo propaganda de cigarros. Ela tentou, sem sucesso, imaginar como seria a aparência dele quando criança.

- O que você faz em seu tempo livre? Quero dizer, como hobby?

- Na verdade, não muito. Entre trabalhar e tentar me manter em forma, não me sobra muito tempo para nada. Mas eu costumava me dedicar um pouco à fotografia. Fiz alguns cursos na faculdade e por um tempo pensei em seguir essa profissão. Cheguei até a comprar alguns equipamentos. Mas essa é uma atividade em que não é fácil pagar as contas, a menos que você queira abrir um estúdio, e eu não tinha a menor intenção de passar meus fins de semana fotografando casamentos e bar mitzvahs, ou crianças levadas à força pelos pais.

- Em vez disso se tornou engenheiro.

Ele assentiu. Por um momento a conversa foi interrompida e Julie estendeu a mão para pegar sua taça de vinho.

- E você, é de Cleveland?- perguntou Julie.

- Não, não morei em Cleveland durante todo esse tempo. Apenas por um ano, mais ou menos. Na verdade, fui criado em Denver e passei a maior parte da vida lá.

- O que seus pais faziam?

- Meu pai trabalhava numa fábrica de produtos químicos e minha mãe era dona de casa. Pelo menos no início. Sabe como é, cozinhava, mantinha a casa limpa. Mas, depois que meu pai morreu, ela teve que arranjar um emprego como doméstica. Não ganhava muito, mas de algum modo conseguiu nos sustentar. Para ser franco, não sei como ela fez isso.

- Ela parece ser uma mulher notável.

- Era.

- Era?

- Sim. - Ele olhou para baixo, girando o vinho em sua taça. - Teve um derrame há alguns anos e... bem, não é nada bom. Minha mãe mal tem consciência do que acontece ao seu redor e não se lembra de mim. Na verdade, não se lembra de quase nada. Tive que mandá-la para um lugar em Salt Lake City especializado em tratar vítimas de acidente vascular cerebral.

Julie se retraiu. Vendo a expressão dela, Richard balançou a cabeça.

- Não se preocupe. Você não tinha como saber. Mas, para ser sincero, não costumo falar sobre isso, justamente porque deixa as pessoas desconfortáveis, ainda mais quando elas sabem que meu pai também morreu. Ficam se perguntando como deve ser não ter uma família. Mas acho que você não precisa que eu lhe diga isso.

Não, pensou ela. Não preciso. Entendo muito bem como é.

- Foi por isso que você saiu de Denver? Por causa de sua mãe?

- Também. - Ele olhou para a mesa antes de erguer os olhos de novo. - Acho que é hora de contar que já fui casado. Com uma mulher chamada Jessica. Fui embora também por causa dela.

Apesar de estar um pouco surpresa por Richard não ter mencionado isso antes, Julie não disse nada. Percebeu que ele estava em dúvida se deveria ou não prosseguir, mas enfim continuou, com a voz neutra:

- Não sei o que deu errado. Eu poderia falar sobre isso a noite toda, tentando entender, mas, para ser sincero, até hoje não consegui. Simplesmente não deu certo.

- Por quanto tempo vocês foram casados?

- Quatro anos. - Ele a fitou. - Você quer mesmo ouvir essa história?

- Não se você não quiser contar.

- Obrigado. - disse ele com um suspiro e uma risada. - Você não faz ideia de como estou feliz por ter dito isso.

Ela sorriu.

- Então, depois você  foi para Cleveland. Gosta de lá?

- Sim, mas não fico muito por lá. Em geral fico onde a empresa está com um projeto, como agora. Depois que o projeto termina, não tenho a menor ideia de para onde irei.

- Aposto que às vezes isso é difícil.

- Sim, as vezes é. Principalmente quando tenho que me hospedar em hotéis. Este projeto é bom, porque ficarei aqui por algum tempo e poderei encontrar um lugar para alugar. E, é claro, terei a chance de ver você.

Enquanto ele falava, Julie se surpreendeu com o fato de suas vidas terem aspectos em comum: desde serem filhos únicos criados apenas por suas mães até a decisão de recomeçar num lugar novo. E, embora seus casamentos tivessem terminado de maneiras bem diferentes, algo no tom de Richard sugeria que ele tinha sido abandonado e experimentara sentimentos de perda. Em todo o tempo que passara em Swansboro, Julie nunca conhecera ninguém que entendesse como ela às vezes se sentia solitária, sobretudo durante as férias, quando Mike e Henry  iam visitar os pais ou Mabel ia para Charleston passar um tempo com a irmã.

Mas Richard sabia como era isso e ela começava a sentir a afinidade entre eles, a mesma afinidade que os turistas sentem no exterior quando descobrem que as pessoas da mesa ao lado são de seu país.

À medida que a noite avançava, o céu ia escurecendo, revelando as estrelas. Nem Julie nem Richard se apressaram em terminar o jantar. No fim da refeição pediram café e dividiram uma fatia de torta de limão.

Ainda fazia calor quando finalmente eles foram embora. esperando que Richard lhe oferecesse a mão ou o braço, Julie ficou surpresa por ele não fazer nem uma coisa nem outra. Uma parte dela se perguntou se ele estaria se contendo por ter percebido que ela fora apanhada desprevenida por aquele beijo, no início da semana. Outra parte se perguntou se Richard  estaria surpreso consigo mesmo por tudo o que lhe contara sobre seu passado. Havia muito a digerir, pensou ela. A revelação sobre ter sido casado viera do nada e Julie se questionou sobre o porquê de ele não ter mencionado isso no primeiro encontro, quando ela lhe falou a respeito de Jim.

Mas tudo bem. Julie lembrou que as pessoas agem de maneira diferente quando o assunto é seu passado. E, agora que eles se sentiam mais à vontade um com o outro, percebeu que estava gostando desse encontro tanto quanto gostara do primeiro. Estava sendo agradável, nada muito emocionante, mas agradável. Quando eles pararam na faixa de pedestres, Julie olhou de relance para Richard. Gosto dele, pensou. Ainda não estou louca por ele, não sofreria se tivesse que lhe dizer adeus, mas gosto dele. E por enquanto isso é suficiente para mim.

- Você gosta de dançar? - perguntou ela.

- Por quê? Quer ir dançar?

- Se você quiser.

- Ah, não sei. Não danço muito bem.

- Vamos - disse Julie. - Conheço um lugar ótimo.

- Tem certeza de que não quer ficar mais um pouco por aqui? Poderíamos tomar um drinque em algum lugar.

- Estamos sentados há horas. Acho que estou pronta para me divertir um pouco.

- Não achou a noite divertida até agora? - perguntou ele, fingindo estar magoado. - Eu me diverti muito.

- Você entendeu o que eu quis dizer. Se isso o faz se sentir melhor, também não danço muito bem, por isso prometo não reclamar se você pisar no meu pé. Tentarei nem fazer cara de dor.

- Sofrer e sorrir?

- Sabe como é, esse é o drama típico feminino.

- Está bem - disse ele -, mas vou fazer você cumprir a promessa.

Julie riu e fez um sinal com a cabeça na direção do carro dele.

- Vamos.

Richard se enterneceu com o som da risada dela, a primeira vez em que ouvia aquela noite.

Ela é cautelosa, observou. Eu a beijei uma vez e ela pareceu questionar  nossa relação. Porém, se a deixo conduzir as coisas, a cautela parece desaparecer. Sabia que Julie estava tentando avaliá-lo, combinar a história  dele com o homem sentado à sua frente. Mas sem dúvida viu compreensão em seu rosto no momento em que ela se deu conta de como eles eram parecidos.

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