CHOCOLATE e outros contos

By juliane_patricia_

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A noite da formatura de Eleonor Mary Cross não está nenhum pouco agradável, tudo de ruim parece ter acontecid... More

Notas da autora
Não, Eleonor, eu não aceito

Apenas Saia Da Bolha

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By juliane_patricia_


Paredes lilases.

Duas camas.

Um enorme guarda-roupa.

Uma cômoda.

Dois criados-mudo.

Uma escrivaninha.

Um computador não muito moderno.

Cortinas Coloridas.

Um tapete igualmente colorido.

Uma pequena estante abarrotada de livros, CDs e troféus.

Um mural sem um único centímetro livre.

Pôsteres de bandas desconhecidas ou semi desconhecidas em uma parede.

Desenhos de roupas em outra.

Vestidos e maquiagem deixados à própria sorte sobre uma colcha de retalhos.

Uma echarpe azul-Tiffany caída sobre o piso de porcelana.

Sapatos prata de salto alto.

Um vestido azul-Tiffany, sem mangas, longo, de decote redondo, saia justa e fenda na lateral esquerda.

Maquiagem borrada.

Uma menina de dezoito anos.

Toda uma vida destruída.

Essa era Eleonor Mary Cross no que deveria ser a noite mais perfeita da sua vida - até  ali.

Metade da barra de chocolate já havia sido devorada pela menina que nunca havia se sentindo tão sozinha, nem mesmo a sua infância era tão solitária, pois ela sabia que o pai sempre estaria lá. Ali encarando o quarto silencioso ela também sabia que ele estava a distância de uma ligação, mas naquele momento não era do colo do seu pai que ela precisava.

Duas horas haviam se passado desde que ela saíra correndo da festa e ninguém havia ido ao seu encontro.

Ignorando sua dieta mordeu mais um pedaço do chocolate ao leite, na manhã seguinte teria que dobrar o tempo de corrida e passar alguns dias comendo apenas legumes, só então aquele pecado que ela devorava seria perdoado.

Alguém já deveria estar ali.

Faltava apenas dois quadradinhos para ela terminar a barra de chocolate e ela continuava se iludindo, sobre  logo irem até ali e dizerem que ela estava certa, que eles haviam errado e ela continua sendo amiga deles.

Será que ela havia se tornado invisível? Não, ela não conseguiria ser invisível mesmo que quisesse, afinal,  era enormemente gorda, Antonia havia lembrado isso naquela noite e a droga do vestido azul que ela mesma havia desenhado comprovava.

G-O-R-D-A.

Antes daquele dia de merda ela via no espelho uma garota deslumbrante - sorriso perfeito, cabelo perfeito, roupa perfeita (mesmo sendo 44) - e adorada, agora, no presente, ela era uma fracassada.

Ontem ela era outra garota, não que em vinte e quatro horas ela tivesse mudado fisicamente, porém, ontem ela ainda conseguia se convencer que tinha apenas ossos largos e não gordura acumulada.

Agora ela entendia que nunca caberia no lindo e impressionante vestido salmão 38 que Maria havia lhe dado há dois meses.

Ela nunca caberia na droga daquele vestido e em nenhum outro que não fosse quarenta e quatro .

Q-U-A-R-E-N-T-A-E-Q-U-A-T-R-O!

Os outros chocolates sobre o criado mudo pareciam tão tentadores, tão gostosos.

- Não, uma barra de chocolate é suficiente é só uma porcaria de formatura.

Se fosse vinte e quatro horas atrás ela não estaria na merda. Ela não estaria sozinha, pelo menos Lila estaria com ela e talvez Marcos, no entanto, era o tempo presente.

P-R-E-S-E-N-T-E, grande porcaria de presente.

O tempo presente não deveria se chamar presente, presente era para ser algo legal. Bonito. Divertido. E definitivamente aquele presente era horrível, absurdamente doloroso.

Droga. Merda. Porcaria.

Era uma grande chatice seus palavrões serem tão limitados nas duas línguas que falava, aqueles nem mesmo pareciam palavrões de verdade.

Ela conferiu mais uma vez as horas no pequeno relógio analógico sobre a sua mesinha de cabeceira, 22h25, alguém já deveria estar ali.

Não era nada justo ela estar sozinha.

Para dizer a verdade nada parecia justo ultimamente.

Era injusto ela fazer dieta e nunca sair do quarenta e quatro, enquanto sua irmã, que comia igual uma porca, ainda usava trinta e oito, mesmo sendo dois anos e meio mais velha que ela.

Não era justo ela não está na droga da formatura.

Não era justo ela não ir para Recife nas férias.

Não era justo ela dizer umas verdades e ser crucificada, era só algumas drogas de frases estúpidas.

Não era justo os amigos dela não estarem ali, corrigindo, não era justo ela não ter amigos, porque amigos de verdade não a abandonariam na primeira mancadabarraoportunidade.

O lindo vestido azul dela também não deveria estar justo, ela mesma havia desenhado e costurado a porcaria daquele vestido lindo.

O mundo era tão injusto que pessoas como Elizabeth, a esfomeada, eram magras demais e ela que se esforçava tanto nunca conseguia ser, às vezes, pensava que se fosse uma patinadora artística como Lila talvez conseguisse sair do tão enorme quarenta e quatro. No entanto, sabia que jamais seria uma patinadora artística, porque não tinha nem mesmo metade da graciosidade de Lila ou da delicadeza, Lila era simplesmente a personificação de tudo o que ela nunca seria e, talvez, por isso, Eleonor a amasse tanto.

- Droga, Lila! Foi só uma frase estúpida! - gritou para o vazio do quarto.

Tudo estava tão silencioso.

Ela estava tão sozinha, tão vazia, tão triste.

Seus olhos começaram a arder.

- Não! Leo, você não vai chorar. É estupidez. É apenas uma droga de vida perfeita - encarou os fones amarelos no chão, não se lembrava de quando eles haviam ido parar lá, rapidamente os recuperou. - É tão perfeita sua vida que você não consegue nem ficar na fossa direito, onde já se viu ficar deprê sem ouvir Lorde ou Taylor Swift? - Ela respirou fundo, controlando-se para não deixar as lágrimas caírem. - Her life is so perfect, Leo, that you're talking to herself. Alone.* - Leo estava tão concentrada em encontrar as músicas mais deprimentes do seu Iphone que nem percebeu que estava trocando os idiomas. - Perfect funcking life!

- Será que é tão perfeita assim, Eleonor? - pulou da cama, tendo certeza que ele era capaz de ouvir seus batimentos cardíacos de tão acelerados que estavam. No batente da porta, completamente ensopado, estava Danilo Andrada, que mesmo ensopado ainda era inadvertidamente bonito.

- Vai embora! - Gritou para o loiro.

- Caso você tenha se esquecido, essa casa é minha.

- Esse quarto não, esse é o quarto da Lila!

- Por que você está tão brava comigo? - Ele estava encharcando todo o tapete novo de Lila. Ele estava de smoking. Ele estava ali. Leo respirou fundo mais uma vez e disse em um tom de voz aceitável.

- Não estou brava com você, Danilo -  suspirou sentando-se na cama já desfeita. - Estou brava com a vida, comigo. I'm sorry - outro suspiro - fui uma idiota, por isso em vez de estar tendo a formatura perfeita estou aqui, na maior fossa.

- Se serve de consolo a festa está horrível, por isso vim embora na primeira oportunidade. - Ele tirou o cabelo dos olhos, ela já havia visto aquele gesto milhares de vezes, mas somente naquele momento percebeu que era inconsciente e, ele com certeza, não tinha noção de quão jovem parecia fazendo aquilo.

- Sério?

- Aham - estremeceu. - Estou ficando com frio, vou me trocar e já volto. Não sai daí. - Saiu correndo pelo curto corredor, entrando no próprio quarto, ela escorregou lentamente na cama, até voltar a posição meio deitada meio sentada de antes.

Para onde eu iria? Ele acha que eu ainda tenho uma vida?!

Pensou melancólica, era óbvio que ainda tinha uma vida, o início da faculdade em fevereiro, a mudança para São Paulo (São Paulo! Chega de interior, chega de cidade pequena), um apartamento e um carro seriam suas futuras aquisições, porém, era tudo em fevereiro e ainda era dezembro e depois vinha janeiro, os intermináveis dias de janeiro - quatro longas e tediosas semanas na companhia da minha adorável mãe e de Elizabeth, Deus, por favor, faça a tia Sam e os meninos irem, se não papai e eu vamos enlouquecer - e até lá ela não tinha nada, absolutamente nada.

- Shit! I'm so stupid, think I that hate me.*

- Não é saudável se odiar. - Levou as mãos ao peito com o susto. Pensou em xingá-lo por ser tão silencioso e rápido e assustá-la mais uma vez em um curto espaço de tempo, no entanto, sua surpresa por ter se expressado em voz alta a impediu. - também não acho que você se odeia, apenas está triste e chateada, mas quem não ficaria depois de hoje? Num só dia você perdeu o emprego, o namorado babaca, a formatura e os "amigos" - Danilo fez aspas exageradas com as mãos - acho que a única que continua sendo sua amiga é a minha irmã, mas no momento ela está na delegacia...

- O que houve? - Perguntou preocupada.

- Nada demais. O retardado que ela chama de namorado fumou maconha e bebeu demais, bateu o carro e eles acabaram parando na delegacia, a Lila está bem, porém, só será liberada mediante a presença de um adulto.

- E você pretende ser esse adulto? - questionou preocupada.

- Pretendo, porém só amanhã. Minha irmã vive dizendo que é uma adulta, no entanto, ela é tão irresponsável ou mais do que uma criança. Estou cansado dessa imaturidade toda.

- E eu achando que você não prestava muita atenção...

- Eu presto, só que vivo dizendo que ela precisa de espaço, tem apenas sete meses que nossos pais morreram, digo para mim mesmo que ela só está digerindo a ideia. Mas, não dá para ser tão irresponsável e nunca arcar com as consequências, desta vez decidi que Lila irá ser responsável querendo ou não. cansado de sair por aí limpando a bagunça dela, se eu sempre protegê-la Lila nunca sairá da bolha. - Ele pegou um dos chocolates em cima do criado mudo, ela não fez objeção, seria uma tentação a menos.

- Uau - falou sem saber o que dizer.

- Porém o foco da conversa não é a Lila - mordeu o chocolate - além de tudo o que já citei, você perdeu seu reinado e foi chamada de egoísta, mimada, rude e invejosa por pessoas que você considerava, isso desestabiliza qualquer um.

- Não se esqueça de gorda - lembrou decidindo que merecia mais chocolate.

- Eleonor, o fato de você usar quarenta e quatro...

- Como você sabe que eu uso quarenta e quatro?

- Moramos na mesma casa, lavamos nossas roupas juntos, e, também, não sou nem surdo, muito menos cego. - Se Leo não estivesse tão centrada em ser outra pessoa já teria notado há muito tempo que o irmão mais velho de sua melhor amiga precisava se esforçar, e muito, para fingir ser cego e não um aliciador de menores. - Continuando o fato de você usar quarenta e quatro não faz de você gorda, você tem curvas que a maioria das mulheres iriam matar para ter, você é linda...

- Eu não sou linda, sou bonitinha, com a roupa certa e uma maquiagem legal fico bonita, se um dia eu conseguir usar trinta e oito, aí serei linda - Afirmou mordendo um pedaço da barra de Shot, horrorizando Danilo que simplesmente não conseguia acreditar que Leo não enxergava como era incrivelmente bonita.

- Caramba, Eleonor, você está se ouvindo? Você é incrivelmente talentosa - apontou os desenhos na parede atrás dela. - Passou em uma ótima colocação para uma faculdade conceituada, tem a sua própria marca e mesmo com seu gosto musical duvidoso você continua linda. Mesmo que você tivesse os olhos juntos demais, uma verruga cabeluda no nariz, lábios leporinos, pesasse meia tonelada e fosse careca ainda assim seria linda, porque você é bonita por dentro e essa beleza reflete no exterior e não tem nada a ver com seu peso. - Ela encarou os olhos castanho-claros salpicados de dourado tentando encontrar a mentira por trás da afirmação da beleza que ela sabia que não existia.

- Você só está dizendo isso porque sente pena de mim.

- Sinto muitas coisas por você, Eleonor, no entanto, posso garantir que pena não é uma delas - ignorando o significado do que ele dizia Leo continuo o encarando esquecendo-se do chocolate.

- Pode admitir, até eu estou com pena de mim mesma, sou uma fracassada gorda.

- E daí que você é gorda? E não admito que você se chame de fracassada.

- Eu sou uma fracassada, Danilo e não tem como mudar isso. - falou suspirando.

- Você não é uma fracassada, você está indo para uma das melhores universidades do estado, se tornou uma lenda aqui em Aliança, criou uma loja virtual onde você desenha, costura, vende e despacha suas próprias roupas e ainda disse umas verdades para uma arrogante acéfala. Se isso é ser um fracasso não sei o que é ser um sucesso.

- Mas eu perdi a formatura e meu emprego no ateliê da Talita...

- Eleonor, aquela festa está tão ruim que a Annaju, a maior festeira que já se ouviu falar, não conseguiu ficar por lá, saiu antes mesmo de mim e eu só fiquei porque achei que a irresponsável da minha irmã fosse aparecer para pegar o diploma dela, mas não, ela não apareceu e quando eu percebi isso, cai fora daquela bosta de festa.

- A Annaju foi mesmo embora?

- Assim que ela soube o que a Antonia fez com você, ela e a Cecilia deixaram a festa, não sem antes dizer para a Talita que ela era desprezível e derramar suco de uva na Antonia.

- Isso é verdade? - Perguntou admirada, mas sabia que se tinha uma pessoa capaz de fazer esse tipo de coisa com Antonia era Annaju Viana.

- Claro que é, você não acompanhou pelo Twitter? A Maria Clara tem tuitado igual uma louca desde a tarde sobre a agitada vida do colégio Octavio.

- Deixei meu celular no ateliê e não voltei para pegar.

- Se quiser pode usar o meu...

- Isso quer dizer que nem todo mundo me odeia? - Perguntou tendo a ousadia de sentir um pouco de esperança sobre ainda ter uma vida ali.

- Bom, aqueles idiotas que você considera amigos com certeza te odeiam, porém, pessoas com o mínimo de cérebro estão te achando muito corajosa.

- E você o que está achando? - Por mais que tentasse Danilo não conseguia compreender como uma pessoa tão talentosa e bonita como Eleonor poderia ter tantos problemas com autoconfiança.

- Te acho um pouco imatura, mas estou sentindo muito orgulho, porque a doce e ingênua Leo iniciou uma revolução ao dizer para uma imbecil arrogante verdades que ninguém nunca teve coragem de dizer.

- Só que estou tendo a noite da formatura menos perfeita de todos os tempos - mordeu mais um pedaço do seu chocolate preferido.

- Acho que a da minha irmã está pior. - Leo corou, sentindo-se envergonhada por ter esquecido que sua melhor amiga estava tendo uma noite provavelmente muito pior que a sua.

- Esqueci desse detalhe da delegacia.

- Aceitável - mordeu mais um pedaço de chocolate e antes que perdesse a coragem ccompletou - também te acho muito bonita, Eleonor.

- Você me acha realmente bonita, Dan? Mesmo as minhas coxas sendo enormes?

- Caramba, Eleonor, você é absurdamente linda, nada em você é enorme, tudo é do tamanho certo. Você precisa entender que é linda, muito mais do que a maioria daquelas meninas que você cisma em chamar de amiga.

- O Marcos vive dizendo que eu preciso emagrecer...

- Meu primo é um babaca, eu ainda não consigo entender o que você viu nele.

- Ele... - Leo percebeu que não tinha como contra argumentar, Marcos era realmente um babaca, no começo ela ficou encantada por alguém tão bonito e popular se interessar por ela, só que ele não estava realmente interessado nela, estava interessado no status que adquiriu ao namorá-la, já que só demonstrou interesse depois que soube que a intercambista inglesa hospedada na casa dos primos era prima do famosíssimo Zack Aaron... Leo ignorou isso e os conselhos de Cecilia e Lila sobre o caráter duvidoso do flerte engatando em poucas semanas um relacionamento com o supergostoso Marcos Sartori, namoro que mesmo fadado ao fracasso durou dez meses - tudo isso porque depois do terceiro mês Marcos fazia questão de lembrá-la todos os dias que nenhum outro cara iria querer namorar uma gorda mesmo que fosse prima de um ator famoso.

- É um babaca e você sabe disso, também sabe que merece coisa muito melhor.

- Por que você está me dizendo tudo isso? - Perguntou tentando decifrar o todo certinho irmão mais velho da sua melhor amiga.

- Porque você precisa saber que é maravilhosa e merece um relacionamento de verdade com alguém que te ama, ou no mínimo, te respeita e amigos que gostem de você pelo que você é e não por ser a prima do Zack Aaron.

- E existem pessoas assim?

- É claro que existe, a minha irmã, a Annaju e a Cecilia, que são meio doidas, porém gente boa, eu...

- Você?

- Por que a surpresa?

- Porque até ontem você mal falava comigo, parecia viver em um mundo só seu, até algumas horas atrás eu nem sabia que você me achava bonita.

- Eleonor, preste atenção em mim. - Ele aproximou-se dela. - Você está prestando atenção? - Ela meneou a cabeça. - Eu sempre prestei atenção em você, antes mesmo de você derramar café na minha camiseta do Capitão América quando nos conhecemos pessoalmente, é impossível não te notar. - Ela abriu a boca, mas fechou ao ver o olhar de repreensão dele. - Antes que você venha dizer que é porque é gorda, não, não é porque você é supostamente gorda e sim porque você tem uma energia vibrante, uma luz própria. Ao decorrer desse ano eu queria ter prestado mais atenção em você, só que tanta coisa aconteceu que fui obrigado a te acompanhar a distância e jamais me aproximei porque além de ser muito mais nova que eu, você sempre pareceu tão feliz com o Marcos, tão satisfeita com seu mundo perfeito que eu não poderia simplesmente chegar e te arrancar dessa bolha de perfeição. - Dan sentou na cama, ele vinha ensaiando aquele discurso há meses, porém, nunca imaginou que fosse realmente dizê-lo. Era como ter caído em uma realidade paralela naquela noite, levemente infinita. - Então nessas últimas semanas percebi que você não estava tão feliz e hoje, surpreendendo todo mundo, você finalmente saiu da bolha, só que não quer admitir isso.

- Eu gostava da minha vida.

- Eu sei que gostava, mas você sabe que o mundo é muito mais do que a quantidade de números que aparecem na balança, muito além do colégio e desse mundinho perfeito que você criou aqui em Aliança, também sei que é meio aterrorizante esse conhecimento e não saber exatamente o que fazer com ele, o que eu posso te dizer é que no mundo além do colégio existem pessoas iguais ou piores que a Antonia e a Talita, só que para cada Talita, Antonia e Marcos existem muitas Lilas, Annajus e Cecilias, não estou dizendo que é um lugar fácil ou perfeito, muito pelo contrário, não existe nada perfeito e dificilmente alguma coisa na vida será fácil, se for haverá muitas pedras no meio do caminho, sempre há uma pedra no meio do caminho, só que nunca é grande demais que não possa ser contornada. - Ele respirou fundo, recuperando um pouco do fôlego. - O mundo é um lugar difícil, mas quando se tem foco e objetivo fica mais fácil, resumindo, não existe perfeição, existe dias cinzentos demais, dias em que tudo parece uma grande merda, mas também existe dias bons, muito bons e dias esplêndidos, só que é necessário sair da bolha.

- E se eu não sair?

- Você já saiu da sua bolha, só está com medo de admitir.

- Eu...

- Apenas saia da bolha, Eleonor. - Ele segurou na mão dela. - Apenas saia, você já viu que não é fácil viver fora dela, só que dá para viver e quando você estiver pronta eu estarei aqui para ajudá-la a viver além do mundo perfeito que você criou. - E pela primeira vez Eleonor Mary Cross admitiu para si mesma que o mundo realmente não era perfeito e, que existiam pessoas boas que não se importavam com a aparência dela... Era óbvio que ela sempre se importaria com o seu exterior, talvez com o passar dos anos e com a vida acontecendo ela se importasse menos, mas se tinha uma coisa que Leo conhecia era a si mesma e por isso sabia que como o mundo a via sempre teria um peso muito grande nas suas ações, mas agora que sabia que existia pessoas como Danilo - que se importariam bem pouco com o fato dela usar ou não quarenta e quatro -  ela tomou a decisão de...

- Eu vou tentar, Dan. - Pela primeira vez em muitas horas ela sorriu, foi um pequeno sorriso, bem pequeno mesmo, daqueles quase imperceptíveis... Diferente do barulho do seu estômago roncando, esse foi absolutamente perceptível.

- Eu também estou com fome, o que você acha de uma pizza? - Ele perguntou sorrindo, um sorriso que havia arrancado muitos suspiros da tímida Leo nos seus primeiros meses por ali, uma época que parecia tão distante.

- Não sei... - Ele a encarou daquele jeito que parecia querer desafiá-la a dizer sim para a pizza... E para ele. - Quer saber? Já quebrei mesmo minha dieta, uma fatia de pizza não vai me matar - ele riu e foi um som tão gostoso que ela o imitou.

- Do que a gente rindo mesmo? - Leo questionou minutos depois entre gargalhadas.

Talvez a vida dela não estivesse assim tão destruída. Ela só precisava de um novo ângulo para observar.

- Sei lá, só sei que estou faminto e é sexta-feira então precisamos ir logo, ou a Mamma estará cheia demais pelo resto do fim de semana e ficaremos sem pizza - levantou-se ainda segurando a mão dela.

- Okay, me dê apenas dez minutos e saímos. - No instante que ela foi para levantar-se ele a impulsionou para cima rápido demais e num instante ela estava perto demais dele, tão perto que seria muito fácil se esticar e beijá-la... Porém, havia uma coisa que o último ano tinha ensinado a Danilo, às vezes, é necessário ir devagar, não com medo que não desse certo e sim com medo que tudo desse certo demais e acabasse antes do tempo, por isso ele travou uma luta contra seu desejo de beijá-la e aproveitar que eles estavam sozinhos e realizar todas as suas fantasias...

- Agora seria quando você me beija - Leo sussurrou para Dan, que arregalou os olhos, enquanto sentia-se mais uma vez hipnotizado pelo olhar azul-esverdeado mais lindo que já havia visto nos seus vinte e dois anos.

- Seria, mas não vou me aproveitar da sua fragilidade - afirmou em um sussurro, sua renúncia teria feito mais sentido se tivesse movido algum músculo para longe dela.

- Eu não vou quebrar... - Leo sorriu de um jeito travesso. - E, essa seria uma excelente forma de começar a viver no mundo fora da bolha.

- Eleonor - repreendeu prevendo o que Leo faria a seguir, mas sem força alguma para se afastar.

Definitivamente a sua vida não tinha acabado por causa daquela noite de formatura menos perfeita na história da humanidade. , talvez não da humanidade, mas com certeza na história da pequena cidade e na vida de Eleonor Mary Cross, mas como seu pai adorava dizer, havia males que vinham para o bem.

E que bem aquele era...

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