Uma tarde de relaxamento era tudo o que eu necessitava para descontrair depois de tantos anos de trabalho árduo sem ser reconhecido.
— Vou colocar-lhe estas rodelas de pepino nos seus olhos. Peço que relaxe com esta música calma enquanto vou tratar de outra cliente. Não demoro.
— OK, obrigada — digo à mulher de meia idade que me acabou de preparar um banho de lama.
Aproveito este tempo de descanso para me perder novamente em pensamentos. O que será feito de Veramer?
A minha irmã veio à Terra há muitos anos, para me avisar que o céu do meu planeta estava a mudar de cor, e no seu funeral realmente a cor estava como ela tinha referido.
Um verde não muito forte, mas também não muito fraco: apenas uma cor reconfortante.
Se tivesse a minha nave, poderia colocar-me a par de todos os acontecimentos e novidades do meu planeta.
Por falar no meu planeta: enquanto estava a pensar em Veramer, realmente oiço veramerianos a conversarem.
Já não entendo muito da minha língua materna, por já não ser praticada há muitos anos.
— Tens a certeza que é ela? — pergunta uma voz sussurrante e distante que apenas consigo ouvir graças aos meus poderes.
— Sim, não te lembras das fotos que o Trio Tenebroso nos mandou dela?
— Lembro, mas isso foi há tanto tempo! Não achas que ela já devia ter morrido?
— Desde que ela foi expulsa que tem poderes ou assim. E o que ela fez ao governador? E para além disso como é que é possível que o céu de Veramer se tenha tornado verde do dia para a noite?
— Realmente é verdade — responde o verameriano que ainda não vi.
— E para além disso, o avião dela teve um grande problema, acho que quase se despenhava ou alguma coisa do género.
Como raio é que eles sabem?!
— O que te leva a dizer isso?
— Bem, como o avião teve uma falha no motor, tiveram que verifica-lo todo. Viram a caixa negra, e o que lá tinha era incrível — responde a disfarçada de empregada do spa.
— O que é que disseram?
— Espera, tenho aqui uma gravação.
Não consigo ouvir muito bem a seguinte gravação da caixa negra do avião, mas creio que estava gravada no telemóvel da mulher.
— Uau. Mas espera. Como é que tiveste acesso a isso?
— Eu estava no aeroporto a fazer a minha missão de Intrusa, e assim que vi esta gravação vi os ficheiros da "Elizabeth Dunn" e segui-a até aqui.
Aparentemente a "mulher do spa" está a falar com um Intruso que estaria neste hotel a fazer a sua missão. Devem-se ter encontrado graças à lente de contacto desenvolvida pelo governo.
— Mas isso agora não interessa — continua a mulher — Contactei o governo, e eles disseram para extermina-la.
A minha pele gela com esta afirmação, mesmo estando rodeada por uma substancia peganhenta e aquecida.
— Bem, então vamos lá.
Preparo-me para o ataque. Procuro á minha volta algo que possa usar para distrair as "pessoas" que de mim se aproximam, mas não encontro nada, foi-me tudo levado.
— Elizabeth.
— Afaste-se de mim! Você não se sabe com quem se está a meter! — sem dar conta do meu poder, empurro o homem com o simples esticão do meu braço. O Ser bate contra a parede e provoca um buraco, entrando noutra sala do spa.
Em circunstancias normais, esta ação teria morto a pessoa imediatamente, mas como Intruso, levantou-se rapidamente por entre a poeira levantada.
— Elizabeth! — grita o homem com os braços levantados.
Estendo os meus braços encardidos e faço mesas e banheiras de lama levitarem pelo ar, preparando-se para serem atiradas ao homem.
Sem dar conta disso, todas as pessoas presentes nesta grande sala estão a olhar espantadas para mim. Como se vissem uma doida.
Nada do que eu não seja ;)
— Elizabeth, por favor pouse as banheiras — pede o homem, lançando um sorriso disfarçado, por ter dito uma frase tão cómica.
— Diga-me o que quer de mim!
— Elizabeth...
— Pare de dizer o meu nome!
— Oiça, o meu nome terrestre é Lance Stewart.
Lance Stewart. Sei que o seu nome não me é estranho. Acho que já falei com ele sobre a minha irmã.
No entanto, fiquei um tempo parada a pensar. Falei sobre ele com a minha irmã, logo ele tem que ser particularmente idoso.
Claro! Lance Stewart! O famoso treinador de Intrusos na Terra!
Este verameriano habitava na terra, e tinha como profissão ajudar os Intrusos que se perdiam, ou que necessitavam simplesmente de uma ajuda mais experiente.
Um dia cansou-se se servir o governo do meu planeta e foi até lá demitir-se. Não aceitaram a sua proposta, pois ele era o melhor empregado do governo verameriano.
Como castigo, colocaram-no na masmorra dos campos de tortura, e o homem ficou lá sem mudar de ideias.
Depois de muitos anos lá preso, o homem revoltou-se, e usou os seus até ali desconhecidos poderes, e provocou destruição completa por todos os edifícios judiciais do meu planeta. E devido à sua enorme extensão, foram imensos.
— Oh meu Deus! Peço tanta desculpa! — largo bruscamente os objetos que tinha pronta para lhe atirar.
Agito as minhas mãos ao longo do meu corpo, para tirar a lama presente na minha pele. Por me encontrar sem vestes, visto o meu roupão
— Não há qualquer problema.
— Como é que me encontrou? — pergunto ao misterioso homem disfarçado de turista, esquecendo-me do facto que dois Intrusos estão no seu caminho para me virem buscar.
— Soube das coisas que fez ao governador, e algumas delas despertaram a minha especial atenção.
— Que idade tem?
— Eu tenho 543 anos, mas temo que a sua idade não seja muito diferente desta — responde ele enquanto nos estamos a dirigir para fora do spa.
— Estou na Terra há 75 anos, e somando com a idade que tinha quando vim para aqui, tenho 104.
— Espantoso. Posso saber como?
— Desculpe, mas não...
— Compreendo que não tenha confiança para me contar. Eu já nasci assim. Fui trabalhar para a Base de Treinamento de Intrusos, mas passaram-se muitos anos, e quando o governo notou que eu não envelhecia, colocaram-me em laboratórios e concluíram que eu era um Erro. Na altura não conhecia bem os meus poderes, senão tinha-me defendido na altura. Depois mandaram-me para a Terra, e propuseram que fizesse o treinamento de Intrusos cá por ser um dos melhores treinadores do planeta. Depois...
— Sim, essa parte já sei — interrompo eu.
— Parece que toda a nossa galáxia conhece, não é? — sorri ele — Conhecem também as coisas que a Elizabeth fez.
Decido por bem contar o que aconteceu.
— Soube porque fui expulsa?
— Sei, sim.
— Bem, a minha mãe trabalhava na fábrica que produzia os bens necessários para os Intrusos, e um dia roubou a receita de uma poção de mudança de forma. Experimentou-a erradamente e contou-me como se confecionava a poção dessa maneira. Consequentemente decorei-a. Quando cheguei à Terra procurei os ingredientes e a poção contada pela minha mãe deu-me poderes.
— Que tipo de poderes?
— Todo o tipo, acho — explico — Não há nada que eu não consiga fazer.
— Oh. Consegue... — Lance olha em volta. Passado um tempo olha-me com um sorriso — Consegue fazer aquele homem durão gritar como uma menina de 5 anos?
Lanço o meu olhar para onde o seu dedo está a apontar. Deparo-me com um homem caucasiano bem constituído a bronzear à beira da piscina. Penso que doido este homem será para me pedir uma coisa destas.
— Mas que raio de desejo — rio-me eu desajeitadamente — Mas muito bem.
Concentro-me no homem. Imagino uma página em branco. Uma página sem linhas. Livre de pensamentos e problemas. Onde apenas está um homem musculoso com um grito de menina.
De olhos fechados, de mente vazia e concentrada, oiço um grito de menina. Como se um cão estivesse a morder a mão de uma pequena rapariguinha. Mas esse grito está a sair de um homem que jamais alguém iria imaginar.
Um grupo de adolescentes perto do homem desmancham-se aos risos.
— Excelente. Devo dizer, Elizabeth, que controla os seus poderes melhor do que muitos alunos que eu já tive.
— São muitos anos de prática — sorrio, ajeitando o cabelo como uma convencida.
— Ei, Elizabeth — grita uma voz que me interrompe.
Uma voz em verameriano. A mulher do spa
Apontaram-me um tipo de arma que desconheço, provavelmente uma arma mais potente criada recentemente pelo governo.
Antes que a bala de energia elétrica me atingisse, faço movimentos circulares com os meus braços. A minha intenção era de extinguir a energia com o meu poder eletromagnético, porém em vez disso controlei uma outra coisa.
Ao rodopiar os meus braços, a água da piscina principal começou a mexer bruscamente, levantado voo à ordem dos meus braços, e absorvendo o tiro que podia atingir o meu corpo.
Tudo isto aconteceu numa fração de menos de um segundo.
Ao reparar nesta nova ação nunca antes realizada por mim, "larguei" a água, fazendo um grande splash no chão, expelindo um raio elétrico aqui e ali, por ter absorvido uma quantidade elétrica tão grande.
Bem... tenho que me habituar. Tenho o poder da água agora. Que burra que eu sou! Se calhar sempre tive. Mas pronto.
A minha respiração custosa dá a impressão se ser ouvida até na casa do meu Phillip.
Será que tenho os outros 3 elementos também?
Posso tentar.
Toda a gente à nossa volta à espera de mais. Devo confessar que também estou sedenta por aventura.
Concentro-me na natureza à minha volta. Concentro-me na difícil concentração que é em concentrar-me com este calor.
Aproveito o facto de estar descalça, assim tenho oportunidade de sentir a terra por debaixo dos meus pés.
Assim, fecho os olhos. Mas é como se estivessem abertos.
Consigo sentir os pés da multidão a exatos sete metros de mim. Consigo sentir o elevadíssimo peso dos extraterrestres a uma não muito grande distancia de mim.
Estendo o meu braço direito para cima, e uma grande rocha sai dos mosaicos do chão, atirando a extraterrestre a uma altura tão elevada que parece que voltou para Veramer.
— Está a olhar para onde? — grito em veramereriano para o seu ajudante — Queres ir pelo mesmo caminho é?
Ele acena que não, e murmura algo para a pulseira eletrónica que trás no pulso. Momentos depois a sua nave aterra na base da rocha existente por minha causa.
— O que vai fazer agora que toda a gente viu isto? — sussurra-me Lance ao ouvido.
— Nada do que eu não tenho já feito muitas vezes — respondo.
Com o meu recém-descoberto poder da terra, volto a colocar debaixo do chão a rocha gigante plantada no meio do chão.
Depois disso, estalo os dedos e as pessoas voltam à normalidade, pensando que metade da piscina está vazia porque houve uma avaria nas bombas da piscina.
Eu e Lance Stewart dirigimo-nos ao meu quarto, e durante esse caminho lamento-me por saber que a minha tarde de spa foi desperdiçada.
O spa! Neste momento a sala onde estava está coberta de poeira e objetos fora do lugar!
Oh, bem.
— Elizabeth — o homem pega-me no braço enquanto ía para a casa de banho — Você... tinha conhecimento destes poderes?
— Dos 4 elementos? — acena que sim — Não, não fazia a mínima ideia.
— Uau. Incrível.
— Não é? — saio da sua frente e tranco a porta da casa de banho do meu quarto.