Havíamos todos nós encontrado naquele pequeno restaurante saindo da cidade. Era uma cozinha familiar e tudo lá parecia caseiro e aconchegante. O cheiro da comida me lembrava tempos em que eu e Alia íamos até lá e a senhora Pierce vinha em nossa mesa apertar nossas bochechas.
Ela sempre nos olhava e dizia o como estávamos magrinhas e precisávamos comer direito. Ela nos trazia frango para que comêssemos de mão fingindo que estávamos na idade média.
- E para você duas, meu especial frango caseiro.
Senhora Pierce colocou os pratos a nossa frente como fizera em outros tempos. O cheiro era o de sempre, cada um dos temperos se misturando naquele molho perfeito.
- Obrigada, Senhora Pierce - eu e Alia dissemos num uníssono.
A Senhora Pierce tinha marcas mais profundas no rosto mostrando como tempo havia passado, mas seu avental com pequenas flores bordadas era o mesmo. Minhas bochechas foram apertadas assim como as de Alia.
Comemos todos com um prazer que nunca tivemos antes. Não era uma comida refinado, com ingredientes caros e feito por um chef cheio de estrelas. A simplicidade era o que deixava aquela comida maravilhosa.
Saímos do restaurante nos arrastando. Estávamos tão cheios que a maioria de nós votou por uma longa soneca da tarde.
Teria concordado com a ideia, mas aquelas bicicletas antigas me impediram. Oh... Devo admitir, o êxtase que sentia ao ver o senhor ao lado da pequena banca onde lia-se "aluga-se".
- Nós temos que ir! Por favor! - disse animada mesmo com todos me olhando sem motivação.
- Tudo bem... - disse Aziz se espreguiçando.
Dei um pulo saltitando em direção ao senhor que tomava conta da banca. Paguei a ele e escolhi a bicicleta verde. As ondas que a decoravam haviam me ganhado assim como as fitas laranjas no guidom.
Seguimos por alguns minutos a trilha que o senhor nos instruiu. As árvores faziam arcos sobre a trilha deixando que poucos raios de sol tocassem o chão. O vento que soprava amenizava o calor do dia e as flores selvagens decoravam a paisagem.
- É tão bonito - Alia conmentava desacelerando ao meu lado.
Era mesmo. Eu sempre passei por aquele lugar, mas nunca havia pensado em explorar o que estava escondido lá dentro. Senti a falta de Kenny naquele instante. Ele teria adorado um passeio como esse, ele era quem normalmente nos convidava para sair da nossa zona de conforto.
- Você quer mesmo se casar? - perguntei a Alia antes mesmo que o pensamento terminasse de se formar.
- Sim... - ela disse num estado de completa e pura alegria - Eu quero. Sei que é estranho vindo de mim, mas primeiro, eu não preciso mais ir a encontro com completos babacas e nem aturar mais eles. Sem ofensas, David.
- Sem problemas - David disse passando para nossa frente.
- Segundo, eu gosto dele e eu acho... Não. Eu tenho certeza de que vamos ter um bom futuro a nossa frente.
Olhei para Alia sem saber o que dizer. Ela tinha certeza de que estava no caminho certo, queria ter a certeza dela.
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Quando menos esperávamos a trilha terminou. O descampado que encontramos parecia nunca terminar, o céu azul sobre ele tinha pequenas nuvens espaçadas dando àquele cenário o aspecto de uma pintura digna de Monet.
Deitamos todos sobre a grama buscando algum tipo de forma nas nuvens.
- Parecem nuvens. São nuvens com o formato perfeito de nuvens - Sam comentou depois de um longo silêncio.
E ele estava certo. Talvez fosse falta de criatividade, mas aquelas nuvens não pareciam com nada além delas mesmas. Quem sabe uma metáfora não estava escondida aí.
- Parecem mesmo só nuvens - David disse incomodado - O tipo que se desenha quando se tem cinco anos.
- Exceto que elas não são azuis e o céu não é branco - disse Aziz.
- Eu pintava o meu papel de azul e deixava os espaços bancos - David comentou fazendo Sam olhar para ele com estranheza.
- Que tipo de criança era você? - ele brincou.
David deu de ombros. Virei a cabeça para o lado vendo Alia cochilando ao meu lado.
- Você realmente quer continuar a trabalhar nisso, David? - perguntei me virando para ele - Eu só estou perguntando porque é um meio onde você precisa sempre rever seus conceitos. Até onde você vai pelo sucesso.
David virou para mim olhando nos meus olhos sem dúvida.
- Eu quero. Ironicamente. É o que eu amo fazer. Pode ser chato para muitos, mas eu me divirto. O estresse que muitos reclamam é um estado que eu aprendi a muito tempo tratar como normal. Eu quero estar no controle de algo grande, e talvez um dia, esfregar isso na cara do meu irmão - David escondeu o sorriso malvado - Eu sei que passei dos limites quanto a você e foi completamente errado, mas, com o tempo, acho que vou conseguir ver esses limites com mais clareza.
- Espero que seja logo - disse Aziz.
- Vai ser - sorrio dando a ele o voto de confiança que ele precisava.
- Devemos ir pra casa e arrumar as coisas para amanhã? - Alia perguntou abrindo os olhos e se levantando como um princesa depois de uma longa noite de sono.
- Vamos ficar só mais um pouco.
A puxei de volta para grama e foquei na nuvem com forma de nuvem. Acho que deveria entender ao menos a metáfora antes de deixar aquele lugar.