Infected

By groupinfected

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Vencedor The Wattys 2016, na categoria "Inovação". #4 em Aventura (21/01/2017) SAGA INFECTED - LIVRO I Nu... More

Recado do Group Infected para você
Prólogo
Capítulo I
Capítulo II
Capítulo III
Capítulo IV
Capítulo V
Capítulo VI
Capítulo VII
Capítulo VIII
Capítulo IX
Capítulo X
Capítulo XI
Capítulo XII
Um (novo!) convite do Group Infected para você
Capítulo XIII
Capítulo XIV
Capítulo XV
Capítulo XVI
Capítulo XVII
Capítulo XVIII
Capítulo XIX
Capítulo XX
Capítulo XXI
Capítulo XXII
Capítulo XXIII
Capítulo XXIV
Capítulo XXVI
Epílogo
Agradecimentos
No próximo livro...
Aguenta Coração!
É amanhã! (e não é pegadinha de 1º de abril)
Wanted no ar!
Todo nosso amor
5 anos de Infected com novidades!
Antes tarde do que... bem, do que mais tarde
"Nosso" canal no YouTube

Capítulo XXV

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By groupinfected

Vladmir Gregorovitch

A penumbra da luz faz meus olhos recobrarem a capacidade. Luz? Luz de onde? Pensando bem, não me importo muito, porque apesar da minha visão estar incomodada, meu olfato está absolutamente satisfeito. De que é esse cheiro? Alguma flor? Parece que sim. Onde ela conseguiu esse cheiro? Parece que as garotas tem alguns mimos extras. Não ligo. Que cheiro ótimo. Me faz querer ficar aqui deitado o dia todo. Os cabelos são lindos. Tocada pelo fogo. Acho que ela não vai reclamar se eu ficar com uma mão acariciando eles.

Suas costas se arqueiam levemente, e sinto sua blusa se esticando debaixo do cobertor, a pele alva com as sardas iluminadas pela manhã, uma visão realmente deslumbrante.

- Eu te amo, malen'kaya feya.

- Me diz que não me chamou de feia. - ela responde, com voz sonolenta.

Dou uma pequena risada, não o bastante para me mexer, para não afastar o corpo dela do meu.

- Ah, então você estava acordada.

- Ainda não respondeu à minha pergunta.

- Significa pequena fada. - respondo.

- Anda tendo aulas com o Akira, é? Está aprendendo, pode continuar, eu gosto. - responde ela, com a voz mais desperta.

Fico em silêncio.

- Entendi. Não vou estragar o momento. - ela fala, se vira de frente para mim e coloca um braço por cima dos meus ombros.

Dou um pequeno beijo na testa dela e respiro fundo um pouco. Queria que esse momento durasse para sempre.

Sophia respira fundo e levanta.

- Vamos, temos um longo dia pela frente.

- Normalmente eu me levanto cedo, mas hoje queria fazer diferente.

Ela me olha com olhar incrédulo e me dá um tapa leve no braço.

- Folgado você, hein. - e dá uma leve risada em seguida.

- Você vai ver o folgado.

Me levanto rapidamente, e caminho em direção à ela, que recua. Quando suas costas encontram a parede, coloco meus dois braços para bloquear sua passagem.

- Se rende?

- Nunca.

Quando sinto o peso nos meus ombros, é muito tarde. O clone me puxa para trás, me derrubando no chão.

Deitado, olhando aquele lindo rosto se aproximando... O que era mesmo? Não sei o que estava pensando.

- Que isso sirva de lição. - ela diz e me beija.

...

Na quadra, quase deserta, é bem mais fácil correr quando não há ninguém atrás de você. Um guarda semidesperto na entrada boceja muito. Sophia conversa com Aisha em um canto, e aproveito para colocar minha mente em ordem. Há coisas que não tomamos conhecimento quando viemos para cá. Coisas sérias. A verdade não vai aparecer enquanto nos vigiarem. Então vamos desaparecer. É isso, não? Mas se desapareceremos, a verdade vai aparecer? Não é certo, mas é nossa melhor esperança.

Quando eu comecei a pensar assim? Quando comecei a me importar? Acho que agora eu tenho com o que me preocupar.

Isso vai me parar? Me impedir? E se eu hesitar e algum deles morrer por isso? Isso não pode acontecer. Vou proteger todos eles.

- Sua cara está fechada. Comeu alguma coisa estragada?

Bernard.

- Não, só estou pensativo, me desculpe.

- Não tem problema. Quer conversar?

- Você tem certeza?

Ele me olha e respira profundamente.

- O que aconteceu, aconteceu, mas estamos no mesmo barco, e quanto mais sincronizados estivermos, melhor.

- Tudo bem. - respondo. - É que eu estou com muitas incertezas sobre o que vai acontecer.

- E alguém tem alguma certeza? - ele diz, já ofegando. - Pode parar de correr, por favor? Meus pulmões não foram feitos para isso.

- Tome Vodka.

- O que? - ele me pergunta.

- Vodka. - respondo. - Bebida incolor, teor alcoólico grande...

- Eu sei o que é Vodka. - Bernard responde. - Mas no que Vodka ajuda?

- Analgésico, te deixa mais forte e mais rápido.

- Você está falando sério?

- Claro. Pena que não temos aqui.

- Vladmir, depois conversaremos mais sobre o seu conceito sobre a Vodka, mas não é isso o que te preocupa agora, é?

- Não. O que me preocupa é se algum de vocês morrer.

- As pessoas morrem, não dá pra mudar isso.

- Gostaria de não ter que ver isso até a minha idade limite chegar.

- A Sophia sabe que você anda pensando essas coisas? - ele indaga.

- Não e, por favor, não conte à ela. - digo, exasperado.

Ele dá uma pequena risada.

- Tudo bem, tudo bem. Mas se concentre no hoje, e hoje estamos todos aqui.

- Até que você não é tão.... Como se diz mesmo?

- Idiota?

- Isso. Até que você não é tão idiota assim.

- Que bom que você aprecia minhas habilidades. Agora, quanto à Vodka...

- Experimente e depois opine. Regra n°1 sobre a Vodka. - digo, resoluto.

- All right. Até mais, Vladmir.

- Até, Bernard.

...

- Você e o Bernard conversaram? E sem agressividade?

Sophia parecia chocada.

- Estranho, não é? Mas de Vodka ele não sabe de nada.

- O que é Vodka? - ela pergunta

- Depois falamos sobre isso. Vamos só aproveitar o momento por enquanto.

- Até que eu te ensinei bem.

- Você não imagina o quanto, malen'kaya feya.

- Posso me acostumar com isso.

Encostado em seu corpo, finalmente aprecio o fato de estar vivo.

Anippe Mahlab

Faltam 40 minutos para a hora da fuga. Vibro em pura excitação e expectativa, assim, decido espairecer.

Acendo a iluminação noturna do quarto. Uma luz tênue toma o ambiente. Assopro a orelha dele três vezes, até ver o movimento que procuro.

Akira suspira e se move na cama, assim, percebo que ele está despertando. Me viro de frente para ele, segurando uma risada que luta para se libertar. Meus cabelos soltos caem sobre o travesseiro, e eu os ajeito antes que ele abra os olhos.

Ele desperta, e olha para o teto. Olha para o lado, e quando me vê, se sobressalta e dá um pulo na cama. Rio baixo, enquanto ele me olha com um olhar confuso e maravilhado. Quando paro de rir, ele murmura:

- Bom dia...?

- Bom dia, gatão.

Ele olha ao redor no seu quarto, e vê o smoking que usou noite passada pendurado num canto, ao lado do meu vestido de festa. Ele encosta a mão na cabeça.

- A festa...

- Foi ontem. - digo, ajeitando a alça do meu "uniforme de dormir". - Terminou hoje, mas foi ontem.

Akira olha para todos os cantos da cela, como se tentasse se lembrar de alguma coisa e não conseguisse. Luto com todas as forças para segurar uma gargalhada, e sinto meus olhos úmidos.

- Ontem... Eu e você nos beijamos, não foi? - ele pergunta, se ajeitando na cama e me encarando de frente.

- Sim - digo, assentindo com a cabeça. - Antes da meia-noite.

- E foi especial.

- Muito.

Ele olha para si mesmo, e vê que usa apenas as calças do pijama. Confuso, me pergunta:

- Eu bebi?

Abro a boca um instante, num esforço desesperado de segurar o riso.

- Anh... Acredito que tomou alguns saquês.

Tento manter minha mente livre de pensamentos, para que ele não a leia. Mas ele parece muito confuso até para lembrar de fazer isso.

- Anippe. - ele diz, com uma voz grave.

Faço cara de cínica.

- Sim?

- Nós dois...

Ergo uma sobrancelha, e me faço de desentendida.

- Nós dois... O quê?

Ele se apoia num braço, e ajeita os cabelos, enquanto diz.

- Depois que a festa acabou, você me trouxe aqui, e foi para seu quarto.

- Eu fui? - questiono, tirando uns fios do seu cabelo do seu rosto.

Ele me olha, crescendo os pequenos olhos.

- Não foi?

Não respondo, e olho novamente para as roupas penduradas lado a lado. Ele acompanha meu olhar, e dispara:

- Anippe, nós dormimos juntos e eu não lembro?

Suspiro profundamente.

- Leia minha mente, e você vai saber.

Começo a imaginar coisas, e os olhos de Akira se arregalam á medida que crio coisas cada vez mais absurdas.

Daí, não consigo mais segurar a risada. Gargalho, com a mão na boca para abafar o som. A cena deve ser tão contagiante que até ele ri também.

- Ah Anippe, isso não se faz!

Continuo rindo desesperadamente, e quando me acalmo, digo entre risos provocativos:

- Acredite: se isso tivesse acontecido, você não se esqueceria.

Ele me olha de viés, e me derruba em cima da cama, e eu rio. Ajoelha aos meus lados, e segura meus pulsos acima da cabeça.

- Então vamos fazer com que eu não me esqueça. - murmura, e me beija.

Aceito seu beijo, e me sinto feliz. Mas, depois de alguns segundos, o empurro para longe de mim.

- Nada disso, gatão.

- "Não comece o que não pode terminar." - ele diz, fazendo referência ao que eu disse a ele uma vez, no elevador. - Quem começou agora?

Ergo uma sobrancelha.

- Sério que você está com cabeça para isso? - Me levanto, olhando para o lado de fora do quarto. Completo quando vejo que não há ninguém lá fora. - Hoje é o grande dia.

Akira se faz de desentendido, e se senta na beira da cama.

- Grande dia?

Ele sorri, e eu vejo que ele está brincando com minha cara. Ele continua, sussurrando:

- A gente adia. Isso aqui vale mais a pena.

Akira pisca o olho para mim, e eu digo, batendo pé:

- Ai. Você não facilita.

Ele sorri, e se levanta. Olhando para mim, tira as calças do pijama, ficando só de cueca box. Encaro ele como se dissesse: "ah, fala sério!". Akira joga os cabelos para o lado e põe as mãos na linha dos quadris.

- Algum problema? - ele pergunta.

- Nenhum - digo, dando um nó nos cabelos. - Fique à vontade.

- Akira, eu preciso de uma ajuda na... - Aisha aparece na porta do quarto, e dá um pulo quando vê a cena. - Quê?! Mas que pouca vergonha é essa?

Akira se vira para ela, sem se envergonhar de nada. Penso que o japonês não tem pudor nenhum sobre o próprio corpo, e ponho novamente a mão sobre a boca para não dar uma gargalhada que acordaria o andar inteiro.

- Que pouca vergonha? Está vendo algo de mais? - ele pergunta para a Aisha.
Ela reveza o olhar entre mim e ele, e gagueja:

- Isso mesmo, estou vendo até demais. Seus... promíscuos! Volto quando a cena estiver apropriada para menores de idade. - Aisha tenta soar séria, mas acaba soltando uma risadinha.

Ponho as mãos na cintura, e respondo:

- Promíscuos? Nem aconteceu nada aqui. - aponto para o Akira. - Esse aí nem conseguia se lembrar se passou a noite comigo ou não.

Ela olha para Akira, pasma.

- Além de nu, você está bêbado? Akira, achei que você fosse melhor. Bem, eu vou voltar pro meu quarto. Me encontre quando estiver sóbrio.

- Ei! - ele chama a Aisha num sussurro, quando ela está se virando para voltar ao seu quarto. Ela volta, e ele diz: - Você só está me chamando de promíscuo por que você não viu o que tá acontecendo dentro da cabeça dessa mulher.

- Ei! - protesto, mas ele me ignora, e continua:

- E eu não estou bêbado. Antes estivesse.

Ela olha para ele com a testa franzida.

- Nem vi e nem quero ver. Você é lindo Akira, e tudo o mais, mas não vou ficar aqui... olhando pra sua nudez.

Disparo, entre sons de riso:

- Aisha, deixa só eu te falar: eu não sei quantos homens nus você viu na sua vida, mas esse aí ainda não está.

Ela fica vermelha, e Akira se vira para mim com seu melhor olhar sedutor.

- Ainda? - ele faz um gesto para Aisha sem nem olhar para ela. - Acho melhor você voltar depois.

Ela arregala os olhos para mim.

- Tá. Er... que suas palavras sejam feitas. - Um riso irrompe dos seus lábios, e ela sufoca com as duas mãos.

Akira se volta para ela, enquanto pega a calça do smoking, dizendo:

- Não vem bancar a santa comigo, Aisha. Eu estava de olho quando você sumiu com Bernard.

- Eu também vi quando vocês sumiram. - ela responde, num tom de desafio. - E para sua informação, eu estava com Bernard sim, mas foi pra tomar um ar.

- Nós fomos... Tomar um ar também - Akira responde, e olha para mim em busca de apoio. Emendo a tempo:

- Foi. Um ar. E ele me levou numa praia deserta que era de mentira.

Ela põe as mãos na cintura:

- Tomar um ar ou fazer respiração boca a boca? Eu nem preciso ler sua mente para saber. Ai. A cada segundo que fico aqui, minha pureza se esvai.

Aisha começa a rir, e eu a acompanho. Ela continua:

- Veste essa calça logo, Akira. Daqui a pouco já saímos.

Examino seu corpo com os olhos, enquanto ele me encara. Apenas olho para ele e balanço a cabeça de leve. Ele larga as calças no chão, e eu sorrio sedutoramente.

- Aisha, você precisa de mim... tipo, é urgente?

- Ah, Biga, tome jeito. Vocês terão todo o tempo do mundo para isso, mas agora, precisamos fazer os últimos preparativos antes de irmos.

Dou um passo a frente, rindo, pego a calça de Akira no chão e entrego a ele.

- É, ela tem razão. Se veste. Eu vou me trocar e pegar as minhas coisas.
Saio do quarto do Akira camuflada, e sorrindo. Esses momentos divertidos descarregam a tensão do coração.

Entro no meu quarto e apanho a mochila que preparei, quando meu rádio se ativa. Seguro o pequeno aparelho, e ouço: um, dois, três toques. Sorrio; Daniel é inteligente o suficiente para manter o sinal mesmo sem combinação prévia.

- Lugar do sorriso desfeito. - ele diz, e a transmissão acaba.

Lugar do sorriso desfeito. Penso um pouco, e sorrio novamente ao concluir: Claro que é o corredor entre os dois prédios, onde pude desfazer meu sorriso forçado, na noite de ontem. A sagacidade de Daniel me impressiona.

Deixo a mochila camuflada sobre a cama, e caminho para o ponto de encontro.
Chego até Daniel tremendo de frio. As tênues cores do amanhecer já enfeitam o céu. Ele me encara com um leve sorriso no rosto, enquanto passo as mãos pela pele dos braços, tentando me aquecer.

- Nossa, que drama. - ele diz, com um ar brincalhão.

Olho para ele. Uso apenas camiseta e shorts, mas ele está completamente - e elegantemente - aquecido. Ele usa até mesmo um sobretudo azul marinho e cachecol combinando, então digo:

- Ah, cale a boca.

Ele ri, enquanto se despe do sobretudo. Passa os braços ao redor de mim e deposita a peça sobre meus ombros.

- Feliz aniversário. - ele diz, sorrindo para mim.

Olho para ele com um olhar divertido.

- Andou fuçando minha vida? - questiono, enquanto ponho os braços no sobretudo. Quentinho. Muito melhor.

- E outras coisas mais.

Daniel põe a mão no bolso, tira uma pequena embalagem retangular feita de couro, e me entrega. Pego o objeto, e o examino. Abro-o, e vejo um cartão de acesso preto, com a sigla "OCRV", e a foto de uma mulher.

- Lily-Anne Phillips. - leio o nome que há abaixo da foto. - Ela é muito bonita. Tá pegando?

Ele arregala os olhos para mim.

- Não, sua louca. Ela até me chamou para um churrasco, mas... - ele dá de ombros. - Ela tem acesso á Central de Operações. Entrega isso ao Bernard.

- Você sabe que ele atravessa paredes, não sabe? Ele não precisa de cartão de acesso.

- Desculpe, mas ele também atravessa sistemas de segurança? - Daniel diz, com um sorrisinho. - Esse cartão abre a porta sim, mas o computador usado para controle das aeronaves possui um leitor de cartão de acesso. Ele só inicia após a leitura.

Olho para ele de soslaio, mas assinto com a cabeça e guardo o cartão no bolso do sobretudo.

- Que ironia. - ele murmura.

Olho para ele, com uma expressão interrogativa.

- O quê?

- Você completar 21 anos no dia 02 de dezembro.

- Na verdade, isso não é ironia. - comento. - É a lógica. Eu nasci no dia 2 de dezembro, logo, meu aniversário é no mesmo dia.

Abro a boca, fingindo surpresa com o que acabei de falar. Daniel ri, e responde:

- Não pela data, mas pelo evento. O dia mais decisivo de sua vida caiu exatamente no dia do seu aniversário.

- É um dia como outro qualquer. Esqueça isso, Daniel. - ponho as mãos sobre seus ombros, e o sacudo levemente. - Se poupe. Nos poupe.

Ele gargalha levemente, mas logo assume uma expressão séria.

- Tenho uma coisa para te contar.

Solto seus ombros, e ergo as sobrancelhas rapidamente. Ele continua:

- Puxei a ficha daquela Cibele Gabiatti. Aquela, que constava nos arquivos como filha de um tal de Basilio Gabiatti, lembra?

- Lembro sim. - Sinto minhas mãos tremerem levemente de ansiedade. - O que descobriu?

- Então... Esse Basilio era agente da OCRV e morreu em junho de 2137, num acidente de carro. Um tanto suspeito esse acidente, mas enfim. O que consta nos arquivos é que essa Cibele estava dentro desse carro, e morreu também, aos 6 anos de idade.

Abaixo a cabeça, e olho para o chão. Não sei o que eu esperava. Talvez, encontrar essa moça nos ajudasse a descobrir mais. Se ela era a única de nós que não foi encontrada e sequestrada pela Organização, ela saberia muito mais sobre camuflagem do que eu.
Mas, mesmo assim, como o Daniel falou, é estranho esse acidente, assim como todas as mortes e desaparecimentos de cada um dos nossos pais. Minha esperança de que Cibele fosse fonte de informações continua tendo fundamento; mesmo que não esteja mais viva, ela ainda pode falar conosco, pela forma como partiu.

Após uma curta pausa, mudo de assunto:

- Daniel, você nunca me disse. Onde era que estávamos, quando nos conhecemos? Aquela missão, que fomos para aquela sede. Onde era?

Ele sorri de canto de boca, quando responde:

- Aquele lugar não existe. Bem, não naturalmente. É uma ilha artificial no meio do oceano Pacífico. Se chama Stalostriv, que significa "Ilha de Aço" numa antiga língua chamada Ucraniano.

Passo a mão pelos cabelos, e os atiro para um lado.

- Você é um cara culto. - digo, me aproximando dele, com meu olhar sedutor. - Que... sexy.

Ergo uma sobrancelha, e me aproximo do seu rosto, encostando as pontas dos nossos narizes. Daniel me olha em choque, com a testa franzida. Me afasto rapidamente, e caio na risada.

- Ah, Anippe! Por favor, não quero apanhar do japonês. - ele apela, erguendo as mãos.
Dou um muxoxo.

- Aliás, que cena linda, ein? - ele emenda, e me cutuca com o cotovelo. - Não vi ao vivo, mas só se falava disso na festa. Não resisti à curiosidade e procurei até achar um vídeo do casalzinho dançante. Uau. Romântico. Tocante. Me emocionei.

Rio, balançando a cabeça. Foi lindo sim, de fato. O momento mais lindo da minha vida. Mas digo:

- Lembre, Danny: se poupe, nos poupe.

- Foi a cena da noite.

- A cena da noite foi a Malika morrendo de medo de você, isso sim. - digo, entre risos.

- Você não queria soltá-la, né? - ele diz, com os olhos semicerrados. - Esperei por ela ali desde o início da música, e você se fez de cega. Que pena para você, não conseguiu me manter longe dela o tempo inteiro.

Sorrio.

- E para que eu ia querer te manter afastado dela? - pergunto, com as mãos na cintura.

- Não sei... - ele diz, dando de ombros. - Talvez você não nos queira juntos.
Faço uma expressão de choque.

- Você acha que eu estou interessada na Malika?

Daniel explode numa risada histérica, surpreso com minha pergunta, e abafa o som com as mãos. Continuo:

- Por favor, Daniel. - me aproximo, e digo, dando uma piscadela: - Ela é menor de idade.

Ele continua a rir, e eu sorrio para ele. Daí, quando se acalma, Daniel se aproxima, e segura minhas mãos ternamente.

- Acho que é hora de dizer adeus.

"Adeus".

Meu coração protesta a essa palavra. Mesmo conhecendo-o há tão pouco tempo, tive uma conexão muito boa com ele, desde o primeiro instante.

"Isso no seu cabelo... É gelo?"

- Não vamos nos ver mais? Tipo, nunca mais? - questiono, com a voz miúda.

Ele dá de ombros.

- Não digo nunca. Mas se a OCRV descobrir que tive envolvimento com a fuga de vocês, eu estarei morto num piscar de olhos.

- Então vem com a gente. - apelo.

Daniel sorri.

- Não posso. Tenho que bagunçar o sistema para que eles não encontrem vocês. Tenho que apagar pistas, e atrapalhar o máximo possível a busca.

- Vai correr o risco de morrer para nos ajudar?

- Se for o preço... Eu pago.

Sacudo a cabeça energicamente, e ele põe as mãos nos meus ombros.

- Ani, preste atenção. Quando eu entrei na OCRV, há 3 anos atrás, eu sabia que corria riscos enormes. Aceitei isso naquele momento, e continuo aceitando isso agora. Tá certo? Eu só te peço uma coisa. Quando estiverem lá fora, descubram o que puderem. Ajudem quem realmente precisa. Escolham o lado certo. Lembrem que nada é o que parece.

Tudo isso causa um turbilhão de dúvidas na minha mente, mas a possibilidade da morte do Daniel me deixa sem fala. É inacreditável como algumas pessoas simplesmente chegam nas nossas vidas para se firmar em tão pouco tempo. Ele continua:

- O helicóptero tem um sistema de navegação avançado e fácil de manipular. Depois de desbloqueado, ele pode até se pilotar sozinho. Apenas escolham onde querem ir, e tenham cuidado. Lembre das minhas instruções.

- Eu vou me lembrar, cacheadinho. Vou sentir saudades de você.

- Eu também sentirei sua falta, mulher com gelo na cabeça.

Nos abraçamos, e eu sinto vontade de chorar. Mas aguento firme, e quando nos afastamos, digo:

- A Aisha é como se fosse irmã caçula do Akira, e a Malika é como se fosse a minha irmã mais nova. E você está mais do que convidado a fazer parte da nossa família. Obrigada por tudo.

Ele sorri, e seus olhos marejam.

- Outra orientação. - ele murmura, segurando minhas mãos. - Não percam essa relação de família que vocês tem. Só fortaleçam isso. Vocês verão que lá fora, é só isso que vocês terão.

- Mantenha o rádio ligado. - digo. - Aguarde os três toques.

- Vou aguardar.

E com um último beijo na testa, meu amigo dos cabelos enrolados me dá as costas e sai, deixando comigo um sobretudo, um cartão de acesso e um coração dolorido.

***

Estou tão distraída quando retorno ao prédio, que não percebo quando me esbarro na Aisha. Reapareço e me desculpo rapidamente, e entro no quarto, para me trocar e pegar as minhas coisas. Só temos mais 15 minutos restantes, até o momento marcado de sair daqui.

Ponho uma calça jeans, sapatilhas e camiseta simples. Olho o sobretudo de Daniel sobre a cadeira, e resolvo colocá-lo novamente. Quando o ponho, me sento na cama. Fico com os olhos fechados, tentando recrutar forças emocionais para a fuga, reprimir o medo e calar o mau pressentimento que insiste em gritar na minha mente.

Não percebo quando ele se senta ao meu lado.

- Casaco legal. - Akira diz.

Sorrio.

- Valeu.

- E que perfume é esse? Um tanto enjoativo. - ele opina, e faz uma pausa. - Onde você conseguiu isso?

- O sobretudo? Ah, é do Daniel. - Passo a mão sobre o tecido, e retiro o cartão de acesso do bolso. Continuo: - Encontrei-o agora, ele me entregou isso. Tenho que dar ao Bernard.

- Bom, não vou perguntar o que algo do Daniel faz com você. - ele murmura, como se as palavras lhe escapassem dos lábios. - Mas, e esse cartão?

Olho para ele, divertidamente.

- Te dou uns beijos e já está com ciúmes, gatão?

- Não sou eu quem está arrastando asas para outro. Não me culpe.

Fico incrédula com o que acabei de ouvir e me revolto:

- Menos, bem menos. Não arrastei asa para ninguém. E o perfume dele é muito bom, não é nada enjoativo, você que está de ressaca. - respiro fundo. - Olha, sério, eu não quero mesmo brigar com você logo agora.

Ele segura minha mão.

- Mas eu não brigaria com você nem se você quisesse.

Estalo um beijo no seu rosto.

- Obrigada. Não precisa ter ciúmes do Daniel, não vamos nos ver mais. - ressalto, com a voz levemente esganiçada. - Além disso, mesmo se fôssemos nos reencontrar, tá na cara que é a boca da Malika que ele quer.

Akira ri, e confessa:

- Isso me confunde. Estou feliz por sair daqui, mas estou deixando pessoas para trás. Ele nos ajudou tanto...

- Sabia que ele pode morrer se descobrirem que ele nos ajudou? - digo, e faço uma pausa. - Além de todos os desconhecidos que matei, agora me sentirei responsável pela morte de um amigo.

- Podíamos levá-lo, mas seria um desaparecimento suspeito. - ele diz em tom de consolo, e segura minhas mãos. - Ele vai ficar bem.

- Tomara. - murmuro. Penso por um segundo, e o abraço repentinamente.
Ele se surpreende com meu gesto, mas logo corresponde-o. Continuo:

- Não vou me perdoar se alguma coisa ruim acontecer a ele. Não quero causar a morte de mais ninguém.

- Ninguém mais vai morrer injustamente. Isso tem que bastar por hora. - ele diz, com os lábios encostados na minha testa. - Agora vamos, temos coisas a fazer.

Assinto, e me levanto. Ele me puxa pela mão e me dá um rápido beijo, antes de sair do quarto.

Vou para o quarto de Bernard, que arruma uma mochila.

- Ei, Bernerd.

Ele vira para mim, com os cabelos despenteados e o rosto afogueado, e meneia a cabeça.
- Andou correndo? - questiono, e ele ri rapidamente.

- É, mais ou menos.

Me aproximo dele, e entrego o cartão.

Bernard pega o item na minha mão, e se senta na cama, com uma expressão exausta.

- Eu não estou bem. - ele comenta, e eu ponho as mãos nos bolsos do sobretudo. Ergo as sobrancelhas, interrogativamente, e ele continua. - É muita responsabilidade. E se eu não conseguir?

Balanço a cabeça e torço o nariz.

- Que besteira. - me sento ao lado dele. - Você consegue sim, com certeza.

Ele ergue a sobrancelha para mim, incrédulo. Continuo:

- Veja tudo o que você já fez. Você é perfeitamente capaz de fazer isso. Eu confio em você, e minha confiança é algo bem difícil de se conseguir.

Bernard dá um leve sorriso. Eu me levanto e o puxo pela mão.

- Agora vem. Está na hora. Vamos até lá, eu vou te deixar camuflado.

- E a camuflagem vai persistir com você distante de mim?

- Não sei. - dou de ombros. - Acho que vamos ter de descobrir isso na prática.

Ele arregala levemente os olhos, e eu dou um tapinha no ombro dele.

- Vamos lá, Bernerd. Vai dar tudo certo.

Isso é o que eu digo, enquanto tento calar o mau pressentimento que continua a gritar na minha cabeça.

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