A Primeira Eterna - Livro I...

By IceQueen5h

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Ainda é um mistério como surgiram os vampiros ou lobisomens, mas não para todos! Camila Cabello quando humana... More

Prólogo
Reencontro
Início de tudo
Moradora ou nômade ?
Discutindo Decisões
Conhecendo uma delas
Lutando pelo certo
Intercedendo pelos desconhecidos nem tao desconhecidos assim
Alguém quer morrer
Rotina do primeiro dia
Nada mais do que uma refeição
Por trás das lendas
Simples gestos trazem novas amizades
Cruzando com um soldado
Refletindo sobre ela
Controle
Matar não faz diferença
Minha casa virou um canil
Ajuda não é só com palavras, mas também com ações
Impossível negar mas do que está na minha frente
Caminho para a Felicidade ou para o prazer?
Viagem repentina
Um passado inacabado
Recordações
Nem tudo é como esperamos que seja
Sentimentos expostos
Uma aposta atrás de outra traz bons ganhos
Alerta de Perigo
Cuidando de você
Nem sempre as coisas acontecem como você deseja
A Primeira Eterna
Sempre ao seu lado
Planos de morte e salvação
Demônios não morrem
Tudo por ela
Qual o sentindo de viver ?
Palavras doem mais do que imaginamos
Epílogo
E-book

Início de tudo: Sol e Lua

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By IceQueen5h

Boa leitura!

Pov Camila Cabello
1350 d.C.

Já havia se passado uma semana desde a última vez que eu e meu irmão conseguimos alimento. Depois disso não conseguimos mais nada, pois Chris acabou adoecendo. Uma gripe forte o atingiu.

Há dois dias não comíamos. Tentei procurar algo na floresta ou no rio, mas nada encontrei e não podia ficar muito tempo fora. O desespero tomava conta de mim. Eu tinha que cuidar dele que estava ficando cada vez pior.

Estava entrando em casa depois de uma caçada com as mãos vazias, novamente. Foi quando vi horrorizada meu irmão caído no chão suando e tremendo. Na mesma hora corri até ele desesperada agachando-me ao lado de seu corpo.

- Chris... Por Deus como estás? O que acontecestes? - Toquei sua testa encharcada e me desesperei com a temperatura alta do seu corpo.

-Mila, irmã não te preocupes – Tossiu umas vezes antes e deu um sorrisinho fraco. - És só mais um resfriado.

Olhei perplexa para ele.

- Só um resfriado? Tu nem te aguentastes em pé. Não é hora para brincadeiras. – Falei brava enquanto pegava em seus braços. – Venha vamos para o quarto e te ajudarei a colocar-lhe em tua cama.

Após deitá-lo e cobrir com um lençol fui até a cozinha molhar um pano para colocar em sua testa.

O dia se passou e nada dele melhorar não tinha nenhuma erva para fazer chá.

Ao entardecer decidi que iria pedir ao meu tio pelo menos isso, obviamente não contaria nada a Christopher. Fui para meu quarto trocar meu vestido sujo de terra por um mais limpo. Mais algumas horas e anoiteceria então teria que ser rápida.

Saí de casa e caminhei até o outro lado do vilarejo cumprimentando a todos que vi, algumas mulheres, minhas amigas, me mandavam sorrisos e acenavam quando passava, enquanto alguns homens insistiam em vir falar comigo.

Não dei atenção para eles se meu irmão soubesse que eles conversaram comigo ficaria enfurecido e todos sabiam como meu irmão era ciumento. Despedi-me tentando ser simpática e continuei meu trajeto. Em apenas alguns minutos de caminhada estava em frente a uma casa tão simples quanto a minha.
As casas de quatro dos meus seis tios também resistiram. Um deles morreu junto com família quando a casa desabou em cima de suas cabeças. Foi muito triste a notícia chorei pela perda deles, todos foram importantes para mim, restando apenas dois tios e uma tia irmã do meu pai e dois irmãos de minha mãe.

Bati na porta esperando alguém aparecer.

Assim que a porta é aberta vejo duas criaturinhas sorridentes na minha frente.

Uma menininha de cabelos castanho-escuros compridos e olhos azuis tão intensos quanto o céu. O garotinho tinha a mesma cor dos cabelos só que curtos e a mesma cor dos olhos eram bem parecidos. Claro, se eram gêmeos tem que ser parecidos, não? Seus rostos são delicados e iguais a dois anjinhos uma beleza extremamente invejada por muitos do vilarejo. Tinham apenas 5 anos, mesmo a diferença de idade eu amava brincar muito com eles.

- prima Mila. – Os dois gritaram correndo em minha direção.

Eu me agachei para dar um abraço apertado neles, distribuindo beijos por seus rostinhos.

- Que saudadi de ti, prima. Fazia um tempão que não aparecia por aqui. – Falou a garotinha sorrindo toda feliz.

- Desculpe querida, estava ocupada nesses últimos dias, mas prometo vir mais vezes para vê-los.

- E tu brinca com nós prima? – Os olhos do menininho brilharam ansiosos.

- Mais é claro. Brincaremos até cansarmos.

Eles pularam em cima de mim e começaram a discutir quem iria brincar primeiro eu só ria daqueles dois.

- Naia, Noah! Deixem sua prima respirar. – Ouvi a voz de meu tio logo mais a frente.

- Tudo bem tio Simon, estava com saudades desses dois encrenqueiros.

Ele apenas se aproximou de mim e me ajudou a levantar.

- Mila há quanto tempo! Andas sumida. Teu irmão ainda proíbe-lhe de sair de casa sozinha? – Fiz careta quando disse isso e ele apenas sorriu – Nunca vi alguém ser tão ciumento quanto ele!

- As coisas andam mudando em casa. – Suspirei e abaixei a cabeça.

- São tempos difíceis, querida. –
Disse solidário. – O que acontecestes querida? – Perguntou preocupado. – Tu estás mais magra. Anda se alimentando?

Olhei para ele com um semblante preocupa antes de pedir qualquer coisa. As palavras de meu irmão ecoaram na minha cabeça “Tios, deixem de alimentar teus filhos para nos alimentarem” , realmente não poderia pedir nada mais além do necessário. Pensei em falar rapidamente sobre o estado meu irmão para desviar desse assunto.

- Bem... – Respirei fundo meus olhos enchendo de água. – Chris estás doente tio e eu... eu não consegui encontrar nenhuma erva para medicá-lo. – Solucei alto, as lágrimas aparecendo nos meus olhos. Eu não sabia mais o que fazer, muito menos como cuidar do meu irmão.

Tio Simon angustiado me puxou para um abraço forte.

- E por que não viestes antes? Tu sabes que sempre precisar de algo podes pedir.

Eu o abracei mais forte e lágrimas desciam pelo meu rosto. Meu tio era um homem bom, sempre se preocupando conosco.

- Obrigada tio. Não sei como lhe agradecer. – Me afastei dele e fiz mais uma careta antes de continuar. – Será que tens como não comentar isso com Chris? Ele ficaria muito bravo e não aceitaria.

- Claro meu anjo será um segredo nosso. Já sei o que posso pegar para melhorar a febre dele. – Por sorte ele não voltou ao assunto de como estava as coisas.

Enquanto ele não voltava fiquei brincando com os meus priminhos.

Brincar com aqueles dois bateu uma saudade enorme das pessoas extremamente importante na minha vida as únicas que eu faria de tudo para seus bens-estar. Senti um aperto enorme no meu peito tão profunda que poderia jurar ser até mesmo física. Suspirei cansada, logo quando tiver condições irei atrás delas.

Olhei para mim mesma, eu estava mais magra de costume, mas tentei não passar abatido diante da minha família.

Minha tia Laura não estava em casa provavelmente estava no vilarejo. Além dela ser esposa de Simon, também era irmã mais nova de minha mãe. Os cabelos castanhos caramelados eram parecidos a diferença se encontrava nos olhos enquanto mamãe tinha os olhos castanhos profundos Laura tinha os olhos azuis cor do céu.

Assim que tio Simon voltou. Trouxe algumas ervas para que eu pudesse fazer um chá para meu irmão e garanti a ele que devolveria o favor.

- Não precisa Mila. Tu és minha sobrinha que amo muito. Meu irmão sempre cuidou de mim quando éramos jovens. Aprendi com ele que família vem em primeiro lugar. Farei tudo ao meu alcance por ti e teu irmão.

Tio Simon era um homem maravilhoso tinha cabelos pretos e curtos. Os cabelos de Laura eram os cabelos mais lisos do vilarejo. Seus olhos também eram preto, diferente das crianças que puxaram a cor dos olhos da mãe e os cabelos de nossa família. Seu corpo era magro, mas com músculos definidos. Ele era bem mais jovem que meu pai sua idade era apenas alguns anos de diferença do meu irmão.

Despedi-me de todos e voltei para casa contente com a ajuda de meu tio. Feliz, assim que cheguei em casa pus a água para esquentar e fui ver meu irmão dormindo. Passei o pano em sua testa limpando o suor que se encontrava ali.

-Mila, és tu minha irmã? – Perguntou com os olhos ainda fechados.

- Claro, irmão. Eu tenho ótima notícia consegui umas ervas para tu melhorares. Logo estarás todo bobo se vangloriando por aí. – Disse sorrindo.

- Irmã, ainda sou invencível! Não é um resfriado de nada que acabará comigo. A única que tem potencial para isso és tu se deixastes aqueles porcos dos garotos chegarem perto de você enquanto estou de cama.

- Não tens jeito mesmo Chris. – Revirei os olhos.

- Tu sabes que és a mulher mais bela que já vi ou que qualquer um daqueles brutamontes também já viu. Não os deixe chegar perto de ti.

- Tudo bem irmão. Não sei de onde tirastes essas ideias absurdas. Mas ficarei ao seu lado até melhorar. – Levantei e fui para cozinha.

Terminei de preparar o chá e levei para Chris tomar. Não sei se era porque estava cansado, mas ele nem ao menos perguntou como consegui o medicamento. O que foi um alívio, pois não gostaria de mentir para ele.

- Obrigado por cuidar de mim irmã.

- De nada. Agora descanse bem para melhorar rápido.

Depois que tomou o chá. Apoiei as costas na parede e me perdi nos pensamentos. Nós não comíamos há dias até meu irmão se recuperar duvido que teremos forças para sobreviveremos. Olhei mais uma vez para ele e decidi. Faria o que fosse preciso para salvar sua vida. Com esse pensamento peguei no sono decidida a falar com meu irmão amanhã.

[...]

-Mila, Mila... Acorde irmã. – Escutei uma voz bem longe.

-humm. – Senti minha costa dolorida.

- Vamos levante-te estas dormindo sentada.

Senti me balançarem pelos ombros.

Levantei a cabeça encostando-a em algo duro atrás de mim. Assim que abri os olhos vi meu irmão ajoelhado na minha frente com um semblante sério.

- Tu passaste a noite assim? – Ele estava com o rosto nada agradável.

- Talvez. – Respondi dando de ombros.
Ele bufou e me ajudou a levantar.

Gemi de dor ao levantar.

- Nunca mais faça isso.

- Não preocupe-te comigo irmão. – Olhei melhor para ele e vi que não estava mais suando, mas ainda estava abatido com a pele pálida e olheiras profundas.

Coloquei minhas mãos em sua testa e vi que sua temperatura havia abaixado.

Suspirei aliviada e sorri para ele.

- Que ótimo! Estas melhor... O que sente? – Perguntei para confirmar minhas suspeitas.

- Sim graças a ti. Estou um pouco cansado e com muita fome. – Ele fez uma careta quando sua barriga roncou.

Eu nada consegui para comermos me senti uma inútil. Como ele iria melhorar sem se alimentar. Senti meus olhos arderem e abaixei a cabeça.

- Desculpa. – Foi tudo o que consegui dizer.

- Por que, Mila? – Vendo que eu não ia responder colocou suas mãos em meu queixo e levantou meu rosto para que eu o encarasse. – O que aconteceu? – Perguntou sério.

- Eu... eu não consegui nada para comermos... eu tentei encontrar algo mais nada achei. – Uma lágrima escorreu pelo meu rosto. – Sinto muito irmão eu tentei juro que tentei, mas não podia deixar-lhe aqui sozinho o tempo todo. Perdoa-me irmão?

Meu irmão sorriu e me abraçou.

- Tu não sabes o susto que me deu. Achei que tu tivesses aprontado algo. Absurda isso é o que tu és. – Escutei um suspiro em meu ouvido. Depois ele se afastou voltando a olhar em meus olhos. Ele passou seu dedo no meu rosto retirando a lágrima que havia escapado. – Tu não tens o porquê se culpar cuidou de mim este tempo todo. Agradeço-te por ficar ao meu lado. Tu és a pessoa mais maravilhosa que já conheci, graças a ti estou aqui forte igual a um touro. Não poderia ter feito melhor e outra não suportaria te ver no meio daquela floresta sabe-se lá o que poderias te acontecer! Não acredito que ainda saiu para tentar encontrar alguma coisa. Não se preocupa irmã daremos um jeito.

O abracei mais uma vez e apoiei minha cabeça em seu ombro. Fiquei imensamente feliz com todas as suas palavras. Bem, quase todas. Que história é essa de absurda ou me proibir novamente de ir à floresta? Ele sim é um absurdo, mas deixei isso de lado, pois sua última palavra me fez lembrar algo importante para dizer a ele.

- Irmão, precisamos conversar. – Peguei suas mãos e o levei até a mesinha da cozinha para se sentar.

Peguei um pouco de água e estendi em sua direção. Sentei em sua frente olhando meus dedos tocando uns no outros esperando ele terminar de beber.

- Então? – Ele perguntou.

Suspirei decidida no que falar e encarei intensamente aqueles olhos castanhos para mostrar firmeza em minhas palavras.

- Christopher, nós estamos há dias sem comer. Duvido que conseguiremos encontrar alguma comida por hora. Eu estou fraca para caçar e tu ainda estas doente não permitirei deixar tu sozinho por aí. Não é hora para machismo. – Falei séria. – Não permitirei nada de ruim aconteça a ti, por isso estou disposta a fazer o que for necessário.

- Tu queres dizer que... – Ele arregalou os olhos.

O interrompi.

- Sim... usarei o livro de magia da mamãe para nos manter vivos, mas preciso de sua opinião antes de qualquer coisa.

- Bem... – Seu sorriso alargou. – Eu também estava pensando em falar contigo há uns dias. Pensei bastante e quando decidi expor meus pensamentos peguei aquela gripe maldita.

Eu o olhei chocada. Não acreditei que ele decidiu isso.

- Então tu já havias pensado nisso antes?

- Claro, fiquei com medo de tu me achares maluco pela ideia, mas vejo que não precisarei te convencer a isso... Tu sabes és a única que poderá fazer um feitiço, como mamãe deixou o livro para ti. Ninguém poderá utilizá-lo além de ti.

- Sim, pegarei o livro agora mesmo e tu me ajudas a encontrar algo relacionado para nos ajudar.

Levantei-me e fui para meu quarto que antes era de nossos pais. Eu dormia com meu irmão, mas como papai e mamãe morreram comecei a dormir aqui. Sentia-me bem ainda dava para sentir o cheiro deles.

Segui até a cama e a empurrei mais para o lado. Com as mãos procurei a tabua solta do assoalho. Assim que encontrei enfiei minhas mãos dentro do buraco e peguei o livro que havia ali. O livro era grosso com uma capa escura de couro as páginas nas laterais estavam um pouco amareladas e havia um fecho de metal na lateral do livro que o mantinha trancado. Apenas com uma chave enfeitiçada poderia abri-lo. Essa mesma chave estava presa em uma corrente em volta do meu pescoço.

Mamãe me disse que tenho que carregá-la sempre comigo.
Esse é um livro de bruxaria. Ele é passado de geração a geração não sei ao certo qual é a idade dele, mas pelo seu estado deve ser muito velho. A pessoa que o livro pertencer o entregará para um dos seus filhos desde que ela seja mulher, e como eu era a única filha o livro seria meu. Apenas mulheres é quem tem poder, isso ainda é um mistério, mas eu também nunca ouvi falar de um bruxo, na verdade não conhecia nenhuma bruxa, só ouvi relatos, mas voltando... Enquanto a pessoa viver o livro só pertencerá a ela, assim que partisse desse mundo o livro seguiria para sua próxima geração e assim sucessivamente.

Sinu Cabello ensinou a mim e meu irmão a ler e a escrever, quase ninguém do vilarejo sabia. Tinha orgulho enorme por ter aprendido com ela. Sendo assim, mamãe me ensinou alguns feitiços daquele livro que comecei a aprender com 15 anos, quando ela me mostrou pela primeira vez.

Eu nunca fiz um feitiço sozinha essa seria a primeira vez, mas estava preparada sei que conseguiria por mim e pelo meu irmão.

Voltei para a cozinha e sentei-me à cadeira da mesa, meu irmão arrastou sua cadeira para sentar ao meu lado. Tirei a chave de meu pescoço e abri o livro.

E assim começamos...

A caligrafia dele era perfeita e elegante. Estava folheando as páginas e meu irmão ia anotando o numero daquelas que poderia nos ajudar.
Passamos a manhã e a tarde inteira lendo até que encontrei um que se encaixava perfeitamente com o que queríamos.

- Irmão eu acho que encontrei! Veja. – Apontei para página e continuei a falar. – Suas palavras estão relacionadas com o que precisamos. Aqui diz sobre a fome que não teremos e a saúde que precisamos.

- Sim, este é o feitiço mais próximo para solucionar nosso problema. – Ele continuou. – E como todos os outros dizem ele também fala sobre o sangue que deve ser derramado, porem há algo diferente nele.

- Eu percebi. Ele diz “Através dos teus sacrifícios o sangue do mais novo deve ser derramado perante a luz do sol e o sangue do mais velho deve ser derramado perante a luz do luar”. – Falei pensativa. – Esse requer dois sacrifícios.

- Se ele diz que precisa de dois tu podes utilizar teu sangue como o mais novo e o meu como o mais velho. De acordo com o livro basta derramá-lo sobre a terra.

- E de acordo com as informações terá que ser na lua cheia. Resumindo será amanhã.

- Será que dará tempo de prepararmos tudo até lá?

- Sim, só precisaremos de velas, sal e o nosso sacrifício e óbvio o livro. Ele será dividido em duas etapas. Primeiro durante o dia, melhor fazermos quando o sol alcançar o seu ponto máximo no céu e o segundo faremos o mesmo com a lua.

Ficamos em silêncio por uns minutos até meu irmão quebrá-lo.

-Camila. – Ele falou me encarando com intensidade e segurou firme minhas mãos. – Ninguém pode saber sobre o que faremos, se o povo do vilarejo descobrir irão nos acusar de bruxaria. Vão querer nos queimar na fogueira ou nos enforcar. Não sei se eles seriam capazes de entender o que faremos. Por mais que não faremos nada para atingi-los. – Suas palavras saíram tremidas pelo medo.

Arrepiei-me com o que ele disse.

- Terá que ser em segredo mesmo. Vamos para a campina aqui perto. É afastado o suficiente da vila.

- Ótimo. Já estas resolvido. – Ele beijou meu rosto e se levantou. – Vou ver se consigo mais sal o que temos aqui talvez não seja o suficiente.

Dito isso saiu pela porta.

Voltei os olhos para o livro e uma sensação ruim passou por mim. Tentei esquecer isso, deveria ser coisa da minha cabeça e continuei a estudar para ter certeza se esse feitiço é realmente o que procuramos e não nos levará a outras implicações indesejadas.

[...]

Estava terminando de fazer a estrela dentro do circulo com o sal. O sol estava ao pino. O livro já estava em minhas mãos e a faca ao meu lado. Christopher posicionou as velas em cada ponta da estrela. Assim que terminou. Olhei pra ele e perguntei:

- Pronto?

- Sim. - Deu um beijo no meu rosto. – Dará tudo certo minha irmã.

- Eu sei. Só consigo fazer porque tu estas do meu lado ajudando. Obrigada!

Ele apenas sorriu e ascendeu as velas.
Entrei no centro do circulo e comecei a proferir as palavras do encantamento.
Depois de ler tudo ajoelhei-me e peguei a faca ao meu lado cortando minha mão. Apertei-a com força deixando um filete de sangue escorrer dela até o solo da terra.

Fechei meus olhos e Proferi as últimas palavras agradecendo por fim. Assim que abri-os novamente um vento forte passou pela campina me fazendo tremer dos pés àcabeça. Meu irmão estava sentado a minha frente sem dizer uma palavra, mas sei que ele estava tão nervoso quanto eu. Apaguei todas as velas e sai do circulo.

- Hum... és só isso? – Meu irmão perguntou meio em duvida.

- Sim a primeira parte foi concluída agora à noite terminaremos.

- Então bruxinha se sentindo poderosa?

- Claro, sou capaz de fazer um feitiço que apenas com um chute em sua bunda você irá parar nas terras de Akhenaton. – eu disse presunçosa.

Ele gargalhou alto. Limpando uma lagrima que saia do seu olho esquerdo.

- Beijarei seus pés se tu fizeres isto. – Arregalei os olhos com suas palavras.

- Por quê? – Questionei incrédula.

- Se fizeres isto, me jogaras diretamente aos braços da sua filha Ankhesenamon. Ouvi dizer que ela és linda.– Seus olhos perderam foco. Estremeci só com a ideia do que poderia estar passando pelos seus pensamentos.

-Argh, esqueça as minhas palavras.

- Tudo bem irmã. – Suspirei aliviada. – Por enquanto.

Fiz careta, mas nada disse. Não voltaria mais nesse assunto.

Fomos para casa e passamos o resto do dia por lá.

Eu faria de tudo para salvar meu irmão, e eu também tinha que me salvar para encontrar as pessoinhas mais importantes que tudo nessa minha vida, esse era o motivo que eu tinha para me manter viva. Eu precisava ficar bem para reencontrá-las.

Fui deitar em minha cama.

Descansei um pouco para relaxa e depois me concentrei para preparar a última parte do feitiço não poderia fazer nada de errado. Eu estava nervosa, mas tudo havia dado certo não seria agora que mudaria. Pensando nisso a sensação ruim que tive outro dia voltou.

Será que vai acontecer algo de mal?

Essa possibilidade me deixou assustada. Fiquei em duvida se deveria continuar. Se algo atrapalhar ou interferir o encantamento não sei quais seriam as consequências só torcia para que desse tudo certo.

-Mila, Mila! Estás tudo bem contigo? – Meu irmão me chamou trazendo de volta a realidade.

Olhei para ele piscando algumas vezes aturdida e balancei a cabeça tentando espantar os pensamentos.

- Eu não sei. Eu... eu estou com uma sensação ruim. – Olhei desesperada para ele. – E se algo acontecer? E se algo der errado? Estou com medo meu irmão.

Abracei-o forte deixando as lágrimas escorrerem por sua blusa.

-Shiii... Estas tudo bem irmã. Nada dará errado. Estarei lá contigo. – Ele dizia palavras tranquilizadoras enquanto acariciava meus cabelos com seus dedos. – Tu achas que não conseguirá terminar?

- Não és isso sei que sou capaz de concluir com êxito, mas não sei dizer o que é.

- Então irmã não se preocupe não deve ser nada. Tu deves estar nervosa fazendo sua imaginação ir longe.

Não falei mais nada deixando o assunto de lado.

Já havia escurecido bastante tempo à lua cheia estava linda e se encontrava sobre nossas cabeças. Fomos para a campina e nem precisávamos ascender uma fogueira a luz do luar iluminava o lugar por completo.

Uma linda visão nos rodava.

Respirei fundo me acalmando com a paisagem.

Dessa vez seria o meu irmão a entrar no circulo. Estávamos completando o circulo novamente já que o vento durante a tarde tinha retirado boa parte do sal.

Ascendi às velas e me posicionei a sua frente, mas desta vez estava fora do circulo apenas meu irmão se mantinha dentro.

Olhei para ele esperando por algo que dissesse, mas ele apenas assentiu. Dei um meio sorriso e abri o livro na página certa. Suspirei profundamente e mais uma vez comecei a proferir as palavras.
Meu irmão fez exatamente como eu fiz hoje de manhã. Depois que terminei as palavras ele se ajoelhou e pegou a faca ao seu lado. Cortou a palma de sua mão deixando o sangue escorrer caindo sobre a terra. Terminei de dizer as últimas palavras à única coisa que faltava era agradecer. Minha mãe me disse que em todo o ritual você sempre deve agradecer para encerrar o feitiço. É o jeito já que eles nos davam o seu poder como desejávamos.

Antes que eu dissesse as últimas palavras para encerrar o feitiço. Algo me chamou a atenção do outro lado da campina. Estreitei os olhos para ver se conseguia melhorar a visão, meu irmão vendo que parei, me encarou e depois seguiu o meu olhar.

Foi então que eu vi, era o povo do vilarejo estavam com tochas em suas mãos e à medida que se aproximavam observei suas caras misturadas entre raiva, choque, medo e determinação.

Aquela sensação ruim surgiu novamente e percebi tarde de mais que eu e meu irmão estávamos em grande perigo. Um desespero tomou conta de mim.

Eu voltei meus olhos para meu irmão e vi em seu rosto transmitido o mesmo medo que devia estar no meu. As pessoas ali estavam apenas alguns metros de nós. E um deles que reconheci entre todos. Thomas, o pastor do vilarejo. Ele era um homem moreno e alto a cor dos seus cabelos eram pretos e os olhos uma cor de mel, seus corpo magro eram claramente visto atrás da camiseta. Ele deu um passo a frente e sua expressão de surpresa olhando tudo passou para furiosa quando seus olhos pousaram em mim, estremeci um medo tomando conta de todo o meu corpo.
Não adiantava fugir, muitos eram mais rápidos que eu e meu irmão estava se recuperando de um forte resfriado.

- Bruxa maldita, como ousas praticar sua magia negra em nosso vilarejo. – Sua voz era ríspida.

- Esperem! Vós estais entendendo tudo errado... Nós n-n-não fizemos nada para prejudica-los. – Tentei explicar.

- Espera mesmo que eu acreditarei em qualquer palavras de um monstro como ti?

Estava aflita não conseguia raciocinar direito. Foi então que ele avançou em minha direção, mas meu irmão o segurou antes que colocasse suas mãos em mim.

- Não ousas encostar um dedo sequer em minha irmã. – Ele disse esbravejando as palavras.

Thomas furioso empurrou meu irmão.

- Vós sóis os filhos das trevas, praticando essas coisas odiosas em nossas terras.

- Não estávamos fazendo nada que interferisse além de mim e minha irmã. – Tentou convencê-lo.

- Fostes vós, não fostes? – Outro homem se aproximou tão enfurecido quanto Thomas. Não entendi o que ele queria dizer. Só que quando completou sua frase tudo mudou. – Fostes vós que fizestes as terras tremerem semanas atrás, fostes vós os causadores de todas aquelas mortes e o desastre de nossa vila. – Gritou Issac em plenos pulmões.

Fiquei surpresa com suas palavras jamais imaginaria que eles pensariam tal atrocidade de mim e de meu irmão, digo eu nasci aqui! Conheço todos a minha vida toda. E mesmo assim só por terem visto algo já nos acusavam sem ao menos verem a razão.

Todos a nossa volta começaram a gritar nos chamando de “Bruxos”, “Filhos das trevas”, “Pragas malditas”, “Demônios” entre outros nomes horríveis.

Lágrimas grossas já molhavam meu rosto.

- Não! Nós não temos nada haver com aquilo, jamais faríamos isso a vós. – Tentei dizer alarmada. – Vós nos conhecestes a vida toda.

- Mentirosos. – Varias pessoas falaram ao mesmo tempo.

- Pensávamos que conhecíamos, mas não conhecíamos. Só agora descobrimos que são bruxos. Deus não permitirá que criaturas assim como vós permanecestes nesse mundo, por isso deu vossa graça de nos mostrar quem realmente são.– Thomas respondeu o que eu disse.

- Demônios, merecem queimar no inferno!

Então tudo aconteceu muito rápido todos os homens que estavam presentes ali no momento avançaram para cima de mim e de meu irmão. Com a confusão deixei o livro cair de minhas mãos e tentei correr até Chris, mas uma mão puxou-me com tudo para trás e só tive tempo de sentir um tapa em meu rosto. Caí no chão com a força e gritei com a dor. Um gosto de sangue tocou minha língua.

Meu irmão olhou para mim assustado e tentou chegar até mim.

- Soltem-na seus monstros. – Apesar dele ser forte três homens foram para cima dele.

- Não nos compare a ti. – um dos homens cuspiu as palavras.

- Christopher. – Gritei empurrando inutilmente a pessoa que me segurava para livrar meu irmão daqueles homens que davam soco e chutes nele.

Estava tão concentrada em arranjar um jeito de salvar meu irmão que nem prestava mais atenção às pessoas a minha volta.

Fomos arrastados até o vilarejo. Eu e meu irmão tentávamos nos soltar, mas nada adiantou. Quando olhei em volta meio desnorteada ainda. O povo do vilarejo se encontrava todos aglomerados em certo ponto, mulheres, crianças e idosos seus rostos demonstravam vários sentimentos, mas um sentimento que sabia identificar em todos era raiva. Empalideci no momento que vi onde eles estavam em volta. Naquele momento meu coração perdeu uma batida. Senti minha pele gelar e paralisei em choque. Nunca senti um medo tão grande como estava sentindo.
Ali se encontrava uma árvore que ficava quase no centro do vilarejo. Nela continha duas cordas amarradas, só desejando nossos pescoços ali.

Eu não podia morrer, ainda tinha pessoas que dependiam de mim. Que estavam a minha espera em outro lugar.

- Por favor, parem! Vós precisais saber que não faríamos nenhum mal. – Tentei pedir. A minha visão estava embaçada por conta das lágrimas.

- Cale-te, bruxa. – Thomas me deu mais um tapa.

- Largue-a seu covarde. – Meu irmão ainda se debatia no braço dos outros.

- Vós tereis o que merecem, na verdade és o mínimo que merecem por tudo que fizestes, pelas mortes que causaram. Aquilo... – Apontou para a forca. – Aquilo és as suas sentenças e Deus os julgará como merecem.

- Esperem. – Eu precisava pelo menos salvar meu irmão. – Meu irmão não tem culpa, eu quem estava praticando magia, não ele. Não o condene! – Me ajoelhei aos pés de Thomas e segurei suas mãos. – Condene a mim. Eu fiz aquilo que viram na floresta, meu irmão não fez nada. Não condene um inocente.

- Karla Camila, não digas isso. Estou envolvido nisso tanto quanto tu. – Exclamou meu irmão.

Thomas me encarou sério, seus olhos pareciam perfurar minha pele, ele me empurrou jogando-me no chão. Foi então que ouvi uma voz conhecida.

- O que está acontecendo aqui? – Olhei em direção a voz e no meio das pessoas surgiu o meu tio Simon.

Meus tios Heitor e Carlos não estavam com ele, provavelmente ficaram preocupados em deixar suas famílias sozinhas ou ainda não foram informados do que estava acontecendo. Só esperava que todos estivessem bem.

- O que estão fazendo com meus sobrinhos? – Vociferou tio Simon.

- Esses bruxos. – Apontou para mim e meu irmão. – Foram pegos em flagrante praticando magia. Eles são causadores daquele acidente de semanas atrás, a terra não se meche sozinha foram eles que fizeram aquilo. – Thomas argumentou.

Ouvi murmurinho em minha volta.

- Não sejas tolo, eles jamais fariam uma coisa dessas. Vós conhecem esses dois a vida toda. – Falou para todos ali presentes com o semblante nervoso e preocupado. – Os pais deles também morreram ainda mais ajudando muitos de vós presentes aqui nesse momento.

- Tio. – Chamei-o entre as lagrimas.

-Solte-os agora. –Ele gritou nervoso.
Mas pelo jeito muitos ali presentes não queriam ouvir, queriam apenas condenar.

- Não! Tu estás cego, pois são da tua família. Eles estão os enganando. – Jessé se pronunciou pela primeira vez.

- Não pense asneiras, homem! Eles são minha família sim e não deixarei que façam nada com eles. Se quiserem terão que passar por mim.– Gritou tio Simon.

Thomas me puxou para cima com tudo. Segurando com uma de suas mãos o meu cabelo e o outro prendendo as minhas mãos em minhas costas. Deixando-me imóvel impedindo de sair do seu aperto.Tentei me soltar mais desisti percebendo que era impossível.

- Que sejas, mas a sentença deles já está tomada conforme a escolha de nosso pai. – Dito essas palavras começou me arrastar para a árvore, arrastavam também meu irmão logo atrás de mim.

- Não! – Escutei meu tio gritar e tentou correr em nossa direção, mas fora impedido pelos homens ali presentes.

Estavam brigando entre socos e chutes mais a quantidade de gente foi o suficiente para derrubá-lo. Tio Simon não conseguia mais se levantar depois de uma surra que levou ele ainda estava consciente, mas estava tão desorientado que não conseguia ficar em pé.

Já eu estava em frente à árvore. A forca estava bem no alto.

Aquele seria meu fim, meu e de meu irmão.

Procurei ele atrás de mim e assim que o encontrei ele me olhava. Os olhos cheios de lágrimas. Dei um sorriso fraco para ele.

- Desculpa. – Eu disse

- Eu te amo, Camila. – Foi o que simplesmente disse.

Eu também ia dizer, mas me empurraram para a escada improvisada encostada na árvore. Fizeram-me subir e o medo voltou a surgir.

Eu já sabia o destino que nos aguardava e esperava que todos me perdoassem por partir sem ter chance de lutar.
Assim que me colocaram no galho Heitor um garoto um pouco mais velho que eu, começou a amarrar a corda em meu pescoço, aquele cretino sempre tentava me cortejar e agora estava aqui ajudando na execução de minha morte sem se importar.

Olhei um por um daqueles que estavam presentes, aqueles que diziam serem amigos, que me conheciam a vida toda. Jugou a mim e ao meu irmão sem se importar, como se fossemos aqueles sanguinários que um dia invadiram nosso vilarejo. Senti uma raiva e ódio profundo como nunca senti antes, sentimentos desconhecidos por mim até então. Porém como poderia sentir o contrario sem eles estavam tirando minha família de mim.

Queria que todos sofressem por seus atos, desejei que morressem e seus sangues fossem derramados. Vi a dor nos olhos e resquícios de lágrimas dos meu tio, agradeci mentalmente por sua esposa e filhos não estarem ali. Por último encontrei o olhar de meu irmão ele agora estava ajoelhado. Acho que eles queriam que ele visse minha morte. Por um segundo apenas um segundo suspirei aliviada. Não suportaria ver meu irmão morrer, fiquei mal por ser ele a ver. Dei um sorriso confortador como se dissesse "Está tudo bem"e sibilei as palavras:

- Eu te amo!

Ele se agitou mais uma vez lá e conseguiu se livrar apenas por segundos das mãos de um rapaz que o segurava correndo em minha direção. Ao longe escutei baixinho um leve rinchar de cavalo.

- Vá para o inferno. – Escutei Thomas sussurrar no meu ouvido sentado no galho ao lado contrário onde se encontrava Heitor.

- Te esperarei por lá. – Sorri irônica.

Então suas mãos me empurraram com força. Derrubando-me do galho.

- CAMILA! – Ouvi o grito desesperado do meu irmão antes de cair na profunda inconsciência e a morte me acolhendo em seus braços.

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