O Segredo dos Becker

Por AlaneSABrito

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AVISO: Degustação dos primeiros 17 capítulos. Versão ainda não revisada. LIVRO DEVIDAMENTE REGISTRADO PLÁG... Mais

Capítulos 1 ao 3
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20

Capítulo 4

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Por AlaneSABrito


          Noah Gale chegou no Sunshine High School como o novo centro das atenções. Não poderia ser diferente, pois ele era estonteante. Um porte atlético, o típico loiro atraente que por toda a história da humanidade fez as garotas suspirarem.

          Como sendo a única pessoa que ele conhecia, Florence aceitou a tarefa de mostrar-lhe o colégio, e bem que gostou muito de poder desfilar com ele sendo alvejada pelos olhares vidrados de inveja das outras meninas. E o mais incrível era que eu estava com os dois o tempo todo! Podia fantasiar que eu era o alvo da admiração deles. Isso me tornava patética?

          – Colecionar notícias? – Florence repetiu o que Noah respondeu quando ela perguntou qual era o hobby dos pais dele.

          – Sim, eles recortam as notícias mais chocantes ou, no mínimo, interessantes. Eles têm algumas raridades, como jornais do início do século. Já li casos que vão desde inaugurações de monumentos históricos aos de filhos que matam os próprios pais.

          – Que horror! – exclamei.

          Ele sorriu mostrando novamente seus dentes milimetricamente perfeitos. O fato de seu pai ser dentista certamente contribuíra para isso.

          Nesses poucos minutos que estivemos juntos, eu já tinha reparado que o tom verde de seus olhos iam mudando para um tom mais claro nas proximidades das pupilas, até circulá-las por um anel amarelo vivo. Tinha uma cicatriz de catapora acima da sobrancelha direita, o nariz parecia esculpido à mão, e precisava me conter para não acariciar seus cabelos para constatar se eram tão sedosos quanto aparentavam ser.

          – Mas posso garantir que eles só fazem isso porque gostam de colecionar e não porque pretendem fazer parte das manchetes algum dia.

          Ele olhava para mim de um jeito que me deixava constrangida e feliz ao mesmo tempo. Era o tipo de olhar que só acontecia quando se encontrava algo interessante para se apreciar. Tudo bem, entendo se também tenham custado a acreditar que isso fosse possível como eu.

          – Olá, Noah – Rebecca encostou-se à nossa mesa acompanhada da inseparável amiga Lauren, tão sutil quanto um ataque de abelhas assassinas. Meio que fingiu não existir mais ninguém ali. – Tenho me perguntado, tentado encontrar uma resposta convincente o suficiente para que eu consiga entender o motivo de você estar acompanhado de dois seres insignificantes.

          Florence revirou os olhos, dando uma discreta risada sarcástica.

          – E você é...? – Noah disse e fez uma pausa, simulando uma bela expressão de inocência, enquanto aguardava seu complemento.

           Rebecca sorriu incrédula, pois "quem não sabia quem ela era?!". Segundo a própria, sua fama se estendia até às cidades vizinhas. Percebi que ficou um tanto desconcertada.

          – Não seja bobinho fazendo essas piadinhas, querido – disse com uma charmosa jogada de cabelo a esmo, forçando um sorriso.

          – Mas não estou brincando. Sério, como você se chama?

          Ela ficou imóvel por uns instantes. Creio que avaliando a veracidade daquela situação.

          – Rebecca Hudson Agnoletto – disse ela como se desenhasse cada letra com os lábios. – A Rebecca Agnoletto.

          – Bom, Srta. Agnoletto. Respondendo sua pergunta: acabo de conhecê-la, esse é um dos motivos. O outro, é que gosto de ter em minha companhia pessoas que instigam minha curiosidade e que de cara me agradam.

          Rebecca endireitou o corpo quando notou que estava evidente que se tinha deixado abater pelo que havia acabado de ouvir.

          Eu quis dar um beijo no rosto de Noah!

          – Hm... – ela disse. – Acho que me enganei. Se o tipo delas é o que te atrai você não está à minha altura. Faça bom proveito.

          Então, virou-se num rodopio a esmo e saiu apressada. Lauren a seguiu tentando acompanhar seus passos.

          – Por que toda escola precisa ter esse tipo que se acha superior a todo mundo?

          – Lá em Boston também existe meninas tão esnobes quanto Rebecca? – perguntou Florence torcendo o nariz. – Hm... Acabo de perder todo o interesse de conhecer algum dia.

          – Também tem os valentões e suas vítimas, os piadistas, os que gostam de ser invisíveis... – quando disse isso eu quis me esconder debaixo da mesa. Questionei se o pouco tempo em que estivemos juntos tinha sido o suficiente para já ter me sondado – Acho que toda escola é assim.

          – Está gostando daqui? – perguntei ignorando o ímpeto de sempre tentar passar despercebida.

          – Estou começando.

          Já afirmo que não foi impressão minha, ele disse isso olhando diretamente para mim. Fiquei muito desconcertada, meu coração acelerou. Ao contrário de Noah, eu não conseguia encará-lo mais. Florence assistia à cena com um sorriso de canto.

          – Bom... – ela começou. – Ainda temos que apresentar você à piscina ou o diretor Martin me afogará nela. Já acabou de comer?

          – Sim – disse se levantando.

          – Não gosta de picles? – a pergunta saiu sem que eu percebesse. Noah sorriu de um modo que me deixou ainda mais sem jeito. Que idiota! Agora ele sabe que estava atenta ao que comia no almoço!, pensei.

          – É que... Conheço outro rapaz que também não gosta – apressei-me a dar uma justificativa.

          – Acho que somos os únicos, não conheço mais ninguém que não goste.

          – Que outro rapaz, Sarah? – de tudo que eu falei, pelo jeito foi apenas isso que Florence ouviu. O pior era que parecia bem curiosa e que esperava que eu respondesse àquela pergunta imediatamente.

          – Ele... – foi a primeira vez que deixei escapar qualquer coisa sobre Mike. Culpa do Noah, ele me desconcentrava. – Ele não mora aqui, é um... parente que visitou minha casa no verão passado...

          Verão passado?! Eu não poderia ter dito anos e anos atrás?!

          – Verdade? Não mencionou nada sobre isso. Deveria tê-lo apresentado para mim.

          – Ele não saía de casa e você sabe que meu pai não gosta de visitas...

          – Não gosta de visitas? Ele guarda corpos debaixo do assoalho ou algo parecido? – Noah perguntou.

          Aquilo não soou como piada para mim. Afinal, escondíamos algo de fato. Fiquei séria e é bem provável que com um ar de surpresa também.

          – Estou brincado! Não precisa fazer essa cara. – disse dando risada, mas logo ficou um tanto sério. – Ou precisa...?

          – "Corpos debaixo do assoalho"?! – soprei ruidosamente e tentei rir para não deixar transparecer nada mais suspeito, porém saiu tão forçado que senti meus músculos estralarem. – Que ideia!

          – Pois é, absurda demais! Vamos à piscina, enfim? – chamou Florence, seguindo caminho e fomos atrás dela.

          A piscina olímpica do colégio era o orgulho do Diretor Martin. Acho que, se pudesse, não permitiria que nenhum aluno mergulhasse nela para mantê-la como um troféu cristalino, intocado. Todos eles gostavam muito dela, mas a preferência local era o lago Big Duck. Ele tinha esse nome porque do alto via-se que tinha quase o formato exato do desenho de um pato. Ficava ao lado do colégio. No verão, as famílias se reuniam em sua borda, onde faziam piqueniques. Minha mãe me levou duas ou três vezes, mas como eu me negava a ficar em trajes de banho em público, ela se deu conta de que não era o meu programa favorito.

          Florence e eu amávamos ficar sentadas numa das arquibancadas do campo de futebol durante o horário do almoço para conversar e admirar a ótima vista que tínhamos do lago dali. Ele era marcado por algumas tragédias, por isso passou a ser uma preocupação a mais para o diretor, mesmo que houvesse anos que algum aluno se atreveu a fugir do colégio para se banhar. Isso desde a morte de Robert Harper, que se afogou durante uma de suas escapadas. Anteriormente a esse ocorrido, as gêmeas Linda e Jéssica Kilgore, de sete anos, tinham caído num buraco no gelo durante o inverno de 1969. Seus corpos foram encontrados cinco dias depois. Se antes era proibido patinar nele por nunca ter tido uma superfície de gelo confiável, após esse terrível incidente todos nós preferíamos ficar bem longe até que esse período passasse.

          Percebi que Florence começou a agir de modo diferente comigo depois que mencionei sobre o tal rapaz que também não gostava de picles. Não me ignorava, mas seu sorriso não era espontâneo. Minhas suspeitas se confirmaram quando estávamos aguardando o ônibus para eu voltar pra casa. Ela não o usava porque morava praticamente ao lado do colégio. Contou-me que Noah residiria uma rua atrás da sua.

          Acho que eu queria me mudar.

          – Será que existe algo que você não saiba sobre mim? – perguntou.

          – Quem pode responder isso é você – eu sorri, entretanto, ela não retribuiu.

          Ficou pensativa.

          – Hm... Então digo sem pestanejar que não. Contei tudo da minha vida para você, Sarah. Engraçado como sinto que posso fazer isso sem recear por um segundo sequer... – ela me encarava como se quisesse estudar minha reação. – Acredito que confiança é um ponto crucial para uma amizade permanecer verdadeira, não acha também?

          Não consegui responder.

          Mas essa pergunta se repetiu em minha mente mesmo quando não estava pensando no assunto. Inclusive ao entrar no quarto de Mike para contar as novidades do dia. Era o primeiro lugar que eu ia assim que chegava do colégio, porque era sempre onde eu o encontrava naquele horário.

          Saltei sobre a cama dele, deitando-me, assim que permitiu minha entrada depois que dei as batidas ensaiadas que criei. Era tipo um código para ele saber que era eu. O que, na verdade, nem era necessário, já que disse uma vez que reconhecia meus passos quando eu me aproximava. Chamei-lhe de estraga prazeres e falei que continuaria usando meu código de qualquer maneira.

          Questionei-lhe uma vez o motivo de fechar a porta, porque parecia algo sem sentido, estando o quarto já atrás de uma parede. Sua resposta foi que a visão constante do corredor era um lembrete de que estava preso, e olhar só para a porta permitia-lhe enganar-se de que estava ali apenas porque era onde queria estar.

          – Está animada – observou sentado ao meu lado.

          – Hoje foi um dia especialmente bom! Conheci o aluno novo, Noah Gale.

          – Ah... Esse é o motivo de tanta euforia?

          Analisei o tom de minha voz. Ele estava certo em questionar, pois não condizia com um dia apenas "bom". Não queria evidenciar de cara o quanto Noah me agradou, essa era uma novidade de sensações que me fazia ficar encabulada. Então tratei de me sentar com o máximo de tranquilidade possível.

          – Não seja bobo. É que ele conseguiu deixar a Rebecca sem graça e foi a primeira vez que vi alguém conseguir fazer isso!

          – Acho que gosto dele também.

          Eu ri.

          – Ele é bem bonito... Daquele tipo que não olharia para mais ninguém além das garotas do tipo como o de Rebecca Agnoletto. Mas ele não. Nem se importou em ficar comigo. Ele também é inteligente e... Ah! Não gosta de picles, como você.

          Fiquei ali, desmoronando um monte de palavras nos ouvidos de Mike sem parar. Nem percebia os minutos passando e que praticamente tudo que falava se referia ao aluno novo. No entanto, ele continuou ouvindo, ouvindo, sem interferir. Não tinha ideia do quanto aquilo o incomodou.

          – Ele é tão bonito... Já disse isso, não foi?

          – Sete vezes. Eu contei.

          – Oh... Mas é que ele é, e se já era antes de eu saber que é uma ótima pessoa, imagina agora que sei?

          – Posso considerar essa a oitava?

          Eu tornei a rir e joguei o travesseiro nele.

          – Talvez eu o veja lá na casa da Florence domingo. Seria legal...

          – Não era um "encontro de garotas"? – perguntou, fazendo sinal de aspas com os dedos ao pronunciar as três últimas palavras.

          – E é. Mas não me importaria se ele estivesse lá também...

           Mike se levantou de uma vez da cama.

          – O que foi? – perguntei um tanto sobressaltada.

          – Nada, eu só... só lembrei que tinha que guardar o livro na prateleira antes que você se sente sobre ele – pegou-o de cima da cama. Notei que o seu marcador de estimação: uma fita de cetim amarela que eu usava em meu cabelo quando era criança e que não permitiu que eu me desfizesse, estava bem além da metade dele. – Vou ver se sua mãe está precisando de alguma ajuda. Devo aproveitar que seu pai ainda não chegou.

          – Sempre o evitando... O meu pai é grosso, mas não é tão terrível como faz parecer. Mesmo que não acredite, ele gosta de você, Mike. Já te disse o quanto acho injusto quando fala desse jeito.

          Ele fez silêncio olhando para o chão, era nítida demais a mudança em sua fisionomia quando falávamos sobre meu pai. Seu semblante ficava tenso, sombrio... A sensação de que sempre queria me contar alguma coisa nunca passava despercebida.

          – Você vem também? – perguntou ainda sem olhar para mim.

          – Estou indo.

          Encontramos minha mãe sentada no sofá da sala. Era espaçosa, do tipo bem aconchegante, com pouca iluminação vinda do exterior. Ela não gostava muito das cores vibrantes que estava na moda. O sofá de três lugares e as duas poltronas eram marrom, com almofadas beges; o carpete no mesmo tom das almofadas. As cortinas verde musgo, com desenhos de formas geométricas pretas formando um ziguezague em todo o tecido, cobriam a única e grande janela que ficava na frente. Na parede dos fundos havia uma porta. Atrás dela encontrava-se nosso quintal, que eu gostava de imaginar que se estendia por toda a floresta existente a uns cem metros de lá, já que não tinha uma cerca delimitando os territórios. No canto direito do cômodo era onde ficava a porta da cozinha. No outro, a escada que levava ao andar superior.

          Minha mãe costurava algumas peças de roupas, havia um cesto com monte delas aos seus pés. A maioria que necessitava de conserto pertencia a Mike, como sempre. Não era fácil comprar roupas para ele. Não que fosse algo feito com muita frequência, mas como todo mundo se conhecia em Sunshine Town, tínhamos que ser espertos para não despertar a curiosidade de ninguém. As calças, minha mãe comprava como se fossem para meu pai, depois fazia os ajustes necessários, já que, além dele ter quase 20cm a mais de altura que Mike, tinha também quase o dobro de sua largura. Não era gordo, só robusto. Poderia ter conseguido uma carreira promissora como offensive tackle*.

          Com relação às camisas, a desculpa era de que seriam para mim, porque gostava de roupas largas. Eu tentava não me preocupar com o julgamento das pessoas quanto a isso... A questão era que já não me sentia mais tão confortável por ter que mentir tanto para proteger Mike. Não mesmo...

          – Vocês aqui embaixo a essa hora? – minha mãe perguntou surpresa.

          – Viemos saber se precisa de alguma ajuda – Mike disse.

          – Hm... Isso é bom. Olhe aqui, Mike, aquela calça que estava curta – falou erguendo a peça mencionada. – Desmanchei a barra. Você cresce rápido demais! E não sei como consegue estragar tantas camisas. Ainda bem que não pode sair de casa. Se fosse a algum lugar com algumas de suas roupas, iriam pensar que é um pedinte, por causa de tantos remendos.

          Ela notou que seu comentário não foi bem colocado e ficou sem jeito. Dobrou a calça novamente, depositando-a na cesta com as outras peças.

          – Em breve o inverno chegará – tratou de mudar de assunto. – Estou preocupada com as estradas. No ano passado quase foram interditadas.

          – Por falar em inverno... – comecei. – meus casacos estão bem desbotados...

          – Você nunca se incomodou com isso – disse franzindo o cenho.

          – Mãe, o mais novo que tenho uso há mais de três anos. Além disso, estão um pouco apertados também.

          – Certo. Vou falar com seu pai para comprarmos outro para você.

          A verdade era que eles suportariam mais um inverno, pelo menos. Só que, daquela vez, senti uma necessidade gritante de parecer mais... arrumada.

          Aí olhei para Mike do outro lado da poltrona onde minha mãe estava, analisando-o de cima a baixo.

          – Deveriam comprar um para Mike também.

          – Para quê? Ele não vai para lugar algum.

          Ele baixou a cabeça.

          – É só para... É que ele nunca teve um casaco.

          – Isso porque nunca precisou de um, Sarah. Temos um bom aquecedor aqui dentro. Bastam-lhe os moletons e as meias que tem. Bom, vocês não disseram que vieram me ajudar? – disse se levantando. – Então venham, vamos adiantar o jantar.

          Mike se sentia à vontade com ela. Conversávamos, dávamos muitas risadas. Mencionei Noah, mas tentei controlar o ânimo, porque minha mãe certamente detectaria alguma coisa e começaria a fazer perguntas que eu não me sentiria confortável em responder. Notei que apenas ela falava quando o assunto era ele. Pelo seu jeito contido de praxe, creio que eu não deixei transparecer meu entusiasmo. 

          Mike continuava a lavar as alfaces e só abriu a boca quando a conversa seguiu outro rumo. Depois voltou a subir e só desceu quando fui chamá-lo para o jantar.

          Era notório que nunca fitava meu pai diretamente, em momento algum. Acho que era um dos principais fatores de nossas refeições terem um clima tão pesado. Isso e a simples presença de meu pai.

          Mike não era específico quando eu perguntava a razão de se sentir tão intimidado. Insistia na resposta: "não temos assunto para tratar". Eu não questionava isso, porque nem eu mesma sabia o que falar com ele, mas tentava pensar em algo assim mesmo, hora ou outra. Apesar de serem raras as vezes em que ouvia respostas com mais de quatro palavras.

          Habitualmente, eu só observava minha mãe servir o jantar. Contudo, dessa vez, pela primeira vez na presença de meu pai, não segurei a língua quando a vi colocar a mesma quantidade ínfima no prato de Mike, o que significava metade do que tinha no meu.

          – Não gostaria de um pouco mais, Mike?

          O garfo estremeceu na mão dele.

          – É a porção que ele sempre come, Sarah – minha mãe se intrometeu calmamente.

          – Eu sei e é isso que me incomoda. Lá no colégio, os meninos da idade dele parecem uns esfomeados. Por que não coloca um pouco mais hoje, mãe?

          – É o suficiente – retrucou meu pai quase como um grunhido.

          Acho que era o sinal necessário para eu resolver me calar, mas...

          – É o que comeria uma criança de cinco anos.

          Meu pai olhou duramente para mim e, quando eu ia abrir a boca para continuar a falar, Mike se adiantou:

          – É o suficiente, Sarah. Não estou com muita fome.

          – Sério? – analisei a comida dele, consciente de que não deixaria nem a mim satisfeita. –Tudo bem. Se está dizendo...

          Só então minha mãe se sentou. E consegui piorar o clima daquele que era um dos únicos momentos em família que tínhamos. Ninguém falou mais nada sobre qualquer outro assunto.

          Fazia um tempinho que eu observava a maneira como Mike comia. Não era parecido exatamente com alguém sem apetite. Ele não enfiava tudo na boca de uma vez, mas degustava cada porção como se fosse a coisa mais saborosa que já provara. E estou me referindo a brócolis, espinafre... Sabia que tinha razões suficientes para desconfiar de algo, embora não fizesse noção do quê.

          Talvez, se eu tivesse dado mais atenção, e insistido em descobrir o que quer que estivesse acontecendo, era possível que coisas terríveis tivessem sido evitadas...

          *No futebol americano dos Estados Unidos e do Canadá, os offensive tackles (OT, T) são componentes da nas formações de ataque. Como outros , seu trabalho é bloquear, mantendo os adversários longe do seu até que ele faça o lançamento ou abrir espaço para o correr com a bola. Um tackle é o jogador mais forte da linha ofensiva.  

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