O calor era intenso, insuportável. Todos estavam deixando o prédio. O caminhão de bombeiro jogava água a toda velocidade á partir do outro lado da rua. Alguns moradores tentavam salvar seus bens materiais mais valiosos, como notebooks e joias, e eram ajudados a fugir pelos curiosos e bombeiros mais corajosos que entravam e saíam a todo momento! Em alguns segundos o prédio estava vazio.
De repente ouve-se um grito de desespero! O berro veio do subsolo! Os bombeiros não tiveram tempo de checar aquele local, e não perceberam que uma pequena garota estava procurando pelo seu gato naquele local e acabou ficando presa por uma das tábuas da estrutura que caiu e impediu a porta de se abrir. Ninguém conseguiria entrar ali, a menina estava fadada a morte, pois o fogo já estava tomando as paredes, os móveis, e tudo o que havia ali.
A menina estava fraca por causa de toda a fumaça que ela inalou. Cai no chão, e começa a ser queimada... como não tem mais forças para se mover, tudo o que ela pode fazer é ver seu corpo pegar fogo. A dor é insuportável, ela está prestes a desmaiar. De repente sente uma espécie de puxão – sente seu corpo ser levantado do chão. Milagrosamente a dor acaba e uma sensação de amor, tranquilidade e paz toma conta de seu corpo. A menina tenta não sentir medo... mas o pavor é tamanho que ela não consegue nem abrir seus olhos. Até que ouve uma doce voz carinhosa:
-Eu te peguei!
Ao abrir os olhos, a menina se vê no colo de Gabrielle e uma espécie de bola de energia azulada é gerada em volta delas, como se fosse uma redoma de energia, que afastava o fogo para longe.
-Enquanto estiver aqui, comigo, vai ficar bem!
-Q-Quem é a senhora?
-Por favor, menina.... A "Senhora" está no céu! Me chame de você!
-Eu... tô com medo...
-Fica quietinha só um pouquinho, eu estou curando as suas feridas... você está bastante queimada, então tá um pouco difícil, mas vamos lá...
A menina começa a olhar pros lados...
-Está pensando em como vamos sair daqui, não é?
-Meu gato!!! Não encontrei o meu gato, moça!
Gabrielle sorri. Como as crianças são simples, inocentes, puras... Nenhuma criança deveria sofrer nenhum tipo de maltrato, dor ou passar por nenhum tipo de aborrecimento.
-Mas é claro que não, menina... não sabe que os gatos são as criaturas mais ariscas e ressabiadas que Deus criou? Eles estão aqui na Terra pra tomar conta de meninas bonitas como você, por isso, seu gato já está lá fora, e deve estar te procurando. Quer ir lá se encontrar com ele?
A menina sorri e acena que sim com a cabeça. Gabrielle olha para a porta em chamas e ela explode pra fora, abrindo o caminho. Do outro lado da porta o bombeiro que a deteve aparece e tira as duas de lá, em segurança.
Depois que o incêndio é controlado, a menina está com sua mãe à alguns metros dali. Há um gato malhado no colo da menina, que o agrada com toda ternura. Gabrielle está envolvida com um cobertor que fora fornecido pelos bombeiros, e nessa hora, sua "vovozinha" aparece:
Você gosta mesmo de um cobertor, não é, Minha menina?
-Vovó... por quê veio aqui?
-Eu vi tudo, filha.
-Tudo?
-Sim, tudo!
-Me viu entrando...?
-Vi... e vi você saindo.... e ví o brilho azul, também...
Gabrielle sorri como uma garotinha que foi pega fazendo uma arte. Ela coloca o cobertor em cima de uma das macas dos paramédicos, segura no braço da vovó e a vai conduzindo dali.
-Eu... não podia deixar aquela menina ali... eu tenho um tchã com crianças, sabe...
-Você apareceu nua, num jardim... se embrulhou com um brilho azul para atravessar as chamas... saiu de dentro de um incêndio sem nenhum machucado... Meu anjo...
As duas se abraçam. Os olhos da velha senhora estão brilhando de todas as lágrimas que escorriam deles. Gabrielle a aperta forte, com muito carinho!
-Eu preciso que a senhora volte. Volte para o abrigo. Ainda não posso ir embora, tenho coisas a fazer aqui.
-Sim, eu entendo, meu anjo... agora eu entendo que nada que eu lhe disser irá fazer você ir embora daqui...
-É isso mesmo, vovó!!! E tome muito cuidado, porque eu não estarei com a senhora para protegê-la no caminho até o abrigo, heim! Afinal, só ELE pode estar em todos os lugares ao mesmo tempo!
Elas se despedem. A vovó começa a fazer o caminho de volta.
Gabrielle para diante do prédio, que agora está completamente destruído. O bombeiro que a ajudou vem lhe fazer companhia:
-Você morava aqui?
Gabrielle olha pra ele e não responde nada.
-Me desculpe a pergunta – insiste o jovem bombeiro – mas eu nunca havia visto uma moça tão corajosa como você... Ou tão maluca, aí você quem escolhe!
Gabrielle sorri:
-Não, não morava. Eu só estava passando!
-Jura? Que maluquice é essa? E aonde é que uma doida tão linda mora?
-Pera aí, isso é uma cantada?
-De maneira nenhuma, senhorita, eu estou apenas fazendo o meu trabalho, sabe... estou coletando informações, oras.
-Então você é detetive da polícia?
-Hahahahaha... não, sou bombeiro, oras!
Por alguns segundos os dois ficam em silêncio, trocando olhares. Até que o rapaz fala:
-Posso... te tocar?
-O quê?! – Gabrielle se assusta com a pergunta e dá um passo pra trás.
-Eu... naquela hora, eu tentei te cocar... mas meus dedos passaram por dentro do seu braço... e você desapareceu bem na minha frente... eu fiquei gelado naquela hora, sabe... eu sei que não foi alucinação da minha cabeça....
Gabrielle fica olhando para o jovem firmemente. Então ela começa a ver uma luz amarelada em volta de seu corpo... uma forte sensação de esperança, expectativa e inspiração saía da aura daquele rapaz... Definitivamente aquele era um homem bom. Gabrielle resolve confiar nele:
-Se eu te disser que posso fazer algumas coisas meio.... sei lá, meio loucas assim... tipo deixar os dedos das pessoas passarem pelo meu corpo, ou ficar transparente...
Os dois ficam parados ali, na frente do prédio em chamas, conversando sobre vários assuntos. Meia hora se passa. Uma hora se passa.
-Meu nome é Fábio Machado.
-Meu nome é Gabrielle... dos Anjos!
-Lindo nome, Gabrielle. Posso te pagar uma cerve...
-Um sorvete!!!! Claro!!!
-Isso, um sorvete!!! Lógico!!!
E a conversa continuo por mais um bom tempo...
Fim do Capítulo 6