Ao chegar à casa do Roger, ela ouviu um barulho estranho no porta-malas do carro, e isso fez com que o seu coração gelasse. O que tinha naquele carro? A casa do Roger estava com a janela aberta. Antes de chamar os pais dele, Eduarda resolveu abrir o porta-malas e verificar o que estava acontecendo.
Ela contou até cinco, respirou fundo e abriu. Quando o abriu, ficou bastante assustada. Quem estava no porta-malas era a zumbi Alice! Eduarda afastou-se, e a zumbi disse ao sair:
— Nossa! Até...que...enfim...você...abriu...essa...porra! Eu...já...estava...ficando...com...mau... cheiro.
— Na verdade, você já tinha mau cheiro, né, gata?
— Você...é...muito ingrata! Eu...te...salvei. Por isso, deveria...me...agradecer e não...me...criticar.
— Valeu, dona zumbi. Mas eu queria ir embora.
— Eu...voltei...com...a...sua água e te vi...correndo...para o carro. Como...pôde fazer...isso?
— Já te disse... Eu tinha que ir embora. Não sei por que você estava me prendendo naquele lugar horroroso.
— Porque eu...
— Desembucha, mulher!
— Eu...
De repente, a porta da casa foi aberta. Por causa disso, a Eduarda mandou a zumbi se esconder atrás de uma árvore. A mãe do Roger a viu, e Eduarda chegou perto dela. Elas se cumprimentaram. Em seguida, a mãe do garoto, então, perguntou:
— Onde está o meu filho?
— É sobre isso que eu vim falar com a senhora. Eu trouxe o carro dele.
— Sim, mas por que ele mesmo não trouxe o carro?
— O seu filho me levou até a cidade abandonada e ele foi atacado por um zumbi.
— Não pode ser... Você está me dizendo que ele foi naquele lugar e está morto?
— Sim.
Ela começou a chorar, e Eduarda continuou:
— Eu sinto muito. Eu não queria ir até lá, mas a senhora sabe como é o Roger...Ele não acreditava que a cidade tinha zumbis.
— Não posso acreditar... Eu não criei um filho para morrer dessa forma. A polícia precisa fazer alguma coisa antes que os zumbis façam mais vítimas.
— Eu falei com o meu pai e ele vai avisar a polícia sobre o que aconteceu.
— E agora? Como vou dar um enterro digno ao meu filho?
— Pelo o que vi, ainda sobrou algumas partes dele. Então pode ser sepultado.
— Isso só pode ser uma brincadeira de mau gosto, menina!
— Eu bem que queria que fosse, mas é a mais triste verdade.
A mulher começou a chorar ainda mais, e Eduarda não soube mais ou que dizer e resolveu se despedir dela e ir embora a pé. Ela tinha ficado tão triste com aquela situação, que nem tinha percebido que a zumbi estava a seguindo. Ela só percebeu esse fato quando as pessoas começaram a olhá-la. Ela pensou: O que tem de errado? Até olhou para a sua calça, mas o zíper estava fechado. Quando se virou para trás, viu a zumbi com um sorriso enorme.
— Caramba! Eu tinha esquecido que você estava aqui. Me desculpe!
— Pois é... Não deveria.
— E agora? O que vou falar de você?
— Se...alguém...perguntar, diga...que...estou...fantasiada de zumbi.
— Olha só... Tem algo que você precisa entender!
— O quê?
— Eu não quero que você vá para a minha casa!
— Mas...podem...me exterminar. É isso...que...você...quer?
— É sim, dona zumbi. Não quero mais ver a sua cara na minha frente.
A zumbi ficou paralisada e depois virou-se para ir embora, mas Eduarda se colocou sorrindo na frente dela.
— Foi brincadeira!
A zumbi fechou a cara e respondeu:
— Eu...deveria...comer o seu...cérebro...por...causa...disso.
Eduarda sorriu ainda mais e respondeu:
— Vá em frente, dona zumbi.
A zumbi aproximou-se dela e ficou a encarando. Eduarda sentiu medo com essa atitude dela, e a zumbi sorriu sem jeito.
— Te...peguei! — disse a zumbi.
Eduarda ficou mais aliviada e tirou o moletom, estendendo a ela.
— Coloque isso! Vai ajudar a te disfarçar um pouco... Mas você vai ficar em casa até eu arrumar um lugar para você. Se é que existem lugares para zumbis ficarem sem serem exterminados.
— Você...é...muito...legal. — disse a zumbi ao colocar o moletom.
Eduarda chegou em casa e disse para a zumbi subir a escada e entrar no quarto a esquerda. A mãe dela estava na cozinha já preparando o jantar. Eduarda entrou no cômodo e sentou-se na cadeira, ficando um pouco pensativa. A mãe dela percebeu e perguntou:
— O que houve, filha?
— Nada.
— Nós pensamos até que você iria voltar a cidade abandonada.
— Não. De jeito nenhum.
— Ainda bem, né? O seu pai já falou com o delegado e vão amanhã cedo até a cidade abandonada para exterminarem os zumbis. Isso não é ótimo?
— É sim...
— Não estou te vendo muito contente. Como foi a conversa com os pais do Roger?
— Eu falei só com a mãe dele e ela ficou arrasada com a notícia... — Eduarda levantou-se da cadeira. — Eu vou para o quarto.
— Logo te chamo para o jantar... Hoje vou fazer a macarronada que você adora.
— Obrigada, mãe.
Eduarda entrou em silêncio no quarto, e a zumbi estava sentada na beirada da cama, olhando atentamente para uma revista de moda. Eduarda sentou-se perto dela e comentou:
— Eu ainda estou sem saber o que vou fazer se descobrirem que você está aqui.
— Desculpe...por...isso. — disse a zumbi, largando a revista em cima da cama.
— E quem me assegura que você não vai me matar? — perguntou Eduarda, olhando atentamente para o rosto dela.
— Eu...nunca...vou...te...matar, porque...não...consigo.
— Você é bem estranha, dona zumbi. — Sorriu — Mas por que não consegue me matar? Eu não tenho uma carne atraente?
— Eu...não...sei...direito...o...porquê. Só...sei...que...quando...te...vi, eu...senti coisas...estranhas.
— Coisas estranhas? Como assim?
— Eu...só...sentia...essas...coisas...quando...era...viva...
— Sério? Você está dizendo que está sentindo coisas por mim?
— Sim. — disse a zumbi, percebendo que Eduarda ficou bastante séria.
Eduarda levantou-se e declarou:
— Na boa...Você não está viva para ficar dizendo essas coisas. E eu gosto de homem, entende?
— Então...Você...não...acredita...no...que...estou...sentindo?
— Pode ser que você esteja, sim, sentindo alguma coisa. Mas isso não tira o fato que você ainda é uma zumbi.
— Ok.
— E acho melhor você ir embora.
— Você...quer...mesmo...que...eu...seja...exterminada.
— Não. Mas você precisa ir... Eu não posso conviver com isso. Não vai dar certo. Se eu meu pai a ver aqui é capaz dele estourar a sua cabeça com a espingarda.
— Mas...e...se...eu...fosse...uma...humana, eu...teria...alguma...chance...com você?
Eduarda ficou sem graça e continuou:
— Que tal pensarmos em alguma coisa para não te perseguirem, hein?
— Ok.
— Só que você vai continuar matando, não é?
— Eu...te...prometo...que...não...vou...mais...fazer...isso.
— Mas você vai morrer se não comer carne humana, Alice!
— Não. Eu...estou...mudando...por...sua....causa. — disse a zumbi ao tocar a mão dela.