Na manhã do dia seguinte, Eduarda acabou acordando com um som bem alto. A porta estava escorada e ela aproveitou para espiar o que estava acontecendo na sala da casa. Quando chegou até a sala, viu a zumbi dançando toda desengonçada e imitando uma guitarra com as mãos. Eduarda sorriu e entrou na dança com ela, pois a música era a sua favorita também. Isso significava que as duas já tinham um interesse em comum.
A música acabou, e a zumbi desligou o som. Eduarda sentou-se no sofá e declarou:
— Olha...Essa música é a minha favorita!
A zumbi apenas a olhou e ficou séria.
— O que houve, dona zumbi? Eu falei alguma coisa que não devia?
Nesse momento, a zumbi lembrou-se de quando era uma humana. Ela gostava de sair com os amigos e curtir uma balada. E ao dançar junto com a Eduarda à fez lembrar de tudo isso. Ao vê-la indiferente a qualquer coisa, Eduarda chegou perto dela.
— Dona zumbi, quer dizer... Eu sempre esqueço o seu nome... Alice, eu não sei o que está havendo, mas eu preciso sair daqui.
— Agora...não é....possível.
— Quando?
— Em...alguns...dias...
— Acho bom mesmo.
A zumbi continuava em pé e parada.
—Você está sentindo alguma coisa, Alice?
A zumbi a olhou, cerrou os dentes e declarou:
— Cala essa boca!
— Tá bom! Vou para o meu quarto. Você deve estar de TPM hoje, só pode.
Eduarda ficou andando de um lado para outro em seu quarto. Ela precisava sair daquele lugar. A sua família já devia estar procurando por ela. De repente, ela lembrou-se do carro do Roger. O seu celular tinha ficado em cima de um dos bancos. Ela precisava ir até ele e pegá-lo. Então, teve uma ideia. Ela voltou para a sala, e a zumbi estava sentada na poltrona.
Eduarda aproximou-se e começou a fazer uma massagem nos ombros da zumbi. A zumbi começou a ficar assustada, mas Eduarda a deixou tranquila.
— Calma! Relaxe...
Dois minutos depois, a zumbi puxou Eduarda, levantou-se da poltrona e ficou de frente para ela.
— O...que...você...quer? — perguntou a zumbi.
— Calma, dona zumbi, quer dizer... Alice, tenha muita calma nessa hora.
Eduarda aproximou-se do rosto dela e olhou em seus olhos.
— Eu estou com sede... Pode me arrumar um copo de água? — questionou Eduarda.
A zumbi ficou deslumbrada com o olhar de Eduarda, mas se pronunciou:
— Água? Eu...busco...sim.
— Oba! É assim que eu gosto, Alice. — disse Eduarda, sorrindo.
A zumbi saiu da casa e pediu para a Eduarda esperar um pouco.
— Me...espere! Não...saia...daqui.
— Pode deixar, dona zumbi. Eu não vou a lugar nenhum sem você.
Após ver a zumbi um pouco longe, ela correu em direção ao caminho que levava até o carro. Em poucos minutos, chegou até o veículo e se perguntou: por que na outra vez não tentou ir até o carro? O problema é que ela não pensou no fato da chave não estar por lá. E assim como ela podia sair? Então, decidiu correr em busca da casa em que ela e Roger haviam transado.
Ao chegar à casa, foi até o quarto e procurou pela chave do carro no bolso da calça jeans dele. Ela pegou a chave e observou que alguns zumbis já tinham sentido a sua presença e estavam ao redor do lugar.
Para não correr perigo, ela pegou um pouco do sangue do Roger que estava no chão e passou em seus braços para disfarçar o seu cheiro. Com cautela, ela foi até o carro, fechou a porta e conseguiu tirá-lo da frente da cidade abandonada. Não teve como ligar para ninguém, porque o celular estava descarregado. Ele tinha uma péssima bateria, pensou ela. Acabou ficando bastante aliviada, mas ficou assustada ao perceber que alguns zumbis estavam tentando correr atrás dela após ouvir o barulho do carro.
Durante o caminho, Eduarda ficou se lembrando da zumbi. Ela até tinha gostado da Alice, mas não podia salvá-la. A garota era uma zumbi e nada mais podia ser feito em relação a isso.
Depois de três horas, Eduarda conseguiu chegar em casa. Já estava bem tarde e ela encontrou os pais e a irmã Elisa na área. Eles estavam tristes e em silêncio. Tinham avisado a polícia sobre o desaparecimento da filha, mas não deram mais nenhuma notícia. Quando viram a Eduarda, eles foram correndo abraçá-la e nem estavam acreditando que ela estava bem, apesar da roupa estar manchada de sangue.
O pai a perguntou:
— Onde você estava esse tempo todo? Nós quase morremos de preocupação. A polícia estava te procurando, minha filha.
— O Roger me levou até a cidade abandonada.
— O quê? A cidade infestada por zumbis?
— Sim, foi essa cidade mesmo, pai.
— Minha filha do céu! Você perdeu a noção do perigo? O que houve com o seu namorado? E por que está com o carro dele?
— O Roger foi atacado e morreu. E eu fui raptada por uma zumbi, mas consegui fugir.
— Meu Deus... Isso é coisa de filme. — A irmã dela se pronunciou.
— Eu já vi de tudo, mas isso é incrível. Você é um milagre, filha.
— É eu sei, pai.
— Nós precisamos chamar a polícia para eles fazerem alguma coisa em relação a essa cidade.
Eduarda pensou na zumbi e perguntou:
— Mas, pai, se isso acontecer, a polícia vai exterminar todos os zumbis?
— Sim. As autoridades precisam agir. Eles só ficam pensando que as criaturas vão aparecer aqui para eles acabarem com elas. Mas os zumbis estão lá. Então a polícia tem que ir onde eles estão.
— Faz sentido, pai.
— Mas por que está preocupada?
Eduarda ficou em silêncio, e a irmã dela comentou:
— Já sei, pai. A Eduarda está com pena da zumbi que a salvou!
— E se eu tiver, Elisa? Vai fazer o quê?
— Calma, Duda. Parece até que se apaixonou pela zumbi. — Deu uma gargalhada.
Eduarda tentou avançar nela, mas a sua mãe interrompeu.
— A sua irmã está com razão, Eduarda. Mesmo que ela tenha te salvado, ainda continua sendo uma zumbi.
— Eu não quero que a polícia machuque a Alice!
— Quem é Alice? — perguntou o pai.
— A zumbi que me salvou.
— Ok, Duda. Se isso te importa tanto, nós vamos avisar a polícia que essa zumbi te salvou.
Eduarda ficou contente e caminhou até o carro. A mãe dela ao ver a cena a interrogou:
— Onde você vai, minha filha?
— Eu vou devolver o carro à família do Roger. — disse Eduarda, entrando de volta no carro.
Ela saiu apressadamente com o carro. Nisso, os pais e a irmã ficaram bastante desconfiados. Será que ela realmente iria na casa do Roger ou estaria voltando à cidade abandonada?